Pacheco é contra ‘nova CPMF’

Para o presidente do Senado, o momento não é de criação de tributo para bancar auxílio emergencial. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), manifestou resistência em aceitar a criação de um imposto temporário para bancar uma nova rodada de auxílio emergencial. A discussão, como mostrou o ‘Estadão’, entrou nas conversas feitas entre governo e Congresso Nacional como uma das alternativas para bancar a retomada do auxílio e cumprir a meta fiscal deste ano. “A criação de imposto é sempre algo traumático, especialmente à luz da discussão de uma reforma tributária, que tem de ser muito mais ampla”, disse Pacheco em entrevista no Senado ontem. “O momento de se dimensionar criação ou extinção de tributo é na reforma tributária. Então, nós vamos buscar uma solução dentro de fundamentos econômicos sem a criação de impostos.” O ministro da Economia, Paulo Guedes, condiciona a retomada do benefício no valor de R$ 200 por três meses à aprovação do Orçamento de 2021 e das propostas em tramitação no Senado que preveem corte de gastos. Além disso, Guedes quer segurança jurídica para a retomada do auxílio, o que seria dado por uma cláusula de calamidade ou uma nova edição da PEC do orçamento de guerra. “Nós temos um compromisso com as futuras gerações do País. Nós temos de pagar pelas nossas guerras”, disse Guedes após a reunião com a presidente da Comissão Mista de Orçamento do Congresso, Flávia Arruda (PL-DF), e o relator do Orçamento de 2021, Marcio Bittar (MDB-AC). “Se nós estamos em guerra com o vírus, nós temos de arcar com essa guerra e não simplesmente empurrar irresponsavelmente esses custos para as gerações futuras”, afirmou o ministro. O Congresso, porém, pressiona pelo auxílio assistencial, mas sem garantias de redução de despesas em tempo hábil. “Eu me elegi defendendo essa agenda, só que a retomada da agenda econômica e da agenda das reformas, as pessoas que precisam comer não vão esperar”, afirmou Bittar em entrevista a jornalistas. Em declaração à imprensa, Guedes evitou comentar sobre a possibilidade de um novo crédito extraordinário neste ano para bancar o auxílio. Esse instrumento deixaria a despesa fora do teto, mas aumentaria a dívida da União. Há dúvidas, porém, sobre se uma nova rodada pode ser considerada uma despesa imprevisível. Endividamento. Em agenda com prefeitos, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que uma nova rodada de auxílio emergencial está sendo discutida, mas que o governo não tem “dinheiro no cofre” para bancar a retomada do benefício, o que deve afetar o endividamento do País. “A arrecadação esteve praticamente equivalente no município tendo em vista o auxílio emergencial, que volta a ser rediscutido. Não é dinheiro que eu estou tirando do cofre, é endividamento. Isso é terrível também”, declarou o presidente aos prefeitos. Com o aumento de despesas públicas em função da pandemia do novo coronavírus, a dívida pública fechou 2020 em R$ 6,615 trilhões, o que representa o patamar recorde de 89,3% do Produto Interno Bruto (PIB). Bolsonaro ainda indicou que o governo poderá dar novo apoio a municípios neste ano. O chefe do Executivo voltou a dizer que as medidas “na ponta linha” de combate à pandemia da covid-19 foram tomadas por governadores e prefeitos, enquanto ao governo federal coube enviar “recursos e meios”. “O presidente foi deixado de lado em grande parte das suas atribuições, a não ser mandar recursos e meios, o que nós fizemos. Se for preciso, no corrente ano, a gente vai continuar com esse atendimento a vocês (prefeitos) porque vocês não têm quem socorrê-los”, disse o presidente em breve reunião com prefeitos no Ministério da Educação. No ano passado, o governo federal direcionou socorro financeiro a Estados e municípios para o enfrentamento da crise sanitária do novo coronavírus. Ao contrário da União, que terminou 2020 com rombo recorde nas contas públicas, governadores e prefeitos fecharam no azul no ano passado, graças à ajuda do governo federal. O ESTADO DE S. PAULO

O futuro do trabalho chegou mais cedo (Rafael Souto)

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Em 2011, os pesquisadores Jim Bright e Robert Pryor, construíram os conceitos da chamada Teoria do Caos nas Carreiras. Os elementos centrais das reflexões eram a imprevisibilidade, a não-linearidade e a complexidade. A construção da carreira e das relações de trabalho estava sujeita a um ambiente cada vez mais imprevisível e uma dinâmica que não seria mais linear como foi durante todo o século XX. O plano de carreira da empresa deixa de existir e o indivíduo precisa ir se ajustando às demandas e construir sua narrativa de carreira. Bryght e Pryor não poderiam ser tão precisos com o que iria acontecer na década que se iniciava e cujo ápice foi 2020. Desde o início do século XXI, o mundo dos negócios já dava sinais de uma rápida transformação, principalmente impulsionada pela https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg. Também se observava que a ideia de carreira e sucesso profissional ganhavam novos contornos. O conceito de felicidade no trabalho passava a integrar os demais papéis que os indivíduos têm na vida. O ano de 2020 foi um catalisador dessa transformação e representou um salto gigantesco na organização do trabalho. E as mudanças que agora sentimos são o início de uma nova era na forma como produzimos e entregamos conhecimento. Os ensaios sobre trabalho remoto se transformaram na nova realidade. Do ensaio, fomos ao palco principal em poucas semanas. Empresas que nunca permitiram o trabalho a distância foram forçadas a adotá-lo. Os sinais mostram que não retornaremos ao escritório na proporção pré-covid. O trabalho em qualquer lugar passa a ser a nova ordem. Isso reformula os rituais de relacionamento, a dinâmica das áreas e a estrutura das empresas. Traz, também, desafios para a construção de cultura e uma nova configuração para gerir a experiência dos funcionários. Esse novo cenário impactará profundamente a estratégia de engajamento de talentos, uma vez que eles serão nômades com um arsenal de possibilidades. As pessoas poderão migrar de empresa com uma velocidade sem precedentes porque a distância física do escritório será irrelevante. Um jovem talentoso poderá trabalhar para uma empresa situada na avenida Faria Lima, em São Paulo, ou para um escritório em Londres, mesmo que more num sítio arborizado no interior do Brasil. As novas tendências de consumo determinarão a rápida ascensão de empresas e o declínio das que não souberem aprender. O mesmo acontecerá com os profissionais que não se adaptarem às novas exigências. Estamos na era da trabalhabilidade, na qual cada indivíduo precisa cuidar de sua capacidade de gerar trabalho e renda. A chamada carreira inteligente formada pelo “por que”, “como” e “para quem” está no centro da estratégia de construção da trajetória profissional. O protagonismo para explorar de forma curiosa e ativa as possibilidades é arma do trabalhador contemporâneo. Para os líderes, o desafio será o de reorganizar o modelo de comando e controle. A gestão terá de ser mais personalizada. Procurar investigar as demandas de cada indivíduo e equilibrar controle e diálogo. A gestão de performance precisará de conversas significativas e mais frequentes substituindo os obsoletos modelos de avaliação anual. Construir um ambiente com segurança psicológica será ainda mais estratégico para o engajamento e a produtividade. E todos nós como sociedade teremos de lidar com o desemprego estrutural. Um grupo crescente de pessoas que não acompanhará essas mudanças ficará submerso nas ondas de demissões decorrentes não das crises econômicas, mas da escolha das empresas pela forma mais eficiente de operar, aproveitando a inteligência artificial e a máxima produtividade dos talentos. Rafael Souto; é sócio-fundador e CEO da Produtive Carreira e Conexões com o Mercado VALOR ECONÔMICO

Queda do varejo pode dar força a novo auxílio

As vendas do varejo em dezembro caíram 6,1% ante novembro, no pior resultado da série histórica do IBGE, iniciada em 2000. Um recuo era previsto, por causa do corte do valor do auxílio emergencial a trabalhadores informais, mas a queda foi maior do que as projeções apontavam. Para analistas, resultado deve reforçar apelos por volta do auxílio e coloca em dúvida a recuperação da economia no início do ano. O desempenho do varejo em dezembro jogou um balde de água fria nas expectativas de retomada da economia em meio à crise causada pela covid-19. Ainda impactadas pela pandemia, as vendas tombaram 6,1% ante novembro, informou ontem o IBGE. Foi o pior resultado para o mês na série histórica da pesquisa, iniciada em 2000. No ano, o setor ainda fechou com alta de 1,2% ante 2019, mas os analistas afirmam que o tombo em dezembro favorece os apelos pela volta do auxílio emergencial e lança dúvidas sobre o fôlego da economia neste início de 2021. “O resultado do varejo foi um total desastre, não dá para dourar a pílula. A queda de 6,1% foi impressionante, e a conjunção de fim de auxílio com fragilidade da economia reforça a ideia de volta em raiz quadrada. Ou seja, a economia caiu, subiu e vai ficar de lado”, afirmou o economistachefe da corretora Necton Investimentos, André Perfeito. O número final veio muito abaixo d as projeções de analistas do mercado financeiro. O recuo ante novembro já era esperado, mas os analistas mais pessimistas esperavam, no extremo, uma queda de 2%, conforme pesquisa do Projeções Broadcast. Para o economista-chefe da Genial Investimentos, José Márcio Camargo, com o desempenho do varejo os números da atividade econômica no fim do ano passado “certamente ganharam viés negativo”. O desempenho da economia no quarto trimestre – e, portanto, em 2020 como um todo – pode ser pior do que o esperado. Isso impactaria também 2021, pois um bom ritmo de crescimento no fim de um ano favorece o ano seguinte. Os dados do IBGE mostram que a pandemia desorganizou a economia. Após dois meses de queda – incluindo a maior da história para um mês isolado (17,2%, em abril) –, as vendas do varejo entraram em franca recuperação. Após seis meses de alta, atingiram em outubro o nível recorde da série histórica. Naquele mês, o nível de vendas estava 6,6% acima do de fevereiro, antes da pandemia. Com dezembro, terminou no mesmo patamar anterior à covid-19. Segundo Cristiano Santos, gerente da PMC, uma série de fatores explica o tombo de dezembro. São eles a redução do valor do auxílio emergencial pago pelo governo a trabalhadores informais (cortado à metade, para R$ 300 por mês, a partir de setembro), a antecipação de vendas para novembro (por causa das promoções da Black Friday, fenômeno que vem ocorrendo nos últimos anos), a pressão da inflação de alimentos sobre as vendas dos supermercados e um Natal ruim para alguns setores, como o de vestuário. A esses fatores se somou um “ajuste estatístico”. Após atingir o nível recorde em outubro, seria “muito difícil crescer em cima do que já havia crescido”, afirmou o pesquisador do IBGE. Para Santos, esse foi o principal motivo para explicar tamanha queda em dezembro. O ESTADO DE S. PAULO

Recuperação em ritmo menos intenso

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A recuperação do mercado de trabalho pode estar perdendo ritmo. É uma conclusão possível da evolução de indicadores calculados pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (IBRE/FGV) quando comparados com outras pesquisas da instituição. O objetivo dos indicadores é indicar os rumos desse mercado. No momento, eles não são muito animadores. O Indicador Antecedente de Emprego (IAEMP) – que acompanha a evolução do nível de emprego no País – caiu 2,2 pontos em janeiro, para 83,5 pontos. A média do trimestre móvel terminado em janeiro caiu 0,5 ponto, para 84,5 pontos, interrompendo a tendência de alta iniciada em julho. Para o economista do IBRE/FGV Rodolpho Tobler, a queda sugere que a melhora do mercado de trabalho perdeu ritmo. “A provável desaceleração da atividade econômica no primeiro trimestre e o elevado nível de incerteza ainda não permitem que seja possível imaginar uma melhora desse indicador no curto prazo.” Já o Indicador Coincidente de Desemprego (ICD) – que quanto mais alto indica desemprego maior, e viceversa – cedeu 3,8 pontos em janeiro, para 98,8 pontos. Mas em médias móveis trimestrais mostrou alta de 0,8 ponto, para 100,3 pontos. Essa variação discrepante e o fato de o indicador estar em nível muito alto recomendam cautela na avaliação da queda em janeiro. É preciso aguardar os próximos resultados, recomenda Tobler, para ter certeza de que houve uma inversão de tendência. “Mas o fim dos programas do governo (de pagamento de auxílio emergencial, entre outros), a dificuldade que alguns setores ainda encontram na recuperação e a piora dos números da pandemia ainda não sugerem uma expectativa positiva para os próximos meses.” Dos sete componentes do IAEMP, cinco tiveram queda, com destaque para aqueles que mostram a situação presente na indústria e nos serviços, com recuo, respectivamente, de 8,3 e 6,9 pontos. Já no ICD, houve piora em todas as quatro faixas de renda familiar. Esse indicador procura captar a percepção das famílias sobre o mercado de trabalho, mas não reflete necessariamente diminuição da procura de emprego motivada por desalento. A classe familiar com renda entre R$ 4,8 mil e R$ 9,6 mil foi a que mais contribuiu para o resultado. O ESTADO DE S. PAULO

Bruno Covas assina manifesto que pede retomada do auxílio emergencial

O prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), assinou um manifesto que pede a retomada do pagamento do auxílio emergencial por parte do governo federal e a criação de um projeto nacional de renda mínima (ou a expansão do Bolsa Família). O texto é de autoria da Frente Mista em Defesa da Renda Básica, formada por 214 parlamentares de 23 partidos, e Covas recebeu o convite para assiná-lo de um de seus membros, a deputada Tabata Amaral (PDT-SP). “É urgente aprovarmos a prorrogação do auxílio emergencial e expandirmos o Bolsa Família, adaptando-o à situação econômica crítica em que nos encontramos e construindo um programa robusto de transferência de renda que não deixe a população brasileira à própria sorte”, diz o texto. “Com o fim do auxílio, 12,8% dos brasileiros passaram a viver com menos de R$ 246 por mês, de acordo com a PNAD Contínua e a PNAD Covid 19. Ou seja, são quase 27 milhões de pessoas em situação de pobreza. Retrocedemos aos níveis de 2011”, continua. Em São Paulo, Covas decidiu retomar o pagamento do programa de auxílio emergencial municipal por mais três meses. O projeto de lei que autoriza a prorrogação deve ser votado nesta semana da Câmara dos Vereadores. FOLHA DE S. PAULO

Empresa de crédito espera alta de inadimplência em 2021

Os registros de inadimplência do birô de crédito Boa Vista caíram 3,4% em janeiro na comparação com dezembro. O indicador é elaborado a partir da quantidade de novas dívidas vencidas e não pagas informadas pelas empresas credoras. A expectativa, porém, é que a inadimplência aumente em 2021 com o mercado de trabalho enfraquecido. Segundo Flávio Calife, economista da Boa Vista, o recuo ainda é reflexo do auxílio emergencial e das postergações pagamentos oferecidas pelos bancos na pandemia. Em relação ao mesmo período do ano passado, a queda dos registros foi de 33,4%. FOLHA DE S. PAULO

Vazam dados de 100 milhões de celulares

Um novo vazamento de dados na internet pode ter exposto mais de 100 milhões de contas de celular, segundo a empresa de cibersegurança Psafe – a informação foi divulgada pelo site ‘Neofeed’. Entre as informações vazadas estariam o número de celular do presidente Jair Bolsonaro, do jornalista William Bonner e da apresentadora Fátima Bernardes. Segundo a Psafe, os dados estavam disponíveis para a compra na dark web desde o dia 3 de fevereiro e incluíam informações como CPF, número de celular, tipo de conta telefônica, minutos gastos em ligação e outros dados pessoais. Ao todo, 102.828.814 contas foram vazadas e, a princípio, acredita-se que pertencem a usuários das operadoras Claro e Vivo. Seriam 57,2 milhões de contas da Vivo e 45,6 milhões da Claro. A Psafe confirmou que dados do presidente Jair Bolsonaro estavam inclusos no vazamento, com informações como número de celular, valor da conta telefônica, minutos gastos por dia, CPF e data de nascimento. Os mesmos dados da apresentadora Fátima Bernardes também estariam disponíveis, além do jornalista William Bonner. O Estadão apurou que, assim como Bolsonaro, os dados telefônicos do apresentador do Jornal Nacional também estão à venda nas bases vazadas de janeiro. A Psafe não confirmou se existem dados de outras autoridades no pacote. O criminoso estaria vendendo as informações individualmente ou por pacotes, inicialmente ao valor de US$ 1 cada, mas com preços ainda menores se os dados fossem adquiridos em grande quantidade. Em nota, Vivo e Claro negam terem detectado evidências de vazamentos em suas bases de informações. A Psafe também informou que vai entrar em contato com a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) para que uma investigação seja conduzida. Em nota, a agência afirmou que “já está tomando providências para obter informações oficiais sobre o vazamento, além de cobrar de autoridades a apuração do caso”. Conexão. O caso acontece menos de um mês após o megavazamento de dados de 223 milhões de CPFS, 40 milhões de CNPJS e 104 milhões de registros de veículos – a informação também foi tornada pública também pela Psafe. Ao Neofeed, a Psafe diz que encontrou no segundo vazamento dados que constavam no primeiro. Ainda, porém, é cedo para confirmar a conexão entre os dois incidentes. No primeiro vazamento, o hacker já havia disponibilizado telefones de 159 milhões de pessoas e de 28 milhões de empresas, por isso não é possível saber se o novo vazamento reciclou dados do primeiro. O Estadão apurou que o novo vazamento traz campos de informações inexistentes no primeiro, como “volume de minutos gastos por dia”, “maior atraso e menor atraso no pagamento”, “dívidas”, “valor de faturas” e “tempo de duração das ligações”. Além disso, as novas bases de dados não estão sendo comercializadas no mesmo fórum do primeiro vazamento. O ESTADO DE S. PAULO

Procura por seguro contra vazamentos cresce após lei de proteção de dados

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A LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados) acelerou a procura por seguros para proteger executivos e empresas em casos de problemas como vazamentos de dados, ataques cibernéticos ou multas por mau uso de informações pessoais. Na corretora 3 SEG, a contratação na modalidade cyber cresceu 50%. Também subiu 25% o seguro D&O, uma modalidade antiga que protege executivos de serem responsabilizados patrimonialmente nessas situações. Em metade das contratações, a apólice abrange o cargo de data protection officer, função criada pela LGPD para ter um responsável pela proteção de dados na empresa. Alexandre Delgado, sócio da 3 SEG, afirma que o mercado deve seguir aquecido quando as multas relacionadas à LGPD estiverem mais perto de começar. A lei entrou em vigor em setembro, mas suas punições valem apenas a partir de agosto de 2021. FOLHA DE S. PAULO

A ideia de nova CPMF. Desta vez, ‘provisória’

Aproposta de criação de um “imposto temporário”, com as características da antiga CPMF (o imposto do cheque), para enfrentar as despesas de um novo auxílio emergencial, não passa de uma tentativa de aproveitar a emergência e a confusão da pandemia para “passar a boiada”. Certas áreas do Congresso e do governo parecem pretender decretar um estado excepcional “de guerra” ou um estado de calamidade pública, para justificar mais esse avanço sobre o bolso do contribuinte. São várias as cercas que pretendem pular. O plano é travestir o tributo de contribuição social para escapar do princípio da anualidade. De acordo com esse princípio, um imposto não pode ser cobrado no mesmo exercício financeiro (art. 150 da Constituição). A exceção é para a contribuição social. A outra cerca a ser invadida é a reiterada garantia do presidente Jair Bolsonaro e do ministro da Economia, Paulo Guedes, de que não haverá aumento da carga tributária. Se viesse, esse imposto seria compensado com a remoção de outros. O plano do ministro era que esse tributo substituísse a desoneração da folha de pagamentos das empresas, de modo a ajudar na manutenção e na criação de empregos. Como sabe que se fosse temporário esse imposto mataria o projeto de substituição da desoneração, talvez, o Ministério da Economia acabe por vetá-lo. A ideia de que essa contribuição seria “provisória” sempre foi um embuste. A CPMF tinha “provisória” até mesmo no sobrenome: Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira. Mas a provisória foi ficando, virou permanente. Só foi revogada dez anos depois da sua criação, em 2007, graças às pressões da sociedade. Outra marotagem conhecida é a de que o novo tributo teria destinação exclusiva. No caso, a arrecadação dessa nova contribuição seria usada apenas e tão somente para cobrir as despesas da nova ajuda aos brasileiros afetados pela pandemia do novo coronavírus. A velha CPMF também começou com essa conversa. O então ministro Adib Jatene defendia a CPMF como inevitável “para cobrir despesas com saúde”. Mas, logo se viu, o que foi arrecadado se destinou ao caixa comum. Virou um imposto como outro qualquer. Ou seja, mais uma vez, o governo ou os políticos pretendem se aproveitar da situação difícil da população mais pobre para criar mais um imposto fácil de arrecadar, que não exige declaração prévia, nem cálculos sofisticados, nem mesmo auditorias. É surrupiado automaticamente da conta bancária pelo sistema de informática do banco, a cada movimentação financeira. E não se trata de um imposto indolor destituído de efeitos colaterais nocivos. Incide em cascata (tributo cumulativo), que onera cada etapa da produção. Por isso, é proibido pela Constituição. Além disso, sobrecarrega as exportações, na medida em que o tributo não pode ser extraído do preço final do produto exportado, como se fosse um IPI ou um ICMS. Essa proposta pode não passar de balão de ensaio. Nesse caso, serve para testar a capacidade de resistência da sociedade a essas esquisitices. O ESTADO DE S. PAULO

Campos Neto pode se tornar o presidente mais longevo do BC

A regra de transição aprovada ontem no projeto que garante autonomia ao Banco Central afirma que o presidente Jair Bolsonaro precisará indicar um nome para o comando do BC em até três meses depois de o projeto ter sido sancionado. O escolhido deve ser o presidente atual, Roberto Campos Neto. Ele não precisará passar por uma nova sabatina no Senado e ficará à frente do BC até o fim de 2023 (ou seja, dois anos depois do início do próximo mandato do presidente da República). Além disso, Campos Neto poderá ser indicado de novo, por mais quatro anos, até o fim de 2027. Ou seja, ao todo, ele poderá ficar nove anos no comando do BC. Se isso ocorrer, Roberto Campos Neto se tornará o mais longevo presidente do BC. O atual secretário de Fazenda do Estado de São Paulo, Henrique Meirelles, ocupou o cargo por oito anos, entre 2003 e 2010. Políticos da oposição ao governo de Jair Bolsonaro, no entanto, defenderam durante a votação que a autonomia retirava o poder do presidente da República em definir a cúpula do BC, algo importante para a aplicação da política econômica de governos recém-eleitos. Infiéis. A votação da autonomia do BC na Câmara foi marcada por “infidelidades” partidárias, com deputados votando contra a orientação de suas legendas. Entre eles, a deputada Tabata Amaral (PDT-SP) foi a favor do texto que estabelece, por exemplo, que o presidente do BC terá mandato de quatro anos, não coincidentes com o do presidente da República. Já o tucano Aécio Neves (PSDBMG) votou contra a proposta que vem sendo debatida no Congresso há 30 anos. O projeto foi colocado como uma das prioridades do governo do presidente Jair Bolsonaro e era rejeitado pela oposição que acredita que as urgências nesse momento são a pandemia e a retomada do auxílio emergencial. O PDT foi um dos partidos que orientou contra a votação do projeto. O líder do partido na Câmara, Wolney Queiroz (PE) chamou a medida de infeliz e nociva ao povo brasileiro e aos interesses nacionais. “É impensável que um projeto dessa magnitude, dessa gravidade seja trazido para o plenário sem a maturação necessária, sem o debate necessário, sem o aprofundamento necessário, sem que os deputados, sem que a Casa conheça efetivamente o projeto, sem que a Casa tenha se debruçado e estudado o relatório”, disse. Na sua bancada, além de Tabata, Gil Cutrim (MA) e Flávio Nogueira (PI) votaram a favor. Esses mesmos três também contrariaram o partido na votação do primeiro turno da reforma da Previdência na Câmara. Em julho de 2019, quando o texto foi aprovado por 379 votos favoráveis. Tabata gravou vídeo para justificar seu voto. Ela disse que a política de mandato fixo para os dirigentes do banco já é praticada em outros países, inclusive no Banco Central Europeu. De acordo com ela, a autonomia do BC impede que o país “seja vítima de governos autoritários e populistas, de esquerda ou de direita, porque o governo não vai poder, da noite para o dia e pensando em reeleição, mudar sua política monetária”. A deputada também afirmou que a autonomia do Banco Central não fará com que a instituição seja mais influenciada pelo mercado financeiro, porque esse risco já existe. Drible na orientação. O PSB, que também orientou contra, teve onze votos a favor, da bancada de 30 deputados. Foram eles: Cássio Andrade (PSB-PA), Emidinho Madeira (PSB-MG), Felipe Carreras (PSB-PE), Felipe Rigoni (PSB-ES), Jefferson Campos (PSB-SP), Liziane Bayer (PSB-RS), Luciano Ducci (PSB-PR), Ricardo Silva (PSBSP), Rodrigo Coelho (PSB-SC). Rosana Valle (PSB-SP) e Ted Conti (PSB-ES). Com exceção de Cássio Andrade e Luciano Ducci, todos votaram a favor da reforma da Previdência. Houve também traições em partidos de centro que orientaram favoravelmente ao projeto. No PSDB, por exemplo, Aécio Neves (MG) Alexandre Frota (SP), Bruna Furlan (SP), Eduardo Barbosa (MG) e Tereza Nelma (AL) foram contra. “É impensável que um projeto dessa magnitude, dessa gravidade seja trazido para o plenário sem a maturação necessária, sem o debate necessário.” O ESTADO DE S. PAULO