Sindeprestem participa do 3º Fórum Gestão de Fornecedores e Terceiros
O Sindeprestem participa, no próximo dia 16 de junho, do 3º Fórum Gestão de Fornecedores e Terceiros, com a participação do presidente Vander Morales no painel “Como está a terceirização nesse momento”, com início às 15h, juntamente com Lívio Giosa, presidente do Centro Nacional de Modernização Empresarial – CENAM e Ricardo Calcini, colunista, escritor e palestrante. Essa participação faz parte do evento que ocorre entre os dias 16 e 17 de junho, promovido pela Level Group junto ao CENAM, que deverá trazer tendências, insights, discussões sobre ESG, Inteligência Artificial, apresentação de cases, além de debates sobre os resultados de uma pesquisa do setor. A participação é gratuita. Para receber o link de acesso, basta realizar a inscrição por este link: https://bit.ly/3pgBJaf Anote na sua agenda e participe desta importante discussão sobre o cenário da Terceirização.
Limitação de supersalários pode ser ‘remédio’ para diminuir resistências à reforma administrativa
Diante da impopularidade da reforma administrativa na véspera de ano eleitoral, líderes da Câmara querem destravar um projeto que regulamenta os supersalários do serviço público. A estratégia serviria como uma espécie de “remédio” aos efeitos anti-eleitorais da reformulação do projeto de RH do Estado, com novas regras para contratar, promover e demitir os servidores públicos. A reforma encontra forte resistência não só da oposição, mas também na base governista, com o potencial de tirar votos das urnas dos deputados em 2022. Já o projeto que limita os supersalários, em tramitação desde 2016, regulamenta o que é ou não um “penduricalho” que são incorporados aos vencimentos, mas ficam fora do teto remuneratório do serviço público, que no Brasil tem como base o salário dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) – hoje, R$ 39,2 mil. A medida tem como bandeira o combate de privilégio e daria mais argumentos à Câmara para defender a reforma administrativa, que deixou de fora categorias como membros de Poderes (magistrados e procuradores, por exemplo) e militares. Por trás dessa tentativa, há uma avaliação entre aliados do governo no Congresso que a reforma administrativa é bem mais difícil do ser aprovado do que a reforma tributária fatiada, que tem como ponto de partida o projeto que cria a Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), que vai unificar o PIS/Cofins. Líderes partidários pediram nesta terça-feira, 8, ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), para que a proposta de limitar os supersalários fosse pautada antes da votação da reforma administrativa. Segundo lideranças, ele se mostrou disposto a avançar com o projeto, mas desde que haja uma concordância prévia entre os deputados para que não haja recuos, caso a medida chegue ao plenário. Pela proposta, todo tipo de pagamento passa a estar sujeito ao teto, exceto verbas de caráter indenizatório. O texto estabelece o que é verba indenizatória e o que é verba remuneratória, esta última entra na mira do abate-teto, como é chamado no jargão do serviço público o que é “cortado” da remuneração para ficar dentro do limite. Uma tentativa similar de se usar a popularidade do fim dos supersalários para amenizar a impopularidade de outra reforma foi usada em 2019, no debate da reforma da Previdência, mas o projeto não avançou. “O projeto do supersalários não precisa aguardar a reforma administrativa para andar. O requerimento de urgência já foi assinado por ampla maioria dos líderes e o projeto esta pronto pra ir a plenário a qualquer momento”, afirmou o líder do Novo, Vinícius Poit (SP). “Seria uma resposta às bases do serviço público, mostrando que não queremos punir ou retirar direitos dos bons servidores, mas acabar com privilégios e regalias que são uma afronta. Enquanto muitos brasileiros não têm o que comer, a elite do serviço público tem auxílio moradia pago com o dinheiro o pagador de impostos”, disse. O debate vem após o presidente Jair Bolsonaro editar uma portaria que flexibiliza a regra do teto salarial para aumentar os rendimentos dos servidores aposentados e militares da reserva que ocupam cargos no Executivo, beneficiando ele mesmo. A manobra ficou conhecida como “teto duplex”. Pela nova regra, o teto do funcionalismo será calculado separadamente para cada rendimento. O ESTADO DE S. PAULO
Braço de vendas online do Iguatemi atrai interesse de investidores
O braço de vendas online da rede de shoppings Iguatemi – chamado de Iguatemi 365 – tem atraído olhares de investidores e pode ser um dos pivôs da estratégia de crescimento do grupo daqui para frente. A entrada de novos sócios é uma das opções à mesa, diz o presidente da Iguatemi, Carlos Jereissati. Segundo ele, a expansão rápida da plataforma “despertou o interesse de muita gente” em entender a combinação do mundo físico com o online e se associar ao negócio. Até aqui, não houve proposta formal. Mas ele afirma que essas demonstrações de interesse abrem oportunidades para um “futuro próximo” e que a administração está de olho em potenciais combinações. Nesta semana, Iguatemi e a sua controladora, a Jereissati Participações, propuseram aos acionistas minoritários uma fusão das duas companhias. A ideia é preparar o grupo para uma futura emissão de ações e captação de recursos pensando em oportunidades de compras de empresas. Nos bastidores, o comentário é que nenhuma articulação desse tipo seria iniciada sem que as empresas já tivessem um alvo em vista. Sobre o tema, Jereissati se limita a dizer “não haver nada que possa ser comentado no momento”. O Iguatemi 365 funciona como um marketplace, shopping virtual com produtos de vários lojistas. Entram aí cerca de 400 grifes como Tiffany, Ermenegildo Zegna e Dolce & Gabbana. Lançado em 2019, com entregas restritas a algumas capitais, as entregas passaram a cobrir cerca de 2 mil cidades desde abril. O alcance nacional é comum no varejo tradicional, mas não para o público de altíssima renda e o setor de luxo, no qual as mercadorias em trânsito custam uma pequena fortuna. Não raramente, uma bolsa sai por R$ 50 mil. Vendas do site podem chegar a R$ 300 milhõesO Iguatemi não abre números de vendas do site, mas analistas de mercado estão atentos a seu potencial. O Credit Suisse estima que o Iguatemi 365 esteja rodando com um nível de vendas anualizado em torno de R$ 50 milhões a R$ 100 milhões, podendo chegar a R$ 200 milhões ou mesmo R$ 300 milhões, até o fim de 2022. Pouco perto dos R$ 9 bilhões em vendas físicas totais da rede, que tem 14 shoppings e 2 outlets, mas mostra que o novo negócio está ganhando tração. Os analistas do Credit Suisse também disseram que investidores podem não ter reparado direito no negócio e calculam que o Iguatemi 365 pode valer algo em torno de R$ 500 milhões – cerca de 6% do valor de mercado da rede de shoppings mais famosa do Brasil. Nada mal para um negócio tão novo. O ESTADO DE S. PAULO
Com aporte de Warren Buffet, Nubank acirra disputa com bancos tradicionais
A entrada de um novo investidor peso-pesado no Nubank promete acirrar a disputa entre fintechs, corretoras e bancos tradicionais pelo bolso do investidor brasileiro. De um total de US$ 750 milhões em dinheiro novo que a instituição anunciou ontem, US$ 500 milhões têm origem nobre: o fundo Berkshire Hathaway, do megainvestidor Warren Buffett. Segundo analistas, é um divisor de águas para o banco, que ganha novo status entre os investidores e se consolida como o maior banco digital do mundo em total de clientes – 40 milhões. Com esses US$ 750 milhões extras, o Nubank completou também a maior rodada de investimento já feita por uma startup latino-americana: US$ 1,15 bilhão desde janeiro. Mais forte, a instituição põe água na fervura em um setor em ebulição: os bancos tradicionais correm para se adaptar à era digital – o Bradesco, por exemplo, tem um banco digital independente, o Next – e têm de se acotovelar não só com fintechs, mas com bancos de investimento como o BTG e corretoras como a XP, que têm travado uma guerra particular envolvendo o passe de agentes autônomos. Os analistas estão de olho em como essa aposta de Buffett e de outros investidores importantes, como o Verde Asset Management, de Luis Stuhlberger, pode mudar o setor bancário. “O ceticismo que muitos gestores têm com os bancos digitais, especialmente o Nubank, foi colocado em xeque. Afinal, a Berkshire Hathaway não é qualquer tipo de investidor”, afirma Henrique Esteter, analista da corretora Guide. “Isso pode mostrar que o modelo de negócio pode ser sustentável.” Em dia de “realização de lucros” pelos investidores, depois de sucessivos recordes desde a semana passada, o anúncio foi mais um componente a derrubar a cotação das ações dos bancos na Bolsa de Valores. Itaú Unibanco e Bradesco fecharam com queda de 0,7%, seguidos de Banco do Brasil (0,6%) e Santander (0,48%) – em comparação a um recuo de 0,76% do Ibovespa, o principal índice da B3. Com o aporte de ontem, o Nubank passou a ser avaliado em US$ 30 bilhões, segundo estimativas de mercado. Se já tivesse ações negociadas em Bolsa, a companhia comandada pelo colombiano David Vélez teria deixado para trás a XP (US$ 23 bilhões) e o BB (US$ 20,6 bilhões) e estaria próxima do BTG Pactual (US$ 36,4 bilhões) e do Santander Brasil (US$ 33,6 bilhões). No topo, mais distantes, estão hoje o Itaú Unibanco (US$ 60,2 bilhões) e o Bradesco (US$ 50,9 bilhões). Fora da caixaA Berkshire Hathaway fez o maior investimento individual já recebido pelo Nubank – mas a fintech não divulgou a participação que o fundo de Buffett terá em seu capital. Ao lado do americano e do brasileiro Stuhlberger, figuraram outros investidores. “É com bastante entusiasmo que ingressamos nessa jornada como um dos primeiros investidores brasileiros”, afirmou José Zitelmann, cofundador da gestora Absoluto. Já Barron Martin, sócio-diretor da Sands Capital, afirmou, em nota, que a gestora tem buscado “empresas que não estejam apenas desafiando o status quo hoje, mas também estejam moldando o futuro”. Com sede em São Paulo, o Nubank é a maior fintech da América Latina e uma das maiores do mundo, com 40 milhões de usuários no Brasil, no México e na Colômbia. Desde a fundação, em 2013, a empresa já levantou cerca de US$ 2 bilhões em investimentos – ou seja, essa última rodada representou mais da metade do total levantado. O valor supera a quantidade de dinheiro atraído pela colombiana Rappi, que tem investimentos somados de US$ 1,7 bilhão. “Para nós, essa é uma grande validação do que o Nubank tem feito desde o começo”, diz Vélez. ServiçosAlém de contas de depósito e cartões de crédito, o Nubank oferece hoje seguro de vida, empréstimo pessoal, produtos de investimento, pagamentos via smartphones e produtos para pequenos e médios empreendedores. No ano passado, a empresa adquiriu a Easynvest, plataforma digital de investimentos com US$ 5 bilhões em ativos em carteira e 1,6 milhão de clientes. Para Guilherme Fowler, professor de inovação da escola de negócios Insper, o Nubank está vivendo um momento de crescimento em potência máxima, o que justifica o alto volume de capital. “O crescimento de uma empresa pode se dar ampliando a oferta de produtos ou, então, expandindo geograficamente. O Nubank está apostando nos dois caminhos ao mesmo tempo”, afirma. Segundo Felipe Matos, presidente da Associação Brasileira de Startups (ABStartups), os investimentos podem preparar a empresa para uma possível abertura de capital. “A essa altura, parece que o aporte é menos pelo dinheiro em si e mais para trazer investidores estratégicos, que podem abrir caminho para um bom IPO”, diz. De acordo com Vélez, entretanto, uma listagem em Bolsa não está nos planos do banco neste momento. Segundo ele, novas rodadas de financiamento estão fora de questão no momento. “Estamos muito, muito bem capitalizados. Não temos planos para levantar mais capital.” Apesar de o momento ser positivo para as fintechs no Brasil – até por mudanças promovidas pelo Banco Central para reduzir a concentração do mercado financeiro nacional –, Junior Borneli, presidente da plataforma StartSe, alerta que o cenário é concorrido. “O maior risco para o Nubank é a competição, que no Brasil ficou mais acirrada. Além disso, criar relevância de marca em outros países é sempre um recomeço”, diz Borneli. Mas ele ressalta que, apesar do cenário difícil, “a empresa está bem posicionada.” No vermelhoApesar de ter recebido, em um só dia, o aval de investidores como Warren Buffett e Luis Stuhlberger, há fatores da operação do Nubank que ainda incomodam alguns analisas. Um deles é a questão de lucratividade. Em 2020, o Nubank conseguiu reduzir o prejuízo em 26%, mas ainda assim teve perdas de R$ 230 milhões. O estrategista-chefe da casa de análises Eleven Financial Research, Adeodato Volpi Netto, alerta, porém, que não é possível enxergar o Nubank como uma “fotografia”, mas como um “filme”. Segundo ele, a entrada de Buffett, conhecido no mercado como um investidor de longo prazo, ratifica um cenário positivo para a fintech. “O DNA da Berkshire Hathaway é de
Economia negocia reforma do IR
A equipe econômica está programando reuniões com lideranças políticas para encaminhar à Câmara dos Deputados a reforma do Imposto de Renda. Ao mesmo tempo, o Ministério da Economia negocia com o Senado a modificação do projeto de Refis do presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), para transformá-lo no chamado “passaporte tributário”, que visa limpar o balanço das empresas para o novo marco tributário do país. Fontes apontam que a intenção é tornar o texto de Pacheco, relatado pelo senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), que é líder do governo, em uma grande e ampla transação tributária, o mecanismo que permite renegociar dívidas de acordo com a capacidade de pagamento dos contribuintes. As discussões apontam para a possibilidade de descontos de 70% em multa e juros para as empresas com dívidas e que tiveram perda de faturamento na pandemia. O texto ainda está sendo costurado porque os parlamentares querem ser mais generosos nas condições dessa renegociação do que o governo. A Receita Federal é contra o conceito tradicional de Refis proposto por Pacheco, voltado para as empresas prejudicadas pela crise causada pela pandemia. A visão é que uma renegociação feita sem considerar as especificidades de cada contribuinte é um benefício ao mau pagador de impostos. Além disso, a transação tributária tem sido considerada muito bem-sucedida em seu intento de resolver passivos empresariais levando em conta as condições de pagamento das empresas que a acessam. Novas rodadas de negociações estão ocorrendo com Fernando Bezerra para avançar nos ajustes. O substitutivo a ser apresentado será votado pelos senadores e, posteriormente, pelos deputados. Na divisão de tarefas envolvendo a reforma tributária, a Câmara vai examinar a proposta de Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS) e o projeto de reformulação do Imposto de Renda de empresas e famílias, que ainda não foi enviado pelo governo e está em fase final de elaboração na Economia. Fontes relatam que o encaminhamento da proposta do IR depende de acertos em pontos bem específicos e dos arranjos políticos preliminares que visam facilitar sua aceitação no Congresso. Esses entendimentos ocorrerão em reuniões com parlamentares da base, líderes e também dentro do próprio governo para que sejam feitos eventuais ajustes antes do texto final a ser remetido. Por isso, fontes consideram improvável que essa fatia da reforma seja formalizada na Câmara nessa semana. Dentro do projeto do IR estão previstas medidas como a redução em cinco pontos percentuais do IRPJ, a cobrança de 15% a 20% de tributação sobre a distribuição de dividendos, o fim do mecanismo de juros sobre capital próprio e outros abatimentos do IRPJ. No lado das pessoas físicas, estão medidas como eliminação de isenções a veículos de investimentos como CRI e CRA, a correção da faixa de isenção e outras faixas do IRPF, bem como das deduções, que nesse primeiro momento não serão revistas. Em evento com o setor de serviços, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que a reforma tributária será “moderada”, para facilitar seu avanço e deixará de fora temas como o imposto de transações, que financiaria a desoneração da folha de pagamentos. “Eu gostaria de fazê-la um pouco mais ampla, inclusive com desoneração da folha. Não é o momento ainda, mas nós não vamos desistir. Só vamos fazer a coisa em fatias e gradualmente. Vamos fazer o que é possível agora. Simplificação, redução de alíquotas. Vamos reduzir os impostos para as empresas e vamos avançar. Acho que o Brasil vai crescer e reforma estruturais continuam”, disse na reunião com a Frente Parlamentar do Setor de Serviços. Guedes destacou que o governo não quer aumentar a tributação do setor de serviços com a reforma tributária. O ministro ressaltou que a PEC 45 trazia ideia de IVA único, cuja alíquota estimada pela Economia seria acima de 30%, embora seus autores apontem um número em torno de 25%. “Seria inaceitável para o setor de serviços. Conseguimos reduzir aspirações para 12%”, explicou. “Ideia inicial era todos ter uma alíquota”, disse, acrescentando que ainda considera a criação de duas alíquotas: uma para comércio e serviços mais baixa, que pode ficar em torno de 8%, e outra indústria um pouco mais alta. Ele ponderou que, sem a compensação da desoneração da folha, não é possível adotar medida que ajudaria o setor de serviços, um dos principais empregadores do país. Guedes disse ainda que as reformas administrativa e tributária devem avançar no Congresso nos próximos três ou quatro meses. Ontem, foi instalada a comissão especial da reforma administrativa na Câmara, que vai discutir o mérito do texto (ver reportagem Deputados tentarão votar trava a “supersalários”). VALOR ECONÔMICO
Alta do comércio mostra sinal positivo para 2º tri
O crescimento de 1,8% do comércio em abril, frente ao março – que veio bem acima do esperado pelo mercado – já abriu a possibilidade de um desempenho melhor que o previsto inicialmente para a atividade econômica no segundo trimestre do ano. A taxa foi a maior desde 2000 para um mês de abril da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e também a alta mais intensa desde agosto de 2020 (2,4%). Os dados do varejo na passagem entre março e abril mostram expansão espalhada, em seis das oito atividades – com destaque para móveis e eletrônicos e tecidos, vestuário e calçados, que sozinhos responderam por 2,8 pontos percentuais da variação de 1,8%. Ainda com cautela, economistas apontam que os números de abril podem sinalizar um comportamento mais positivo do Produto Interno Bruto (PIB) entre abril e junho, embora ressaltem que é preciso aguardar os demais indicadores, especialmente a Pesquisa Mensal de Serviços (PMS), que o IBGE divulga na sexta-feira. O único recuo em abril ocorreu no setor de supermercados, que caiu 1,7% após alta de 3,3% em março. A flexibilização das medidas de isolamento social, a retomada da confiança do consumidor e do auxílio emergencial – ainda que em valor menor e com influência negativa da inflação – ajudaram na expansão mais expressiva do varejo em abril. Coordenador da sondagem do comércio do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), Rodolpho Tobler ressalta que os indicadores de confiança e de mobilidade já mostram dados positivos, o que cria expectativa de continuidade de melhora de desempenho até maio e junho, embora ainda dependendo da pandemia. “Este é o primeiro indicativo de que o segundo trimestre pode ser um pouco mais forte que o esperado, mas ainda é um primeiro dado de abril. A produção industrial não veio no mesmo ritmo do varejo e também acho que vale pena esperar esta semana o resultado dos serviços. O setor tem um peso maior no PIB e [a pesquisa de abril] realmente vai mostrar se o setor também conseguiu ser mais resiliente às medidas restritivas ou não”, diz Tobler. A possibilidade de um segundo trimestre mais positivo também é considerada pelo economista-chefe da corretora Ativa, Étore Sanchez. Para ele, os dados divulgados reforçam a relativa “insensibilidade econômica” às medidas de isolamento social baixadas para frear a pandemia. O resultado abre espaço, segundo ele, para nova revisão de PIB para 2021, que passa a ter perspectiva de alta de 4,5%, a ser confirmada dependendo do setor de serviços. “É necessário pontuar que a relativa insensibilidade econômica dos dados às restrições de mobilidade remove potencial de crescimento do segundo semestre”, diz. O resultado de 1,8% de abril do varejo veio muito acima da estimativa mediana de recuo de 0,1% pelo Valor Data, embora as projeções fossem dispersas (de queda de 3,5% a alta de 2,5%). Já as vendas do varejo ampliado – que incluem veículos e motos, partes e peças, e material de construção – subiram 3,8% na passagem entre março e abril, mais perto da mediana do Valor Data, que era de 3,5%. Frente a abril de 2020, o varejo restrito teve alta de 23,8% e o ampliado, 41%, em função da base de comparação depreciada do ano passado. A alta de abril na série com ajuste sazonal se segue a um período de altos e baixos do varejo desde o início do ano, comportamento classificado como “claudicante” pelo gerente da pesquisa do IBGE, Cristiano Santos. Na série frente ao mês imediatamente anterior, com ajuste sazonal, o varejo recuou 0,1% em janeiro, subiu 0,7% em fevereiro, caiu 1,1% em março e agora teve alta de 1,8% em abril. Com o desempenho daquele mês, o varejo voltou a ficar acima do nível pré-pandemia, com patamar 1% superior ao de fevereiro de 2020. “O varejo vem de meses mais fortes e outros mais fracos. O cenário é muito incerto, com demora na vacinação e lentidão nos programas de apoio”, afirma a economista da Tendências Consultoria Isabela Tavares. “A expectativa é de crescimento, mas o segundo trimestre ainda deve ser volátil. Só no segundo semestre teremos desempenho mais consistente, com avanço na vacinação”. A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) divulgou ontem também a produção de veículos em maio, que segue em recuperação. As montadoras instaladas no país fabricaram 192,8 mil unidades, ante as 3,9 mil montadas em maio de 2020, mês de operações paralisadas por causa da pandemia. Quando se compara a igual mês de 2019, no entanto, o volume produzido está 40 mil veículos abaixo. No acumulado de 2021, a produção chegou a 981,5 mil unidades, uma alta de 55,6%. “É o melhor maio desde 2019 e tivemos uma boa média diária, de 9 mil veículos. […] Mas ainda estamos abaixo do verificado em 2019, que foi de, em média 11 mil por dia”, disse o presidente da Anfavea, Luiz Carlos de Moraes. VALOR ECONÔMICO
Impacto do isolamento social na economia caiu pela metade, diz presidente do BC
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta terça-feira (8) que a economia mundial se adaptou à pandemia de Covid-19 e mostrou, em sua apresentação, que o efeito do isolamento social na atividade econômica caiu pela metade recentemente. Segundo o titular do BC, o distanciamento social tem sido cada vez menos efetivo ao longo do tempo.“Quando se repete o distanciamento social na mesma área, cada um que se segue é menos efetivo por razões que não vou me aprofundar”, disse em evento virtual promovido pelo J.P. Morgan. Em sua apresentação em inglês, Campos Neto mostrou um gráfico que relacionava o percentual de mobilidade calculado pelo Google e o desempenho do setor de serviços com o título “Economias se adaptaram: o impacto da mobilidade na atividade caiu pela metade no período recente”, em tradução livre. “Em diferentes ondas [da pandemia] a atividade tem reagido cada vez melhor, a economia de alguma forma se ajustou”, afirmou. Para ele, isso ocorreu em decorrência do alongamento da crise sanitária e pela mudança de comportamento. Campos Neto ressaltou que a economia brasileira está próxima de retornar aos níveis pré-pandemia. “Houve nas últimas três semanas uma série de revisões positivas nas expectativas para o PIB [Produto Interno Bruto] para 2021 depois da divulgação do número do primeiro trimestre”, destacou. Sobre inflação de 2021, ele também falou sobre as revisões para cima do mercado para o índice de preços. “Temos choques mais recentes, como aumento do preço da energia”, disse. O presidente do BC reafirmou que se trata de um movimento temporário. “Ainda acreditamos que se trata de um choque temporário. Os preços de commodities já se estabilizaram, algumas inclusive estão abaixo da margem”, avaliou. Campos Neto frisou que o avanço da vacinação deverá levar à maior reabertura da economia no segundo semestre. Em sua avaliação, há uma demanda reprimida por consumo de bens e serviços. “Parte do setor de serviços está funcionando parcialmente. Com a reabertura total, a questão é se teremos euforia, com as pessoas consumindo porque havia demanda reprimida”, disse. FOLHA DE S. PAULO
Economia brasileira está surpreendentemente robusta, apesar da pandemia, diz Kenneth Rogoff
Apesar da pandemia do coronavírus, a economia brasileira “está surpreendentemente robusta”, inclusive com o Produto Interno Bruto (PIB) voltando ao nível anterior ao registrado ao surgimento da covid-19, mas o desemprego alto é um problema que depende do avanço da vacinação e do controle da doença, diz Kenneth Rogoff, ex-economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI) e atualmente professor da Universidade Harvard, em entrevista exclusiva para o Estadão/Broadcast. Nos Estados Unidos, a preocupação é com a inflação. Rogoff afirma que o índices inflacionários devem subir neste e no próximo ano. Ele projeta que o PIB do país deverá crescer mais de 7% em 2021 e 4% em 2022. Embora aponte que a alta excessiva da inflação é o maior risco para a recuperação americana, ele destaca que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) poderá dominá-la. O economista acredita que Jerome Powell, o presidente do Fed, não será indicado novamente ao posto pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, se apertar a política monetária. “Há uma pessoa muito boa esperando para essa posição, que é Lael Brainard (economista que está no Fed desde 2014). Joe Biden pode nomeá-la não importa o que ocorra. Mas, se Powell quiser ter uma chance para ser reconduzido ao cargo, ele precisa ser muito cauteloso”, afirma. Nesse contexto, ele diz que o Fed deve começar a subir os juros em 2023, com a plena recuperação da economia mundial. A entrevista, a seguir, foi concedida na véspera da participação de Rogoff como palestrante no evento Bradesco BBI, na 12ª London Conference para investidores internacionais, que neste ano ocorre de forma virtual. Como o senhor avalia as perspectivas econômicas no Brasil no curto prazo?O Brasil está tendo muitos dos problemas que todos os outros países registraram com a pandemia. Há um grande aumento da desigualdade social, gerando agitação política e etc. No entanto, a economia está surpreendentemente robusta. O País já registrou a volta do PIB para o mesmo nível anterior ao surgimento da covid-19, o que é notável. Os mercados de dívida continuam incrivelmente resilientes. O Brasil fez muitas mudanças, foi capaz de lidar muito bem com esta crise e está muito melhor do que eu poderia estimar no passado recente. Como a recuperação da economia poderá ser sustentável se o ritmo da vacinação continua muito lento?A vacinação virá, talvez com um atraso de um ano em comparação com economias avançadas. Há um temor de que, se a retomada não for longa o suficiente, poderá não ser somente um ano, mas uma década perdida na economia, como manifestam meus amigos no Brasil que estão preocupados. Porém, a trajetória até o momento sugere, particularmente para um forte mercado emergente como o Brasil, que terá uma boa recuperação. É difícil saber. Há recuperações bem divergentes. Os países ricos estão indo muito bem, as nações com baixa renda tem uma situação terrível, e os mercados emergentes estão em algum lugar na metade desses dois caminhos e poderão ir para uma direção ou a outra. A taxa de desemprego no Brasil passou de 14%. O senhor considera que ela poderá baixar neste ano ou no próximo?Eu penso que será difícil corrigi-la até que o programa de vacinação (avance) e o que a doença esteja sob controle. Como o senhor avalia a tendência da inflação nos Estados Unidos?A recuperação está ocorrendo bem mais rápida e forte do que qualquer um imaginava, em grande parte por causa das vacinas, mas também pelo enorme apoio de gastos do governo prevenindo uma longa duração dos efeitos da pandemia. Ao mesmo tempo, há uma imensa variedade de gargalos na economia global, entre eles no fornecimento de microprocessadores. Claro que a inflação vai subir neste ano. Eu tenho visto a secretária do Tesouro, Janet Yellen, dizer que pode chegar a 3% em 2021, mas é uma estimativa baixa. Os EUA crescerão acima de 7% neste ano e 4% em 2022. A verdadeira questão é se a inflação subirá muito a ponto de levar o Federal Reserve a aumentar os juros bem mais cedo do que avalia. O risco de inflação é significativo. Pelo ponto de vista dos países emergentes, como o Brasil, a preocupação é se a inflação explodirá, as expectativas de inflação subirão muito mais do que o esperado e o Fed seria forçado a elevar os juros por questões domésticas, o que seria muito doloroso para os mercados internacionais. Não é o cenário mais provável, mas é certamente o maior risco no momento. E qual é o cenário mais provável para a inflação nos EUA neste ano e no próximo?Pode superar bem os 3% nesses dois anos. Talvez em meados de 2022 poderá começar a baixar. Há agora muita espera para poder comprar vários produtos. Se você quiser adquirir uma máquina de lavar poderá ter um atraso de um ano, o que poderá repercutir em alta dos preços no final. Mas o debate é se as pessoas acreditarão que a inflação ficará elevada ano após ano. O Fed pensa que não. Talvez precisará subir os juros um pouco e parar. Essa é uma grande incerteza. Quais são as perspectivas para o mercado de trabalho nos EUA até o fim de 2022?Há grandes transformações ocorrendo na economia que tornam difícil saber para onde se está indo. As cidades estão sendo reformuladas, com os centros ficando de certa forma desocupados, pois as pessoas estão mudando para os subúrbios. Muitas empresas vão permitir trabalho remoto de seus funcionários entre um a cinco dias por semana. E, com isso, muitos empregos na área de serviços no centro das cidades, como restaurantes, barbearias, estão sendo fechados. Uma das razões da recuperação lenta do mercado de trabalho é que todos estão tentando decidir como se orientar, que tipo de emprego devem adotar e para onde devem ir. Certamente, na recuperação, o mercado de trabalho tem sido o elemento mais decepcionante. A demanda está crescendo muito rápido. A oferta e a geração de empregos não estão aumentando tão rapidamente. Minha melhor avaliação é a de que o mercado de trabalho
Sob Bolsonaro, mais trabalhadores qualificados tentam deixar o Brasil
O médico paranaense Guilherme Agnoletto nunca planejou se mudar para os Estados Unidos. Após fazer residência em neurocirurgia, ele recebeu ofertas de especialização no exterior. Ao visitar o país e ver de perto a estrutura do centro de pesquisas, resolveu não voltar ao Brasil. Ele hoje mora com a esposa, Marjorie, e a filha, Isabella, que nasceu nos EUA, em Salt Lake City (Utah). “Não é fácil resolver as questões burocráticas, a gente se forma no Brasil e tem de passar por provas de aptidão e fazer outra residência, mas aqui eles fazem de tudo para reter talentos e tornar o profissional mais produtivo. Ainda não deu tempo de sentir saudades.” A família de Guilherme não é um caso isolado. O número de pedidos de trabalhadores brasileiros considerados prioritários e de alta qualificação —como cientistas, atletas ou altos executivos— por um visto de trabalho nos Estados Unidos chegou a 3.387 no ano passado, um aumento de 10,5% em relação a 2019 e o maior patamar em ao menos dez anos. Segundo dados do Departamento de Imigração norte-americano, compilados por consultorias especializadas do setor, o novo movimento de fuga de cérebros do Brasil ficou mais intenso nos dois primeiros anos de governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Em 2019 e 2020, a busca pelo visto permanente dos tipos EB1 e EB2 aumentou 40%, na comparação com os anos de 2017 e 2018, e 135% quando se compara com 2015 e 2016, quando o país estava em recessão. No ano passado, apesar do número crescente de solicitações, houve uma queda nas aprovações por conta da pandemia. Um terço dos pedidos ficou pendente naquele ano fiscal, encerrado em setembro. Na comparação com o resto do mundo, enquanto os pedidos de entrada no mercado de trabalho norte-americano feito por brasileiros cresceram em 2020, a soma de solicitações feitas por todas as nacionalidades teve uma queda de 13%. Segundo Leonardo Freitas, diretor-executivo da empresa de advocacia de imigração Hayman-Woodward, desde 2018 já era possível perceber um movimento maior de brasileiros que passaram a buscar o caminho do aeroporto como forma de mudar de vida. “Não são apenas profissionais de saúde. São cientistas, engenheiros e economistas que saem em busca de oportunidades.” O governo do ex-presidente Donald Trump queria rever as regras de elegibilidade, mas segundo as consultorias, não era tão difícil para o trabalhador altamente qualificado conseguir um visto na época e deve ficar mais fácil no governo atual, de Joe Biden. Pessimista em relação às crises econômica e política que o país tem enfrentado nos últimos anos, o empresário Geraldo Neto, 56, se mudou com a família para uma cidade na Flórida em 2017. O plano inicial era que apenas a filha mais velha deixasse o Brasil, para fazer faculdade. “A gente olhava para os filhos recém-formados dos nossos amigos, sem emprego ou grandes perspectivas e ficava com receio de que o mesmo acontecesse com a nossa filha.” Com medo da violência no Rio, Geraldo, a mulher e as duas filhas resolveram ir juntos para o exterior. Hoje, a mais velha estuda design na Pensilvânia, e a família pretende continuar morando fora ao menos até que a mais nova conclua a graduação. “Antes da mudança, eu já era um investidor-anjo [que aporta recursos em startups]. Aqui, continuo fazendo o mesmo, investindo em empresas nos Estados Unidos, na Europa e também no Brasil”, conta. Ele, que diz ter se adaptado ao novo país, pondera que, apesar dos problemas, ainda acredita em uma virada da economia brasileira nos próximos anos. As preocupações com a violência, as crises políticas e econômicas e a falta de crença em uma solução no curto prazo são apontadas principalmente pelas famílias com filhos, avalia Jorge Botrel, sócio da consultoria JBJ Parterns. “O Brasil passa, sem dúvida, por uma nova rodada de fuga de cérebros.” “Há cada vez mais médicos, empresários, altos executivos de empresas e profissionais de https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg que sonham em morar no exterior. Sendo que mais da metade deles acaba buscando os EUA”, diz Botrel. Em seguida, Portugal, Canadá e Inglaterra aparecem como os destinos de preferência. Mas enquanto os Estados Unidos e o Canadá costumam atrair profissionais mais jovens e em início de carreira, quem vai para Portugal geralmente tem mais renda. Nos últimos anos, as empresas também têm ajudado em mais processos de expatriação para a China e os Emirados Árabes. Uma exceção é o médico pernambucano Daniel Kitner. Mesmo com uma carreira consolidada, ele se mudou com a mulher e os três filhos para os EUA. Após 20 anos de carreira, o geriatra teve de recomeçar praticamente do zero para conseguir exercer a profissão. “Viemos em busca de qualidade de vida e foi como começar do zero, gastar muitas horas de estudo, viajar carregando livros e fazendo anotações. Mas compensou, a família se adaptou muito bem. Para o Brasil, no entanto, é sempre ruim perder profissionais qualificados”, diz o médico. O caminho favorito dos profissionais qualificados é buscar o complemento de estudos no exterior por meio de um MBA ou solicitar a expatriação enquanto é funcionário de uma multinacional com filial no Brasil. “Os EUA abriram uma porta para quem quer empreender e estão com alguma disponibilidade sem precisar fazer investimentos milionários”, diz Freitas. “Alguns deles costumam voltar depois e veem o movimento como uma forma de ganhar experiência e de crescer em uma empresa do Brasil mais tarde”, diz Maitée Camargo, associada sênior da Egon Zehnder, consultoria de gestão de executivos. Ela acrescenta que um diretor de multinacional no Brasil raramente vira presidente sem passar por outros postos no exterior. Ela lembra que o movimento contrário, de vinda de executivos estrangeiros para o Brasil, teve um boom em 2008, com a crise internacional, e durou até 2012. Agora, esse fluxo se inverteu novamente. Quem também optou por uma carreira no exterior foi a executiva Camila Finzi, 48. Ela, que ocupava um posto de chefia em uma multinacional farmacêutica no Brasil, onde já trabalhava há 11 anos, esperou as filhas crescerem para aceitar um posto
Uso do dinheiro é bem maior entre classes de renda mais baixa
Quase metade dos brasileiros cita o dinheiro como principal meio para pagar suas compras. O uso, no entanto, é muito diferente de acordo com a classe de renda, como mostra uma pesquisa feita pelo Instituto Locomotiva em janeiro deste ano. Nas classes D e E, 65% disseram que o dinheiro é a forma de pagamento mais utilizada, parcela que cai para 38% na classe C e para 15% nas classes A e B. Os números da pesquisa refletem o cenário pós-pandemia, em que houve, ao mesmo tempo, aumento da digitalização da economia e do uso do dinheiro, impulsionado pelo auxílio emergencial. Nas classes de renda mais baixas, beneficiárias do programa de apoio do governo, o hábito de uso do dinheiro já era mais frequente e acabou intensificado no contexto da crise em função da covid-19. O Banco Central recorreu até mesmo ao lançamento da nota de R$ 200, para evitar qualquer risco de falta de papel moeda nos bancos. “Na pandemia, há mais digitalização, que muda os fluxos de entrada de dinheiro. Isso tem influência do auxílio emergencial e de outros programas de ajuda de governos estaduais. Mas, ao mesmo tempo, as pessoas sacam o dinheiro porque não conseguem negociar descontos nos outros meios de pagamento da mesma forma que com o dinheiro vivo”, afirma o presidente do Instituto Locomotiva, Renato Meirelles. Professor da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária da Universidade de São Paulo (FEA/USP), Rodrigo De Losso destaca a influência conjunta do aumento da quantidade de dinheiro em circulação na pandemia, em função do pagamento do auxílio emergencial, e da expansão da informalidade no mercado de trabalho no período mais recente. “Essas pessoas mais vulneráveis, que receberam o auxílio, geralmente sacam o dinheiro que recebem na boca do caixa. Ao mesmo tempo, avançou a quantidade de trabalhadores informais, que tendem a receber mais em dinheiro”, diz. Na avaliação de Meirelles, o uso do dinheiro está diretamente ligado à chamada “lógica da pechincha” e do controle do dinheiro. E o movimento se intensifica num contexto de crise como o que se vive desde 2020, com a necessidade de as pessoas fazerem o dinheiro render mais. “Na crise, é preciso economizar mais. Com dinheiro vivo, as pessoas conseguem negociar mais que com o cartão, por exemplo. O maior rendimento é o de 5% do uso do dinheiro vivo. Além disso, o dinheiro dá sensação de controle. Cartão na mão é vendaval”, diz ele. A pesquisa do Instituto Locomotiva – feita com 1.500 pessoas acima de 18 anos – aponta ainda as vantagens para o uso do dinheiro nas compras. As razões mais citadas foram desconto no pagamento (51% dos entrevistados), possibilidade de negociar o preço (45%), praticidade (40%), mais facilidade no controle de gastos (35%) e ausência de taxas (34%). O levantamento revela também que 22% dos brasileiros com renda recebem a maior parte dos seus recursos em dinheiro, um contingente de 29,8 milhões de pessoas. Já a parcela dos que ganham ao menos uma parte da renda em dinheiro chega a 28%, ou 37,9 milhões de pessoas. Moradora de Manaus (AM), Fabíola Cristina de Lima Veras, de 38 anos, é uma das brasileiras que usa dinheiro em busca de descontos nas compras. Fabíola trabalha vendendo cosméticos e doces feitos por ela, que precisa ficar em casa para cuidar do filho Leonardo, de seis anos, que nasceu com uma má formação genética e tem dificuldades de desenvolvimento. “No mercadinho aqui perto de casa, só pago em dinheiro. Eles cobram mais para o pagamento em cartão. Quando preciso comprar em outros lugares, o dinheiro me ajuda a conseguir descontos, faz diferença no orçamento”, diz ela. VALOR ECONÔMICO