Na TV, Bolsonaro promete vacina todo ano

Em um pronunciamento em cadeia nacional de rádio e TV, o presidente Jair Bolsonaro afirmou ontem não saber por quanto tempo o Brasil terá que enfrentar a covid-19, mas disse que será possível “vacinar os brasileiros todos os anos, independentemente das variantes que possam surgir”. Ele evitou, no entanto, entrar em choque com os governadores devido às medidas de restrição adotadas por eles para conter o alastramento do vírus. Também não citou o polêmico “tratamento precoce”, com medicamentos como a hidroxicloroquina, que ele defendeu por meses como cura.

A fala ocorreu no dia em que o país ultrapassou a marca de 3 mil mortos pelo coronavírus 19 em 24 horas. Foi recebida com panelaços em diversas cidades brasileiras O Valor apurou que o discurso foi quase todo escrito pelo ministro das Comunicações, Fábio Faria, e sua equipe. A fala reforça a tentativa do núcleo mais próximo de Bolsonaro afastá-lo da a imagem de negacionista e antivacinas. A estratégia de exaltar a importância da vacinação vem sendo impulsionada nas últimas semanas nas redes oficiais da Secretaria Especial de Comunicação Social (Secom) e nas redes pessoais do presidente, de seus filhos e aliados.

“Somos produtores de vacina em território nacional. Mais do que isso, fabricaremos o próprio insumo farmacêutico ativo, que é a matéria-prima necessária”, disse Bolsonaro. “Em poucos meses, seremos autossuficientes na produção de vacinas. Não sabemos por quanto tempo teremos que enfrentar essa doença, mas a produção nacional vai garantir que possamos vacinar os brasileiros todos os anos, independentemente das variantes que possam surgir.” Ele iniciou a fala admitindo que há “uma nova variante do coronavírus, que infelizmente tem tirado a vida de muitos brasileiros”. E afirmou que, desde o começo da pandemia, o país tinha “dois grandes desafios: o vírus e o desemprego”. “Em nenhum momento, o governo deixou de tomar medidas importantes tanto para combater o coronavírus como para combater o caos na economia, que poderia gerar desemprego e fome.”

O presidente voltou a afirmar que o país é hoje “o quinto país que mais vacinou no mundo”, com 14 milhões de vacinados e mais de 32 milhões de doses de vacina distribuídas para todos os estados”. Segundo Bolsonaro, isso aconteceu “graças às ações que tomamos logo no início da pandemia”. É importante lembrar, porém, que o Brasil está em 74º lugar na comparação de taxa de vacinação por habitante, segundo o Our World in Data, uma das maiores referências do tema.

Bolsonaro exaltou os acordos firmados no ano passado com a Universidade de Oxford e o consórcio Covax Facility, da Organização Mundial da Saúde, para a aquisição de vacinas. O presidente vem sofrendo críticas por haver apostado apenas nessas duas opções, em vez de abrir conversas com diversos laboratórios, o que teria atrasado a vacinação no país. Uma das principais críticas envolve os comentários negativos que ele fez sobre a Coronavac, produzida pelo Instituto Butantan – aposta do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), seu rival político. O presidente disse querer “tranquilizar o povo brasileiro” ao assegurar que há 500 milhões de doses doses garantidas até o fim do ano. “Muito em breve, retomaremos nossa vida normal”, disse Bolsonaro. “Somos incansáveis na luta contra o coronavírus. Essa é a missão e vamos cumpri-la.”

VALOR ECONÔMICO

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