No difícil momento em que o país enfrenta a ameaça de uma segunda onda de Covid-19, empresas estão reforçando a testagem de seus funcionários como medida preventiva para dar continuidade às atividades com segurança. Laboratórios relatam um aumento entre 30% e 40% nos pedidos de exames de RT-PCR por parte de companhias, de outubro para novembro.
Na lista das contratantes estão desde varejistas — preocupadas que uma contaminação em seus centros de distribuição às vésperas da Black Friday pudesse colocar toda a operação a perder — a shoppings e empresas da área educacional e dos setores de petróleo e mineração, que foram os primeiros a adotar o protocolo de testagem.
A Petrobras, por exemplo, faz cerca de 60 mil testes por mês em suas unidades operacionais. E ainda disponibiliza consultas on-line e testagem para todos os empregados em regime de teletrabalho que apresentem sintomas de Covid-19 ou que precisem ir ao escritório.
A Vale, por sua vez, já realizou mais de 700 mil testes entre funcionários próprios e terceiros no Brasil, o que permite identificar quem teve contato com o vírus, retirando do ambiente de trabalho aqueles que tiveram resultado positivo, ainda que assintomáticos, bem como todos os que eventualmente possam ter tido contato com empregados com teste positivo.
Desta forma, busca prevenir para que não haja contágio em suas operações. Além disso, a companhia mantém todos os empregados com funções elegíveis a home office trabalhando remotamente desde 16 de março.
— Na primeira onda, muita gente fechou as portas. Em agosto, setembro e outubro, as coisas começaram a voltar a um ritmo de maior normalidade, mas o aumento da contaminação é um problema grave para a operação. Para se ter uma ideia, o percentual de testes positivos em novembro foi de 30%, contra 20% no mês anterior — diz Carlos de Barros, CEO da Dasa, empresa de medicina diagnóstica que já realizou cerca de 150 mil testes em companhias e registrou um aumento de 40% no pedido de testagem por empresas em novembro.
O grupo Dasa, lançou, em fevereiro, um braço para gestão de saúde corporativa, o Dasa Empresa, que, com a Covid-19, tem atuado basicamente na realização de testagem e desenvolvimento de protocolos voltados ao controle da pandemia em 700 empresas. Deste total, metade é de prestadoras de serviços, 20% são indústrias e o restante reúne comércio, educação e outros setores.
Risco de falta de insumos
Dados da Pnad Covid, divulgados terça-feira pelo IBGE, mostram que o número de pessoas que buscam algum teste para saber se estão infectadas pelo coronavírus, assim como o de resultados positivos, vem aumentando.
Em setembro, 21,9 milhões disseram que haviam feito algum teste para Covid-19 desde maio, e 4,8 milhões tiveram resultado positivo.
Em outubro, esse número já havia crescido para 25,7 milhões de pessoas, sendo que 5,7 milhões, ou 22,4%, testaram positivo para a doença.
Entre as montadoras de veículos, que paralisaram suas linhas de produção em abril e estabeleceram um rígido protocolo de segurança para voltar em maio, a Volkswagen informa que dobrou a realização de testes de Covid-19 em novembro, com o recrudescimento de casos no país.
Quando o teste dá positivo, o funcionário é afastado imediatamente e todos os seus contatos são rastreados e passam por testagem também. A montadora lembra ainda que mantém um grupo de empregados em home office para proteger aqueles que precisam estar fisicamente nas fábricas.
Já a Toyota diz que há uma alta entre 25% e 30%, em relação aos meses anteriores, de trabalhadores buscando o serviço médico com sintomas suspeitos. Eles são encaminhados aos laboratórios credenciados e afastados imediatamente em caso de resultado positivo, recebendo, inclusive, ajuda psicológica.
A Mercedes-Benz do Brasil firmou parceria com o Hospital Albert Einstein, que tem fornecido exames aos seus colaboradores.
Segundo Jeane Tsutui, diretora executiva de Negócios do Grupo Fleury — que lançou em junho o Cuidado Integrado Empresa para ajudar as corporações na gestão da saúde diante da Covid-19 —, além de aumentar a testagem, as companhias têm se preocupado com programas que tragam uma mudança de comportamento no ambiente de trabalho, diante do prolongamento da pandemia:
— Só com mudança de comportamento teremos ambientes mais seguros para trabalhar. Redobrar os cuidados é um ponto fundamental neste momento. Ao longo do tempo, já observamos que as pessoas começam a relaxar. Será necessário um processo de adaptação contínuo até que cheguem as vacinas.
Fabio Alonso, diretor executivo do laboratório Contraprova, que já realizou cerca de cem mil testes em funcionários de empresas, diz que está trabalhando no limite da sua capacidade e teme que, com o inverno no hemisfério Norte, volte o cenário vivido em maio, quando faltavam insumos e havia fila para testagem:
— Nós e nossos parceiros estamos próximos a exceder o limite de nossa capacidade e já há sinalização de fornecedores do risco de faltar insumos.
Alonso chama atenção ainda para um novo tipo de perfil de demanda corporativa: a por testes para realização de festas de fim de ano.
— Várias companhias têm nos procurado para testar funcionários para realização de celebrações de fim de ano. Muitas empresas de promoção de eventos também nos buscaram querendo estabelecer um protocolo de testagem antes de festas, para garantir a segurança dos participantes, mas isso não é possível. O setor de turismo é outro que tem intensificando a procura por teste na expectativa de dar mais tranquilidade a funcionários e consumidores que voltam a viajar — comenta o diretor executivo do Contraprova, que também viu a procura crescer 30%, de outubro para novembro, e os resultados positivos praticamente triplicaram de 8% para 21% no período.
Protocolos mais rígidos
Mesmo quem não ampliou a testagem dos funcionários vem mantendo protocolos rigorosos. A Vulkan do Brasil, que produz peças para refrigeradores, navios e equipamentos para mineração, está com as medidas de segurança no nível máximo agora que o número de casos da Covid-19 subiu no país.
A cada duas horas, as máscaras dos trabalhadores são trocadas, o restaurante da empresa foi fechado para evitar contágio e a linha de produção ganhou novo layout para aumentar o distanciamento entre as pessoas.
A JBS ampliou a frota de ônibus para transporte de funcionários em 49% e adquiriu mais de 1,2 milhão de equipamentos de proteção individual para reforço da segurança dos colaboradores. O número de profissionais de saúde na empresa chegou a 630, 40% a mais do que antes da pandemia, e foram criados ambulatórios adicionais, com funcionamento 24 horas.
“Também foram contratados 12 mil profissionais para ampliação de equipes e reposição de colaboradores que foram preventivamente mantidos em casa por fazerem parte do grupo de risco, incluindo gestantes e pessoas com mais de 60 anos”, diz a empresa em nota.
O GLOBO