Se país tivesse reforma tributária, São Paulo não precisaria ser pioneiro, diz Patricia Ellen
A secretária de Desenvolvimento Econômico de São Paulo, Patricia Ellen, afirmou nesta quinta (14) que se a reforma tributária já tivesse acontecido no Brasil, o estado de São Paulo “não precisaria ser pioneiro” nessa iniciativa. O governo de João Doria (PSDB) aprovou um pacote de ajuste fiscal, cujos efeitos iniciam nesta sexta (15), e tem recebido uma série de pressões setoriais para revogar os cortes de benefício do ICMS. Segundo Ellen, as mudanças visam manter investimento e custeio de saúde, segurança e educação. “São Paulo iniciou um processo de reforma administrativa, tributária, mas o Brasil precisa da reforma tributária para corrigir desigualdades. Nosso modelo tributário hoje é extramemente desigual. As pessoas pobres pagam mais e quem tem condições paga menos”, afirmou a secretária à coluna. “Se isso tivesse acontecido, São Paulo não seria pioneiro, estaríamos implementando o que foi decidido no âmbito nacional”, acrescentou. Um dos segmentos que mais se opõem à nova política do governo é o da saúde, representado por hospitais privados, farmacêuticas e empresas de equipamentos médico-hospitalares. Apesar de o governo manter o benefício fiscal a hospitais públicos e santas casas para a compra de medicamentos e outros insumos médicos, o setor privado alega que o fim da isenção a eles pode vir a encarecer as operações do SUS em redes particulares. A secretária afirma que um grupo técnico do governo trabalha para mapear e identificar o chamado “corredor SUS”, ou seja, a cadeia envolvida na fabricação, fornecimento, distribuição e venda dos produtos de saúde até a chegada no SUS. “Trabalhamos para garantir que [o fim do benefício fiscal] não impacte o SUS. O compromisso do governo é manter o modelo de incentivos fiscais no SUS como é hoje”, completou. O setor aguarda a publicação da nova resolução que exclui insumos agrícolas, genéricos e alimentos do fim do subsídio. Ela foi anunciada há mais de uma semana. O governo diz que deve apresentar nos próximos dias. FOLHA DE S. PAULO
Empresários fazem proposta alternativa para corte de subsídio do ICMS em SP
Empresários e industriais formularam uma proposta alternativa para o fim da isenção de ICMS (Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços) previsto no programa de ajuste fiscal de São Paulo proposto pelo governo de João Doria (PSDB-SP). A principal medida seria a postergação do corte de subsídios. Segundo os organizadores da proposta, a segunda onda da Covid-19 está mais forte do que se previa e o fim do auxílio emergencial vai tirar R$ 40 bilhões por mês da economia, o que pode ter um impacto muito grande na receita das empresas. A proposta do grupo, que falou com a reportagem com a condição de não ter seus nomes revelados, é que o benefício seja mantido por cerca de quatro meses para que as empresas possam se preparar e tenham um fôlego até a recuperação da economia. Seis setores teriam direito a essa prorrogação: alimentos, borracha, aço, saúde, embalagens e autopeças. Segundo eles, a crise causada pela pandemia do coronavirus abalou as empresas e agora não é hora de aumentar impostos, o que o fim da isenção promove na prática. Eles pedem também, que cada setor deve ter a oportunidade de discutir caso a caso durante este período da suspensão para chegar ao melhor denominador comum para todos. O governo estadual anunciou o ajuste fiscal e a reforma administrativa para o estado de São Paulo em outubro do ano passado. O resultado esperado era de um aumento de R$ 7 bilhões na arrecadação que seria usado para cobrir um déficit estimado em 2021 de R$ 10,4 bilhões, resultante da crise econômica e queda de arrecadação devido à pandemia. No início do ano, o governo anunciou que cancelaria alguns dos cortes de 20% de benefícios. Ficariam fora insumos agropecuários para a produção de alimentos e medicamentos genéricos. Nesta sexta-feira (15), dia em que os aumentos passam a valer, o governo prevê publicar no Diário Oficial o decreto com as novas regras do ajuste e com a relação de setores envolvidos, incluindo os que já têm a garantia que não serão atingidos. No mesmo dia, está marcada uma reunião entre uma equipe do governo e os empresários que estão atuando em favor dessa demanda para tratar a questão. Os empresários estão apreensivos porque, segundo eles, o assunto virou capital político. O corte vem sendo usado por adversários políticos de Doria, como Paulo Skaf, presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), e até o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). O governo é alvo de sucessivos protestos últimos dias, mesmo depois de a gestão paulista ter mantido algumas isenções do imposto. A principal preocupação tem a ver com o alcance do recuo do governador, o principal temor é que seja algo apenas temporário. Na quinta-feira (7), produtores rurais promoveram um “tratoraço” em diversas cidades do interior de São Paulo. Na sexta (8) foi a vez dos permissionários e produtores que atuam na Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais). Nesta semana, oito entidades ligadas ao setor de saúde e à indústria farmacêutica divulgaram na segunda-feira (11) uma carta ao governador de São Paulo, João Doria. Eles pediam a manutenção do benefício de ICMS concedido aos medicamentos. Na terça-feira (12), a Apas (Associação Paulista de Supermercados) lançou um manifesto contra o aumento. E nesta quinta-feira (14), a Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo) anunciou a distribuição de 3.000 kits de alimentos. Segundo permissionários, a companhia sempre realiza a doação de alimentos às quintas, mas a prática ganhou peso político nesta edição para pressionar Doria. Em Presidente Prudente, região oeste do estado de São Paulo, cerca de 500 veículo entre automóveis, caminhões, tratores, motos e utilitários percorreram as principais ruas da cidade e fizeram um buzinaço em protesto à medida. O governo, por meio da Secretaria de Planejamento, Orçamento e Gestão do estado, afirma que é possível incorporar essas reduções dos benefícios fiscais nas margens de lucro que foram crescidas. “O setor agropecuário registrou evolução no faturamento de R$ 23 bilhões em 2019 para quase R$ 31 bilhões em 2020”, afirma o governo em nota. A pasta também é categórica ao afirmar que não haverá prejuízo para a saúde. Segundo eles, a legislação que reduziu os benefícios fiscais a medicamentos usados para aids e câncer, por exemplo, deixou aberta a possibilidade de ser concedido o benefício a outras entidades beneficentes e assistenciais. FOLHA DE S. PAULO
Vendas do varejo caem 0,1% em novembro ante outubro de 2020, aponta IBGE
As vendas do comércio varejista caíram 0,1% em novembro ante outubro, na série com ajuste sazonal, informou na manhã desta sexta-feira, 15, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado veio abaixo da mediana das previsões (0,3%), calculada a partir das estimativas dos analistas ouvidos pelo Projeções Broadcast, que esperavam desde uma queda de 0,60% a uma alta de 1,50%. Na comparação com novembro de 2019, sem ajuste sazonal, as vendas do varejo tiveram alta de 3,4% em novembro de 2020. Nesse confronto, as projeções iam de uma elevação de 0,25% a 6,90%, com mediana positiva de 4,30%. As vendas do varejo restrito acumularam crescimento de 1,2% no ano e alta de 1,3% em 12 meses. AmpliadoQuanto ao varejo ampliado, que inclui as atividades de material de construção e de veículos, as vendas subiram 0,6% em novembro ante outubro, na série com ajuste sazonal. O resultado também veio abaixo da mediana das estimativas (0,85%), mas dentro do intervalo captado pelo Projeções Broadcast, que ia de uma alta de 0,20% a 2,40%. Na comparação com novembro de 2019, sem ajuste, as vendas do varejo ampliado tiveram alta de 4,1% em novembro de 2020. Nesse confronto, as projeções variavam de uma elevação de 3,40% a 7,0%, com mediana positiva de 4,80%. As vendas do comércio varejista ampliado acumularam alta de 1,9% no ano e redução de 1,3% em 12 meses. O ESTADO DE S. PAULO
Com queda no consumo de alimentos, vendas no comércio ficam estáveis em novembro
As vendas no varejo ficaram estáveis em novembro, com ligeira queda de 0,1%, na comparação com outubro, segundo a Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), divulgada nesta sexta-feira pelo IBGE. O resultado interrompe uma série de seis altas seguidas e confirma que o setor perdeu fôlego nos últimos meses. A projeção de analistas ouvidos pela Reuters era de alta de 0,4%. A queda no consumo de alimentos foi a principal responsável por frear a sequência de altas do setor, o que analistas atribuem à redução do auxílio emergencial e à alta da inflação, que corrói o poder de compra, especialmente dos mais pobres. Das oito atividades investigadas, cinco cresceram na comparação com outubro, porém o grupo Hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo, que têm peso de cerca de 45% no índice, apresentou retração de 2,2%. — Hipermercados e supermercados são muito importantes pelo peso no varejo, por isso, a queda na receita e no volume deles explica bem o cenário de estabilidade no indicador. A inflação foi o que mais afetou este resultado. A redução do auxílio emergencial teve impacto também e, embora menor, ajudou a reduzir o consumo — esclarece o gerente da PMC, Cristiano Santos. Ele completa: — É comum que o consumidor, quando tem uma queda de renda ou do seu poder de compra, passe a comprar menos produtos que não são essenciais e a optar por marcas mais baratas. Outros dois segmentos que tiveram queda foram combustíveis e tecidos, os quais são justificados pelo fato de as pessoas ficarem mais em casa. Nem Black Friday faz vendas avançaremNem a Black Friday, que costuma inflar o desempenho das vendas do varejo em novembro, conseguiu manter a trajetória de altas no comércio. O segmento de móveis e eletrodomésticos, que é geralmente impactado pelas promoções, ficou estável, com ligeiro recuo de 0,1% ante outubro. Mas outros dois segmentos que costumam ser beneficiados pelas ofertas apresentaram avanços: outros artigos de uso pessoal e doméstico (1,4%) e equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (3,0%). — A Black Friday ajudou a queda a não ser maior — afirma Santos. Mesmo com a perda de fôlego, o comércio já recuperou as perdas da pandemia. No ano, acumula alta de 1,2% e, em 12 meses, de 1,3%. Na comparação com igual mês de 2019, também houve perda de ritmo, com o varejo crescendo 3,4% em novembro, bem menos que a alta de 8,4% registrada em outubro. Se considerado o chamado comércio varejista ampliado, que inclui, além das oito atividades de varejo, os segmentos de veículos, motos e peças e material de construção, o setor manteve expansão, embora em ritmo modesto. Houve crescimento de 0,6% no varejo ampliado em novembro em relação a outubro, a sétima alta seguida. Nesta semana, o IBGE divulgou também o resultado de serviços, que surpreendeu e avançou 2,6% em novembro na comparação com outubro. A indústria avançou 1,2% no penúltimo mês do ano. O ESTADO DE S. PAULO
‘Acredito que ainda vale a pena investir no Brasil’, diz presidente da GM
Na semana em que um dos assuntos mais comentados foi o fim da produção de carros da Ford no Brasil e o risco de outras empresas tomarem o mesmo rumo, o presidente da General Motors América do Sul, Carlos Zarlenga, que há dois anos também ameaçou fechar operações, afirma que o tamanho do mercado brasileiro ainda é atrativo para investimentos no setor. “Acredito que ainda vale a pena investir no Brasil”, diz. A GM retomou, no início do mês, o plano de aplicar R$ 10 bilhões ao longo de cinco anos anunciado em 2019 e que estava suspenso desde março, no início da pandemia da covid-19. Crítico do sistema tributário, que encarece o produto nacional e as exportações, o executivo ressalta que reformas precisam continuar, especialmente a tributária. Com cinco fábricas e líder de vendas no País, o grupo mudou sua estratégia de precificação em plena crise e vendas em queda acentuada, ação também adotada por outras montadoras. “Aumentamos os preços acompanhando a desvalorização do real, algo que não fazíamos há muito tempo”, diz. “Acho que é uma forma de voltar à rentabilidade.” Abaixo, trechos da entrevista. Como o sr. viu o anúncio da Ford de fechar suas fábricas?Não vou comentar sobre um concorrente num momento de decisões tão difíceis. Diante das discussões que ocorreram, algumas colocando em dúvida a capacidade de o Brasil atrair investimentos, o sr. acredita que o País tem futuro como fabricante de automóveis?O País terá este ano uma indústria de 2,5 milhões a 2,8 milhões de carros, alta de 25% ou mais em relação ao ano passado, embora não seja uma boa referência por ter sido um ano de muita queda. É uma recuperação que ainda não nos leva aos números de 2019, mas é forte e tem grande oportunidade de continuar nos próximos anos. Então, acredito que ainda vale a pena investir no Brasil. Custo Brasil, burocracias e carga tributária são empecilhos? São problemas de longa data e temos de trabalhar para mudar esse quadro. Também voltou-se a falar que o setor depende de subsídios.Quando falam que a indústria se acostumou com subsídios, eu digo: 45% a 50% de imposto sobre o preço do carro, enquanto nos EUA é 12%, de que subsídio estão falando? O que tem é uma tentativa de chegar a algo um pouco mais perto de ser razoável, mas nem assim, pois o Brasil tem tarifas duas a três vezes maiores que a média de outros países. Dizer que a indústria depende de incentivos e que não melhorou sua produtividade é uma falta de informação. A pressão tributária é asfixiante. Então, a adequação da política fiscal, do tamanho do Estado e a reforma tributária são fundamentais. O próprio governo fala da importância de se trabalhar uma agenda de competitividade para toda a indústria e entendo que isso vai ocorrer, inclusive para as exportações. Em nenhum outro país a exportação é taxada. O Brasil carrega de 15% a 18% de imposto em cada carro exportado, o que impede nossa competição lá fora. Em 2019, o sr. chegou a falar em suspender investimentos, o que resultaria em fechamento de plantas. Ainda é preciso alguma medida desse tipo?Lá atrás, se não fizéssemos investimentos, não haveria renovação de produtos e haveria esse risco. Mas conseguimos fazer acordos e anunciamos investimentos que já começamos a aplicar, como na produção da nova Tracker. O cenário de investimentos que precisávamos está aprovado. Não temos planos agora de fechar plantas nem no Brasil nem na América do Sul. A fábrica de Gravataí é a mais eficiente do mundo para o segmento de carros pequenos e médios. Fizemos a lição de casa em produtividade, redução de custos e eficiência. A empresa retomou neste mês o plano de aporte de R$ 10 bilhões até 2024, que estava suspenso desde março. Há mudanças em relação ao projeto inicial?Paramos no início da pandemia porque não sabíamos qual seria o impacto da queda nas vendas no nosso caixa. Agora, o mercado voltou a operar em níveis razoáveis e decidimos retomar o investimento, principalmente em novos produtos. A única mudança é que vai atrasar um ano e vai até 2025. Como foi 2020 para a GM?Adotamos uma estratégia que pode nos ajudar a voltar à rentabilidade. Retomamos a política de preços baseada na planilha de custos. Aumentamos preços num patamar que não ocorria há muito tempo, acompanhando a desvalorização do real. A indústria parou de pensar em ganhar participação de mercado sacrificando margens e assim há mais chances de ser rentável. Por que no passado os custos cambiais não eram repassados?Historicamente, não havia repasses por desvalorização do real. Em 2018 e 2019, chegamos a ter produto que era melhor não vender, pois o custo de material era mais alto que o de venda. Agora, vamos operar num ambiente em que o preço será definido de forma racional, pois uma política predatória não funciona para ninguém. Antes, ficávamos perguntando se a desvalorização seria por longo ou curto prazo e ninguém repassava toda a perda, mas as desvalorizações anteriores não foram tão fortes. Em 2020, foi realmente complicado. Teve momento em que o dólar chegou perto de R$ 6 – em 2019, estava em R$ 3,90. No ano, a desvalorização foi de 30% e o aumento médio para nossos carros foi de 13%. Esse repasse é suficiente para recuperar ganhos?Há um universo de problemas que se mantêm, como o custo Brasil e a pressão tributária que já comentei. Se não fosse isso, os volumes de produção e vendas seriam bem melhores. A empresa abrirá mão de produtos mais baratos para ter rentabilidade com carros mais caros?Não serão só produtos de maior valor. Se o real desvalorizar ainda mais e (o dólar) for a R$ 8, vou repassar para o preço do Onix (o mais barato da marca). É uma variável que não controlo. Se desvaloriza, tenho de repassar. Do contrário, minha operação não é sustentável. É possível saber se os reajustes afastaram compradores?Não dá para saber qual foi o impacto dos aumentos e o da
Governo deve negociar manutenção de empregos
A oposição do governo francês “a priori” à aquisição de Carrefour pelo grupo canadense Couche-Tard deixou o mundo dos negócios “pasmo”’. A ação do grupo francês, que tinha subido 13,4% na quarta-feira, fechou em queda de 2,5% ontem. A manchete desta sexta-feira do jornal de economia francês “Les Echos” resume o sentimento de empresários: “Carrefour: o retorno do Estado intervencionista”. Até agora, o Estado fazia controle de investimentos estrangeiros em setores considerados estratégicos como defesa, energia e telecomunicações, e ampliando agora para setor alimentar. A situação é ainda mais delicada no momento porque o potencial comprador é de um grupo canadense, e não chinês, por exemplo. Mas para o ministro de Finanças da França, Bruno Le Maire, “o que está em jogo é a soberania alimentar dos franceses”. O ministro exemplifica com o primeiro confinamento, em 2020, por causa da pandemia de covid-19, que mostrou a importância da grande distribuição para a segurança alimentar do país. Carrefour detém 19,5% do mercado francês de bens de consumo, sendo o segundo maior, atrás de Leclerc, com 22%, O governo de Emmanuel Macron fez no ano passado uma emenda no decreto sobre controle de investimentos estrangeiros, justamente para incluir a distribuição de produtos agrícolas na lista de setores que o Estado considera estratégicos. Enquanto o ministro deixa claro que o Estado vai exercer seu poder de controlar toda operação nesse setor e de se opor ou não, o mundo dos negócios rejeita seus argumentos. E nota que vários grandes grupos franceses, por sua vez, se engajaram nos últimos anos em operações no estrangeiro. O próprio Carrefour tem posições fortes no exterior, particularmente no Brasil. Esse grupo também fechou vários supermercados, demitindo milhares de assalariados nos últimos anos, sem reação do governo. O que vai acontecer agora é negociação entre o governo francês e o grupo canadense, pelo período de dois meses. O governo quer, por exemplo, ter a garantia de que não haverá demissões. Por sua vez, o grupo canadense já acenou com investimentos de € 3 bilhões para desenvolver o negócio, se for concretizado. Não é improvável que o Ministério de Finanças termine por simplesmente enviar uma carta aos canadenses, com um “não” como resposta. Investidores estrangeiros não vão perder um pedaço das declarações do governo francês sobre a questão. O retorno do intervencionismo do Estado na França vai atrair ainda mais agora a atenção de investidores estrangeiros, já reticentes antes sobre a possibilidade de investir no país. VALOR ECONÔMICO
Crise no BB ressuscita entre os investidores fantasma da ingerência política nas estatais
O descontentamento do presidente Jair Bolsonaro com o presidente do Banco do Brasil, André Brandão, que anunciou o fechamento de agências e um plano de demissão voluntária, traz de volta aos investidores a desconfiança o futuro da instituição, se será ou não privatizada. No entanto, analistas avaliam que o estrago atinge todas as estatais com ações em Bolsa, como Petrobras e Eletrobras, já que ressuscitou o fantasma da ingerência política sobre estatais. Na quinta-feira, a ação ordinária do Banco do Brasil caiu 0,24%, depois do tombo de quase 5% do dia anterior. O dia foi de expectativa de um desfecho para as tentativas do ministro da Economia, Paulo Guedes, e do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, de convencer o presidente a desistir da demissão de André Brandão, que está à frente do banco há menos de seis meses. Não houve definição oficial até a noite, mas o tema passou o dia no noticiário. Mais cedo, em fato relevante ao mercado financeiro, o Banco do Brasil informou “que não recebeu no âmbito de seus órgãos de governança nenhuma comunicação formal por parte do acionista controlador sobre suposta destituição” de Brandão. “A notícia pode elevar a incerteza para o banco, principalmente após plano de reestruturação recentemente anunciado. Isso poderia aumentar os riscos de governança corporativa, tema no qual o banco tem avançado nos últimos anos”, escreveram os analistas do banco Goldman Sachs, liderados por Tito Labarta, em relatório distribuído a clientes, informou a coluna Capital, do GLOBO. ‘Sinalização de abandono do projeto liberal’Luiz Marcatti, presidente da Mesa Corporate Governance, consultoria especializada em governança corporativa, avalia que o problema de qualquer empresa controlada pelo Estado é que sua gestão é diretamente afetada pela agenda política do seu controlador. — Eles agem com o olhar eleitoreiro e não empresarial — diz Marcatti. Para o economista João Augusto Salles, estrategista em renda variável da Senso Corretora, e especialista em sistema financeiro, o fator político sempre foi um risco para o Banco do Brasil e a decisão de Bolsonaro vai nessa direção, numa sinalização de abandono do projeto liberal do governo. — As ações ordinárias do BB subiram mais de 22 % desde a posse de Brandão por conta da capacidade de gestão de André Brandão, e em menor grau pela expectativa de privatização do banco, que parece estar cada vez mais longe. A interferência política sempre foi o principal fator de risco para o BB e o desconto de suas ações em relação aos pares privados decorre daí — explica. Salles argumenta que o fechamento de agências e os planos de demissão voluntária que vão enxugar cinco mil funcionários do quadro da instituição vão na direção do que outros grandes bancos privados estão fazendo para ganhar mercado no segmento digital. — Durante a pandemia, cresceu o acesso dos clientes pelos canais digitais dos bancos. Se não se reforçar nesse segmento, o BB corre o risco de perder fatias importantes do mercado — diz Salles, lembrando que as agências físicas têm alto custo de manutenção para os bancos. Respeitado, executivo poderia se demitirBrandão é considerado pelo mercado um executivo que conhece as deficiências do Banco do Brasil e sua saída seria ruim para a instituição. Ele também é visto como dono de melhor interlocução com os funcionários que seu antecessor, Rubem Novaes. Se a pressão do Planalto continuar e Brandão tiver que rever os planos, há chance de o executivo pedir demissão, avalia o analista da Senso. Segundo um relatório do Goldman Sachs, a provável mudança de presidente “após apenas quatro meses pode trazer incerteza para a estratégia do banco.” “Observamos que André Brandão tem larga experiência no setor bancário e construiu sua carreira no mercado financeiro, atuando para instituições financeiras privadas por mais de 30 anos,” acrescenta o texto. Preocupação com PetrobrasNo mercado também causou preocupação a notícia de que a Associação Brasileira de Importadores de Combustíveis (Abicom) recorreu ao órgão de defesa da concorrência contra a Petrobras por uma suposta defasagem no preço dos combustíveis. Apesar disso, na quinta-feira as ações da Petrobras oscilaram hoje entre leves perdas e ganhos. Após forte tombo na véspera, a ação ordinária da estatal fechou em alta de 0,40% enquanto a preferencial subiu 1,03%. A entidade protocolou ofício na sexta-feira no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e na Agência Nacional do Petróleo (ANP) argumentando que a Petrobras está vendendo diesel e gasolina às refinarias no Brasil com preços abaixo das cotações no mercado internacional, o que afeta a concorrência. A Petrobras nega, mas entre os investidores fica a dúvida de que o governo pode sacrificar ganhos da estatal para não desagradar os caminhoneiros, que têm manifestado insatisfações. O GLOBO
O Banco do Brasil, o ajuste e o emprego (Celso Ming)
Um jeito de analisar a decisão do Banco do Brasil de fechar 112 agências e demitir 5 mil funcionários é pelo lado político. É o que aponta para quanto essa decisão contraria o interesse imediato do presidente Bolsonaro, que não quer mais pressões dos políticos, quando, como agora, pretende influenciar as eleições das Mesas do Senado e da Câmara dos Deputados. Outro jeito de analisar é pelo lado do impacto no mercado de trabalho, não só no âmbito do Banco do Brasil, mas no de toda a economia, como uma espécie de saga em andamento. No sistema financeiro, são as próprias imposições técnicas para aumento da eficácia que exigem redução de agências bancárias e drástica redução de pessoal. São exigências que não têm origem apenas nas leis do mercado. É o Banco Central e o governo que empurram nessa direção. Quando, por exemplo, induz à adoção intensiva de aplicativos digitais, quando melhora o desempenho dos cartões de crédito e quando cria o Pix, o Banco Central está empurrando para os clientes dos bancos tarefas que até recentemente eram desempenhadas pelos funcionários. Não é à toa que, entre 2016 e 2020, o sistema bancário fechou 4,1 mil agências (veja o gráfico) e 78 mil postos de trabalho, como mostram as estatísticas do Banco Central e o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). É processo inexorável que vai se aprofundar. Até onde não se sabe. E, se não acompanharem esse movimento, os bancos estatais, como o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal, sejam quais forem os presidentes e as diretorias da preferência do chefão da hora, ficarão para trás, perderão participação de mercado e sairão prejudicados em relação aos concorrentes. Essa lógica não se restringe ao setor financeiro. A saída da Ford e o fechamento da fábrica da Mercedes-Benz em Iracemápolis (SP) são apenas os fatos mais recentes confirmados no setor de veículos. Os sistemas de automação intensiva e as novas arrumações do sistema produtivo do setor já vêm dispensando mão de obra há anos, processo que agora vai se intensificar à medida que o setor se reestruturar para atender às mudanças no paradigma energético. E, claro, não se restringirá às montadoras. Atingirá em cheio as concessionárias e toda uma área enorme de serviços que dependem dessa produção. À medida que os carros elétricos se incorporarem à frota de veículos, as oficinas mecânicas convencionais perderão espaço e tenderão a ser substituídas por autoelétricas, que demandarão cada vez menos mão de obra. A automação, a incorporação de https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg de informação e a superdigitalização dos processos dispensarão funcionários em grande número de setores que hoje são grandes empregadores, como a construção civil, o comércio varejista e os transportes. É um engano imaginar que a recuperação da atividade econômica depois da covid-19 trará de volta os empregos antes existentes. Ou, então, que a intensificação da digitalização e do emprego de inteligência artificial acabará por criar empregos de outra ordem, como a partir do século 17 a Revolução Industrial e a invenção da máquina a vapor substituíram os empregos perdidos no campo e nas atividades artesanais. Os novos postos de trabalho não compensarão os que se fecharem no processo. O problema é que ninguém ainda apresentou solução cabal para o problemão que já está aí. Criação de mecanismos de renda mínima, aumento do tempo destinado ao estudo e ao lazer e propostas de mudança no paradigma de consumo podem atenuá-lo, mas não eliminá-lo. O que se pode dizer é que, se não for encontrada saída para os efeitos da revolução do trabalho no mundo, as próprias empresas ficarão sem mercado para seus produtos e seus serviços, por falta de poder aquisitivo dos consumidores. O ESTADO DE S. PAULO
Rusgas de Bolsonaro com presidente do BB envolvem indicação e show do Seu Jorge
As rusgas do presidente Jair Bolsonaro com o presidente do Banco do Brasil, André Brandão, começaram lá atrás. A relação entre os dois já nasceu torta. O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, indicou Brandão para o BB e consultou o ministro da Economia, Paulo Guedes, que endossou o nome. A indicação, porém, não foi validada amplamente pelo presidente Jair Bolsonaro. Isso criou um problema à época, o que deixou o presidente Bolsonaro incomodado porque os dois – Guedes e Campos Neto – já tinham decidido pelo nome antes de ele bater o martelo. Caso quisesse, porém, o presidente poderia ter vetado o nome. Para piorar a situação, em dezembro, o BB contratou Seu Jorge para fazer uma live para os funcionários do banco, no dia 5 de dezembro. Os ideólogos do governo criaram a maior confusão e reclamaram com o presidente, dizendo que Seu Jorge é ligado à esquerda e que o banco público contratar o cantor era um absurdo. O presidente concordou com as críticas e “anotou no caderninho”. O presidente e essa ala radical do governo alegam que o BB continua “tomado pelos petistas” e que a atual direção, assim como a anterior, nada fez para atuar na troca desses executivos que seriam ligados à esquerda e continuariam com poder no banco. A decisão de Brandão de fechar agências sem que o presidente fosse comunicado foi o estopim. Auxiliares garantem que o presidente só ficou sabendo das demissões e do fechamento de agências quando começaram a chegar as cobranças. Elas vieram, principalmente, de prefeitos e parlamentares que ligaram ou mandaram WhatsApp. O presidente insistiu que quer ser informado dessas decisões com antecedência. E cobrou Guedes, que não teria lhe informado da reestruturação anunciada na segunda. No entanto, na escolha de Brandão, o presidente já tinha sido comunicado que o nome estava alinhado ao objetivo da equipe econômica de enxugar o banco e focar na digitalização e, em nenhum momento, se opôs. Para analistas de mercado, o plano do BB foi considerado, inclusive, tímido e atrasado. A avaliação no Palácio do Planalto é de que Bolsonaro pode até desistir de demitir o presidente do BB por temer como a ingerência política vai afetar a queda das ações do banco, mas exige que seja informado de tudo por conta do contexto das eleições na Câmara e no Senado. Para assessores do presidente, está evidente que não existe relação de confiança de Bolsonaro com o presidente do BB e que há um desgaste do ministro Paulo Guedes, que endossou o nome de Brandão lá atrás e agora entrou em campo para segurá-lo na presidência do BB. Ou seja, Guedes está gastando capital junto ao presidente. Na conversa com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, Bolsonaro falou com o presidente sobre a situação do Brandão, e a cobrança maior foi no sentido de que ele precisa ser informado de uma decisão como essa de impacto social, político e econômico. O trabalho, agora, é para contornar a situação, para evitar um mal maior, na avaliação de assessores presidenciais. Funcionários do BB também estão temerosos com o risco de o impasse em torno do plano de reestruturação do banco abrir a porteira para as indicações do “Centrão” no banco nesse momento em que compromissos estão sendo assumidos para a eleição do comando das presidências da Câmara e do Senado. Segundo apurou o Estadão, há uma avaliação entre os funcionários que faltou transparência, mas o risco maior é lotear os bancos com indicações políticas ou ideológicas. O diálogo entre os funcionários e o novo presidente do BB é considerado positivo, ao contrário da relação com o presidente anterior, Rubem Novaes. O ESTADO DE S. PAULO
Governo estuda adiar imposto de novo para dar fôlego a empresas
O governo federal incluiu no seu cardápio de possíveis medidas de estímulo à economia neste início de ano fazer uma nova rodada de diferimento (adiamento do recolhimento) de tributos para as empresas. Assim como aconteceu no primeiro semestre do ano passado, na linha de frente das ações de combate aos efeitos econômicos da pandemia, a ideia é dar um pouco mais de folga no caixa das empresas, uma espécie de capital de giro, para que elas possam ter maior capacidade produtiva e, se possível, abrir um espaço para o investimento. Um técnico da área econômica frisou que esse é um instrumento que já foi usado e que está sendo discutido nesse momento. Além disso, o governo avalia a possibilidade de antecipação do 13º salário das aposentadorias do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e do abono salarial – estratégia também adotada no início da pandemia. Essa medida envolveu R$ 24,3 bilhões. Por enquanto, a equipe econômica ainda não bateu o martelo sobre a adoção dessas medidas. Todas elas já haviam sido acionadas no ano passado para enfrentamento da crise econômica gerada pelo coronavírus e foram bem avaliadas. A retomada dessa estratégia está sendo pensada como mecanismo de dar algum suporte para a economia sem impacto fiscal, dado que essas ações, em tese, só alteram o fluxo de receitas e despesas e não seu resultado final. No caso do diferimento de tributos federais por três meses feito em 2020, a equipe econômica tinha como objetivo dar um alívio de R$ 33,3 bilhões, recurso que seria “devolvido” aos cofres públicos a partir de agosto. Há um risco de impacto fiscal em decorrência da possibilidade de inadimplência. Ainda não foi divulgado balanço final de quanto deixou de retornar ao governo, embora a maior parte tenha sido paga na nova data que a Economia havia definido. Desde o fim do ano passado, o ministério da Economia vem se preparando para lidar com um primeiro semestre mais duro para o nível de atividade, principalmente devido ao fim do auxílio emergencial, apesar do discurso otimista. A leitura que ainda prevalece é que o benefício, que foi de R$ 600 inicialmente e de R$ 300 depois, já cumpriu sua função e, dado o seu custo fiscal, o mais correto foi o seu encerramento no ano passado. Agora o time do ministro Paulo Guedes vai acompanhar a reação da economia e tem uma espécie de sequência de reação prevista para garantir que o nível de atividade mantenha uma trajetória, caso haja alguma perda de fôlego por parte do setor privado. Além do diferimento de tributo e antecipação de pagamento de benefícios adotados no ano passado para combater os efeitos do coronavírus, o governo ainda permitiu o adiamento do pagamento de contribuições previdenciárias e ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), suspendeu temporariamente a cobrança de dívidas. Também houve isenção até o fim de 2020 do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre operações de crédito que teria um impacto estimado na arrecadação de R$ 18 bilhões. VALOR ECONÔMICO