Empresariado está pessimista com rumos da política econômica e vê poucos investimentos

Valor Econômico – 23/10/2021 –

Empresários e executivos da indústria estão preocupados com os rumos macroeconômicos, agravados esta semana com a crise gerada pelas mudanças no teto de gastos e que gerou uma debandada da equipe econômica do governo.

“Vejo com pessimismo a recuperação da economia. Enquanto os outros países estão buscando a recuperação após a pandemia, o Brasil andando de lado. Não só pelo risco fiscal, mas também pelas reformas que destravariam agendas importantes do Brasil”, afirma Pedro Passos, um dos acionistas do grupo Natura.

Para um empresário de um dos maiores grupos industriais do país, que falou sob reserva, o clima é generalizado de desânimo e falta de confiança. “Há uma sensação de que o governo acabou. Não acredito mais numa agenda de privatização, com exceção de alguns ativos de infraestrutura. Também não há clima para atrair investimentos estrangeiros no curto e médio prazo”, afirmou.

“O problema é que vamos ver isso até as eleições de 2022. Neste momento, não haverá comprometimento das contas”, disse um executivo de uma grande companhia, que preferiu não se identificar.

Em sua avaliação, medidas eleitoreiras, tanto do governo central como do Congresso, poderão, sim, mais adiante, comprometer as contas públicas. “Esse ambiente de incertezas em relação às eleições presidenciais já havia comprometido novos investimentos”, acrescentou.

Para Fábio Barbosa, sócio-conselheiro da gestora Gávea Investimentos, o ideal seria fazer a reforma administrativa e reduzir os gastos presente e futuro para poder abrir espaço para outras despesas.

“Não obstante, o governo eleva os gastos, o que desemboca na inflação. Sem contar que dólar alto afeta gasolina, energia elétrica, alimentos. O que vem depois? O Banco Central sobe os juros e veremos um menor crescimento”, afirma.

Os empresários não questionam a necessidade de um auxílio emergencial, mas a forma como foi realizada. De acordo com o empresário Frank Geyer Abubakir, responsabilidade fiscal é “parâmetro basilar”. “Não se pode gastar mais do que se gera. Então, é preciso elencar prioridades”, diz.

Ao mesmo tempo, observa o presidente do conselho de administração da Unipar S/A, a pandemia de covid-19 expôs a vulnerabilidade de parte importante da sociedade brasileira e levou à necessidade de gastos emergenciais. É preciso, portanto, encontrar o equilíbrio entre teto de gastos e necessidades derivadas da crise.

“Conceitualmente, esse gasto é uma prioridade. É mais saudável o dinheiro na mão do indivíduo do que incentivos pontuais que vão gerar assimetria. Prefiro que o sistema ampare os mais vulneráveis de maneira justa”, ressalta.

Boa parte dos empresários e executivos ainda aguarda um nome para terceira via. “Me parece a melhor alternativa”, diz Pedro Passos. Mas, segundo ele, ainda não há um nome forte.

O mercado aguarda as prévias do PSDB e também as coligações entre os partidos a partir do ano que vem.

De acordo com um industrial, o setor privado espera um posicionamento do ex-presidente petista Luiz Inácio Lula da Silva sobre a condução da agenda econômica. “O que vemos agora é um discurso extremista. Não é o Lula do passado. Hoje ele é um papa sem cardeal.”

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