Sem auxílio emergencial e com piora de pandemia, a confiança empresarial em março registrou pior queda em 11 meses, segundo a Fundação Getulio Vargas (FGV) e está no menor patamar desde julho de 2020. O Índice de Confiança Empresarial (ICE) recuou 5,6 pontos entre fevereiro e março, para 85,5 pontos. Foi a pior queda desde abril de 2020 (-33,7 pontos) e a sexta retração consecutiva do indicador.
Aloisio Campelo Júnior, superintendente de estatísticas do Instituto Brasileiro de Economia da FGV e responsável pelo indicador, explicou que, a piora da pandemia em março levou muitas capitais a adotar medidas de restrição de circulação social e de atividades da economia em serviços e comércio. Isso afetou, de maneira geral, os negócios das empresas; e derrubou o humor do empresariado. Campelo não descartou nova queda do ICE em abril. De fevereiro para março, houve piora tanto nas respostas relacionadas ao presente quanto nas projeções, do empresariado. Isso é perceptível nos sub-indicadores componentes do ICE. O Índice de Situação Atual (ISA) caiu 4,6 pontos em março ante fevereiro, para 88,8 pontos. Já o Índice de Expectativas (IE) recuou 8,6 pontos, para 83,2 pontos.
Com quadro menos favorável nos cenários do presente e do futuro, Campelo foi questionado se houve mais disseminação na queda de confiança esse mês. Em março, a confiança empresarial subiu em apenas 29% dos 49 segmentos, sendo que, em fevereiro, essa parcela era de 37%. Ele afirmou que houve espalhamento na queda de confiança em março, mas destacou que há “heterogeneidade” no comportamento da confiança, por setores, no ICE. Campelo comentou que a confiança da indústria, por exemplo, mesmo em queda em março, opera em 104,2 pontos. Ou seja: acima do limite favorável, de 100 pontos. Em contrapartida, serviços, comércio e construção mostram confiança inferior a 100 pontos, em março. Também foi a primeira vez, na atual crise gerada pela pandemia, em que patamar de confiança de serviços deixou de ser o menor, entre atividades pesquisadas pela FGV, com 77,6 pontos. Comércio registrou a última posição, com 72,5 pontos. Já construção está com 88,8 pontos, em março.
Mas ele admitiu que os empresários, de maneira geral, ainda estão muito cautelosos e que esse cenário pode prosseguir no mês que vem. Mesmo com perspectiva de pagamento de auxílio emergencial em abril, será em valor menor do que foi pago no ano passado, lembrou o economista. “É bem provável que, dadas as circunstâncias, o [ICE] pode cair um pouco mais em abril.” No entanto, ele comentou que não há como se prever o mesmo para maio, com as informações até o momento nos campos sanitário e econômico. Há possibilidade de expectativas mais favoráveis a partir de maio – que, na prática, perguntariam sobre projeções do empresariado para junho, julho e agosto, período no qual há consenso de maior disponibilidade de vacinas contra covid-19. Assim, por consequência, o ICE poderia melhorar via expectativas em alta, pontuou ele. “Mas não há como prever isso, maio é uma incógnita”, notou o especialista.
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