Caso Ford leva deputados até a Anfavea
O alarme provocado pela decisão da Ford de fechar suas fábricas no Brasil aproximou as demais montadoras do Poder Legislativo. O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores, Luiz Carlos Moraes, disse, ontem, que espera apenas a definição do novo presidente da Câmara para marcar reuniões com comissões de parlamentares que discutem reformas e outros temas da agenda econômica. O movimento partiu de deputados, que procuraram a entidade esta semana por receio de que outros fabricantes também desistam de produzir no Brasil. A preocupação maior surgiu de parlamentares dos Estados onde há montadoras. “Esse foi o benefício que recebemos nesse momento tão triste”, destacou Moraes, referindo-se ao interesse dos políticos em saber no que os legisladores podem ajudar para que o país não perca mais fábricas. A Anfavea decidiu posicionar-se a respeito da decisão da Ford apontando os problemas que comprometem a política econômica do país e, consequentemente desestimulam o investimento no setor privado. Moraes deixou de lado o tom moderado com o qual costuma conduzir as entrevistas e, de forma firme e, algumas vezes, com certa irritação, discorreu sobre os esforços que a entidade tem feito, nos dois últimos anos, na tentativa de alertar o governo sobre a urgência das reformas e de um plano econômico que estimule a atividade industrial no país. “O Brasil precisa decidir se quer reativar a economia ou se vamos continuar fechando fábricas”, destacou em entrevista por video. Segundo o dirigente, antes da pandemia o Brasil tinha capacidade para produzir 5 milhões de veículos por ano, o dobro do necessário hoje. Mas cinco fábricas foram fechadas – quatro da Ford e uma da Mercedes-Benz. Ele calcula que a capacidade agora está entre 4,5 milhões a 4,7 milhões de unidades. E se antes o setor trabalhava com ociosidade no Brasil, com a pandemia, o problema afeta o mundo todo, o que significa que apenas as regiões com maior grau de competitividade receberão investimentos. E relembrou estudo já apresentado pela entidade que indicou que produzir carros no Brasil sai 18% mais caro que no México. “No jogo da competição global vamos entrar sem chuteira, com a bola murcha e a camisa rasgada”, destacou. Segundo ele, competitividade não é um problema da indústria automobilística, mas, sim, do país, que está atrasado nas reformas, principalmente a tributária. Moraes lembrou que há tempos os dirigentes do setor se queixam de problemas macroeconômicos, tais como o que ele chama de “manicômio tributário”. “O Estado é muito pesado; é impossível desenvolver uma indústria com a atual carga tributária”. Moraes reclamou também do “tom pejorativo” com que a indústria automobilística é tratada no Brasil. Ele não citou nomes no país, mas deu um exemplo do exterior: “Na Alemanha, quem fala com as montadoras é a [chanceler] Angela Merkel, porque sabe o valor.” E, com veemência, refutou as críticas que se fazem em torno dos incentivos fiscais que foram concedidos ao setor ao longo dos últimos anos. Disse que os benefícios federais foram usados na pesquisa e desenvolvimento de carros com mais https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg, mais econômicos e menos poluentes. E que incentivos regionais foram aprovados pelo Congresso “e são legítimos”. Destacou, por outro lado, que o setor não quer mais incentivos – “queremos competitividade”. Segundo ele, a renúncia fiscal que existe no Brasil parece a história do comerciante que aumenta o preço para depois dar um desconto. “O que está errado não é dar ou não incentivos, é o tamanho da carga tributária, absurda e desequilibrada”. Para ele, é preciso “parar de desmerecer um ativo como a indústria automobilística”. O presidente da Anfavea também criticou a decisão do governo de São Paulo de elevar as alíquotas do Imposto sobre Circulação de Mercadores e Serviços (ICMS) em carros novos e usados. “Esse não é o momento”, destacou Moraes. Diversas entidades dos segmentos de carros, motocicletas e caminhões se reunirão, hoje, com representantes da Secretaria da Fazenda do Estado para tentar reverter a elevação do ICMS em São Paulo, programada para entrar em vigor amanhã. A alíquota do tributo para carros novos subirá de 12% para 13,3% agora e para 14,5% em abril. Entidades como Fenabrave, Abraciclo e Abeifa, que, respectivamente, representam os concessionários, os fabricantes de motocicletas e os importadores de veículos cogitam até entrar com ação judicial caso não cheguem a um entendimento com a Fazenda. Os representantes do setor argumentam que no caso dos carros usados, segmento em que o imposto vai subir mais de 200%, há risco de aumento da informalidade e fechamento de lojas e desemprego, além da migração dos negócios para Estados vizinhos. VALOR ECONÔMICO
Após aumento do IPCA, defasagem do IR chega a 113%, diz sindicato de auditores
O aumento de 4,52% no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2020, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na terça-feira, 12, provocou uma defasagem de 113,09% na tabela do Imposto de Renda (IR) em relação à inflação acumulada nos últimos 24 anos. O levantamento é do Sindicato dos Auditores Fiscais da Receita Federal (Sindifisco). No período analisado pelo estudo, de 1996 a 2020, o IPCA acumulou alta 346,69%, o que ultrapassa os reajustes nas faixas de cobrança do IR, que ficaram em 109,63%. Em 24 anos, somente em 2002, 2005, 2006, 2007 e 2009 a correção da tabela ficou acima da inflação. A última atualização aconteceu em 2015. O Sindifisco explicou que partiu de 1996 para elaborar o cálculo porque foi nesse ano que a tabela começou a ter os valores computados em reais. À época, a isenção do IR beneficiava quem recebia até nove salários mínimos – esse teto caiu para 1,73 salário em 2021. O estudo do Sindifisco mostra que, se a correção da tabela tivesse acompanhado o IPCA, contribuintes com renda mensal de até R$ 4.022,89 não pagariam o tributo. De acordo com o levantamento, o número de declarantes isentos seria o dobro, chegando a mais de 21,5 milhões de pessoas. Atualmente, a faixa de isenção está limitada a R$ 1.903,98. “É uma política tributária regressiva, que acaba penalizando, sobretudo, aqueles contribuintes de mais baixa renda, na contramão do senso de justiça fiscal, e acaba aprofundando as desigualdades distributivas do País”, criticou o presidente do Sindifisco Nacional, Kleber Cabral. Pela tabela atual, a alíquota de 7,5% de Imposto de Renda é aplicada aos contribuintes com rendimentos entre R$ 1.903,99 e R$ 2.826,65. De acordo com o estudo do Sindifisco, a correção pelo IPCA resguardaria a alíquota de 7,5% a quem recebe entre R$ 4.022,90 e R$ 5.972,39. Consequentemente, as demais alíquotas – 15%, 22,5% e 27,5% – também necessitariam de readequação. Por exemplo, a mais alta delas (27,5%) é hoje aplicada aos contribuintes com renda acima de R$ 4.664,68. Corrigido segundo o IPCA, esse valor saltaria para R$ 9.996,73. Henrique Castro, professor da Escola de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV), afirma que essa correção pode estar distante de ser implementada, “principalmente no momento atual”. “O governo teve gastos com a pandemia, com o auxílio (emergencial). Para corrigir a tabela, o governo perde arrecadação e, ao perder, precisa especificar uma outra fonte de recursos que vai compensar isso para os cofres públicos. Hoje, não tem”, explicou. No entanto, Castro pontuou que a não correção pela inflação “acabou fazendo com que os mais pobres passassem a entrar na faixa de pagamento do imposto”. Promessa do governo BolsonaroA ampliação da isenção do IR é uma promessa de campanha de Jair Bolsonaro que nunca saiu do papel. Em 2019, o presidente retomou o assunto algumas vezes ao afirmar que a ampliação estava sendo estudada pelo governo. Ele chegou a dizer que gostaria de aumentar a isenção da tabela do IR para quem ganha até cinco salários mínimos (hoje, R$ 5,5 mil) até o final de seu mandato. A ideia, contudo, já enfrentava resistência da equipe econômica em 2019, quando as contas do governo não estavam afetadas pela crise do novo coronavírus. Em 2021, no seu primeiro dia de trabalho, o presidente afirmou que o Brasil estava “quebrado”. Para apoiadores, ele disse que não “consegue fazer nada” e citou como exemplo as mudanças na tabela do tributo. A equipe econômica do governo, por sua vez, estuda incluir mudanças no Imposto de Renda nas próximas etapas da reforma tributária, como o aumento no limite de isenção e a volta da tributação sobre lucros e dividendos. De acordo com Henrique Castro, essa reforma seria a alternativa para avançar nas correções do tributo. “Equaliza, tenta penalizar menos os mais pobres, e alguém vai pagar mais, os mais ricos.” Para tornar o imposto mais progressivo, o especialista em Finanças propõe uma revisão das regras existentes no IR: passar a tributar dividendos, mudar os abatimentos – como com educação e saúde, “que são usados mais pela classe média” -, e criar uma nova faixa de contribuição, acima dos 27,5%, seriam algumas das opções. O ESTADO DE S. PAULO
Caminhoneiros convocam nova assembleia para se mobilizar por greve em 1º de fevereiro
Caminhoneiros autônomos de todo o País marcaram uma nova assembleia, sem ainda data definida, para tentar angariar apoio e definir as pautas de uma nova greve nacional que vem sendo articulada pela categoria para o dia 1º de fevereiro. Na reunião online na noite desta quarta-feira, 13, com cerca de 50 lideranças dos caminhoneiros, foi discutida uma pauta que vai desde manifestações contra o projeto BR do Mar (que incentiva a navegação pela costa brasileira) ao piso mínimo do frete e reclamações contra a política de preços de combustíveis. O Conselho Nacional do Transporte Rodoviário de Cargas (CNTRC) manteve a convocação para a greve em 1º de fevereiro. O presidente da entidade, Plínio Dias, afirmou que a definição da pauta é importante para colocar na mesa e ser chamado para diálogo com os órgãos responsáveis. “Até agora não fomos recebidos pelo governo, por isso a paralisação”, explicou ele aos demais motoristas. “O que você está achando, meu irmão? O senhor tem condições de rodar com seu caminhão nesse País, com combustível caro, insumo caro, tudo aumenta, tudo sobre e o frete está uma desgraceira. Pessoal, 250 litros de diesel está quase R$ 1 mil. Não tem mais cabimento. De Curitiba para São Paulo sobra R$ 150 no final da viagem e está com o tanque seco, não sobra nada. Quem acha que a situação está ruim, pare dia 1º”, convocou Dias num grupo de WhatsApp. “Tem pessoas aí que ficam atrás de lideranças que se dizem de caminhoneiros alegando que não precisa parar. Isso é uma afronta. Às vezes essas pessoas não tem problemas, não tem caminhão, não estão nem aí para a categoria que representam. Mas garanto que já estão aparecendo muitas pessoas para o dia 1º.” As últimas tentativas de greve da categoria não vingaram por rachas entre as diversas entidades representativas no País. O governo federal aposta justamente nessa divisão para tentar desmobilizar a greve. Na Região Sul, caminhoneiros prometem em grupos de WhatsApp bloquear cidades e fábricas de alimentos, o que pode afetar o abastecimento de supermercados. O interlocutor da categoria no governo tem sido o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas. O ministério questiona a representatividade da Associação Nacional do Transporte Autônomos do Brasil (ANTB), que mais cedo previu que a greve poderia ser maior que a realizada em 2018. “O Ministério da Infraestrutura (MInfra) esclarece que a Associação Nacional do Transporte Autônomos do Brasil (ANTB) não é entidade de classe representativa para falar em nome do setor do transporte rodoviário de cargas autônomo e que qualquer declaração feita em relação à categoria corresponde apenas à posição isolada de seus dirigentes”, disse a pasta por meio de nota. O ministério destacou a necessidade de entender o “caráter difuso e fragmentado de representatividade do setor”. “Nenhuma associação isolada pode reivindicar para si falar em nome do transportador rodoviário de cargas autônomo, e incorrer neste tipo de conclusão compromete qualquer divulgação fidedigna dos fatos referentes à categoria”, acrescenta. O Ministério da Infraestrutura informou ainda, por meio de sua assessoria de comunicação, que há uma agenda permanente de diálogo com as principais entidades representativas da categoria por meio do Fórum do Transporte Rodoviário de Cargas (TRC), além de reuniões constantes com lideranças da categorias. “O restabelecimento do fórum, desde 2019, tem sido o principal canal interativo entre governo e setor e qualquer associação representativa que deseje contribuir para a formulação da política pública pode requerer a sua participação para discutir eventuais temas de interesse da categoria.” O ESTADO DE S. PAULO
Eventual demissão de André Brandão expõe ingerência política no BB, dizem analistas
Os analistas do mercado financeiro são unânimes ao analisar a notícia de que o presidente da República, Jair Bolsonaro, quer demitir o atual presidente do Banco do Brasil, André Brandão, que está no cargo desde o final de setembro. Eles acreditam que o episódio vai contra o discurso que inclusive ajudou a eleger Bolsonaro, de diminuição da máquina pública e gestão técnica das estatais, sem ingerência política. A proposta do Banco do Brasil de fechar 112 agências e desligar 5 mil funcionários irritou Bolsonaro por acontecer em um momento de busca de apoio para os candidatos do governo para as presidências da Câmara dos Deputados e do Senado. Na visão de Carlos Daltozo, head de Renda Variável da Eleven Financial, se confirmada a demissão, será um sinal claro de ingerência política, algo que os investidores esperavam que não ocorresse na gestão Paulo Guedes no Ministério da Economia. “Isso vai contra a própria nomeação do Brandão, que tem um perfil mais técnico. Então, com certeza haverá uma reação negativa que vai ter reflexos na ação.” Daltozo lembra que BB ON caiu quase 5% nesta quarta, e foi o pior desempenho do Ibovespa. Na visão de Henrique Esteter, analista da Guide Investimentos, a demissão deixa o BB ainda mais distante de seus concorrentes em relação à percepção dos investidores sobre o potencial de crescimento e rentabilidade. “O ROE (retorno sobre patrimônio líquido) do BB é mais baixo que o dos outros bancos, e isso ocorre muito pela dificuldade em conseguir implementar medidas de ganho de eficiência”, explica. O analista da Guide lembra que os outros bancos fecharam muitas agências físicas no ano passado. E no primeiro passo que o presidente do BB tenta dar neste sentido, surge a notícia de que ele pode ser demitido. “Cada vez fica mais claro que aquele viés liberal que o governo tantas vezes disse possuir, principalmente na campanha, não é verdade. Cada vez fica mais claro que as estatais vão continuar sendo utilizadas para os mesmos fins”, afirma. Um outro analista, em condição de anonimato, também destaca a postura do governo como um problema que vai aparecer no desempenho das ações do BB e até de outras estatais. “Nós esperávamos medidas de diminuição do tamanho da máquina pública, e esse episódio só mostra que esta foi mais uma promessa não cumprida pelo Bolsonaro”. A Ativa Investimentos vai na mesma linha. “A notícia é negativa na medida que expõe, mais uma vez, os riscos de ingerência política na estatal e coloca em xeque qualquer possibilidade do BB assumir uma gestão mais liberal no atual governo”, opina a área de Research da corretora. Bruno Madruga, sócio da Monte Bravo Investimentos, acredita que a confirmação desta eventual demissão pode demorar um pouco. Mas se confirmada a saída de Brandão, os investidores vão reagir de forma bastante negativa. “Brandão vem fazendo o planejamento de desinvestimentos do Banco do Brasil, que tem repercutido positivamente dentro da estatal. Os investidores não gostam de nenhum tipo de interferência governamental dessa forma”. O ESTADO DE S. PAULO
Empresas avaliam compra de vacinas, reforçam testagens e postergam home office
Com repique nos casos de Covid-19 e indefinições no calendário de vacinação no Brasil, as empresas começam o ano reforçando medidas de segurança para os funcionários. Além de postergarem a volta aos escritórios, companhias intensificam testagens nas equipes e monitoram as discussões sobre a vacinação para entender se —e, eventualmente, como— poderão adotar um programa de imunização para seus trabalhadores. Nesta quarta-feira (13), grandes empresários que querem comprar vacinas para a Covid-19 afirmaram ao governo que, para isso, estão dispostos a doar uma parte para o governo. Na semana passada, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, defendeu em live realizada com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) a possibilidade de compra de vacina pela iniciativa privada depois que o SUS estiver abastecido. “No momento em que a gente cumprir todas as demandas para suprir o SUS e atender a população brasileira, a gente necessita também que a iniciativa privada adquira as vacinas diretamente de laboratórios internacionais ou o excedente do produzido no Brasil e disponibilize na rede privada também”, afirmou. A possibilidade de vacinação na rede privada já entrou no radar das companhias. Na primeira semana de janeiro, a clínica de imunização Vacinar, que atua há mais de 20 anos com o atendimento corporativo em São Paulo, foi procurada por 50 empresas interessadas em informações sobre vacinação de funcionários. De acordo com o médico e responsável técnico da Vacinar, Roberto Florim, as conversas são preliminares e feitas ao mesmo tempo em que as empresas fecham contratos para a aquisição das vacinas de prevenção contra a gripe. “O certo é que as empresas estão cada vez mais preocupadas com a imunização dos funcionários de maneira geral”, afirma Florim. A clínica não divulga os nomes das interessadas, mas diz que são dos mais diversos setores. A estimativa da Vacinar é que a procura por informação cresça nas próximas semanas, pois o início do ano costuma ser de retomada gradual nas consultas dos clientes após os recessos de final de ano. A tendência também é percebida pelo grupo Hermes Pardini. A carteira de clientes corporativos em dezembro de 2020 mais que dobrou em relação ao mesmo período de 2019. O vice-presidente do grupo, Alessandro Ferreira, afirma que, além do maior interesse por testes de Covid-19, cresce também a demanda por teleconsulta e a busca por acompanhamento mais regular de outras doenças. Tem mais demanda para monitoramento dos casos de diabetes e hipertensão, por exemplo, que predispõem ao contágio da Covid-19, mas também mais pedidos de monitoramento de saúde mental pesquisas têm apontado aumento de quadro de ansiedade e estresses em home office. “A procura não é apenas para cumprir obrigações previstas em lei, como acompanhar quem trabalha com produtos químicos, mas uma preocupação generalizada, indicando que há uma mudança de perfil nas prioridades com a saúde”, diz Ferreira. O grupo tem sido procurado para dar informações sobre vacinação de Covid-19. “Já estamos pleiteando, junto a algumas fornecedoras, para obter vacinas, porque temos interesse em vacinar nossos colaboradores e disponibilizar aos nossos clientes, que se mostram interessados. Mas ainda não há nada concreto”, afirma. A multinacional P&G (Procter & Gamble), que tem quatro mil funcionários no Brasil (800 deles em escritório), não descarta a possibilidade de importar vacinas. “Se houver a disponibilidade de vacinas para empresas privadas e a possibilidade de importação, teríamos interesse na aquisição para a segurança e o bem-estar de nossos trabalhadores”, afirma Fernando Akio Mariya, gerente médico da empresa. A P&G havia programado o retorno presencial aos escritórios para a primeira quinzena de janeiro. Diante da alta de casos de coronavírus e a identificação de uma mutação mais contagiosa do vírus, a volta foi postergada para fevereiro e poderá ser alterada de acordo com a evolução da doença. Em dezembro, a P&G estabeleceu uma espécie de quarentena para seus funcionários que retornavam gradativamente ao escritório como prevenção a um possível aumento de contaminação no Natal e no Ano Novo. Agora, analisa se a estratégia foi efetiva. “Iremos usar o mês de janeiro para capturar informações mais precisas e atualizadas sobre os impactos das festas de final de ano no aumento de número de casos e de ocupação de UTI, que sempre foram vetores importantes na tomada de decisão de estarmos ou não no escritório”, afirma Raíssa Fonseca, gerente de RH. A 99 Food, que tem 120 funcionários na área administrativa —todos em home office e sem previsão de retorno aos escritórios—, também tem interesse na aquisição de vacinas. Segundo o diretor-executivo, Danilo Mansano, a empresa tem acompanhado a compra de vacinas na China e estuda como poderia replicar o processo no Brasil. Mansano afirma que segue protocolos definidos em parceria com o Hospital Sírio Libanês. Quando precisam ir ao escritório, os funcionários são submetidos a controle de acesso, triagem por meio de aplicativo interno e testagens. No início da semana passada, o presidente da ABCVAC (Associação Brasileira das Clínicas de Vacina), Geraldo Barbosa, embarcou para a Índia para conhecer a fábrica da Bharat Biotech, que está desenvolvendo a Covaxin. A entidade tem 200 clínicas de vacina associadas (70% do setor privado naciona) e afirmou que todas são favoráveis às negociações de compra do imunizante. Nesta semana, ao retornar da viagem, Barbosa afirmou que há uma resposta positiva do mercado corporativo, que tem procurado a associação para subsidiar a imunização de funcionários. “Se essas vacinas não vierem para o mercado privado brasileiro, não virão nem para o Brasil”, afirma. “A aquisição depende do fim dos trâmites legais junto aos órgãos reguladores brasileiros, fabricante e distribuidora/importadora”. A Covaxin ainda não obteve autorização da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Na Índia, autoridades de saúde recomendam seu uso emergencial. O hospital Sírio-Libanês afirma que esta acompanhando o processo de liberação e avalia que a prioridade é o setor público em um primeiro momento. “A instituição entende que há hoje um número limitado de unidades produzidas e, portanto, é fundamental centralizar essa compra no setor público”, afirma, em comunicado. A discussão sobre vacinas também está sendo acompanhada por indústrias. CNI (Confederação
Governo diz a empresários que comprar vacina para funcionários será proibido
O governo federal disse a empresários, em reunião virtual realizada na quarta, 13, e promovida pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), que a aquisição de vacinas por empresas para imunização de funcionários será proibida, apurou o Estadão. Respondendo à principal dúvida de executivos e donos de negócios, alguns dos quais já se movimentavam para importar doses, representantes dos Ministérios da Saúde, das Comunicações e da Casa Civil foram taxativos: a vacinação ficará a cargo do governo, que garantiu ter imunizantes para toda a população. A reportagem conversou com duas fontes que participaram da reunião. Um deles disse ter saído do encontro “mais tranquilo” do que entrou. Alguns dos presentes, no entanto, fizeram críticas à comunicação contraditória do governo em relação à vacinação. Além de afastar a possibilidade de o setor privado fazer uma vacinação paralela, o governo também afirmou que já tem cerca de 500 milhões de doses contratadas. Outro recado foi de que, pelo fato de ter um programa de imunização já estabelecido, o Brasil poderá recuperar o “tempo perdido” em relação a nações que já vêm vacinando há mais de um mês. Do lado do governo, participaram o ministro-chefe da Casa Civil, general Braga Netto; o ministro das Comunicações, Fábio Faria; e o secretário-geral do Ministério da Saúde, Élcio Franco. Os empresários convidados para a reunião fazem parte de um grupo reunido pela Fiesp, chamado Diálogo Brasil, que visa a aproximar o setor produtivo das decisões do Palácio do Planalto. Uma das propostas das empresas, na tentativa de ajudar a acelerar a imunização, era doar uma dose para o programa nacional de imunização para cada vacina aplicada em um funcionário. No entanto, o argumento oficial para descartar a oferta foi de que, com a produção tanto pelo Instituto Butantan quanto pela Fiocruz, não haverá falta de imunizantes. A expectativa do governo é de que o País possa até se tornar exportador de vacinas mais para o fim deste ano. A exemplo do que foi comunicado pelo ministro da Saúde, Eduardo Pazzuello, a previsão da reunião foi de que a vacinação no País deverá começar ainda na semana que vem, entre os dias 19 e 20. DilemaDesde o início desta semana, o Estadão teve conversas com diversos empresários, que se dividiam em dois grupos: o primeiro já se movimentava para importar imunizantes para seus funcionários e suas famílias; o segundo considerava antiético “furar a fila” dos grupos de risco definidos: idosos, profissionais de saúde e portadores de doenças crônicas. Uma grande varejista, com dezenas de milhares de empregados, chegou a dar os primeiros passos para importar vacinas para funcionários e seus familiares. A reportagem também apurou que uma empresa ligada ao setor automotivo também estava buscando alternativas para seus 3 mil colaboradores. Agora, essas iniciativas devem ser abandonadas. Por outro lado, outras companhias, mesmo antes do veto oficial, já tinham descartado usar seu poder econômico para que seus funcionários “furassem a fila” da imunização. O presidente de uma grande indústria disse, em condição de anonimato, que, após uma reunião de diretoria, ficou acordado que a empresa não buscaria comprar vacinas. “Isso faria sucesso com o nosso público interno, mas achamos que, em relação aos grupos de risco, seria antiético. Então, não faremos.” Os empresários consultados disseram estar dispostos a dar apoio financeiro para agilizar a vacinação. As companhias aéreas já anunciaram que vão fazer o transporte das vacinas gratuitamente. Procurados, os ministérios da Saúde, das Comunicações e da Casa Civil não se pronunciaram até o fechamento desta edição. O ESTADO DE S. PAULO
Indústria cortou 13 mil postos de trabalho
O saldo do postos de trabalho na indústria calçadista de janeiro a novembro do ano passado foi negativo em 13,4 mil postos, informou a Abicalçados em sua primeira entrevista coletiva de 2021. As demissões se concentraram especialmente nos meses mais críticos para a pandemia da covid-19, de março a junho, quando 60,1 mil postos foram fechados. O pior mês foi abril, com 29,7 mil cortes. A partir de julho as contratações voltaram a acontecer, com destaque em setembro quando 11,4 mil postos foram criados. De julho a novembro, o saldo foi positivo em quase 32 mil postos – em janeiro e fevereiro houve cerca de 15,2 mil contratações. “Em anos anteriores, novembro não era um mês de criação de vagas”, explicou Haroldo Ferreira, presidente executivo da Abicalçados. O setor chegou a novembro com 255 mil pessoas empregadas. Ainda de acordo com ele, o setor não registrou extinção de companhias, mas viu muitas deles se enxugarem, com fechamento de unidades e reduções dos quadros de trabalho. Ferreira afirmou, ainda, que, embora positivo para o consumo, o auxílio emergencial teve efeito negativo para a reposição da mão de obra em algumas cidades. “Alguns polos começaram a enfrentar falta de mão de obra porque as pessoas não queriam abrir mão do seguro desemprego ou do recebimento do auxílio emergencial.” Ele também disse que as indústrias têm interesse em adquirir vacinas, respeitando o cronograma governamental. Para 2021, um dos principais focos da Abicalçados é a renovação e ampliação do direito antidumping, que atualmente é aplicado aos calçados importados da China. A sobretaxa ao produto chinês expira em março. A associação tenta estender a medida ao Vietnã e à Indonésia. VALOR ECONÔMICO
‘O grande problema são os 5 mil empregos que serão perdidos’, diz secretário
Com a saída da Ford do Brasil, o governo vai concentrar o foco na requalificação dos trabalhadores que devem perder seu emprego, segundo o secretário de Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Gustavo Ene. Ele afirma que as secretarias de Trabalho e de Políticas Públicas para o Emprego do Ministério da Economia já estão trabalhando para fazer o planejamento das medidas. Será feito um perfil de cada trabalhador para ajudar na realocação desses funcionários da Ford. “Nosso objetivo também é chamar o Sistema S, principalmente as federações das indústrias, para colaborar nesse processo de qualificação técnica”, diz ele. A seguir, os principais trechos da entrevista. O governo pode agir em que frente?Montamos um grupo de trabalho para encontrar alternativa para aproveitar as plantas. Ao mesmo tempo, o foco total é nos trabalhadores que ficarão desempregados nesse curto espaço de tempo. Precisamos ajudar as pessoas e os governos locais a aproveitar essa pessoal, que é altamente capacitado. Uma parte a gente acredita que vai ser absorvida, a indústria de modo geral cresceu muito no segundo semestre. Tem indústrias que não só chegaram aos números o período pré-pandemia como superaram. Como o pessoal do setor automotivo é altamente qualificado, uma parte deve ser absorvida. Agora, é muita gente. O que pode ser feito?Chamamos a Secretaria do Trabalho e a Secretaria da Política Pública do Emprego do Ministério da Economia para ajudar. Agora, vem um processo de desligamento, negociação da empresa com os sindicatos. E, a partir daí, acompanhar os resultados e buscar, primeiro, uma requalificação destes trabalhadores para que possam ser aproveitados em outras indústrias. As pessoas são muito focadas em fazer veículos, precisamos analisar e planejar alternativas de como elas se adaptarão para outros mercados. Nosso objetivo também é chamar o Sistema S, principalmente as federações das indústrias, para colaborar nesse processo de qualificação técnica. Conversaremos com as federações das indústrias de cada Estado. Já iniciamos contato com a do Ceará. O que vai acontecer?Montamos um grupo de trabalho. É preciso saber o que vai acontecer nas negociações com os sindicatos e estarmos preparados para dar os próximos passos. Qual é a extensão dessa cadeia de trabalhadores?Vamos precisar entender com a Ford qual o tamanho da redução dessa produção, desses sistemistas (fornecedores). Uma coisa é produzir diariamente para atender produção e mais reposição. É preciso entender o reflexo que terá na cadeia. Nosso papel aqui é colocar todos em conjunto para ter um único canal onde possamos dialogar e tomar medidas com os governos locais, empresas e demais órgãos do governo. De qualquer forma, vai ter um programa de requalificação para esses trabalhadores?O objetivo é buscar atender essas pessoas com plano de requalificação. Não existe ainda a dimensão de quantas pessoas ficarão desempregadas?Não, porque a Ford vai começar a negociar com os sindicatos. O que ela nos informou é o corte de 5 mil empregados. Isso implica uma parte na Argentina, que eles não disseram quantos são ainda, e que manterão 1,4 mil funcionários para projetos de pesquisa e desenvolvimento a nível global, que vai ficar uma parte aqui no Brasil. Ainda tem os trabalhadores das empresas fornecedoras de autopeças.Isso. Por isso, já levantamos quais são os 14 sistemistas (fornecedores) em Camaçari. É fabrica central e abre para fornecedores homologados há muitos anos para que eles construam suas fábricas dentro do sistema para ter agilidade no fluxo de produção. Esses são os principais. O que o seu time vai fazer?Temos um trabalho enorme. Vamos ver qual é o perfil de cada um e vamos acionar as superintendências do trabalho dos Estados. Qual o diagnóstico do governo para a saída da Ford do País?A Ford já vinha há alguns anos revendo os seus modelos de negócios, nos EUA e Europa. O Brasil era ainda um dos países em que se fazia sentido apostar em volume e carros populares. Porém, nos últimos anos, com os prejuízos acumulados devido à crise no setor automotivo que se iniciou em 2014, veio retomando aos poucos. Entrou a pandemia e, fora prejudicar os negócios no Brasil e mundo, causou um efeito negativo. E aí não é com a Ford, mas com todas as montadoras, muito atípico. As crises geralmente eram muito pontuais, sempre regionais. E, nesse caso, com a crise global, todas as matrizes, além de não ter caixa para as subsidiárias, tiverem a necessidade de recolher caixa. Qual é o impacto no Brasil?Isso antecipou uma decisão que é rever o modelo de negócio para América Latina. A Ford vem apostando em veículos de maior valor agregado, as SUVs, as grandes caminhonetes, carros que batem na casa dos R$ 150 mil ou mais. Apostar muito nos segmentos eletrônicos, veículos de baixo volume, e os esportivos, como o Mustang. A Ford produzia no Brasil escala para um grande mercado por estar perto do mercado consumidor e esses produtos foram sacrificados. Isso também explica por que a Argentina foi mantida. O investimento lá é feito na Ranger. Por isso, foram feitos os investimentos lá e nós perdemos aqui. Como ficará o mercado?Obviamente, o mercado se acomoda. Vai ter problemas de fornecimento de veículos? Não. Fiat, GM, Hyundai, Volks, entre outras, irão aproveitar o momento. Vão ter oportunidade de melhoria não prevista. GM anunciou investimento de R$ 10 bilhões, FCA, de R$ 5 bilhões, BMW, R$ 221 milhões, nos próximos 4, 5 anos, entre outros. Agora, o grande problema são os 5 mil empregos perdidos. Esse é o nosso principal foco. No mesmo dia em que recebemos a notícia, pelo CEO da companhia, montamos um grupo, temos um time automotivo, o Rota 2030. E começamos a articular com três empresas. Temos contato com todas as montadoras, logo vamos discutir todas as possibilidades sobre aproveitamento das plantas. Qual avançou?Das três, eu diria que tem uma que já avançou em nível global na discussão. Não vou citar o nome de nenhuma empresa porque tem confidencialidade. São intenções. A outra empresa fez uma análise e vai encaminhar, mas vai recomendar que não siga pelo mesmo problema dos volumes. A terceira foi pega de surpresa
Ministério Público do Trabalho convoca audiência com a Ford para discutir demissões
O Ministério Público do Trabalho e representantes da Ford terão nesta quinta-feira (14) uma audiência virtual para discutir demissões com o fim das operações nas fábricas de Taubaté, no interior de São Paulo, Camaçari, na Bahia, e Horizonte, no Ceará. A empresa projeta a demissão de cerca de 5.000 empregados no Brasil e na Argentina. Além do procurador-geral do trabalho, Alberto Balazeiro, e de representantes da Ford, deverão participar da audiência Ronaldo Lima dos Santos, da Conalis (Coordenadoria Nacional de Promoção da Liberdade Sindical e do Diálogo Social), e Bruno Bianco Leal, secretário especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia. Na terça (12), o diretor jurídico da empresa americana, Luís Cláudio Casanova, participou de uma videoconferência com a presidente do TST (Tribunal Superior do Trabalho), ministra Maria Cristina Peduzzi. Segundo o tribunal, os representantes da empresa comunicaram ao TST o encerramento de parte das atividades no Brasil. Casanova disse à ministra que o fechamento das fábricas decorre de uma reestruturação da empresa na América Latina. Segundo ele, a empresa buscou alternativas para evitar o fechamento das fábricas, mas a pandemia elevou o prejuízo anual da montadora, inviabilizando a permanência das operações no Brasil. O advogado da Ford também afirmou, de acordo com o TST, que a empresa valoriza a negociação coletiva e busca manter “uma postura de apoio aos parceiros”. A fábrica de motores e transmissões de Taubaté está parada desde o anúncio de encerramento das atividades, mas a montadora informou que ainda terá sua produção retomada no decorrer do ano para recompor estoque de pós-venda. Em Horizonte, a fabricação do utilitário Troller T4 continua até o fim de 2021. A planta de Camaçari já está totalmente parada. A ministra Peduzzi, em nota, lamentou o fechamento das unidades e o desemprego decorrente da decisão. “Esperamos que seja possível resolver os conflitos de forma consensual para satisfazer de maneira efetiva a vontade das partes.” A Ford diz que o plano de demissão dos funcionários será discutido com os sindicatos dos metalúrgicos. Em Taubaté, o acordo coletivo em vigor prevê a estabilidade no emprego até 31 de dezembro de 2021. Nesta quarta (13), o Procon-SP pediu à Ford que explique como garantirá o atendimento aos donos de veículos. A notificação do órgão de defesa do consumidor também solicitou informações sobre o número de peças de reposição que ficarão disponíveis no país, bem como o prazo em que serão oferecidas. A Ford disse que prestará todos os esclarecimentos necessários no prazo solicitado pelo Procon-SP. FOLHA DE S. PAULO
‘Socorro’ de matrizes a montadoras no País soma US$ 69 bi nos últimos 6 anos
Nos últimos seis anos, quando uma recessão doméstica prolongada e uma crise sanitária internacional cortaram um terço da produção de veículos no Brasil, as multinacionais do setor injetaram US$ 69 bilhões – o equivalente hoje a mais de R$ 367 bilhões – nas subsidiárias brasileiras. Daquele total, pouco mais da metade (US$ 36,9 bilhões) já foi devolvida em remessas de lucro e pagamento da dívida com os controladores. Os aportes, registrados nas estatísticas de contas externas do Banco Central, asseguraram nesses anos a expansão das linhas de montagem e também ajudaram a cobrir os alegados prejuízos com a operação no País. Na avaliação de economistas e consultores, a decisão primeiro da Mercedes-Benz e, agora, da Ford de encerrar sua produção no País pode ser um sinal de que esse socorro das matrizes deve perder força daqui para frente e levar a um ciclo de enxugamento de capacidade – numa indústria que fechou o ano passado produzindo aproximadamente três milhões de veículos a menos do que o seu potencial. “O setor está passando por uma transformação grande, mas as dificuldades no Brasil levaram a necessidades de recursos (dos controladores no exterior). Chega uma hora que as empresas desistem do Brasil”, comenta o economista Marcos Lisboa, diretor-presidente do Insper. “A tendência é de fechamento e ajustes de linhas porque capacidade aberta custa dinheiro”, complementa Flavio Padovan, sócio da consultoria MRD Consulting. Entre as décadas de 1990 e 2000, Padovan ocupou cargos de diretoria na própria Ford e, a partir de 2013, com a indústria regulada por um regime automotivo que fechou portas a carros importados (o Inovar-Auto), comandou a instalação da fábrica da britânica Jaguar Land Rover no sul do Rio de Janeiro. “Naquela época, todos se preparavam para uma demanda que chegaria a 5 milhões de veículos e o Inovar mesmo causou uma situação em que ou você tinha fábrica ou estava fora. Era o país do futuro brilhante do pré-sal, que viraria uma grande potência mundial. Ninguém previa a catástrofe que aconteceu depois disso”, lembra ele. SubsídiosNa avaliação de Lisboa, as dificuldades da indústria automotiva derivam de políticas industriais de estímulo à produção nacional que resultaram em negócios de baixa escala e viáveis apenas à base de subsídios. Dados do Ministério da Economia apontam que os incentivos tributários para os fabricantes de automóveis atingiram R$ 43,7 bilhões entre 2010 e 2020. Até 2017, os incentivos contabilizados –R$ 25,24 bilhões – correspondem à base efetiva apurada. Nos três anos seguintes (2018, 2019 e 2020), os dados são projeções. Além dos incentivos dos tributos federais, as empresas contam com benefícios dados pelos Estados, que não entraram na conta do Ministério da Economia. A equipe econômica diz que está em busca de uma solução para os funcionários que devem perder seus empregos com a decisão da Ford (mais informações nesta página) – a montadora fala em impacto para até 5 mil empregos aqui e na Argentina, para onde será transferida a produção antes concentrada no Brasil. O anúncio da montadora colocou o tema dos subsídios na berlinda. Anteontem, o presidente Jair Bolsonaro afirmou a apoiadores que a Ford não disse o que, na sua opinião, seria o real motivo para a montadora fechar suas fábricas no Brasil. “Mas o que a Ford quer? Faltou à Ford dizer a verdade: querem subsídios. Vocês querem que continuemos dando R$ 20 bilhões para eles como fizemos nos últimos anos, dinheiro de vocês, impostos de vocês, para fabricar carro aqui?”, questionou. Na sequência, ele próprio respondeu: “Não. Perdeu para a concorrência, lamento”. Para a consultora Letícia Costa, sócia da Prada Assessoria, a Ford certamente considerou todos aspectos tanto econômicos quanto reputacionais antes de fazer o anúncio, e não tomaria uma resolução extrema apenas por falta de subsídios, como sugeriu Bolsonaro. “Você pega uma empresa que quer ser rentável, num cenário em que a indústria tem de aumentar investimentos em carro autônomo e elétrico e um país que nos últimos anos andou de lado. Aí, você tem a pandemia como a pá de cal, mostrando que a recuperação completa do mercado vai demorar muito mais e, quando ela acontecer, a https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg vai ser outra, uma https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg em que o Brasil não está posicionado”, afirma ela. O ESTADO DE S. PAULO