O volume de licenciamentos de carros comerciais leves, caminhões e ônibus no Brasil apresentou crescimento de 37,4% em junho na comparação com o mesmo mês do ano passado. Ao todo, foram emplacados 182,5 mil veículos, de acordo com a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Os resultados continuam positivos porque a base de comparação, no ano passado, sofreu o impacto inicial da pandemia. A média diária de licenciamentos, contudo, está baixa em comparação com os meses anteriores e, principalmente, com o período anterior à covid-19. Em junho, foram emplacados em média 8,6 mil veículos por dia. Nos dois últimos meses, a média diária estava em torno de 9 mil unidades e, antes da pandemia, em 11 mil. Além de a escassez de semicondutores prejudicar o mercado brasileiro, com filas de espera pela compra de alguns modelos, o presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes, aponta as altas da inflação e dos juros, que impactam diretamente o Crédito Direto ao Consumidor, principal canal de vendas de veículos no país.
Apesar do crescimento, as vendas de junho ainda estão bem abaixo do registrado no mesmo período antes da pandemia. Em junho de 2019, foram vendidos 223,2 mil veículos. No mesmo mês de 2018, as vendas chegaram a 202 mil unidades. No acumulado do primeiro semestre, foram vendidos 1,07 milhão de veículos.
Escassez de semicondutores
A falta de semicondutores continua a fazer com que as linhas de montagem funcionem em ritmo mais lento. Porém, na comparação com um ano atrás, quando a pandemia paralisou completamente as montadoras de veículos, os resultados são positivos.
Em junho, foram produzidos 166,9 mil veículos no Brasil, o que representou um crescimento de 69,6% na comparação com o mesmo mês do ano passado. No acumulado do ano, o avanço também foi significativo, com aumento de 57,5% e um total de 1,14 milhão de unidades. Um estudo da BCG apresentado pela Anfavea nesta quarta-feira mostra que, no primeiro semestre, 162 mil veículos deixaram de ser produzidos na América do Sul em decorrência da escassez de semicondutores. A estimativa da consultoria indica uma perda de 5 milhões a 7 milhões de unidades em todo o mundo neste ano por conta desse problema. O presidente da Anfavea estima que o abastecimento desses componentes nas fábricas de veículos não será restabelecido antes do segundo semestre de 2022.
Exportações
A recuperação da demanda de países vizinhos tem elevado as vendas externas da indústria automobilística. O volume embarcado no mês passado somou 33,5 mil veículos, uma elevação de 72,6% em comparação com o mesmo mês do ano passado, de acordo com a Anfavea.
Esse volume representou receita de US$ 594,9 milhões, uma alta de 50%. No semestre, a exportação de 119,5 mil veículos gerou receita de US$ 3,64 bilhões, uma alta de 70,7% em relação à primeira metade de 2020. Mercados como Colômbia e México têm aumentado as encomendas de veículos produzidos no Brasil, principalmente em função do lançamento de novos modelos de várias marcas.
Emprego
O nível de emprego na indústria automobilística continua em queda e mostra uma tendência independentemente da pandemia. As montadoras terminaram junho com 2,78 mil postos de trabalho menos do que há um ano. O setor emprega hoje 102,7 mil funcionários, uma queda de 2,6% na comparação com o mesmo mês do ano passado. Há um ano, as montadoras empregavam 105,5 mil trabalhadores. Há dois, eram 109,5 mil e há três anos, 112,4 mil. A queda no número de postos de trabalho no setor só não é menor porque a indústria de caminhões segue um ritmo mais intenso do que a de veículos leves, como efeito, principalmente, da demanda do agronegócio. O quadro efetivo nessa indústria diminuiu também em decorrência do fechamento das fábricas da Ford no Brasil.
Novas projeções
A Anfavea também anunciou novas projeções para 2021. A estimativa de produção caiu de 2,52 milhões para 2,45 milhões de unidades, ou seja, uma queda na expectativa de crescimento de 25% para 22%. No caso das vendas internas, a nova projeção indica um mercado de 2,32 milhões de veículos, aumento de 13% em relação a 2020. O cálculo anterior, divulgado em janeiro, indicava 2,36 milhões de unidades, o que representaria expansão de 15%. A escassez de semicondutores foi o principal motivo apresentado pela direção da entidade. As montadoras têm paralisado as linhas com frequência por falta dos componentes, que são produzidos majoritariamente na Ásia. Mas Luiz Carlos Moraes também demonstrou preocupação com a escalada dos juros, que afeta diretamente os financiamentos de veículos, além da pressão inflacionária. Ele disse ainda, que espera que a atividade econômica melhore a partir do avanço da vacinação contra a covid-19 no país.
A queda nas projeções se concentra no segmento dos automóveis, mais afetados, tanto pela falta de componentes como por eventuais impactos de índices macroeconômicos no consumo. A Anfavea reduziu a estimativa de vendas de carros de passeio de 2,25 milhões para 2,18 milhões, o que representa uma alta de 12% em comparação com 2020. A projeção anterior indicava crescimento de 15%. Por outro lado, os cálculos de crescimento de vendas de comerciais leves e de caminhões aumentaram, o que reflete a ampliação do volume de encomendas, sobretudo do agronegócio. O crescimento estimado para comerciais leves passou de 18% para 33% (450 mil) e de caminhões, de 13% para 33% (122 mil). A Anfavea também elevou a expectativa das exportações, de 9% para 20% (389 mil).
VALOR ECONÔMICO