Empresariado está pessimista com rumos da política econômica e vê poucos investimentos
Valor Econômico – 23/10/2021 – Empresários e executivos da indústria estão preocupados com os rumos macroeconômicos, agravados esta semana com a crise gerada pelas mudanças no teto de gastos e que gerou uma debandada da equipe econômica do governo. “Vejo com pessimismo a recuperação da economia. Enquanto os outros países estão buscando a recuperação após a pandemia, o Brasil andando de lado. Não só pelo risco fiscal, mas também pelas reformas que destravariam agendas importantes do Brasil”, afirma Pedro Passos, um dos acionistas do grupo Natura. Para um empresário de um dos maiores grupos industriais do país, que falou sob reserva, o clima é generalizado de desânimo e falta de confiança. “Há uma sensação de que o governo acabou. Não acredito mais numa agenda de privatização, com exceção de alguns ativos de infraestrutura. Também não há clima para atrair investimentos estrangeiros no curto e médio prazo”, afirmou. “O problema é que vamos ver isso até as eleições de 2022. Neste momento, não haverá comprometimento das contas”, disse um executivo de uma grande companhia, que preferiu não se identificar. Em sua avaliação, medidas eleitoreiras, tanto do governo central como do Congresso, poderão, sim, mais adiante, comprometer as contas públicas. “Esse ambiente de incertezas em relação às eleições presidenciais já havia comprometido novos investimentos”, acrescentou. Para Fábio Barbosa, sócio-conselheiro da gestora Gávea Investimentos, o ideal seria fazer a reforma administrativa e reduzir os gastos presente e futuro para poder abrir espaço para outras despesas. “Não obstante, o governo eleva os gastos, o que desemboca na inflação. Sem contar que dólar alto afeta gasolina, energia elétrica, alimentos. O que vem depois? O Banco Central sobe os juros e veremos um menor crescimento”, afirma. Os empresários não questionam a necessidade de um auxílio emergencial, mas a forma como foi realizada. De acordo com o empresário Frank Geyer Abubakir, responsabilidade fiscal é “parâmetro basilar”. “Não se pode gastar mais do que se gera. Então, é preciso elencar prioridades”, diz. Ao mesmo tempo, observa o presidente do conselho de administração da Unipar S/A, a pandemia de covid-19 expôs a vulnerabilidade de parte importante da sociedade brasileira e levou à necessidade de gastos emergenciais. É preciso, portanto, encontrar o equilíbrio entre teto de gastos e necessidades derivadas da crise. “Conceitualmente, esse gasto é uma prioridade. É mais saudável o dinheiro na mão do indivíduo do que incentivos pontuais que vão gerar assimetria. Prefiro que o sistema ampare os mais vulneráveis de maneira justa”, ressalta. Boa parte dos empresários e executivos ainda aguarda um nome para terceira via. “Me parece a melhor alternativa”, diz Pedro Passos. Mas, segundo ele, ainda não há um nome forte. O mercado aguarda as prévias do PSDB e também as coligações entre os partidos a partir do ano que vem. De acordo com um industrial, o setor privado espera um posicionamento do ex-presidente petista Luiz Inácio Lula da Silva sobre a condução da agenda econômica. “O que vemos agora é um discurso extremista. Não é o Lula do passado. Hoje ele é um papa sem cardeal.”
Governo atua para barrar projeto de desoneração da folha de 17 setores
Folha de S.Paulo – 24/10/2021 – Por articulação do governo, o projeto que estende até 2026 a desoneração da folha de pagamentos de 17 setores tem encontrado barreiras para avançar no Congresso. A proposta está parada há um mês na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara, onde o relator, deputado Delegado Marcelo Freitas (PSL-MG), que é aliado do Palácio do Planalto, chegou a apresentar o voto e depois recuou. Sem o parecer dele, o projeto não foi votado no início de outubro. Desde então, a proposta não retornou à pauta da comissão. Outra via para avançar com a medida na Câmara seria levá-la direto para o plenário. Um dos principais defensores da desoneração, o deputado Jerônimo Goergen (PP-RS) conseguiu o apoio parlamentar para que a Câmara decida se o projeto poderá sair da CCJ e ser analisado no plenário. No entanto, a estratégia foi praticamente descartada por falta de endosso do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e pela articulação do governo contra a proposta, apesar de o cenário ter melhorado um pouco nos últimos dias, segundo Goergen. “Os setores estiveram com o [ministro da Casa Civil] Ciro Nogueira, estiveram com o [presidente da Câmara] Arthur [Lira], por iniciativa deles próprios, sem nenhuma pressão parlamentar. Eles saíram das reuniões com a clareza de que o tema precisa avançar”. O deputado diz que Lira pediu aos técnicos da Câmara para fazerem um estudo de viabilidade orçamentária. “De alguma forma o governo se comprometeu mais, e o Arthur também avançou”. A proposta tem o objetivo de manter a redução dos custos de contratação de trabalhadores por empresas dos 17 setores. O incentivo está previsto para terminar em dezembro de 2021. O Ministério da Economia é contra a prorrogação da medida. Aliados do governo tentam impedir o avanço da proposta, e, em troca, defendem que o Congresso busque uma solução para conseguir viabilizar uma promessa do ministro Paulo Guedes (Economia): uma desoneração da folha para todos os setores da economia e de forma permanente. Essa é a mesma posição de Lira. A estratégia do governo é deixar que o Congresso assuma a liderança da articulação pela aprovação de um novo imposto digital —nos moldes da extinta CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira)— que substituiria os tributos sobre a contratação de mão de obra. Essa troca de encargos é desejada por Guedes, mas, após diversos entraves para apresentar a proposta desde o início do governo, a equipe dele tem adotado uma postura diferente —deixando o Congresso assumir a linha de frente do plano de desonerar a folha de pagamento de todos os setores. “A nossa ideia é a de que, se não conseguirmos contemplar todos os setores, possamos prorrogar a desoneração dos 17 setores inicialmente, encontrar espaço orçamentário para tanto e, mais adiante, desoneramos a folha de pagamento dos empregadores em nosso país. Essa é uma das medidas mais aptas a de fato gerar trabalho e emprego em nosso país”, afirmou Freitas. Segundo ele, se o benefício aos 17 setores não for prorrogado, mais de 3 milhões de empregos serão perdidos. Se passar pela Câmara, a proposta seguirá para o Senado, que precisa dar o aval ao texto. “O prazo está apertado. Precisamos aprovar isso com urgência, mas está difícil conseguir abrir caminho para as votações”, disse Goergen. A intenção do deputado era tentar votar o projeto na comissão nesta semana. Ao se posicionar contra a desoneração da folha dos 17 setores, a equipe econômica diz que a medida representa um custo de R$ 8,3 bilhões por ano, caso o benefício seja prorrogado. Isso não está previsto no projeto de Orçamento de 2022. Além disso, o formato atual da proposta não prevê uma medida que compense as perdas aos cofres públicos. Isso, segundo membros do governo e técnicos do Congresso, contraria regras orçamentárias. Portanto, o plano é sugerir ao Palácio do Planalto que vete o projeto caso ele seja aprovado ainda neste ano. Caberia então ao Congresso derrubar eventual veto do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para manter a política de redução do custo de mão de obra para os setores que mais empregam no país. Goergen afirma que o ambiente de outros projetos aos quais o governo tem vinculado a questão da desoneração —o Imposto de Renda, pendente de votação no Senado, e a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) dos precatórios— “e mais o que aconteceu no próprio Ministério [com a debandada na equipe de Paulo Guedes]” preocupa. A desoneração da folha, adotada no governo petista, permite que empresas possam contribuir com um percentual que varia de 1% a 4,5% sobre o faturamento bruto, em vez de 20% sobre a remuneração dos funcionários para a Previdência Social (contribuição patronal). Isso representa uma diminuição no custo de contratação de mão de obra. Por outro lado, significa menos dinheiro nos cofres públicos. Atualmente, a medida beneficia companhias de call center, o ramo da informática, com desenvolvimento de sistemas, processamento de dados e criação de jogos eletrônicos, além de empresas de comunicação, companhias que atuam no transporte rodoviário coletivo de passageiros e empresas de construção civil e de obras de infraestrutura. Representantes desses segmentos e deputados que articulam a prorrogação da medida até dezembro de 2026 argumentam que a retirada do benefício elevaria os custos das empresas, o que colocaria empregos em risco num momento em que o país tenta se recuperar da crise provocada pela Covid-19. Recentemente, Lira chegou a dizer que o Congresso estudava alternativas para tratar da desoneração permanente da folha de pagamentos, mas não deu detalhes. Goergen diz que essa discussão passaria pelo novo imposto. “Quando eu fui sondar, não tinha apoio. Eu acho que o atual governo não resolve esse tema definitivamente, porque não fez uma reforma tributária adequada.” DESONERAÇÃO DA FOLHA DE PAGAMENTOSegmentos beneficiados atualmente CalçadosCall centerComunicaçãoConfecção/vestuárioConstrução civilEmpresas de construção e obras de infraestruturaCouroFabricação de veículos e carroceriasMáquinas e equipamentosProteína animalTêxtilTecnologia da informação (TI)Tecnologia de comunicaçãoProjeto de circuitos integradosTransporte metroferroviário de passageirosTransporte rodoviário coletivoTransporte rodoviário de cargasO que é a medida? Empresas com alto custo de
Ciro Gomes defende geração de empregos e um sindicalismo moderno
Folha Metropolitana de Guarulhos O pré-candidato à presidência da República, Ciro Gomes (PDT), esteve em dois eventos na cidade nesta quinta-feira (21). No período da manhã, Ciro visitou o Sindicato dos Metalúrgicos, onde se reuniu com seu presidente Josinaldo José de Bar-ros (Cabeça) e, em seguida, concedeu entrevista coletiva. Ciro falou sobre as questões que envolvem a sua candidatura nas próximas eleições presidenciais, destacando a necessidade e ao mesmo tempo a dificuldade em se colocar como terceira via, frente à polarização estabelecida no cenário político desde o último pleito, vencido por Jair Bolsonaro (sem partido). À tarde, o pré-candidato se reuniu com empresários e realizou palestra no Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), que é dirigido por Maurício Colin. Na ocasião destacou a necessidade da geração de empregos para o Brasil voltar a crescer e pediu um sindicalismo “avançado, moderno e bem financiado”. Ciro lembrou do equívoco que foram as reformas trabalhista e previdenciária, em sua opinião, e que as mesmas contribuíram para a decadência que vive a economia do país neste momento. “Esses projetos produziram um fenômeno que é a maior precarização do emprego no país, com milhares de brasileiros se virando no bico, sem garantia de nada”, disse. Para ele, a solução a curto prazo para que a economia se fortaleça e retome o crescimento é a implantação de um projeto que promova o trabalho e facilite a produção. “Fábricas precisam abrir, sem que outras fechem. Comércios precisam abrir, sem que outros fechem. O número de jovens que chegam ao mercado de trabalho também precisa crescer”, ressaltou. Ciro também falou sobre sindicalismo lembrando do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden: “Acho que ele leu o meulivro”, disse aos risos. “Eu sempre disse que o trabalhador organizado é um elemento essencial para o progresso da humanidade. E Joe Biden pensa da mesma forma”. O presidenciável defende um modelo de sindicato avançado, moderno e bem financiado. “E que seja interlocutor, que pressione as estruturas dos governos pelo avanço das proteções ao trabalhador. Proteger o trabalhador é fortalecer a renda, fortalecer a renda significa ampliar a escala da economia. Precisamos gerar emprego e limpar o nome do brasileiro. O sindicalismo vai ser o elemento central desse diálogo”, observou.
Inteligência artificial avança sobre o destino do seu emprego
O Estado de S.Paulo – 25/10/2021 – O papel da Inteligência Artificial cresce de maneira galopante em todos os segmentos do mercado. A área de Recursos Humanos também se beneficia dela, naturalmente. Já há algum tempo, esses sistemas são usados para fazer a peneira em um oceano de currículos que concorrem a vagas de trabalho. Agora algumas empresas também estão usando esse recurso para decidir quem será demitido. Se algumas pessoas já questionavam a capacidade de a inteligência artificial escolher os melhores candidatos para uma vaga, essa dúvida tende a ficar ainda mais cruel quando se imagina um frio computador decidindo quem será mandado embora. A máquina será justa na sua análise? A preocupação é pertinente. Afinal, poucas coisas impactam a vida de alguém como uma contratação ou uma demissão, especialmente em um cenário de desemprego nas alturas, como o que vivemos. Mas precisamos colocar em perspectiva o uso dessa ferramenta: será que ela pode ser “culpada” por suas escolhas, se é que dá para atribuir culpa a uma máquina? A demissão por inteligência artificial ganhou manchetes em agosto, depois que a empresa russa de promoção de games Xsolla demitiu 150 de seus 450 colaboradores. A decisão de quem seria mandado embora ficou totalmente a cargo do sistema, com base em critérios de produtividade e comprometimento com os objetivos da empresa. A repercussão foi tão grande que seu CEO, Alexander Agapitov, explicou à edição russa da revista Forbes que não concordava totalmente com as escolhas do sistema, mas que tinha que aceitá-las por determinação da assembleia de acionistas. Mesmo assim, ele se comprometeu a ajudar os demitidos a encontrar trabalho logo, pois, segundo ele, são “bons profissionais”. O caso é emblemático, mas não é único. O uso da inteligência artificial em demissões já acontece há alguns anos e vem crescendo. Em alguns casos, o sistema não apenas decide quem será mandado embora, como cuida de tudo. Em outras palavras, nesses casos, não há o envolvimento de profissionais de Recursos Humanos nem na decisão, nem na execução do processo. Isso o torna ainda mais doloroso. Em junho do ano passado, a Uninove demitiu cerca de 300 docentes por um pop-up exibido quando eles entraram na plataforma para dar a aula a distância, já que a escola estava fechada por conta da pandemia. Não houve uso de inteligência artificial nesse caso, mas a mensagem extremamente lacônica, sem incluir qualquer justificativa ou explicação, foi chocante para professores e alunos. A pergunta “por que eu” sempre surge, especialmente entre profissionais que acreditam estar realizando um bom trabalho, dando o melhor de si, comprometidos com a empresa. E talvez estejam mesmo! Mas, no momento de uma demissão, eles serão comparados com todos na mesma situação ou serão considerados critérios que desconhecem ou sobre o qual não têm nenhum controle. E, nesses casos, um sistema de Inteligência Artificial pode ser uma ferramenta poderosa para os gestores, pois justamente tomará a decisão sem qualquer influência emocional. Para quem está “do lado de cá do balcão”, aspectos como esforço, ética, dignidade têm peso maior que o considerado pelas empresas, mais preocupadas em métricas de produtividade mensuráveis. Mesmo muitos anos de trabalho excelente para a companhia perdem valor diante da necessidade de cortar friamente, por exemplo, quem ganha mais. Aspectos intangíveis interessam apenas a seres humanos. Em um mundo cada vez mais focado em resultados, eles perdem espaço. Por isso, a “culpa” não é da inteligência artificial: ela apenas reflete como as empresas se reorganizaram no relacionamento com sua força de trabalho. O “emprego para a vida toda” está em extinção. Contratando e paquerando com IA Da mesma forma que demite, a inteligência artificial contrata. A versão mais recente da pesquisa State of Artificial Intelligence in Talent Acquisition, publicada pela consultoria americana HR Research Institute em 2019, indica que, naquele ano só 10% das empresas faziam um uso alto ou muito alto de IA no recrutamento, mas que 36% dos gestores esperavam fazer isso em até dois anos. E isso foi antes da pandemia de Covid-19, que acelerou ainda mais esse processo. O estudo traz outra importante conclusão: entre os entrevistados, os maiores temores do uso dessa https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg são a desumanização do recrutamento e possíveis discriminações no processo, por vieses surgidos por uma programação falha. As empresas que já usam esses recursos afirmam que eles permitem contratações de melhores candidatos e de maneira muito mais rápida e eficiente. O risco de discriminações seria minimizado por uma inteligência artificial bem construída e por profissionais de RH capacitados, que ensinam à máquina o que realmente importa. Se extrapolamos esse conceito, percebemos que a inteligência artificial já nos ajuda a escolher muitas coisas em nossa vida, até mesmo parceiros românticos ou sexuais. Diversos sistemas no mercado aprendem com nossas escolhas de quem nos interessa, para que as próximas sugestões sejam mais assertivas. Esse processo pode ser extremamente complexo, para que os resultados não sofram vieses inconscientemente ensinados pelos próprios usuários. “Hang the DJ”, quarto episódio da quarta temporada da série “Black Mirror” (disponível na Netflix), que sempre traz questões morais envolvendo usos da https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg, ilustra isso de maneira inusitada e até inesperada. É um fato que estamos sendo sempre rastreados. O que fazemos, dizemos, compramos, comemos, onde e com quem andamos, tudo isso será usado para traçar nosso perfil. E sistemas como os das redes sociais têm ficado tão eficientes nesse processo, que fica muito difícil impedir que eles “extraiam nossas verdades”. Por isso, apesar de recrutadores afirmarem que os candidatos devam criar currículos e páginas em sites de empregos que estejam alinhados com as vagas e as empresas que desejam, esses documentos acabam se tornando apenas mais um elemento no processo de contratação ou de demissão. É possível que um belo artigo publicado no LinkedIn seja o responsável por uma contratação, enquanto uma foto infeliz no Facebook resulte em uma demissão. Ou, quem sabe, na escolha de alguém com quem se dividirá os lençóis em breve. Isso pode ser aterrorizante para muita gente! Estamos nus e expostos para olhos digitais,
Preocupação com falta de mão de obra cresce na indústria, diz CNI
Folha de S.Paulo – 23/10/2021 – O problema da escassez de mão de obra, que já vinha sendo sentido em alguns mercados específicos nos últimos meses, agora acende um sinal amarelo no radar da CNI (Confederação Nacional da Indústria). Pesquisa da entidade aponta falta ou alto custo do trabalhador qualificado entre as preocupações de 11,5% dos empresários no terceiro trimestre. O percentual, ficava em torno de 5% antes da pandemia, mas passou a oscilar entre 9,5% e 8,7% e agora deu o novo salto. A última vez que o número atingiu patamar semelhante foi no primeiro trimestre de 2015, no início da série histórica. Segundo Marcelo Azevedo, gerente de análise econômica da CNI, a dificuldade com a mão de obra é uma preocupação que costuma crescer em momentos de atividade mais forte. A diferença agora é que o gargalo chega em um momento atípico e se soma a outras dificuldades, como a falta de matéria prima na pandemia. “Tem outros problemas afetando a indústria, mas este é um alerta porque é algo que leva tempo para ser resolvido. Precisa de treinamento e é custoso. O ensino brasileiro tem deficiência forte e as empresas são forçadas a treinar”, diz Azevedo. O fenômeno da falta de mão de obra atingiu os EUA na pandemia e também preocupa alguns setores empresariais brasileiros, que receiam estar diante de um cenário com alguma semelhança. Apesar do desemprego, negócios nas indústrias de construção, calçados, confecções, náutica, farmacêutica e restaurantes relatam diferentes níveis de dificuldade para preencher vagas novas ou reabertas. A avaliação é que os trabalhadores demitidos podem ter migrado para outras cidades ou atividades no último ano.
Oposição à Reforma do Imposto de Renda une indústria, comércio e serviços
Folha de S.Paulo – 25/10/2021 – O projeto de reforma do Imposto de Renda, apontado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, como alternativa para ajudar a bancar o Auxílio Brasil sem furar o teto, é bombardeado por todos os lados. A oposição às mudanças na tributação conseguiu unir diversos setores da economia, que contestam praticamente todos os pontos relevantes da proposta apresentada pelo governo. O texto já foi aprovado na Câmara e, agora, enfrenta resistências no Senado. Entre as principais mudanças estão a correção da tabela do IRPF e a redução do benefício com o desconto simplificado, ambas para pessoas físicas. Para as pessoas jurídicas, haverá redução nos tributos sobre o resultado das empresas (IRPJ/CSLL), compensada pela tributação na distribuição de dividendos, entre outras mudanças. O trecho da proposta que muda a tributação sobre distribuição de dividendos está entre os mais questionados. De acordo com a CNI (Confederação Nacional da Indústria), as alíquotas propostas de 26% sobre lucro mais 15% na distribuição de dividendos promovem um aumento de tributação total dos atuais 34% para 37,1%. A entidade sugere o percentual combinado de IRPJ/CSLL de 23% mais 15% sobre dividendos para manter a carga atual. Também está prevista a taxação de lucros retidos de anos anteriores, que já foram tributados com a alíquota combinada de 34%. Com isso, quem reinvestiu o ganho no negócio e fizer posteriormente a distribuição terá uma tributação total de 43,9%. “Você está punindo quem reinvestiu na empresa”, afirma o gerente-executivo de Economia da CNI, Mário Sérgio Telles. Naquilo que é visto por especialistas como incentivo à “pejotização”, a Câmara garantiu a isenção na cobrança de dividendos para empresas do Simples Nacional e regra diferenciada para aquelas do lucro presumido com faturamento até R$ 4,8 milhões, o que é compensado com uma alíquota maior para os demais contribuintes. Enquanto os representantes da indústria defendem o aperfeiçoamento do projeto, outros pedem seu arquivamento.Em julho, 22 entidades empresariais assinaram um manifesto contra o projeto, incluindo OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), associações comerciais de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas e CNS (Confederação Nacional de Serviços). Neste mês, em reunião com o relator da reforma no Senado, Angelo Coronel (PSD-BA), representantes dos serviços também pediram que o projeto não vá adiante. “É um projeto muito ruim, que não traz benefício para ninguém. A economia está ruim, e o setor de serviços pode ser onerado. Quem paga é a população, com aumento nos produtos. A gente não sabe a para quem interessa isso”, afirma Reynaldo Lima Junior, presidente do Sescon-SP (sindicato de escritórios contábeis). “Eles conseguiram nesse PL uma unanimidade. Todos os setores são contrários”, afirma Reynaldo, lembrando que indústria e serviços têm posições contrárias em relação à reforma tributária do consumo, outro tema em debate no Congresso. Outros pontos rejeitados pelo setor produtivo são o fim dos Juros sobre Capital Próprio, o aumento da compensação pela exploração de recursos minerais e a redução de incentivos de PIS/Cofins. O texto também tira subsídio de remédio contra câncer e Aids, mas mantém para aviões e barcos. No setor público, estados e municípios afirmam que haverá queda na arrecadação do IR, imposto que é compartilhado com esses governos. O Ministério da Economia calcula que o projeto gera um impacto fiscal de R$ 47 bilhões para os cofres públicos em 2022, metade para a União e metade para os demais entes. No Senado, há ainda pressão para aumentar a correção da tabela do IRPF. O projeto eleva a faixa de isenção dos atuais R$ 1.903,98 por mês para R$ 2.500. A promessa de campanha de Jair Bolsonaro era isenção até cinco salários mínimos, atualmente, R$ 5.500. A Confirp Consultoria Contábil calcula que pessoas com renda até R$ 4.402 ao mês terão redução no IR devido de 42% a 100% com a correção da tabela. Elas não são afetadas pela redução do limite do desconto simplificado de R$ 16.754,34 para R$ 10.563,60, outro ponto aprovado na Câmara. Quem recebe acima desse valor, mas abaixo de R$ 6.981 ao mês, ou R$ 83.772 no ano, terá redução do IR com a correção da tabela, mas contará com benefício menor no uso de desconto simplificado, o que afeta a restituição no ano seguinte. Ainda assim, o saldo final será positivo para o contribuinte. Salários acima de R$ 6.981 ao mês ficam no zero a zero. Essas pessoas terão um desconto menor no holerite em 2022, ano eleitoral, caso o texto seja aprovado. Mas também recebem uma restituição menor no ano seguinte (2023). Nesses casos, os ganhos e perdas se compensam. O diretor tributário da Confirp, Welinton Mota, diz que as simulações podem variar de acordo com questões específicas de cada contribuinte. Para Luiz Paulo Farias Guedes, da NTW Contabilidade e Gestão Empresarial, a reforma no IRPF estimula aqueles que terão o desconto simplificado reduzido a buscar deduções com gastos como saúde, Previdência e educação. Com isso, podem tentar uma restituição maior entregando a declaração completa. Isso, no entanto, precisa ser feito no ano anterior à entrega da declaração. “Aí entra a importância do planejamento. Muita gente só vai perceber [a queda na restituição] quando tiver o impacto financeiro no ano da declaração”, afirma.