Segunda onda piora a situação da micro e pequena indústria em SP

Com queda no faturamento, aumento de custos, falta de insumos e de acesso a crédito, a situação dos pequenos industriais paulistas piorou no mês passado, de acordo com pesquisa encomendada pelo Sindicato da Micro e Pequena Indústria do Estado de São Paulo (Simpi) ao Datafolha. A segunda onda da pandemia interrompeu um processo de melhora que ocorria no início do ano, mostram os dados. O setor representa 60% dos empregos industriais do Estado.

Por falta de pedidos e/ou da escassez de insumos, só 33% das empresas estavam funcionando normalmente em abril, contra 30% em março e 45% em fevereiro. Outras 36% estavam com operações totalmente paradas ou com a maior parte paralisada. A situação complicada é mostrada por outros dois dados da pesquisa: 40% das micro e pequenas indústrias tiveram algum fornecedor que faliu e para 45% ao menos um cliente faliu. E 40% têm clientes inadimplentes. O caso da empresária Paula Maria Natali, da Doce Pecado, fábrica de chocolates localizada na zona norte de São Paulo, ilustra bem a situação. Ela negocia até hoje os pagamentos de clientes que compraram produtos para a Páscoa do ano passado. Outros tantos simplesmente cancelaram encomendas. “Ficamos com um estoque enorme”, conta. A Páscoa deste ano também frustrou as expectativas por causa da segunda onda da pandemia.

Na Doce Pecado, o faturamento caiu 50%. Na pesquisa do Simpi/Datafolha, o percentual das empresas que classificaram o faturamento como “ruim ou péssimo” cresceu de 31% para 43% entre março e abril. O número é o dobro do mesmo período de 2020. E a queda na receita das vendas é um dos motivos pelos quais as micro e pequenas indústrias têm tido maior dificuldade em conseguir crédito: 72% tiveram pedido de empréstimo recusado; 9% nem sequer receberam qualquer resposta da instituição financeira, de acordo com o levantamento. Paula Natali, que teve aprovado um financiamento do Pronampe – programa do governo federal para socorrer micro e pequenas empresas – no fim do ano passado, precisou de outro empréstimo, mas não conseguiu o crédito. A solução foi hipotecar o apartamento da filha. “Não se consegue crédito em lugar nenhum. Financeiras e bancos querem garantias de um faturamento que não temos”, relata. Mesmo os fornecedores, que antes parcelavam pagamentos e ajudavam a aliviar a situação, agora exigem pagamento à vista, diz.

Fábio de Amorim Leme, da Bolinha Estúdios, que fabrica artigos para o setor de eventos, passa pelo mesmo problema. Ele não conseguiu empréstimo pelo Pronampe porque a instituição financeira intermediária do programa exigiu a comprovação de 12 meses de faturamento. “Meu faturamento hoje é de 5% a 10% do que era antes da pandemia”, diz ele, que demitiu metade dos oito funcionários. Para que a empresa sobreviva, ele recorreu ao fundo que estava investindo para aposentadoria, entre outros bens. “As linhas de crédito não alcançam as micro e pequenas por causa dos critérios de concessão. Estou queimando patrimônio para manter a empresa”, diz. Joseph Couri, presidente do Simpi, diz que o setor financeiro e o próprio governo deveriam ter uma abordagem diferente na concessão de crédito neste momento. “Estão aplicando fórmulas velhas para um problema novo que é a pandemia”, diz.

Couri ressalta que a quantidade de micro e pequenas empresas que conseguiram empréstimo pelo Pronampe é mínima: 500 mil num universo de 7 milhões de empresas no país, levando em conta todos os setores. A falta de crédito é especialmente complicada num momento em que muitas pequenas indústrias enfrentam forte aumento nos custos dos insumos. Na pesquisa, 66% das empresas reportaram alta significativa nos custos, das quais 87% citam matérias-primas, e 53%, aumento na conta de energia. Fábio Leme, do Bolinha Estúdios, diz que o preço do poliol, um produto químico usado na produção de espumas e tintas, aumentou 140% desde agosto do ano passado. No geral, os custos da fábrica aumentaram 80%. Ele não conseguiu repassar o aumento para os clientes, assim como 70% das empresas que participaram da pesquisa.

VALOR ECONÔMICO

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