Canetada eleva salário de Bolsonaro e ministros em até 69% e estoura teto do funcionalismo
Uma regra editada pelo governo Jair Bolsonaro que autoriza uma parcela de servidores a receber mais do que o teto remuneratório constitucional fará com que o próprio presidente e membros do primeiro escalão tenham aumentos de salário. Os ganhos serão de até 69%, com pagamentos mensais que, a depender da autoridade, poderão ultrapassar R$ 66 mil. A medida, colocada em vigor enquanto o funcionalismo está com salários congelados, deve beneficiar Bolsonaro, o vice-presidente Hamilton Mourão, ministros militares e um grupo restrito de cerca de mil servidores federais que hoje têm remuneração descontada para respeitar o teto constitucional. Publicada no dia 30 de abril, a portaria da Secretaria de Gestão e Desempenho de Pessoal do Ministério da Economia começou a valer neste mês e terá efeito para os pagamentos realizados a partir de junho. A Constituição define que a remuneração para cargos públicos, pensões e outras vantagens não pode exceder o salário dos ministros do STF (Supremo Tribunal Federal), hoje em R$ 39.293,32. A portaria inova ao criar uma espécie de teto duplo. Ela estabelece que o limite remuneratório incidirá separadamente para cada um dos vínculos no caso de aposentados e militares inativos que retornaram à atividade no serviço público. Com isso, a medida significa que o teto total para essas pessoas passa a ser de R$ 78.586,64 por mês. Entre os membros da cúpula do Executivo que serão beneficiados pela mudança, Bolsonaro deve ter o aumento mais modesto. Hoje, ele recebe R$ 30,9 mil pela função de presidente e tem mais R$ 10,7 mil em outros benefícios, mas é feito um corte de R$ 2.300 para que o teto seja obedecido. Com a nova norma, a remuneração bruta do presidente deve passar de R$ 39,3 mil para R$ 41,6 mil, uma alta de 6%. Mourão, que é general da reserva, terá um aumento de quase 64%. A remuneração mensal bruta deve deixar de ter um abatimento feito atualmente, de R$ 24,3 mil, para respeitar o teto. Com isso, o valor bruto passa de R$ 39,3 mil para R$ 63,5 mil, diferença de 62%. Entre os ministros militares, o maior salto no salário fica com o chefe da Casa Civil, Luiz Eduardo Ramos. O governo deve deixar de fazer um desconto mensal de R$ 27 mil, levando a remuneração a R$ 66,4 mil —a alta de 69%. Na lista, também aparece o ministro da Defesa, Walter Braga Netto, com aumento de R$ 22,8 mil, totalizando R$ 62 mil por mês (alta de 58%). O ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, deve passar a receber um adicional de R$ 23,8 mil. O salário irá para R$ 63 mil (acréscimo de 60%). Há ainda o ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Marcos Pontes, com elevação de R$ 17,1 mil, indo a R$ 56,4 mil por mês (aumento de 44%). De acordo com o Ministério da Economia, das mil pessoas que serão beneficiadas pela regra, mais de 70% são médicos e professores. O teto duplo vale para profissionais dessas áreas que acumulam funções. O impacto fiscal da medida pode variar, mas é estimado pelo governo em aproximadamente R$ 66 milhões ao ano. Isso significa que cada um dos mil servidores alcançados receberá em média R$ 5 mil a mais por mês. Portanto, o benefício à cúpula do governo será maior do que para o restante dos atingidos. Como exemplo, o gasto anual estimado seria suficiente para pagar 66 mil beneficiários do auxílio emergencial por quatro meses, considerando valor médio de R$ 250. O ministério afirma que a portaria adequa o cálculo do teto a decisões do STF (Supremo Tribunal Federal) e do TCU (Tribunal de Contas da União). Segundo a pasta, a aplicação desses entendimentos foi aprovada pela AGU (Advocacia-Geral da União) em dezembro de 2020. Na avaliação do secretário-geral da Associação Contas Abertas, Gil Castello Branco, o governo é contraditório ao adotar uma medida que aumenta salários de uma pequena parcela do funcionalismo ao mesmo tempo em que os servidores públicos estão com salários congelados. Para Castello Branco, a decisão vai na contramão dos planos para a reforma administrativa e o fim dos supersalários. “Em plena pandemia, no momento de graves dificuldades fiscais, causa surpresa a criação da possibilidade de um servidor ganhar até dois tetos. O ajuste fiscal será somente em cima do barnabé?”, disse. Castello Branco afirmou que essa é mais uma medida para driblar o teto remuneratório, que já é desrespeitado há mais de 30 anos por decisões judiciais e interpretações de interesses corporativos. Em audiência no Congresso na terça-feira (11), o ministro Paulo Guedes (Economia) afirmou que o governo está apenas respeitando a decisão do STF. Ele ressaltou que, para acabar com os pagamentos acima do teto, o Legislativo precisa aprovar um projeto com essa definição. “Foi falado muito sobre a decisão dos supersalários, dinheiro para presidente e vice-presidente. Estamos simplesmente cumprindo uma decisão do Supremo. Sou obrigado a cumprir uma decisão do Supremo. A lei a gente obedece”, disse. Apesar da afirmação desta semana, Guedes já afirmou, em setembro do ano passado, que os salários da alta administração brasileira são muito baixos. Bolsonaro, por sua vez, disse em dezembro de 2019 que os ministros aceitaram trabalhar “basicamente como voluntários” e, na avaliação dele, “sem ganho nenhum”. No Congresso, há projetos para regulamentar o trecho da Constituição e impedir que o teto seja descumprido. Hoje, apesar da existência do limite, diversos penduricalhos ficam fora dessa conta e acabam inflando as remunerações. As propostas de lei, no entanto, nunca tiveram aprovação concluída pelos parlamentares. Procurados, o Ministério da Defesa e a Casa Civil ressaltaram que a portaria regulamenta decisões do STF e do TCU. Sem mencionar que apenas uma fração do funcionalismo será beneficiada, as pastas disseram que todos os servidores do Executivo serão abarcados pela medida. Os dois ministérios não comentaram os aumentos de Braga Netto e Ramos. O Gabinete de Segurança Institucional e a Vice-Presidência da República afirmaram que não irão se manifestar. O Palácio do Planalto e o Ministério da Ciência e Tecnologia
Comissão mista de reforma tributária encerra sem votar parecer de Aguinaldo
Com a apresentação do relatório final do deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), a Comissão Mista Temporária da Reforma Tributária fez ontem sua última reunião e deixou em aberto o destino da proposição. Os próximos passos da reforma ainda vão ser definidos pelos presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG). O relatório diz respeito às Propostas de Emenda à Constituição (PECs 45 e 110), ambas de iniciativa do Legislativo. Tratam da reforma tributária “ampla”, cujo centro é a fusão dos tributos federais, estaduais e municipais que incidem sobre o consumo. PIS/Cofins, IPI, ICMS e ISS desaparecem para formar o Imposto sobre Bens e Serviços (IBS). Esse novo tributo será cobrado no Estado consumidor. Assim, inverte a lógica do ICMS, que é concentrado no local de produção. Com isso, há uma distribuição de renda entre as unidades da Federação. É uma transformação grande, que vem emperrando a reforma há mais de três décadas. O governo federal tem outra estratégia para reformar os tributos. Não quer mexer na Constituição, nem na divisão de recursos entre Estados. Prefere mudar apenas os impostos e contribuições federais. Isso é feito com projetos de lei, cuja votação exige apenas maioria simples. Ou seja, são maiores as chances de aprovação. Nessa estratégia fatiada, são quatro projetos: o que reforma o PIS/Cofins e cria a Contribuição sobre Bens e Serviço (CBS), o que reforma o Imposto de Renda, o que muda o IPI e o que cria o “passaporte tributário”, um programa de refinanciamento de dívidas mais restrito do que o Refis. Desses, apenas a proposta da CBS já foi apresentada. Tramita como Projeto de Lei 3.887/20. Em tese, a PEC construída por Aguinaldo Ribeiro pode tramitar em paralelo aos projetos de lei preferidos pelo governo. Mas não estava claro, ontem, se esse será o caminho a ser tomado. Numa fala diplomática, o relator da reforma tributária afirmou ontem que não há “fatiamento”. Há, sim, discussão de diferentes temas. Acrescentou que o ministro da Economia, Paulo Guedes, “converge conceitualmente” para a visão refletida em seu relatório. O ministro, que desde sempre defendeu a estratégia do fatiamento, não vê conflito entre suas propostas e as PECs 45 e 110. Diz que são “acopláveis”. A dúvida sobre o que acontecerá ao texto de Aguinaldo decorre do fato de que não existe, nos regimentos do Legislativo, a previsão de uma comissão mista para analisar PEC de reforma tributária. Por isso, o texto de Aguinaldo não pode nem sequer ser votado. O presidente da comissão mista, Roberto Rocha (PSDB-MA) disse que o grupo fez uma análise política da matéria. Aguinaldo já havia apresentado seu texto na comissão na semana passada. No entanto, Rocha deu vista coletiva e novas sugestões puderam ser apresentadas. Aguinaldo atualizou seu relatório, mas não alterou o desenho da reforma. Disse que ajustes formais poderão ser feitos durante as próximas etapas de tramitação da proposta. VALOR ECONÔMICO
Cármen Lúcia limita impacto à União em julgamento sobre retirada de ICMS da base do PIS/Cofins
Em um primeiro passo rumo ao desfecho de um impasse bilionário entre União e empresas, a ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF), votou para que a retirada do ICMS da base de cálculo do PIS/Cofins seja aplicada sobre cobranças feitas após o julgamento original do caso, em 15 de março de 2017. Antes disso, apenas quem já havia ingressado com ações judiciais ou procedimentos administrativos questionando o recolhimento a mais do tributo, poderá pedir devolução dos valores. A Corte já decidiu em 2017 que a cobrança de PIS/Cofins incluindo o ICMS na base de cálculo é inconstitucional, mas o alto impacto nas contas levou o governo a pedir a “modulação” dos efeitos apenas para o futuro. As empresas, por sua vez, querem a devolução do que foi recolhido indevidamente no passado. É essa modulação que é alvo agora de deliberação pelo plenário. O voto de Cármen Lúcia, que é a relatora do caso, está sendo visto por tributaristas como um “meio-termo”, pois limitou o alcance de qualquer efeito retroativo da decisão do STF. A votação deve continuar nesta quinta-feira (13), quando os demais ministros se posicionarão sobre a questão. O cenário, portanto, pode mudar, conforme os votos e eventuais propostas divergentes que ganhem a preferência dos ministros. A Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN) estima que uma decisão favorável às empresas tenha impacto potencial de R$ 258,3 bilhões, um passivo capaz de agravar ainda mais a situação das contas brasileiras. As empresas, por sua vez, questionam o cálculo e também argumentam que ignorar o passivo pode prejudicar os balanços das companhias. A questão é tão sensível para a equipe econômica que, no fim do mês passado, o ministro da Economia, Paulo Guedes, se reuniu com o presidente do STF, ministro Luiz Fux, para tentar apresentar os argumentos da União em defesa do recurso federal. Ele esteve acompanhado do procurador-geral da Fazenda Nacional, Ricardo Soriano. Algumas empresas, por sua vez, se anteciparam à decisão final do STF e passaram a descontar, via créditos tributários, valores pagos a mais no passado com a cobrança de PIS/Cofins sobre o ICMS, ou ainda passaram a incluir esses créditos como ativo em seus balanços. Em seu voto, Cármen Lúcia afastou qualquer ocorrência de “omissão, contradição ou obscuridade” na decisão do STF em 2017, como alegado pela União, que disse não ter sido observada jurisprudência da própria corte ao analisar a questão sobre o ICMS na base de cálculo de contribuições sociais. A ministra informou que os casos levantados pelo governo não se aplicavam ao julgamento atual e sugeriu que a alegação foi feita apenas por discordância. “Não há omissão a se colmatar, pela singela circunstância de que a ausência de acatamento quanto à alegada similitude deveu-se a convencimento, não a omissão. O julgador não é obrigado a acatar o raciocínio posto na causa ou no recurso pela parte”, disse. Em relação à modulação dos efeitos, a ministra ressaltou que se mostrou recomendado preservar a segurança jurídica dos órgãos fazendários, isto é, responsáveis pela arrecadação do governo, admitindo efeitos retroativos apenas para aqueles que já haviam questionado a cobrança. AntecipaçãoNos últimos meses, a Receita Federal já tem observado um crescimento expressivo nas chamadas compensações tributárias, quando empresas declaram ter créditos a receber e usam isso para pagar menos imposto. Em outubro do ano passado, o chefe do Centro de Estudos Tributários e Aduaneiros da Receita, Claudemir Malaquias, reconheceu que esse aumento era fruto da decisão do STF. Na prática, as empresas começaram a se antecipar à decisão do STF e passaram a cobrar os créditos. Só no ano passado, as compensações somaram R$ 167,7 bilhões, um aumento de quase 60% em relação ao observado em 2019, quando o valor ficou em R$ 105,5 bilhões. A tendência permanece para este ano. No primeiro trimestre de 2021, as compensações somaram R$ 48,4 bilhões, contra R$ 34,5 bilhões em igual período de 2020. Os números já estão corrigidos pela inflação. Caso as empresas tenham uma derrota no STF, elas poderão ter que restituir à Receita esses valores descontados indevidamente. Um integrante da equipe econômica explicou ao Broadcast que, independentemente da origem da compensação, ela precisa ser homologada pela Receita em até cinco anos. Nesse período, ela pode ser validada ou alterada se estiver em desacordo com a legislação. “Se a decisão for distinta da que motivou a compensação, necessariamente haverá revisão”, explicou a fonte. Após o julgamento de 2017, diversas companhias, inclusive aquelas listadas na Bolsa de Valores, começaram a incluir os créditos a que julgam ter direito em seus balanços como ativo. O risco, caso o STF decida favorável à União, é essas empresas precisarem reconhecer as perdas, o que teria impacto sobre o mercado de capitais brasileiro, argumentaram empresas, investidores institucionais e companhias abertas em carta aberta divulgada também na véspera da decisão. A Associação Brasileira das Companhias Abertas (Abrasca) afirma que haverá prejuízos e perda de valor de mercado das ações. Há preocupação também em relação à percepção de insegurança jurídica que será passada aos investidores internacionais e agentes econômicos no caso de reversão de uma decisão tomada em plenário e com repercussão geral conhecida. Para o tributarista Luiz Bichara, sócio do Bichara Advogados, a decisão de Cármen Lúcia “estanca” o impacto para a União até 2017, ao mesmo tempo em que limita efeitos retroativos somente para quem já tinha ação judicial antes disso. “Foi um meio-termo”, disse. O advogado, porém, afirmou que ainda é preciso aguardar os demais votos para ter um cenário claro de qual será o desfecho. O ESTADO DE S. PAULO
Maior inflação desde 2008 nos EUA é reflexo de demanda reprimida, diz economista Barry Eichengreen
A alta no índice de preços ao consumidor nos Estados Unidos em abril reflete a retomada da economia americana, com o avanço da campanha de vacinação e uma forte recuperação dos setores mais afetados pela pandemia – como restaurantes e viagens. A avaliação é do economista americano Barry Eichengreen, um dos pesquisadores mais renomados no estudo sobre economia internacional e globalização. Em entrevista ao Estado, Eichengreen diz que não vê no momento uma alta de preços sustentada, e acredita que o aumento da inflação americana seja temporário. De acordo com o relatório do governo americano divulgado nesta quarta-feira (12), o Índice de Preços ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês) registrou uma alta de 0,8% em abril, elevando a taxa de inflação em 12 meses para 4,2% – o maior valor desde setembro de 2008. O CPI é o principal índice de inflação ao consumidor nos Estados Unidos e referência para as projeções do Federal Reserve, o Banco Central americano. O resultado ficou bem acima da média de expectativas do mercado (de 0,3%) e elevou a preocupação de investidores com um possível aumento nas taxas de juro do país no futuro. Apesar da reação do mercado de ações nesta quarta-feira, Eichengreen afirma que ainda é cedo para acreditar que o Federal Reserve (o Banco Central americano) irá reverter a decisão de manter a taxa de referência de juros em um patamar baixo. “Continua sendo improvável que o Fed tome alguma medida antes de 2022”, diz Eichengreen, que é professor de economia na Universidade da Califórnia, em Berkeley. O que explica a alta nos preços ao consumidor nos Estados Unidos em abril?O aumento nos preços atual é limitado a uma parte da economia que sentiu uma recuperação nos gastos como resultado da vacinação generalizada: a venda de passagens aéreas, de carros usados e de hospedagens em hotéis. Os aumentos nos preços desses bens e serviços foram mais fortes do que o esperado. Isso levanta a questão se os gastos das famílias serão fortes após a pandemia ou se as pessoas continuarão mais cautelosas do que antes da pandemia, por causa da situação frágil de suas economias. A resposta parece estar mais ligada ao primeiro caso. Mas o que é surpreendente é que há poucas evidências de transbordamento da inflação para o restante da economia. Pode ser simplesmente que a demanda por alimentação fora de casa esteja aumentando mais rapidamente do que os restaurantes são capazes de atender. Não há razão, neste momento, para descartar a possibilidade de que este último resultado de abril mostre apenas uma inflação transitória. A inflação mais alta pode afetar as políticas fiscais e pacotes de estímulo nos EUA?Não há razão para pensar que a inflação altera as ambições do governo Biden e dos democratas no Congresso ou a resistência dos republicanos no Congresso. Mas é possível que tenha impacto nos efeitos dessas políticas. Se os gastos privados aumentarem mais rapidamente do que o esperado, há uma chance maior de superaquecimento da economia, por causa dos pacotes fiscais e de estímulo do governo. Mas eu enfatizo o “se”. A demanda por refeições em restaurantes, estadias em hotéis, viagens de avião e veículos, estava profundamente deprimida durante a pandemia e agora volta com força total. As pessoas estão tirando as férias que foram forçadas a adiar no ano passado. Mas isso não significa que seus gastos com as férias serão permanentemente maiores. E não nos diz nada, ainda, sobre a evolução futura dos gastos em toda a economia. Vê algum reflexo da inflação americana para a economia global e recuperação pós-covid em todo o mundo?Ainda não. Se achasse que o Fed (o Banco Central americano) iria aumentar as taxas de juros mais cedo do que o esperado, como resultado deste relatório de abril, então sim haveria repercussões. Mas o Fed, assim como eu, suspeita que essa inflação mais recente é transitória. Continua a ser improvável que tome alguma medida antes de 2022. A alta nos preços da energia e das commodities tem impactado os custos em muitos países, inclusive em mercados emergentes como o Brasil. A economia mundial entrou num período de taxa de inflação mais elevada?Os preços da energia e das commodities não estão diretamente ligados ao índice de preços ao consumidor. A perspectiva de um provável forte crescimento da economia americana e global no próximo ano resulta em altos preços das commodities. Mas isso não significa que uma inflação mais alta em toda a economia precisa ocorrer. O ESTADOD E S. PAULO
Executivos de laboratórios veem risco de desinvestimento com quebra de patentes
Desinvestimentos no País e insegurança jurídica são algumas das consequências que a indústria prevê após a decisão anunciada ontem pelo Supremo Tribunal Federal (STF), segundo executivos do setor ouvidos pelo Estadão. O Supremo derrubou as patentes farmacêuticas e de materiais da área de saúde que já foram prorrogadas e estão em vigor há mais de 20 anos no Brasil. Com a decisão, medicamentos de referência hoje com patentes válidas podem ganhar a concorrência de genéricos a partir da data em que a decisão do STF for publicada no Diário Oficial. Entram nessa categoria remédios, por exemplo, de uso oncológico, para o tratamento de doenças como diabetes, HIV e hepatites virais – responsáveis por boa parte do faturamento das empresas farmacêuticas, principalmente multinacionais. Na avaliação de um desses executivos, os ministros do Supremo teriam tratado o setor de forma diferente em relação a outras áreas tecnológicas, como o agronegócio e informática. Procurado, o Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos (Sindusfarma) não comentou a decisão do STF. Já o setor de genéricos viu a decisão como “histórica” (mais informações nesta página). PreçosUm medicamento genérico chega ao mercado com preço 35% menor do que o de referência. Com o passar do tempo e a entrada de novos concorrentes, os valores tendem a cair ainda mais. Essa é uma das vantagens imediatas para o consumidor, dizem especialistas em direito sanitário e saúde pública. Para Eloísa Machado, professora e coordenadora do Supremo em Pauta, da FGV Direito SP, a decisão também reestabelece a normalidade em relação à proteção intelectual no País. Eloísa diz que a extensão da patente no Brasil estava em desacordo com o que prevê o Acordo Trips (tratado internacional, assinado em 1994, que prevê o regramento dos aspectos de propriedade intelectual). “Não é correto e honesto dizer que vai haver desinvestimentos no País.” Para Daniel Dourado, médico, advogado sanitarista e pesquisador da USP e da Universidade de Paris, a medida é acertada, mas não basta para franquear o acesso futuro dos brasileiros a medicamentos de ponta. “Funciona para os medicamentos químicos, mas não para os imunobiológicos, por exemplo”, afirma. O recente apoio dos Estados Unidos à quebra de patentes das vacinas contra a covid- 19 levantou essa questão em relação aos chamados imunobiológicos, vacinas, medicamentos monoclonais e remédios para doenças autoimunes, por exemplo. Ainda que as patentes desses medicamentos e vacinas fossem quebradas, poucos países teriam laboratórios aptos a produzi-los, pois são produtos que requerem transferência de https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg. “São medicamentos que não chegam a 10% das compras do SUS, mas respondem por cerca de 50% dos gastos” diz Dourado. Já o advogado Marcus Vinicius Furtado Coêlho, do Instituto Brasileiro de Propriedade Intelectual (IBPI), elogiou a solução encontrada pelo STF. “Neste momento de pandemia, a decisão atendeu os argumentos da defesa para proteger o direito à saúde e a viabilização de remédios mais baratos para a população”, afirmou Coêlho. O ESTADO DE S. PAULO
Em cinco anos, exposição a riscos cibernéticos cresceu 10 vezes no Brasil
O total de vulnerabilidades encontrado nas redes é hoje dez vezes maior do que o patamar de 2016. Esse número já compreende o “efeito pandemia”, com a adoção em massa do home office, sendo que somente em 2020, as vulnerabilidades tiveram um incremento de 40%. É o que mostra levantamento feito pela empresa brasileira de segurança cibernética GAT InfoSec, com mais de 100 mil ativos da plataforma da empresa. Ou seja, quaisquer ferramentas que possam trazer risco cibernético, desde sistemas operacionais até um endereço de email. A GAT tem entre seus clientes empresas como Cosan, Unimed e Sodexo. Boa parte dessas falhas de segurança poderiam ser evitadas com práticas simples. Segundo a pesquisa, 70% das vulnerabilidades se relacionam à falta de atualização de servidores e estações de trabalho, sendo que 59% dizem respeito a problemas para os quais há correção há mais de um ano. Um achado ainda mais grave do levantamento é que 66% das falhas críticas identificadas não receberam nenhum tratamento apesar de as soluções para mitigá-las já estarem disponíveis há anos. O ESTADOD E S. PAULO
Natura & Co. vê aumento de 166% na venda de produtos online no 1º trimestre
A migração de parte relevante das vendas do Grupo Natura & Co. para a internet é irreversível, de acordo com o presidente da gigante de cosméticos, Roberto Marques. A companhia, segundo ele, aproveitou a pandemia de covid-19 para ampliar as receitas online – na média das marcas do grupo, o avanço do e-commerce no primeiro trimestre foi de 166% em relação ao ano passado, com destaque para a própria Natura (253%). Segundo o executivo, cerca de 12% das vendas totais do grupo são feitas pela internet – na Aesop, marca australiana de luxo que foi a primeira aquisição internacional da brasileira, esse canal já beira os 30%. “Hoje, 48% das vendas da Natura, realizadas em qualquer canal, já são originadas na internet. Há um ano, esse porcentual era de 33%”, disse Marques ao Estadão, na noite de ontem. Os dados do avanço do grupo na internet estão incluídos no balanço que a empresa divulgou ontem, relativo ao primeiro trimestre de 2021. A companhia teve uma alta de 25,8% nas receitas entre janeiro e março, na comparação com o mesmo período do ano passado, para R$ 9,5 bilhões. Quando descontada a desvalorização do real nesse intervalo, a alta é de 8,1%. Embora o grupo tenha ampliado a geração de caixa em 470%, para R$ 829,1 milhões, o negócio ainda enfrenta custos extraordinários decorrentes da incorporação da operação global da Avon, concretizada no início de 2020, antes do início da pandemia de covid-19. O resultado recorrente, que exclui esse efeito, aponta um lucro de R$ 60,2 milhões; sem esse desconto, há um prejuízo líquido de R$ 155,2 milhões. MarcasA Natura & Co. também busca trabalhar sua marca no exterior. Nesta semana, a companhia teve a ajuda de uma pesquisa da Brand Finance, que classificou a Natura como a marca mais valiosa em um ranking que leva em conta tanto aspectos econômicos quanto posicionamento ESG (que inclui as áreas ambiental, social e de governança). Outras bandeiras do grupo, como Avon e The Body Shop, também aparecem na lista das principais grifes. Nesse último ano, outro grande esforço da Natura foi reposicionar a marca Avon e encaixá-la em seu portfólio. Segundo Marques, uma dessas iniciativas foi a participação da marca no Big Brother Brasil – em suas inserções, a Avon falou de temas como diversidade racial e de gênero, temas caros ao grupo Natura & Co. “Acredito que falamos de algo que a Avon faz há 130 anos, sobre empoderamento feminino, mas de uma forma mais atualizada, contemporânea”, disse Marques. Natura x BrasilO executivo disse que a Natura, mesmo em um cenário de críticas à agenda ambiental brasileira lá fora, tem conseguido se manter à margem dos problemas por ter a sustentabilidade em seu DNA. Prova disso foi a emissão de US$ 1 bilhão em títulos nos Estados Unidos, em uma operação que teve demanda quatro vezes maior do que a oferta. Outra questão que preocupa a empresa é a velocidade da vacinação no Brasil e na América Latina. “É uma preocupação, pois o mundo está muito desigual em relação à vacinação. Temos trabalhado prioritariamente em um esforço de doações, com a meta de acelerar o processo de vacinação. Mas acreditamos que não podemos seguir qualquer prioridade que não seja definida pelo sistema públ O ESTADO DE S. PAULO
Como o brasileiro entende colaboração no home office
O cenário imposto pela pandemia trouxe uma sensação de sobrecarga para 62% profissionais, embora 41% deles estejam se sentindo “muito produtivos” no home office. Parte dessa produtividade pode estar relacionada ao maior uso de ferramentas digitais: 85% dos profissionais relataram ter descoberto novas formas para compartilhar arquivos. Os dados integram uma pesquisa obtida pelo Valor e realizada pela IDC Brasil a pedido do Google. Foram entrevistados cerca de 900 profissionais, sendo 48% do nível de gestão, incluindo C-Level, e 45% são funcionários de empresas com mais de 2,5 mil pessoas. “Escutamos de várias empresas que estão aproveitando o momento para repensar toda a cultura colaborativa e novas opções para o remoto, presencial e híbrido”, diz Marco Bravo, head do Google Cloud no Brasil. A pesquisa também indica o que os funcionários entendem por colaboração em um cenário no qual o trabalho remoto ganhou escala. Quase metade dos entrevistados apontaram criar arquivos compartilhados para trabalhar em conjunto, como apresentações, planilhas e documentos de texto, 16% montar salas de bate-papo para discutir projetos específicos, 15% usar redes sociais internas para colaborar em projetos e fóruns, 12% construir sites para compartilhamento de conteúdo entre a organização, times e pessoas e 10% projetar arquivos durante videoconferência e execução de ajustes ou comentários em tempo real. “Um ano após a pandemia, já se quebrou a premissa de que a colaboração é ‘one size fits all’. Não se colabora só de uma forma, nem só de um local”, diz Bravo. De forma geral, 81% dos entrevistados disseram que sua empresa passou a colaborar mais durante a pandemia com ferramentas digitais. A maior adoção dessas ferramentas e compartilhamento de arquivos também vem ajudando os profissionais a cultivar um senso de pertencimento com a empresa, afirma Raquel Cabral, head de vendas para o Google Workspace. Somente o tempo dedicado ao Google Meet, ferramenta para reuniões virtuais, aumentou 20 vezes no Brasil no último ano, segundo Raquel. De janeiro até agora, o uso da plataforma cresceu 275% no país. A empresa fez adaptações no Workspace, que reúne ferramentas de trabalho como calendário, Gmail e o Meet, para deixá-lo mais colaborativo e integrado em termos de experiência única ao usuário. A empresa agora trabalha em funcionalidades que valerão no modelo híbrido de trabalho que as companhias estão desenhando. “Já temos aqui dentro a opção de aceitar um convite de reunião de três formas: ‘não vou’; ‘sim, eu vou presencial’; ‘sim, eu vou estar remoto’, diz Bravo, comentando sobre o Google. A pesquisa da IDC Brasil indica que 22% dos profissionais, entre os 297 pertencentes a empresas que não definiram o modelo de trabalho pós-pandemia, desejam voltar todos os dias ao escritório. Metade dos entrevistados disseram que o que mais sentem falta no home office é o cafezinho com os colegas. Mas é o modelo híbrido que vem se desenhando: 43% afirmam que esse modelo já foi definido por suas empresas como padrão. A parcela mais jovem (de 18 a 21 anos) é quem mais se anima com esse formato: 76%. As lideranças também enxergam a modalidade com confiança (54%) e entusiasmo (52%). VALOR ECONÔMICO
Mentoria reversa olha para a diversidade
Disposta a reduzir ruídos provocados por quatro gerações de funcionários convivendo (remotamente) no ambiente corporativo – com valores, pensamentos, expectativas e comportamentos bem distintos -, a Bayer vem investindo em programas de mentoria para aproximar jovens e executivos. Este mês, a companhia acaba de finalizar a terceira edição do programa de mentoria reversa, onde os mais novos dividem seus conhecimentos com os mais seniores. Nas duas primeiras edições do programa, as orientações se limitavam basicamente à esfera tecnológica, como ferramentas digitais e mídias sociais. Com a chegada da pandemia, no entanto, o escopo da iniciativa foi ampliado, tanto no que diz respeito ao número de participantes quanto ao leque de temas abordados. Essa tem sido uma tendência seguida por outras empresas que promovem esse tipo de programa. “Essa mentoria às avessas consiste em uma estratégia de conscientização voltada, sobretudo, para as temáticas de diversidade e inclusão”, explica Rosa Bernhoeft, sócia-fundadora da Alba, consultoria de recursos humanos, e autora de dois livros sobre mentoring. “Dependendo do contexto e das prioridades de cada empresa, algumas optam por focar em LGBTQI+, negros, mulheres, pessoas com deficiência ou mesmo nas diferenças geracionais.” De acordo com pesquisa das consultorias ASTD Workforce Development e VitalSmarts, 35% dos profissionais gastam, em média, cinco horas por semana lidando com conflitos mal resolvidos entre gerações – o equivalente a uma perda de produtividade de 12%. “A complexidade do cenário pandêmico atingiu as gerações de modo variado, promovendo a distância a partir de uma nova modalidade de trabalho, trazendo incertezas, pressões e dúvidas sobre como lidar com os times. Foi quando decidimos intensificar a interação entre mentores e ‘mentees’”, afirma Francila Calica, gerente de assuntos da indústria da Bayer e líder do Infinite, grupo interno que discute questões geracionais. Segundo ela, de uma edição para outra do programa de mentoria reversa, houve um salto de 16 para 46 no número de participantes. Novos temas como flexibilidade cognitiva, atitude maker, liderança facilitadora, propósito, pensamento crítico e cultura de dados também foram introduzidos. “Demos, entretanto, toda a liberdade para que as duplas definissem suas próprias pautas durante os encontros online, além, é claro, de garantir a confidencialidade das conversas.” A millennial Nicole Cibella, de 29 anos, especialista em inteligência de mercado da área de oncologia da Bayer, e o baby boomer Gilmar Beraldo, de 60 anos, líder de engenharia para a América Latina, integraram o programa e, ao longo de seis meses, tiveram reuniões quinzenais de cerca de uma hora cada. O “match” corporativo aconteceu quando Beraldo foi convidado a assistir vídeos nos quais cinco mentores (todos considerados de alta performance pela companhia) se apresentavam. “Dei sorte, a Nicole foi minha primeira escolha, e desde o começo estabelecemos um ambiente amigável, de confiança e empatia”, diz o executivo. “Com ela aprendi mais sobre o que move as novas gerações, a fornecer mais contexto aos jovens da minha equipe, associando meta a propósito, e a realizar sessões de feedback mais leves e assertivas.” Nicole, que participou de um workshop preparatório antes de vestir o chapéu de mentora, também afirma ter aprendido bastante com a experiência. “Fiquei surpresa e um pouco apreensiva com o convite, porém logo vi que o Gilmar, uma pessoa sintonizada com as mudanças na sociedade e no mercado, estava realmente propenso a uma escuta ativa, a se transformar e se reinventar. E, mais do que isso, a compartilhar comigo suas vivências e seus conselhos”, conta. “Sem dúvida foi uma ajuda mútua, como tem de ser. Afinal, independentemente de idade ou anos de estrada, cada um exerce um papel fundamental na empresa e tem sua contribuição a dar para os resultados do negócio.” Assim como aconteceu com Nicole e Beraldo – ela da unidade de saúde, ele de agro -, o ideal é que o dueto mentor e mentorado se distinga não apenas por faixa etária, mas que atue em áreas, unidades de negócios e até regiões diferentes. Cátia Pinto, de 32 anos, gerente de performance de produção, mentora do presidente da Novelis, Francisco Pires, de 52, por exemplo, trabalha na fábrica da empresa, em Pindamonhangaba, interior de São Paulo. O executivo fica no escritório, localizado na capital. “Ao estimular discussões construtivas e mostrar sua própria visão de mundo e de trabalho, minha mentora me permitiu compreender melhor a cultura da companhia, a dinâmica de várias camadas hierárquicas e, mais especificamente, o cotidiano da nossa operação”, diz Pires, que, em tom de brincadeira, reclama das lições de casa passadas por Cátia no decorrer de todo o treinamento. Como resultado dessa relação, ambos deram início a estudos visando a implementação de uma série de melhorias na empresa. Mesmo após o encerramento do programa, eles já têm mais uma reunião marcada para verificar a evolução de seus projetos conjuntos. “Fui tão positivamente surpreendido pela mentoria reversa que não hesitei em citá-la no último encontro global de diversidade e inclusão, o que acabou gerando um grande interesse entre os presidentes da Novelis de outros países”, afirma Pires. O programa de mentoria reversa é visto como um forte instrumento para alavancar a agenda de diversidade e inclusão no meio empresarial. “Essa conversa criativa, baseada na troca de conhecimento e experiências para a construção de novas soluções, tende a gerar efeitos positivos no negócio e pavimentar o caminho das organizações rumo a um futuro sustentável”, diz a consultora Rosa Bernhoeft. “A adoção de políticas dirigidas a diferenças é imprescindível para empresas que buscam inovação, e envolve ganhos reais relacionados ao revigoramento da cultura, ao incremento da produtividade e à retenção dos jovens talentos, que se veem inseridos em um ambiente propício à sua evolução.” Na IBM, desde 2017 a mentoria reversa prevê um modelo interseccional de diversidade com vistas à sensibilização das altas lideranças em quatro pilares: étnico-racial, LGBTQI+, pessoas com deficiência e mulheres. Feito por vídeo-chamada e conduzido por um moderador, o treinamento considera um ou dois executivos mentorados e quatro mentores, cada qual pertencente a um grupo de afinidade. Os mentores relatam suas histórias de vida, incluindo as adversidades, os preconceitos sofridos e
Isolamento leva recuperação do setor de serviços a desacelerar em março
A queda dos serviços em março, em meio à piora na pandemia e a mais restrições, veio um pouco acima do esperado, mas não assustou economistas. A leitura é que, assim como indicado pela indústria e pelo varejo no mês, o impacto da segunda onda na atividade brasileira se mostra bem menos intenso do que o observado no choque inicial do ano passado. Mesmo assim, o movimento dos serviços aponta para desaceleração no ritmo de recuperação e também para um desempenho ainda muito heterogêneo entre os seus segmentos. O volume de serviços prestados recuou 4% em março, ante fevereiro, segundo a Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) divulgada ontem pelo IBGE. A queda foi maior que a mediana de -3,3% colhida pelo Valor Data, mas economistas observaram que houve revisões altistas na série, o que deixa os resultados mais próximos em termos de nível. Na comparação com igual mês do ano anterior, o setor interrompeu 12 quedas seguidas ao subir 4,5%, influenciado pela base de comparação baixa de março de 2020, quando a pandemia chegou aqui. Com o resultado de março, os serviços voltaram a ficar abaixo do patamar pré-covid, destaca Rodrigo Lobo, gerente da PMS. “Em fevereiro, o setor tinha ultrapassado pela primeira vez o patamar pré-pandemia, chegando a ficar 0,8% acima do nível de fevereiro de 2020. Com esse revés de março de 2021, volta a se situar 2,8% abaixo.” A queda foi puxada pelas perdas de 27% nos serviços prestados às famílias – a maior desde abril de 2020 (-45,6%) e que deixou o segmento 44,4% abaixo do nível pré-covid- e de 1,9% nos transportes, ainda 1,4% acima do patamar anterior à pandemia. Também houve contração nos serviços profissionais e administrativos (-1,4%), para nível 3,6% inferior ao pré-crise. “Serviços de caráter mais presencial são os que mais sentem os efeitos das medidas restritivas, como os prestados às famílias, entre eles alojamento e alimentação”, diz Lobo, citando subdivisão que tombou 28%. Os dois segmentos com alta em março foram informação e comunicação (1,9%) e outros serviços (3,7%), ambos agora 4,7% acima do nível de fevereiro de 2020. O quadro entre segmentos é “muito heterogêneo”, resume Lucas Rocca, economista da LCA Consultores. Ele destaca ainda que o primeiro trimestre de 2021 continuou com crescimento na margem – 2,8% ante o último trimestre de 2020, na série com ajuste -, mas está desacelerando. “A recuperação dos serviços já foi mais forte, especialmente na segunda metade do ano passado. Na passagem de ano, temos uma perda de ritmo.” A ausência de estímulos no período, como o auxílio emergencial e o BEm (para sustentação do emprego), e a inflação, diz Rocca, contribuíram para reduzir a renda disponível das famílias, o que afeta o consumo. Além disso, há restrições de oferta com o isolamento. Em março deste ano, no entanto, a queda dos serviços foi inferior à de março de 2020 (-6,6%), o que, segundo Lobo, do IBGE, reflete, entre outras coisas, o maior aprendizado das empresas para lidar com a realidade de funcionamento em épocas de restrição. Os efeitos das regras mais duras de mobilidade devem deixar resquícios para abril, observa Flávio Serrano, economista-chefe da Greenbay. “Ainda devemos ver dados fracos para indústria, comércio e serviços”, diz. Não parece haver um consenso entre economistas, porém, em relação aos serviços. “A questão agora é saber se na passagem de março para abril será positivo, se vai crescer acima ou não daquela base. Tudo indica que, possivelmente, não”, diz Mayara Santiago, pesquisadora da área de Economia Aplicada do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre). A MCM Consultores projeta estabilidade. Já a XP estima, preliminarmente, alta de 2,1%. “Os índices de confiança das sondagens do consumidor e de serviços relativos a abril recuperaram cerca de metade da expressiva contração registrada em março. Além disso, a maioria dos índices de mobilidade – incluindo atividades de lazer/recreação – vem subindo de forma significativa desde meados de abril, aproximando-se dos níveis registrados no início de fevereiro”, escreve o economista Rodolfo Margato. VALOR ECONÔMICO