Confiança empresarial sofre tombo e recua ao menor patamar desde maio

Valor Econômico –

Um cenário de atividade econômica enfraquecida, com juros e inflação altos, e mercado de trabalho ainda em recuperação derrubou confiança do empresariado em novembro. É que mostrou ontem a Fundação Getulio Vargas (FGV) ao anunciar queda de 3,3 pontos no Índice de Confiança Empresarial (ICE), entre outubro e novembro, para 97 pontos.

Foi a pior queda desde março deste ano (-7,6 pontos) para o índice, que agora está no menor patamar desde maio (94,5 pontos). Segundo o economista da Fundação Getulio Vargas (FGV) Aloisio Campelo, não há como saber, no momento, se o índice continuará a mostrar quedas de mesma intensidade nos próximos resultados. Isso porque não se sabe ainda exatamente qual impacto, na economia brasileira, da descoberta da nova variante de covid-19, a ômicron.

Ao falar sobre a evolução do indicador de outubro para novembro, o especialista detalhou que o resultado negativo do ICE tem “muito pouco a ver” com a nova variante da doença. Isso porque não houve tempo hábil para computar, nos resultados do índice, a influência da ômicron no humor do empresariado.

O que realmente afetou negativamente a confiança empresarial neste momento foram as avaliações de momento presente, em relação à atividade econômica, bem como as perspectivas da economia para os próximos meses.

O entendimento do empresariado, notou Campelo, é que o contexto macroeconômico não está no momento favorecendo consumo – o que afeta negativamente a demanda interna.

Isso fez com que os dois sub-indicadores componentes do ICE mostrassem recuo, de outubro para novembro. O Índice de Situação Atual (ISA) caiu 2,5 pontos para 97 pontos; e o Índice de Expectativas (IE) recuou 4,5 pontos, para 95,8 pontos.

“As previsões [para a economia e negócios do empresariado] não estão muito boas”, reconheceu Campelo, notando que, no período foram as projeções negativas o principal fator a conduzir queda do ICE, em novembro.

O especialista notou ainda que os quatro setores componentes do ICE apresentaram queda na confiança, em novembro ante outubro. São os casos de indústria (-3,1 pontos); serviços (-2,3 pontos); comércio (-6,2 pontos) e construção (- 0,8 ponto).

Na análise dele, o fato de o recuo ser observado em diferentes setores, além de ser o quarto resultado fraco consecutivo do ICE, até novembro, evidencia uma “tendência de queda” na confiança empresarial, pelo menos até o mês passado.

No entanto, o economista admitiu que a ômicron agora surge como um novo fator negativo, que pode pressionar o indicador, nos próximos meses. Mas preferiu não fazer projeções se o ICE continuará a cair. Isso porque ainda se sabe muito pouco do impacto da nova variante de covid-19 em termos sanitários, bem como em uma população com vacinação avançada, como é o caso do Brasil.

Ele disse que a nova variante pode ter impacto negativa na confiança, mas pode ser influência negativa mais localizada na economia de serviços. Isso porque, se a ômicron conduzir à piora em indicadores sanitários da pandemia, com avanço em número de casos e de óbitos relacionados à doença, pode ocorrer novas restrições de circulação social. Foi o que aconteceu em março de 2020, quando a pandemia começou – o que afeta principalmente o setor de serviços.

“Existe uma demanda latente por viagens, restaurantes [devido às restrições da pandemia]”, afirmou ele. “Se a ômicron derrubar isso, acho difícil a confiança empresarial crescer nos próximos meses”, admitiu ele.

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