Retomada mais lenta (Editorial)

Depois de uma forte reação inicial aos danos da pandemia, a economia brasileira começou a perder impulso, com menor avanço do consumo, expansão mais lenta da produção industrial, serviços muito atrasados na recuperação e desemprego ainda muito alto. A acomodação, ou perda de ritmo, já mostrada pelos dados setoriais, é evidenciada também no menor dinamismo do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br). Considerado um sinalizador de tendência, esse indicador cresceu 0,86% de setembro para outubro. Foi a menor taxa mensal desde o início da retomada, em maio.

Publicado todo mês, o IBC-Br é usado como prévia do Produto Interno Bruto (PIB). É uma prévia imperfeita, mas duplamente útil – por indicar o rumo e o ritmo da atividade e por estar disponível mensalmente. Só de três em três meses o PIB é divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A prévia pode ser imperfeita, mas o rumo e a variação de ritmo vêm sendo apontados com clareza. A economia continua subindo a encosta, mas a perda de velocidade é evidente. Essa perda é bem nítida quando se comparam os trimestres móveis encerrados em agosto, setembro e outubro. Em cada período a atividade cresceu mais devagar sobre o trimestre móvel anterior. O ritmo passou de 3,04% para 1,90% e, finalmente, 1,38%.

O menor dinamismo havia aparecido claramente nos dados setoriais publicados todo mês pelo IBGE. Em outubro a produção industrial foi apenas 1,1% maior que em setembro. O crescimento foi o menor desde o começo da reação, em maio. Além disso, a expansão foi menos disseminada. Em setembro os aumentos haviam ocorrido em 22 dos 26 segmentos cobertos pela pesquisa. Em outubro, só 15 ramos apresentaram aumento da produção.

O total produzido foi 1,4% maior que o de fevereiro, mês anterior ao choque, mas o acumulado em 2020 foi 6,3% inferior ao de janeiro-outubro de 2019. Em 12 meses o recuo foi de 5,6% em relação ao período imediatamente anterior.

Nas vendas do varejo houve um repique, com o aumento passando de 0,5% em setembro para 0,9% em outubro. Mas essa taxa ainda foi menor que a da maior parte dos meses desde o início da retomada: 12,2% em maio, 8,6% em junho, 4,6% em julho e 2,9% em agosto. Os números de novembro poderão confirmar se houve nova alteração de tendência – para cima. Nada, ainda, permite essa conclusão, especialmente por causa da redução do auxílio emergencial a partir de setembro.

Nos serviços a recuperação prosseguiu em outubro, com expansão de 1,7% em relação a setembro, mas o setor, ao contrário da indústria e do varejo, continuou abaixo do nível anterior à queda ocasionada pela pandemia. O crescimento acumulado em cinco meses, de 15,8%, ficou muito longe de compensar a perda de 19,8% ocorrida no período de fevereiro a maio.

Os serviços entraram em recuperação um mês depois do varejo e da indústria e avançaram bem menos na reparação dos estragos. Esse atraso retarda sensivelmente a reativação do mercado de trabalho, porque os serviços são importante fonte de empregos.

Apesar dos avanços, a atividade permanece abaixo do nível de 2019 e de patamares mais distantes. No terceiro trimestre, o PIB foi 3,9% menor que o de um ano antes. O acumulado no ano foi 5% inferior ao de igual período de 2019. Em 12 meses o recuo foi de 3,4%. Esses são dados oficiais do IBGE.

Os números do IBC-Br também mostram perdas importantes nessas comparações. No trimestre móvel encerrado em outubro a atividade foi 22,65% menor que a de um ano antes. No acumulado do ano o recuo foi de 4,92%. O confronto de períodos de 12 meses aponta uma queda de 3,93%.

Segundo todas as projeções correntes, o balanço de 2020 mostrará produção menor que a de 2019. O PIB será 4,41% inferior ao do ano passado, pela mediana das estimativas colhidas no mercado pelo Banco Central. Mas o ano termina, e as principais perguntas, agora, são a respeito de 2021. O governo tenta parecer otimista, mas seria mais convincente se ao menos dispusesse de um orçamento bem definido e confiável para o próximo ano.

O ESTADO DE S. PAULO

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