Caso Ford leva deputados até a Anfavea

O alarme provocado pela decisão da Ford de fechar suas fábricas no Brasil aproximou as demais montadoras do Poder Legislativo. O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores, Luiz Carlos Moraes, disse, ontem, que espera apenas a definição do novo presidente da Câmara para marcar reuniões com comissões de parlamentares que discutem reformas e outros temas da agenda econômica. O movimento partiu de deputados, que procuraram a entidade esta semana por receio de que outros fabricantes também desistam de produzir no Brasil. A preocupação maior surgiu de parlamentares dos Estados onde há montadoras. “Esse foi o benefício que recebemos nesse momento tão triste”, destacou Moraes, referindo-se ao interesse dos políticos em saber no que os legisladores podem ajudar para que o país não perca mais fábricas.

A Anfavea decidiu posicionar-se a respeito da decisão da Ford apontando os problemas que comprometem a política econômica do país e, consequentemente desestimulam o investimento no setor privado. Moraes deixou de lado o tom moderado com o qual costuma conduzir as entrevistas e, de forma firme e, algumas vezes, com certa irritação, discorreu sobre os esforços que a entidade tem feito, nos dois últimos anos, na tentativa de alertar o governo sobre a urgência das reformas e de um plano econômico que estimule a atividade industrial no país.

“O Brasil precisa decidir se quer reativar a economia ou se vamos continuar fechando fábricas”, destacou em entrevista por video. Segundo o dirigente, antes da pandemia o Brasil tinha capacidade para produzir 5 milhões de veículos por ano, o dobro do necessário hoje. Mas cinco fábricas foram fechadas – quatro da Ford e uma da Mercedes-Benz. Ele calcula que a capacidade agora está entre 4,5 milhões a 4,7 milhões de unidades. E se antes o setor trabalhava com ociosidade no Brasil, com a pandemia, o problema afeta o mundo todo, o que significa que apenas as regiões com maior grau de competitividade receberão investimentos. E relembrou estudo já apresentado pela entidade que indicou que produzir carros no Brasil sai 18% mais caro que no México. “No jogo da competição global vamos entrar sem chuteira, com a bola murcha e a camisa rasgada”, destacou.

Segundo ele, competitividade não é um problema da indústria automobilística, mas, sim, do país, que está atrasado nas reformas, principalmente a tributária. Moraes lembrou que há tempos os dirigentes do setor se queixam de problemas macroeconômicos, tais como o que ele chama de “manicômio tributário”. “O Estado é muito pesado; é impossível desenvolver uma indústria com a atual carga tributária”.

Moraes reclamou também do “tom pejorativo” com que a indústria automobilística é tratada no Brasil. Ele não citou nomes no país, mas deu um exemplo do exterior: “Na Alemanha, quem fala com as montadoras é a [chanceler] Angela Merkel, porque sabe o valor.”

E, com veemência, refutou as críticas que se fazem em torno dos incentivos fiscais que foram concedidos ao setor ao longo dos últimos anos. Disse que os benefícios federais foram usados na pesquisa e desenvolvimento de carros com mais https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg, mais econômicos e menos poluentes. E que incentivos regionais foram aprovados pelo Congresso “e são legítimos”.

Destacou, por outro lado, que o setor não quer mais incentivos – “queremos competitividade”. Segundo ele, a renúncia fiscal que existe no Brasil parece a história do comerciante que aumenta o preço para depois dar um desconto. “O que está errado não é dar ou não incentivos, é o tamanho da carga tributária, absurda e desequilibrada”.

Para ele, é preciso “parar de desmerecer um ativo como a indústria automobilística”. O presidente da Anfavea também criticou a decisão do governo de São Paulo de elevar as alíquotas do Imposto sobre Circulação de Mercadores e Serviços (ICMS) em carros novos e usados. “Esse não é o momento”, destacou Moraes. Diversas entidades dos segmentos de carros, motocicletas e caminhões se reunirão, hoje, com representantes da Secretaria da Fazenda do Estado para tentar reverter a elevação do ICMS em São Paulo, programada para entrar em vigor amanhã. A alíquota do tributo para carros novos subirá de 12% para 13,3% agora e para 14,5% em abril. Entidades como Fenabrave, Abraciclo e Abeifa, que, respectivamente, representam os concessionários, os fabricantes de motocicletas e os importadores de veículos cogitam até entrar com ação judicial caso não cheguem a um entendimento com a Fazenda. Os representantes do setor argumentam que no caso dos carros usados, segmento em que o imposto vai subir mais de 200%, há risco de aumento da informalidade e fechamento de lojas e desemprego, além da migração dos negócios para Estados vizinhos.

VALOR ECONÔMICO

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