Mercado prevê onda de pedidos de recuperação por empresas que já usaram esse benefício

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Valor Econômico – Advogados que atuam na área de insolvência preveem uma nova leva de pedidos de recuperação judicial. Mas em formato completamente diferente do que se viu até aqui. Os pedidos, dizem, devem partir de empresas que já estiveram em processo de reestruturação anteriormente. A lei brasileira permite que as empresas entrem com um segundo pedido de recuperação judicial se respeitarem um intervalo de cinco anos. Esse prazo começa a ser contado a partir da homologação do plano de pagamento que foi acordado com os credores no processo anterior. Existe esse alerta porque há cinco anos exatamente – em 2016 – houve um recorde de pedidos de recuperação. Foi o ano do impeachment de Dilma Rousseff. As crises política e econômica desaguaram em forte recessão, levando quase duas mil companhias a pedir proteção judicial. Aquelas que ainda estão em dificuldade podem, agora, ter uma segunda chance – para arrepio dos credores que ainda não receberam os seus créditos e ficariam obrigados a novas negociações. O Grupo Coesa, que surgiu a partir da aquisição de ativos da antiga OAS, inaugurou essa lista no mês de outubro. Incluiu no seu pedido de recuperação judicial três empresas da OAS que haviam sido alvo de reestruturação entre os anos de 2015 e 2020.

Confiança empresarial sofre tombo e recua ao menor patamar desde maio

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Valor Econômico – Um cenário de atividade econômica enfraquecida, com juros e inflação altos, e mercado de trabalho ainda em recuperação derrubou confiança do empresariado em novembro. É que mostrou ontem a Fundação Getulio Vargas (FGV) ao anunciar queda de 3,3 pontos no Índice de Confiança Empresarial (ICE), entre outubro e novembro, para 97 pontos. Foi a pior queda desde março deste ano (-7,6 pontos) para o índice, que agora está no menor patamar desde maio (94,5 pontos). Segundo o economista da Fundação Getulio Vargas (FGV) Aloisio Campelo, não há como saber, no momento, se o índice continuará a mostrar quedas de mesma intensidade nos próximos resultados. Isso porque não se sabe ainda exatamente qual impacto, na economia brasileira, da descoberta da nova variante de covid-19, a ômicron. Ao falar sobre a evolução do indicador de outubro para novembro, o especialista detalhou que o resultado negativo do ICE tem “muito pouco a ver” com a nova variante da doença. Isso porque não houve tempo hábil para computar, nos resultados do índice, a influência da ômicron no humor do empresariado. O que realmente afetou negativamente a confiança empresarial neste momento foram as avaliações de momento presente, em relação à atividade econômica, bem como as perspectivas da economia para os próximos meses. O entendimento do empresariado, notou Campelo, é que o contexto macroeconômico não está no momento favorecendo consumo – o que afeta negativamente a demanda interna. Isso fez com que os dois sub-indicadores componentes do ICE mostrassem recuo, de outubro para novembro. O Índice de Situação Atual (ISA) caiu 2,5 pontos para 97 pontos; e o Índice de Expectativas (IE) recuou 4,5 pontos, para 95,8 pontos. “As previsões [para a economia e negócios do empresariado] não estão muito boas”, reconheceu Campelo, notando que, no período foram as projeções negativas o principal fator a conduzir queda do ICE, em novembro. O especialista notou ainda que os quatro setores componentes do ICE apresentaram queda na confiança, em novembro ante outubro. São os casos de indústria (-3,1 pontos); serviços (-2,3 pontos); comércio (-6,2 pontos) e construção (- 0,8 ponto). Na análise dele, o fato de o recuo ser observado em diferentes setores, além de ser o quarto resultado fraco consecutivo do ICE, até novembro, evidencia uma “tendência de queda” na confiança empresarial, pelo menos até o mês passado. No entanto, o economista admitiu que a ômicron agora surge como um novo fator negativo, que pode pressionar o indicador, nos próximos meses. Mas preferiu não fazer projeções se o ICE continuará a cair. Isso porque ainda se sabe muito pouco do impacto da nova variante de covid-19 em termos sanitários, bem como em uma população com vacinação avançada, como é o caso do Brasil. Ele disse que a nova variante pode ter impacto negativa na confiança, mas pode ser influência negativa mais localizada na economia de serviços. Isso porque, se a ômicron conduzir à piora em indicadores sanitários da pandemia, com avanço em número de casos e de óbitos relacionados à doença, pode ocorrer novas restrições de circulação social. Foi o que aconteceu em março de 2020, quando a pandemia começou – o que afeta principalmente o setor de serviços. “Existe uma demanda latente por viagens, restaurantes [devido às restrições da pandemia]”, afirmou ele. “Se a ômicron derrubar isso, acho difícil a confiança empresarial crescer nos próximos meses”, admitiu ele.

Preços e atrasos de insumos pressionam indústria

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O Estado de S.Paulo – O diretor da fábrica de cadeiras e poltronas Flexform, Rogério Teixeira, diz que foi preciso entregar encomendas com prejuízo para cumprir os contratos depois do salto no preço dos insumos nacionais e também dos importados. De Guarulhos (SP), a empresa teve que lidar com aumentos de até 40% em dólar de componentes importados da Europa – sobretudo da Itália – e da Ásia. “Além do custo, temos sofrido com os prazos de entrega, que ficaram bastante dilatados. Temos fornecedores antigos e consolidados que tinham prazo de 30 a 40 dias entre o pedido e o embarque, mas agora esse tempo já chega a 90 dias. Isso implicou um custo maior também de armazenagem, porque precisamos acumular até dez meses de estoque de materiais para manter o ritmo de produção”, afirma. Os insumos nacionais usados pela fábrica também passaram por uma escalada de preços. Segundo Teixeira, as chapas de aço aumentaram 177% desde o começo de 2020, as resinas plásticas subiram 78%. E as caixas de papelão, fundamentais para embalar os produtos, mais que dobraram de preço. O caso da Flexform é sintomático da realidade da indústria, que enfrenta há mais de um ano dificuldades para adquirir matérias-primas. De acordo com nova sondagem especial da Confederação Nacional da Indústria (CNI), sete em cada dez fábricas continuam enfrentando problemas para comprar insumos no mercado doméstico ou fora do País. Em outubro de 2020, em meio ainda aos efeitos da pandemia de covid-19 sobre as cadeias de produção, 68% dos executivos da indústria geral relatavam dificuldades em adquirir matérias-primas no mercado doméstico. A mesma parcela de empresários, 69%, continua enfrentando o problema um ano depois. Entre os setores mais afetados está a indústria moveleira. De acordo com a CNI, 85% das fábricas do segmento têm dificuldades em adquirir insumos nacionais e 89% enfrentam problemas em importar peças e componentes. “Poucas empresas dominam esses segmentos de insumos no Brasil. Estamos em uma situação bem sufocante, mas honramos cada pedido que aceitamos, a despeito do preço. Não deixamos de entregar o produto e não tivemos prazos comprometidos, mas ao custo de entregar com prejuízo”, se queixa Teixeira. Na indústria da construção, as dificuldades seguem se agravando. Se em outubro de 2020, 60% das empresas enfrentavam percalços para comprar insumos, esse porcentual saltou para 75% no mês passado. Como a pandemia atingiu em cheio também os fornecedores internacionais, a maior parte das fábricas brasileiras enfrenta problemas semelhantes para trazer insumos importados. De acordo com a CNI, 64% da indústria geral utilizam matérias-primas importadas, e 72% delas têm dificuldades em obtê-los – mesmo pagando mais caro. Na indústria da construção, apenas 27% das firmas importam insumos, mas 80% delas responderam que ficou mais difícil acessar o mercado global. O gerente de Análise Econômica da CNI, Marcelo Azevedo, diz que – assim como a maior parte dos empresários do setor – acreditava em uma normalização do fornecimento de insumos ainda no primeiro semestre deste ano. As perspectivas, porém, têm sido frustradas trimestre após trimestre. “A dificuldade ainda é bastante disseminada entre os segmentos da indústria de transformação. A diferença dessa vez é que temos de fato alguma sinalização de melhora na margem. Um primeiro passo é o ajuste de estoques, que já ocorreu. Temos alguns sinais que apontam que o pior deve ter ficado para trás”, avalia. “No começo de 2022 devemos ter uma evolução mais perceptível, mas ainda sou um pouco cético sobre a normalização total. Alguns produtos devem ter problemas mais duradouros”, admite. Azevedo lembra que ainda há muita incerteza se a demanda por bens industriais vai se manter por mais tempo e em que medida será substituída pelo retorno da demanda por serviços. “Um dos problemas é incerteza se esse novo hábito de consumo veio para ficar. Se o setor soubesse, haveria disposição maior para investir na cadeia de insumos. Muitos empresários estão segurando decisões”.

Dados de emprego formal em 2021 também apontam subnotificação de demissões

Folha de S.Paulo O mercado de trabalho formal tem criado menos vagas do que o originalmente divulgado pelo governo Jair Bolsonaro em cada mês de 2021. No acumulado de janeiro a outubro, o resultado atualizado do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) aponta para menos 166 mil postos criados do que o anteriormente registrado. Os números apresentados nesta terça-feira (30) pelo Ministério do Trabalho e da Previdência já haviam mostrado uma reversão no saldo de empregos em 2020, que passou de um saldo líquido de 75 mil vagas criadas para 191 mil vagas cortadas —acabando com o discurso do governo de que houve crescimento mesmo em meio à pandemia. No caso de 2021, os ajustes feitos até agora não chegam a mudar o sinal do saldo e, por isso, o país continua criando vagas. Mas a atualização aponta para uma média mensal de 18,5 mil vagas a menos do que o originalmente divulgado. Os números ainda podem passar por novos ajustes. Bruno Dalcolmo, secretário-executivo de Trabalho e Previdência, afirmou que os ajustes têm sido feitos por causa da incorporação de dados entregues por empresas fora do prazo. A atualização é tradicional no Caged antes mesmo do governo Bolsonaro, mas foi intensificada tanto pela dificuldade das companhias de se adaptarem a uma mudança de metodologia como pelas dificuldades impostas pela pandemia. No começo de 2020, o governo passou a considerar nos dados do Caged os números do eSocial (Sistema de Escrituração Digital das Obrigações Fiscais, Previdenciárias e Trabalhistas) —pelo qual as empresas devem prestar informações ao governo. O processo de adaptação fez empresas comunicarem mais dados fora do prazo, o que a pasta dizia tentar compensar usando números de outras fontes. “Você tem micro e pequenas empresas entrando no eSocial, que não estão acostumadas com isso, então é natural que haja um processo de adaptação”, disse Dalcolmo. Apesar da troca de sinal —de positivo para negativo— em 2020, o secretário-executivo defende que as mudanças são ínfimas se comparadas ao volume de dados. Os ajustes no Caged são recorrentes e ocorrem todos os meses antes mesmo da troca de metodologia. Mas em 2020 e 2021 tem ocorrido um fenômeno inverso ao observado antes. Em 2017, 2018 e 2019, os ajustes nos números melhoravam os dados. Agora, as atualizações os pioram. As diferenças entre os números originalmente divulgados e os ajustados são geradas por discrepâncias tanto nas admissões como nos desligamentos, mas a diferença é maior neste último caso em 2021. Nas admissões, a subnotificação média mensal tem sido de 5,5% em 2021. Já nas demissões, de 7,7%. O economista Daniel Duque, do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), afirmou que a discrepância nas informações ocorreu tanto pela implementação da nova metodologia do Caged como pela pandemia. “Isso [mudança metodológica e pandemia] gera o cenário perfeito para ter subnotificações de demissões no momento em que você fecha sua empresa. Não acho que o governo seja culpado, mas a euforia que foi propagada se revelou não condizente com a realidade do mercado de trabalho”, afirmou. Para Duque, agora está esclarecida a diferença entre os dados do Caged e do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) —que apontavam dificuldades maiores no mercado de trabalho. “Está explicado finalmente esse enigma”, disse. Em novembro de 2020, diante de questionamentos sobre os números, os técnicos já afirmavam que houve uma dificuldade na adaptação das empresas à nova metodologia. “A gente vê uma mudança de comportamento das empresas nesse período pela transição dos sistemas, que resulta em empresas comunicando fora do prazo com mais frequência”, afirmou na época Mariana Eugênio, coordenadora-geral na então Secretaria de Trabalho. Mas a visão era que as diferenças estavam sendo corrigidas com outras fontes de dados, como o seguro-desemprego. “Tem um momento pré-pandemia onde a gente já observava, na transição para o novo Caged, que havia atraso na comunicação. Isso foi resolvido a partir de dados do seguro-desemprego e, pós-pandemia, o Caged segue aberto para receber essa informação”, afirmou na época Luís Felipe Batista de Oliveira, assessor da então Secretaria de Trabalho. Em julho de 2021, diante de informações sobre o nível de desemprego no país apontado pelo IBGE, o ministro Paulo Guedes (Economia) chegou a dizer que o instituto estava “na idade da pedra lascada”, em uma crítica à metodologia da Pnad Contínua. Para o ministro da Economia, os dados do Caged mostravam que o Brasil estava criando empregos “muito rapidamente”.