Considerado o motor da economia, o setor de serviços começa este ano com alta de 0,6% em janeiro, na comparação com dezembro, segundo dados divulgados hoje pelo IBGE. O resultado mostra uma leve recuperação após a estabilidade registrada em dezembro.
Em 12 meses, porém, o setor acumula queda de 8,3%, a mais intensa perda neste período de comparação desde que a série histórica do IBGE foi iniciada, em dezembro de 2012. É o único setor econômico que não recuperou as perdas da pandemia.
O resultado de janeiro veio acima da expectativa de analistas ouvidos pela Reuters, que previam crescimento de 0,2%.
O setor de transportes (3,1%) foi o que puxou a alta, com o avanço nas viagens de ônibus e avião em janeiro, mês de férias e quando as medidas de isolamento social estavam menos rígidas do que agora.
O IBGE ressalta, no entanto, que embora o turismo tenha registrado expansão no primeiro mês do ano, ainda precisa crescer 42,1% para retornar ao nível pré-pandemia.
O gerente da pesquisa, Rodrigo Lobo, acrescenta que, além dos viajantes, este aumento pode ter vindo do deslocamento de pessoas que voltaram a trabalhar ou estão procurando emprego. A crise do mercado de trabalho, que já estava crítica, com 13,4 milhões de desempregados em dezembro, foi agravada com o fim do auxílio emergencial em janeiro, levando mais pessoas a buscarem uma vaga.
Lobo destaca ainda que o resultado também foi influenciado pelo transporte de cargas, essencial para o setor do comércio e da indústria.
Avanço em apenas dois segmentos
Dos cinco segmentos pesquisados, apenas transportes e serviços profissionais, administrativos e complementares tiveram avanço. Este último cresceu 3,4%. Segundo Lobo, os serviços mais demandados foram os técnico-profissionais, como de engenharia, especialmnete voltados para a exploração de petróleo.
As áreas de serviços e de comércio foram as mais devastadas pela pandemia e apresentam maior lentidão na recuperação. Em 2020, serviços — que responde por 70% do PIB — fechou o ano com um tombo recorde de 7,8% na comparação com 2019.
Em março e abril, o setor de serviços teve o seu pior momento, com o fechamento dos estabelecimentos, mas começou a reagir gradualmente à medida em que a flexibilização ampliava. No fim do ano, porém, encolheu diante do recrudescimento da pandemia, proximidade do fim do auxílio emergencial — o beneficio deixou de ser pago a partir de janeiro — e fragilidade do mercado de trabalho.
Perda de 1 milhão de empregos
A expectativa é que o ritmo lento de avanço seja mantido no primeiro trimestre, especialmente após os decretos de restrição de funcionamento entre fevereiro e março e com a lentidão da campanha de vacinação, já que o setor depende muito de contato entre as pessoas.
Dentre as categorias mais afetadas do setor, estão a de serviços prestados às famílias, que inclui restaurantes e hotelaria. Segundo a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), mais de 300 mil estabelecimentos fecharam as portas, levando à perda de um milhão de empregos na pandemia.
Em janeiro, o segmento de serviços prestados às famílias apresentou queda de 1,5%. A maior retração entre os cinco segmentos acompanhados pela pesquisa foi em outros serviços (-9,2%), que inclui corretoras e outras instituições financeira.
Na semana passada, o IBGE divulgou o índice da produção industrial brasileira, que perdeu fôlego e avançou 0,4% em janeiro, na comparação com dezembro. Na próxima sexta-feira, dia 12, será a vez de conhecer o desempenho do varejo, na Pesquisa Mensal do Comércio.
O GLOBO