Área econômica se prepara, mas teme estado de calamidade

A equipe econômica trabalha no cenário de nova decretação de estado de calamidade como um Plano B, e torce para que não precise ser acionado. Foi o que informaram ao Valor fontes do Ministério da Economia. O que vai determinar se a calamidade será ou não necessária é a evolução da pandemia e o ritmo das imunizações contra a covid. A equipe acredita ter quatro meses à frente, durante o pagamento do auxílio emergencial, para construir condições que evitem a deflagração de nova calamidade.

Não por acaso, o ministro da Economia, Paulo Guedes afirmou na última segunda-feira que o governo tem a obrigação de vacinar os mais vulneráveis em três ou quatro meses, para garantir-lhes o retorno seguro ao trabalho. Esse é um público que precisa decidir entre ficar em casa sem ter a subsistência garantida ou sair para o trabalho e arriscar morrer de covid, disse. Ele tem discutido com integrantes do Planalto formas de acelerar o processo de imunização.

A recente orientação do Ministério da Saúde, de dispensar a reserva de vacinas para a segunda dose, vai nessa direção. A imunização do grupo com mais de 60 anos é vista como prioridade, pois é nessa faixa que se concentram os óbitos. Mas, se ao final do período renovado de auxílio emergencial a crise ainda estiver forte, a hipótese de uma nova calamidade precisa estar sobre a mesa, disse um interlocutor do ministro. Essa ideia está presente em declarações de Guedes e do secretário especial de Fazenda, Waldery Rodrigues, quando dizem que as medidas de apoio adotadas em 2020 podem ser retomadas, a depender do quadro. Como o Orçamento não tem margem para reeditar medidas, a calamidade é um caminho possível.

Cada vez mais, cresce a percepção que o auxílio emergencial é insuficiente diante do atual cenário. O mesmo vale para outras medidas em preparação, como a volta do BEm e do Pronampe, em versões mais magras que as de 2020. Por outro lado, não é claro o efeito que o pagamento do auxílio emergencial produzirá na economia. Mesmo considerando que o benefício será menor, algum impacto é esperado. Um técnico comentou que o cenário ainda é de incerteza e os dados econômicos disponíveis são defasados.

“Puxar a economia e decretações de fechamento são até certo ponto contraditórios”, disse uma fonte da área econômica. “É importante ter uma evolução mais coordenada das iniciativas”, complementou. Os dados objetivos disponíveis até o momento mostram a economia em recuperação. Na última segunda-feira, a Receita Federal anunciou um volume recorde de arrecadação tributária no mês de fevereiro. Na mesma linha, os dados de geração de emprego formal e o IBC-Br mostraram desempenho acima do esperado em fevereiro. Os dados da arrecadação do início de março ainda vinham fortes, segundo comentou Guedes na divulgação do resultado. Mas, admitiu, tudo indica que haverá um tombo na segunda quinzena deste mês e em abril.

VALOR ECONÔMICO

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