Novo presidente da Câmara terá desafio de aprovar tributária e conter teto de gastos

Além de unificar o racha político na Câmara dos Deputados, que opõe a base do governo aos aliados do deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), o novo presidente da Casa terá o desafio de retomar reformas importantes para recolocar o país numa trajetória de dívida sustentável. A aprovação da reforma da Previdência, em 2019, levou a uma expectativa no mercado de que seria possível enfrentar, durante o governo Jair Bolsonaro (sem partido), outros entraves. Na lista dos especialistas estavam a mudança no sistema tributário e a reestruturação do serviço público, medidas que poderiam melhorar a produtividade no país. No entanto, como admitiu o próprio ministro Paulo Guedes (Economia), ainda em abril, a pandemia de Covid-19 provocou uma mudança de agenda que escanteou as negociações para aprovar as reformas tributária e administrativa, assim como outros textos que buscam melhorar a situação fiscal do país. A emergência sanitária exigiu do Congresso respostas rápidas para compensar a letargia inicial do governo diante dos efeitos da pandemia na vida da população brasileira e sobre as finanças do país. Mais de 195 mil mortos depois e com um rombo que deve chegar a R$ 831,8 bilhões no acumulado do ano passado, o governo retomou as articulações no Congresso para tentar aprovar o que ficou pelo caminho ao longo de 2020. Na Câmara, a pauta econômica do governo deve encontrar amparo nos dois favoritos para presidir a Casa, seja o presidente do MDB, Baleia Rossi (SP), indicado pelo grupo de Maia, seja o nome apoiado por Bolsonaro, o deputado Arthur Lira (PP-AL) —nesse último caso, porém, com algumas desconfianças em relação ao apoio estrito às reformas de Guedes. Baleia, se eleito, tem como tarefa encaminhar uma pauta econômica complexa, começando pela reforma tributária. O presidente do MDB é autor de uma das PECs (Proposta de Emenda à Constituição) em tramitação no Congresso, a PEC 45, que substitui cinco tributos. O texto é relatado por outro nome que era favorito de Maia para presidir a Casa, o deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), líder da Maioria e que abriu mão da pré-candidatura em favor do colega do MDB. Baleia representa continuidade da agenda econômica defendida por Maia, que em muitos momentos se alinha com a de Guedes —apesar de ambos terem tido embates, com acusações recíprocas de que estavam sendo criadas dificuldades para travar o encaminhamento das reformas. Lira, por sua vez, defende, em sua rede social, a aprovação de projetos que possam ampliar o equilíbrio de gastos e estabelecer bases sólidas para o investimento no país. “É importante nesse processo olharmos pelo equilíbrio fiscal do país, limitado ao teto de gastos, desfazendo informações equivocadas publicadas”, afirmou recentemente. A observação feita pelo líder do PP na Câmara busca dissociá-lo de uma das críticas que o deputado sofre nos bastidores de aliados de Maia, de que seu verniz liberal seria “de ocasião”. No passado, o líder do centrão já manifestou apoio às reformas estruturantes, mas com ponderações sobre a necessidade de não deixar de lado alguns pontos que considera importantes. Em fevereiro, por exemplo, publicou em uma rede social que as reformas eram importantes para a economia, mas a longo prazo. “Não podemos perder de vista o agravamento da crise social com o aumento do mercado de trabalho informal e do desemprego que reluta em cair”, escreveu. Assim como Maia, já manifestou discordância pública de medidas adotadas por Guedes. Em abril, em entrevista à CNN, afirmou que o ministro estava mais preocupado com bancos do que com a reconstrução do país. “Na minha visão, gerar emprego, alavancar a economia, entregar as obras: isso é pensar na reconstrução do país.” Ao assumir a presidência um ano antes da eleição de 2022, o próximo a comandar a Câmara vai entrar no fogo cruzado da discussão sobre a preservação ou flexibilização do teto de gastos. Governo e parlamentares estão divididos. Em agosto de 2020, o próprio Bolsonaro admitiu haver conversas sobre o assunto. Com a forte reação negativa do mercado financeiro, ele foi obrigado a recuar e negar a intenção de alterar o mecanismo. Rossi e Lira coincidem em rejeitar qualquer flexibilização da regra que limita o crescimento da despesa à inflação nos 12 meses até junho do ano anterior. Há afinidade ainda em outra agenda defendida por Guedes, mas ainda não implementada: a de privatizações. Lira já afirmou que a venda de estatais poderá liberar recursos para o governo e desafogar o Orçamento. No entanto, reconhece haver dificuldades nessa pauta, em especial no caso da Eletrobras, que encontra resistência no Senado —situação que aumentou após o apagão no Amapá. O próximo presidente também terá de encaminhar a reforma administrativa, que reestrutura o serviço público. Naturalmente impopular, a possibilidade de aprovar as mudanças diminui a cada mês que se aproxima da eleição de 2022. Nesse caso, o desafio é grande qualquer que seja o eleito, mas a pressão sobre o grupo de Maia é maior. Para se contrapor a Lira, candidato do governo, a oposição fechou acordo com o bloco do atual presidente, na expectativa de ser um fator a ser considerado pelo próximo presidente no debate de medidas que entram em conflito com a pauta da esquerda, como a reestruturação do serviço público. PT, PSB, PC do B e PDT divulgaram um manifesto contra projetos como o que prevê a autonomia do Banco Central e privatizações. Buscam, ainda, convencer os partidos que compõem o bloco de Maia a apoiar a prorrogação do auxílio emergencial e outras pautas de caráter social, mas que podem arriscar a frágil saúde fiscal do país. PAUTAS ECONÔMICASPEC EMERGENCIALO que éPrevê o acionamento de gatilhos de ajuste fiscal para controlar os gastos do governo, retira amarras do Orçamento e pode prever a criação de um novo programa social SituaçãoTravada no Senado desde 2019, a proposta foi adiada para 2021 TETO DE GASTOSO que éInstrumento que limita o crescimento das despesas à inflação do ano anterior SituaçãoHá pressão para que o governo flexibilize o mecanismo, para que possa ampliar investimentos em obras e programas sociais. Se isso ocorrer, no entanto,

Três contribuições para diminuir as desigualdades (Mariana Almeida)

A mais rica metrópole da América Latina reelegeu o prefeito Bruno Covas (PSDB) para mais quatro anos de mandato. Em seu plano de governo para a cidade com mais de 12,2 milhões de moradores, o então candidato destacou a palavra “desigualdade” em seis oportunidades nas quase 50 páginas do documento público, metade delas atrelada à ideia de disparidade regional entre os 96 distritos da capital. Sanar a desigualdade territorial persistente exige do gestor público um olhar e uma ação específicos e claramente direcionados. Por isso, a Fundação Tide Setubal e a Rede Nossa São Paulo criaram, no período pré-campanha eleitoral, o projeto (Re)age SP – Virando o jogo das desigualdades na cidade. Ele apresenta 50 metas palpáveis para a gestão pública até 2030, com clara prioridade para a redução das desigualdades e a melhoria da qualidade de vida. Além dos objetivos de longo prazo, as 50 metas também preveem resultados a serem obtidos até 2024, período do novo mandato de Covas, a quem as metas foram apresentadas ainda durante a campanha eleitoral. Mudar exige um olhar de longo prazo e sistêmico, porque as desigualdades são históricas Atualmente, a administração pública já pode contar com diversos mecanismos concretos de gestão e de planejamento orçamentário para enfrentar as desigualdades socioespaciais, tão flagrantes na cidade que, apesar de concentrar 10% do PIB do país, conta com bairros periféricos bastante populosos e em situação de vulnerabilidade, com problemas de décadas como enchentes, falta de saneamento básico e desemprego. Para isso, estão destacadas abaixo três das 50 metas contidas no documento do (Re)age SP, que podem ser assumidas pelo prefeito como prioridade em 1º de janeiro. A primeira delas é o incentivo à geração de emprego e renda em setores de economia criativa e de uso intensivo de https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg como uma estratégia para descentralizar o acesso ao emprego e à renda. As periferias paulistanas são espaços de potência e de criatividade, com forte vocação para o empreendedorismo de impacto social e vibrantes em termos econômicos e culturais, com centenas de pequenos empreendedores ávidos por crescimento, entre eles muitos jovens. Basta assistir ao recente documentário É tudo para ontem, produzido pelo rapper Emicida, para entender do que estamos falando. Para 2024, segundo o (Re)age, uma meta intermediária palpável seria a metrópole aumentar em 8% a proporção de empregos formais nas cadeias produtivas de economia criativa e em setores de média e alta intensidade tecnológica e de conhecimento, contribuindo assim para fazer girar a economia nas franjas da cidade. A pandemia mundial de coronavírus evidenciou desde março deste ano as fragilidades do sistema de saúde da capital paulista, que contabilizou mais de 15 mil mortos por covid-19 até meados de dezembro. Esse sistema continuará sendo testado mesmo após a vacinação, uma vez que a pandemia deixará um preocupante rastro de sequelas físicas e mentais na população, sobretudo entre os mais vulneráveis. É por isso que a segunda meta que queremos destacar propõe a ampliação da cobertura da Estratégia Saúde da Família, iniciativa de atenção básica que coloca equipes multidisciplinares nos territórios, alcançando, até 2024, 50% de cobertura do programa, que em 2019 cobria apenas 38,05% do município. O acompanhamento atento da saúde pode inclusive diminuir a sobrecarrega de unidades de atendimento. A terceira meta talvez seja das mais importantes, amparando todas as metas previstas no plano. Trata-se de direcionar mais recursos para os bairros que mais precisam, ou seja, distribuir de maneira equânime o orçamento da cidade que financia todas as políticas públicas. Essa necessidade motivou a criação, pelo (Re)age SP, do Índice de (Re)distribuição Territorial do Orçamento Público Municipal. O Índice é um novo modelo de planejamento pelo qual as subprefeituras com mais déficit de infraestrutura urbana e com mais habitantes vivendo em condições de vulnerabilidade recebem a maior parte do orçamento municipal, em oposição a outras regiões já mais bem assistidas. Desigualdades históricas da capital podem ser enfrentadas a cada nova gestão. Se o objetivo é melhorar de fato a realidade nos territórios periféricos, isso exige um olhar de longo prazo e sistêmico, porque as desigualdades não são construídas em uma gestão, elas são históricas e multicausais. Logo, a solução total também não se dará só em quatro anos. Portanto, sempre faz muita diferença direcionar recursos, com intencionalidade clara, ao longo de vários mandatos de prefeito(a), para as regiões periféricas, em infraestrutura e serviços públicos (saneamento, moradia, transporte, educação, saúde etc.), de modo a equalizar seu desenvolvimento em relação ao Centro. O Índice apresenta à gestão municipal o problema e o caminho para resolvê-lo. Segundo estimativa do (Re)age SP, São Paulo terá R$ 11,59 bilhões disponíveis para novos investimentos nos próximos quatro anos (2021-2024). Remodelando-se a lógica de distribuição, Cidade Tiradentes, mais vulnerável, receberia, por exemplo, três vezes (mais de R$ 290 milhões) o aporte da Vila Mariana (R$ 96 milhões), mais desenvolvida. Isso pode se aplicar a demais bairros e consiste em modelo de planejamento e de uso de recursos de fato comprometido com a redução das desigualdades internas. Em São Paulo, embora a Prefeitura Municipal já esteja sensível ao tema e já tenha avançado na implantação de critérios de regionalização, infelizmente o direcionamento do orçamento ainda não leva em conta essas diferenças, obedecendo mais a uma lógica de investimento realizado por áreas ou pastas, sendo que as informações seguem sendo insuficientes para a sociedade avaliar onde, no território, ocorrem os investimentos. Sem a informação de para qual região exata o recurso está indo, torna-se quase impossível medir se a cidade está gastando bem ou não os recursos que possui e alcançando ou não a efetiva diminuição de disparidades entre áreas com resultados positivos para a vida do morador, razão de ser da política municipal. Planejar é preciso; executar bem é urgente. Mariana Almeida é superintendente da Fundação Tide Setubal, professora do Programa Avançado em Gestão Pública do Insper, na área de orçamento público, e doutora em Economia do Desenvolvimento pela FEA-USP VALOR ECONÔMICO

Carga tributária (Bernard Appy)

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É muito comum ouvirmos falar que a carga tributária no Brasil é alta para um país com nosso grau de desenvolvimento. Para avaliar tal afirmação, é importante entender como é contabilizada a carga tributária no Brasil. A Receita Federal costuma publicar anualmente um estudo sobre a carga tributária no Brasil. Usualmente, o estudo sobre a carga tributária de um ano é publicado no final do ano seguinte, mas, como o estudo não foi publicado em 2020, o último dado disponível é relativo ao ano de 2018. Naquele ano, segundo a Receita Federal, a carga tributária brasileira foi de 33,3% do Produto Interno Bruto (PIB), valor próximo à média da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), de 34,3% do PIB, mas bem superior ao dos países da América Latina e do Caribe (22,8% do PIB em 2017). Ou seja, o Brasil tem uma carga tributária semelhante à de países desenvolvidos, mas bem superior ao padrão dos países em desenvolvimento da América Latina. A Receita Federal segue o padrão da OCDE, que exclui do cálculo os royalties de petróleo e de outros produtos minerais, que são considerados como receitas patrimoniais (decorrentes da venda de ativos da União). Essa opção leva a uma subestimação do efetivo potencial de financiamento dos gastos do setor público, que em alguns países com alta receita advinda de royalties pode ser relevante (caso, por exemplo, do México, cuja carga tributária em 2018, sem royalties, foi de 16,1% do PIB). Por outro lado, os dados de carga tributária do Brasil incluem tributos que não constituem efetivamente receita do poder público. Esse é o caso, por exemplo, das contribuições para o Sistema S (0,3% do PIB), que são destinadas para instituições privadas. É o caso também da contribuição para o FGTS (1,8% do PIB), que é uma forma de poupança compulsória dos trabalhadores, e não uma receita disponível para financiar despesas do setor público. Ou seja, uma parte do diferencial entre a carga tributária do Brasil e a de outros países em desenvolvimento se deve à opção do nosso país por gerir, via arrecadação, recursos de terceiros. Mesmo as contribuições para a previdência são, na prática, recursos de terceiros. De fato, tais contribuições são o custo do financiamento dos benefícios que serão recebidos pelos trabalhadores no futuro. Se as contribuições para a previdência forem atuarialmente equilibradas com os benefícios (ou seja, se pelo mesmo custo for possível adquirir um benefício semelhante numa previdência privada de baixo risco), então essas são, efetivamente, uma forma de poupança de seus beneficiários, ainda que gerida pelo setor público. Fica em aberto a questão sobre se há equilíbrio atuarial entre contribuições e benefícios na previdência pública brasileira. Embora essa seja uma questão sujeita a debates, uma análise simplificada indica que, para uma taxa real de desconto de 3% ao ano, a contribuição necessária para financiar os benefícios da previdência brasileira seria próxima de 30% do salário, o que é um valor semelhante à soma das contribuições de empregados (de 8% a 11% do salário, em 2018) e dos empregadores (20%). Considerando que as contribuições para a previdência no Brasil foram de 6,7% do PIB em 2018 (5,4% do PIB para o INSS e 1,3% do PIB para a previdência dos servidores públicos), esse é um ponto importante quando queremos comparar nossa carga tributária com países como o Chile, onde a previdência é basicamente privada. Obviamente, a carga tributária no Chile (21,1% do PIB em 2018) tende a ser mais baixa que no Brasil. Em boa medida, no entanto, essa diferença se deve ao modelo de financiamento da previdência. Em suma, a carga tributária brasileira é, sim, alta para um país com nosso grau de desenvolvimento. Mas boa parte dessa elevada carga tributária deve-se a um regime de previdência pública bem mais generoso e abrangente que nos demais países em desenvolvimento, bem como ao fato de que, no Brasil, o governo arrecada, através de tributos, recursos que não pertencem ao setor público, e sim a terceiros. O ESTADO DE S. PAULO

Incertezas derrubam confiança empresarial

Incertezas na evolução da economia e da pandemia levaram a uma queda de 0,4 ponto no Índice de Confiança Empresarial (ICE) entre novembro e dezembro de 2020, para 95,2 pontos, informou ontem a Fundação Getulio Vargas (FGV). Com essa terceira queda consecutiva do ICE, o indicador caiu ao menor patamar desde agosto do ano passado (94,5 pontos). Dezembro trouxe poucas notícias boas na atividade econômica, admitiu o Superintendente de Estatísticas do Instituto Brasileiro de Economia da FGV (FGV/Ibre) Aloisio Campelo. “Acho pouco provável que ele [o indicador] suba agora”, afirmou. Para ele, sem auxílio emergencial, e com fraca atividade nos setores de comércio e de serviços, em meio a aumento de casos de covid-19 no país, a confiança empresarial deve continuar a cair no começo de 2021. O técnico comentou que o fim de pagamento de auxílio deve diminuir o consumo e, com isso, reduzir demanda interna. Isso vai influenciar negativamente humor do empresário. Por sua vez, comércio e serviços, mais de 70% do Produto Interno Bruto (PIB) do país, não se recuperaram do impacto negativo da pandemia. Isso porque, desde meados de março do ano passado, foram os mais afetados pela crise causada por covid-19, devido à recomendação de restrição de circulação social, para inibir contaminação pela doença. “Comércio e serviços recuperaram muito pouco [do que perderam na pandemia]”, afirmou. Isso se refletiu nos patamares de confiança do empresariado, de cada um desses setores. Cálculos da FGV apontam que, das perdas de confiança entre março e abril de 2020, em diferentes setores da economia devido à pandemia, a atividade de serviços teria recuperado até dezembro de 2020 em torno de 81%, do que recuou naquele período. Comércio, por sua vez, teria recuperado 79%. Campelo comentou que há notícias sobre possibilidade de começo de vacinação em 2021, o que poderia ajudar a elevar o humor do empresariado. No entanto, incertezas que rondam os campos econômico e sanitário, no começo do ano, elevam cautela, e inibem retomada da confiança. “Temos agora informação de mais uma onda [de covid-19] e a vacina demorando, e vírus mutante chegando” acrescentou, referindo-se à nova cepa, descoberta no Reino Unido, que já chegou ao Brasil. A ausência de notícias boas no momento presente, bem como perspectivas negativas para os próximos meses, se refletiu nos subindicadores componentes do ICE. O Índice de Situação Atual (ISA) caiu 0,2 ponto entre novembro e dezembro para 97,8 pontos; já o Índice de Expectativas (IE) caiu 0,3 ponto, para 94,3 pontos. “Acho mais certo prever o ISA calibrando para baixo [nos próximos meses]”, admitiu. VALOR ECONÔMICO

Fim do auxílio emergencial preocupa comércio popular de São Paulo

O fim do auxílio emergencial, o cancelamento do Carnaval em fevereiro e o risco de novas restrições baixaram a expectativa do comércio popular paulista, cujas perdas anuais foram amenizadas em parte pelo consumo nas classes C, D e E. O fim do benefício, que injetou R$ 32 bilhões no varejo estadual, segundo a FecomercioSP, já preocupa lojistas. Sem o dinheiro às famílias mais pobres, a alta de 1,6% no faturamento do setor em São Paulo teria gerado recuo de 2,6% em 2020, segundo a entidade. “O cenário de pessoas que perderam renda média de R$ 250 e passaram a receber R$ 600 não existirá mais ao consumo. O comércio popular vai sentir de forma geral, em especial nos supermercados e nas lojas de construção”, afirma Fábio Pina, assessor econômico da FecomercioSP. Nas imediações da rua 25 de Março, em São Paulo, a estimativa de fechamento de lojas antes da reabertura comercial de junho era de 12% —a região tem cerca de 4.800 pontos de venda. “Estamos incertos sobre quantas sobrevivem. O consumo deve cair sem Carnaval [em fevereiro] e auxílio, mas o custo segue alto”, diz Claudia Urias, da Univinco, associação de comércio da 25. “Como é um mercado totalmente popular, muitos clientes que vinham à região traziam um percentual do auxílio; era R$ 300 para o mercado, R$ 100 para as contas e R$ 200 para a 25”, afirma Ondamar Ferreira, gerente da Armarinhos Fernando, uma das maiores lojas da região. Para o conselheiro-executivo da Alobrás (lojistas do Brás), Lauro Pimenta, após a redução do pagamento mensal aos beneficiários, o valor das compras diminuiu. “Foi tão frequente ver consumidores usando carteiras digitais para pagar suas contas que os comerciantes tiveram de correr para receber pagamentos eletrônicos”, diz. O tíquete médio de compras do auxílio emergencial foi de R$ 108 por transação, segundo a Cielo, a partir de pagamentos via Caixa Tem. FOLHA DE S. PAULO

Balança comercial fecha 2020 com superávit de US$ 51 bilhões

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A venda de produtos agropecuários para o exterior evitou um tombo maior nas exportações brasileiras e fez com que o Brasil terminasse o ano de 2020 com um saldo comercial de US$ 51 bilhões. O valor representa uma alta de 6,2% em relação ao resultado da balança comercial de 2019. No ano passado, a pandemia do coronavírus afetou mais as importações do que as exportações. De um lado, as compras de produtos do exterior caíram 9,7%, com a demanda interna reduzida e a economia em queda. Do outro, as exportações caíram 6,1%, principalmente por causa da retração nas compras por países como Estados Unidos, Argentina e da União Europeia, também reflexo do surto de covid-19 no mundo todo. De acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério da Economia, as exportações somaram US$ 209,9bilhões no ano passado e, as importações, US$ 158,9 bilhões. No geral, a pandemia levou a um recuo de 7,7% na corrente de comércio do Brasil com os demais países, incluindo vendas e compras do exterior. Nas importações, houve recuo de 3,9% nas compras de produtos agropecuários, de 7,7% em produtos da indústria de transformação e 41,2% na indústria extrativa, este último impactado pela queda do preço de petróleo. Nas exportações, o desempenho não foi pior graças ao setor agropecuário, cujas vendas subiram 6% em 2020. Houve queda de 2,7% nas vendas da indústria extrativa e de 11,3% em produtos da indústria de transformação Para este ano, a Secretaria de Comércio Exterior do Ministério da Economia espera uma alta de 3,9% no saldo da balança comercial em 2021, com aumento de exportações e importações. A expectativa é de que o saldo comercial encerre o ano no azul em US$ 53 bilhões, e que as exportações cresçam 5,3% em 2021 e as importações, 5,8%. O secretário de Comércio Exterior, Lucas Ferraz, disse que a recuperação deve se dar em todos os setores, mas destacou a alta esperada na venda de produtos industrializados. “Entendemos que com o passar da pandemia o Brasil deve voltar a recuperar mercado em destinos de produtos manufaturados, como EUA e União Europeia”, afirmou. Em 2020, os produtos agropecuários representaram 21,6% do total exportado pelo Brasil, ante 19,1% no ano anterior. Os produtos industrializados responderam pela maior fatia, 54,7%, mas perderam participação em relação ao ano anterior, quando foi de 58%. Ele destacou que, em 2020, a “resiliência” das exportações brasileiras se deu por conta da recuperação da Ásia, principalmente da China, mercados consumidores dos produtos agropecuários brasileiros. Apesar dos atritos do governo Jair Bolsonaro com a China ao longo do ano, o país asiático continuou sendo o principal parceiro comercial brasileiro em 2020 e ganhou ainda mais participação: do total vendido para o exterior, 33,4% foi para a China, ante 29,2% em 2019. A fatia dos Estados Unidos, o segundo maior parceiro do Brasil, foi reduzida: passou de 13,2% em 2019 para 10,8% no ano passado. Para o economista da 4E Consultoria Bruno Lavieri, a tendência é de superávits em 2021 inferiores aos do ano passado, quando os fluxos de importação foram afetados em cheio por fechamento da economia e valorização pesada do dólar. DezembroEm dezembro, a balança comercial brasileira registrou déficit comercial de US$ 42 milhões. As importações registraram aumento de 39,9%, influenciadas pela nacionalização de cinco plataformas de petróleo no valor de US$ 4,7 bilhões. “Sem plataformas, haveria superávit comercial no mês de dezembro, como é sazonalmente”, afirmou o subsecretário de Inteligência e Estatística de Comércio Exterior, Herlon Brandão. O ESTADO DE S. PAULO

‘Tinder’ das fusões e aquisições já assessorou cinco transações

A Stark, butique de fusões e aquisições que foi fundada em 2016, já fechou cinco transações por meio de sua plataforma de “match”, que acaba de ser lançada. Seu objetivo é conectar investidores com potenciais empresas interessadas em realizar uma fusão, vender uma fatia ou até mesmo todo o negócio. As cinco operações tiveram um valor conjunto de R$ 130 milhões. Lista. Apelidada de “Tinder” das operações de fusões e aquisições (M&A, na sigla em inglês), a plataforma da Stark recebeu os cadastros de 190 teses com os critérios de investimento dos principais fundos de venture capital, private equity – que somam R$ 10,8 bilhões disponíveis para fusões e aquisições de empresas no Brasil. Os investidores estratégicos dos setores de saúde e educação são alguns que estão cadastrando suas teses na plataforma na busca pelo negócio ideal. O ESTADO DE S. PAULO

Multinacional de recrutamento de executivos ZRG cresce 18% no Brasil

A filial brasileira da multinacional de recrutamento de executivos ZRG fechou 2020 com 71 novos projetos, 18% a mais que no ano anterior. O crescimento mostra que a contratação de profissionais em cargos de liderança ganhou ainda mais peso em um ano marcado pela pandemia, quando boa parte das empresas precisou rever seu planejamento estratégico para encarar a crise e minimizar prejuízos, avalia o presidente da ZRG Brasil, Denys Monteiro. Virtual. Na maioria dos casos, os novos executivos assumiram seus cargos à distância, por meio de ferramentas virtuais. Isso se estendeu para a gestão e a integração dos times. Esse modelo tem funcionado com sucesso, de acordo com o retorno dos próprios executivos e profissionais de recursos humanos, diz Monteiro. Mesmo após a futura volta presencial ao escritório, a perspectiva nas empresas é firmar modelos híbridos de trabalho, misturando home office com expediente no próprio local. O ESTADO DE S. PAULO

Venda de veículos no País fecha 2020 com queda de 26,2%, aponta Fenabrave

O mercado automotivo encerrou 2020 amargando o maior tombo em cinco anos. Porém, com o pico em 12 meses apresentado em dezembro, as vendas de veículos novos no País acabaram sendo melhores do que o volume previsto pelas montadoras. Entre carros de passeio, utilitários leves, caminhões e ônibus, o total emplacado no ano passado foi de 2,06 milhões de unidades, 26,2% abaixo das vendas de 2019. Trata-se de um recuo não observado desde 2015, quando a queda do setor, em meio à recessão brasileira, chegou a 26,6%. A Anfavea, entidade que representa os fabricantes, tinha, contudo, uma previsão pior, com o mercado fechando o ano em 1,92 milhão de unidades, o que seria uma queda de 31%. O resultado final de 2020 teve a contribuição positiva de dezembro, mês em que as concessionárias entregaram 244 mil veículos, o melhor resultado nos 12 meses do ano passado. Na comparação com novembro, que era o recorde do ano, as vendas subiram 8,4%. Apesar disso, o consumo continuou abaixo dos números do ano anterior: queda de 7,1% em relação aos emplacamentos de dezembro de 2019. Na reta final do ano, a falta de peças limitou a produção, que já tinha como entrave os protocolos de prevenção à covid-19, que obrigam as fábricas a operar com menos operários simultaneamente. Com isso, a indústria não consegue acelerar o ritmo para atender plenamente a fila de espera que se formou, sobretudo, entre clientes de frotas, como as locadoras. Na sexta-feira, a Anfavea vai divulgar suas previsões para 2021. Prognósticos divulgados individualmente por montadoras apontam um mercado de não mais do que 2,5 milhões de veículos. A expectativa no setor é de que os volumes de 2019 – antes, portanto, da pandemia – só sejam repetidos em 2023. O ESTADO DE S. PAULO

Acionistas aprovam fusão de Peugeot e Fiat, que cria a 4ª maior montadora do mundo

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Os acionistas da Peugeot e da Fiat-Chrysler (FCA) aprovaram sua união nesta segunda-feira, 4, um casamento franco-ítalo-americano concebido para enfrentar um mercado de automóveis em plena revolução. A união dos grupos franceses PSA e ítalo-americano FCA dará origem ao Stellantis, o quarto grupo automobilístico mundial em número de veículos vendidos e o terceiro em volume de negócios, atrás apenas da japonesa Toyota e da alemã Volkswagen. Após a votação dos acionistas da PSA na manhã desta segunda, os acionistas da FCA, reunidos em assembleia-geral, votaram à tarde a favor da fusão. A data de efetivação da união deve ser anunciada “muito rapidamente”, segundo o presidente do conselho de administração da PSA e futuro CEO do novo grupo, Carlos Tavares, a nova empresa terá mais de 400 mil funcionários e abrigará 14 marcas emblemáticas como Citroën e Maserati, Fiat e Opel, Peugeot e Alfa Romeo, Chrysler, Dodge e Jeep. “Vamos desempenhar um papel de liderança na próxima década na redefinição da mobilidade, como nossos pais fundadores fizeram com grande energia”, disse o presidente da FCA, John Elkann, referindo-se a uma “fusão histórica”. “Essa fusão foi uma questão de sobrevivência tanto para a Fiat quanto para a PSA”, afirma Giuliano Noci, professor de estratégia da Escola Politécnica de Comércio de Milão. As marcas do grupo irão, em particular, reduzir seus custos de desenvolvimento e produção e completar sua oferta. “Graças à sua união com a PSA, a Fiat-Chrysler poderá fortalecer sua presença na Europa”, diz Giuseppe Berta, professor da Universidade Bocconi em Milão e especialista da Fiat. “O grupo francês poderá mais uma vez colocar os pés nos Estados Unidos graças a seu aliado ítalo-americano.” O voto dos acionistas sela uma união planejada desde 2018, anunciada no fim de 2019, cuja preparação foi prejudicada pela crise do coronavírus. Em dezembro, a Comissão Europeia deu sinal verde à fusão, com a condição de que os dois grupos preservassem a concorrência no setor de pequenas concessionárias, onde controlam grandes fatias de mercado. Os fabricantes já haviam modificado seu contrato para que sua união fosse um casamento entre iguais, enquanto a pandemia atingia suas contas. A FCA concordou em reduzir o valor de um dividendo excepcional pago a seus acionistas. Por sua vez, a PSA decidiu vender 7% do fabricante francês de equipamentos Faurecia antes de distribuir o restante aos acionistas da Stellantis. A participação do grupo chinês Dongfeng também será reduzida. É insuficiente, diz o fundo Phitrust, que tem menos de 1% do capital do PSA, e critica a falta de “equilíbrio entre as partes” que favorece os ítalo-americanos. Nos documentos encaminhados às autoridades financeiras, PSA e Fiat consideram que a fusão custará 4 bilhões de euros (US$ 4,9 bilhões) e que a sinergia vai garantir a economia de até US$ 6,1 bilhões por ano ao longo do tempo. Carlos Tavares afirmou no fim de 2019 que não está previsto o fechamento de fábricas. O ESTADO DE S. PAULO