Para uma economia que, em algum momento no início da pandemia, chegou-se a prever uma queda em torno de 10%, recuar 4,1% é quase um alívio. Mas não nos enganemos: é um número muito ruim. Seria diferente, claro, se a economia brasileira viesse num ritmo pujante e tivesse apenas sido abatida pela pandemia. Nesse caso, seria um tropeço numa trajetória virtuosa. Mas estamos muito longe disso.
Nos últimos dez anos, o crescimento brasileiro foi pífio, incluindo as quedas de 3,55% em 2015 e de 3,31% em 2016. Depois disso, foram três anos de crescimento em torno de 1%, culminando agora com mais uma queda significativa. Uma década – mais uma – perdida.
Os números são fortes, mas não são a coisa mais importante. No cenário atual, o problema é o que vem pela frente. O passado é bem ruim. Mas, olhando para o futuro, o que nos espera? A falta de rumo assusta muito mais do que saber que a economia não sai do lugar (na verdade, anda para trás) há uma década.
A nova matriz econômica imaginada no governo Dilma Rousseff, em 2011, trocou o tripé macroeconômico do governo Fernando Henrique Cardoso (câmbio flutuante, meta fiscal e meta de inflação) por um aumento dos gastos públicos, juros baixos (na marra), crédito barato via bancos estatais e desvalorização forçada do real, entre outros pontos. Deu no que deu, já conhecemos essa história.
Essa política foi revertida com a queda de Dilma e a chegada de Michel Temer. E a aposta dos empresários e do mercado financeiro era que essa mudança seria aprofundada com o governo Jair Bolsonaro, que angariou a simpatia desse segmento ao levar para sua equipe o economista Paulo Guedes, o seu ‘posto Ipiranga’, com sua pregação liberal.
Dois anos depois, pouco sobrou do discurso liberal. Gente que foi para o governo acreditando nesse caminho já pulou fora do barco (Salim Mattar, Paulo Uebel, entre outros). Alguns foram saídos pelas antipatias irracionais de Bolsonaro (Joaquim Levy, do BNDES; e Roberto Castello Branco, da Petrobrás).
O episódio Petrobrás, aliás, jogou por terra qualquer esperança que alguém ainda tivesse da orientação liberal do governo Bolsonaro na economia. Pressionado pela alta de preços, a saída do presidente foi pelo caminho do populismo, puro e simples. Troca-se o comandante da empresa por um que siga as ordens do capitão. Não por acaso, cinco conselheiros da Petrobrás, entre eles ex-presidentes de grandes empresas, pediram para deixar o conselho.
Sem agenda liberal, sem privatizações, sem reformas, não há farol à vista para a economia brasileira. O que Bolsonaro mira é a sua reeleição, e vai trabalhar apenas para isso. Serão medidas de curto prazo, quando o País precisa mesmo é de um plano de longo prazo e de alguém que o abrace, de verdade. Estamos à deriva.
*EDITOR DE ECONOMIA
O ESTADO DE S. PAULO