Artur Lira recebe reivindicações do Sindeprestem e da Fenaserhtt

O Sindeprestem e a Fenaserhtt participaram, na última semana, de reunião com o presidente da Câmara, Arthur Lira, em sua residência, promovida pela Frente Parlamentar do Setor de Serviços e liderada pelo deputado Laercio Oliveira, a fim de debater os aspectos do PL 3887/2020, mais sensíveis ao setor de Serviços. O projeto institui a alíquota de 12%, em substituição ao Programa de Integração Social (PIS) e à Contribuição para Financiamento da Seguridade Social (Cofins) e, na ocasião, foi defendida a possibilidade da instituição de uma alíquota diferenciada para o setor de Serviços, menor que 8%, conforme já havia sido adiantado pelo ministro Paulo Guedes, em reunião anterior, que seria possível de se estabelecer. “Este encontro faz parte dos nossos esforços para demonstrar às autoridades a nossa preocupação sobre um desequilíbrio na esfera tributária e o seu impacto no nosso potencial de contratação de mão-de-obra”, explicou o presidente do Sindeprestem e da Fenaserhtt, Vander Morales. Representando também o sindicato e a federação, Ermínio Lima Neto informou que o pedido foi bem acolhido. “O presidente da Câmara acolheu nossas reivindicações, embora tenha nos alertado sobre a dificuldade de instituir uma alíquota menor. Porém, ele compreendeu nossa explanação sobre a peculiaridade da nossa atividade, que acaba pagando alíquotas diferenciadas dentro de um mesmo segmento, e prometeu discutir uma definição sobre o assunto”, disse. Tiveram presentes na reunião outras entidades que dividem da mesma opinião sobre a importância de não haver aumento na carga tributária ou desequilíbrio no peso da tributação para um setor que, atualmente, é responsável pelo emprego intensivo de mão-de-obra. Nas próximas semanas, as discussões sobre o assunto devem se encaminhar na Câmara com a definição do relator da Reforma Tributária.

1 em cada 4 senadores é alvo de ação por improbidade administrativa

Levantamento do Estadão em tribunais de todo o País mostra que 21 dos 81 senadores (25,9%) que vão analisar as mudanças na Lei de Improbidade Administrativa respondem a ações em razão de contratos firmados quando eram prefeitos ou governadores. A alteração da lei pode favorecê-los, caso se decida pela retroatividade da mudança, tese apoiada por advogados. Ao todo, a reportagem encontrou 37 senadores que respondem a ações penais e ou por improbidade – um deles chegou a ser condenado a 2 anos e 8 meses de prisão por peculato, mas a pena estava prescrita. O levantamento foi feito nos Tribunais de Justiça dos Estados, na Justiça Federal, no Superior Tribunal de Justiça (STJ) e no Supremo Tribunal Federal (STF). Entre as alterações na Lei de Improbidade já aprovadas pela Câmara dos Deputados está a que acaba com a modalidade culposa. Atualmente, um governante pode responder por improbidade por ter agido com descuido, imprudência ou imperícia. Pela alteração, a culpa não será mais admitida, ainda que grave. Será preciso provar o dolo, a intenção do gestor de provocar o dano aos cofres públicos. O novo projeto ainda estabelece um prazo máximo de 180 dias, prorrogados pelo mesmo período, para que o inquérito civil público, usado pelo Ministério Público para apurar os casos de improbidade, seja concluído. Promotores e procuradores consideram o prazo exíguo em casos complexos, que dependem de perícias, cooperação internacional e análise de quebras de sigilo. SenadoO plenário do Senado, em Brasília Foto: Moreira Mariz/Agência Senado“Do jeito que está, a lei passará a se chamar Lei da Impunidade Administrativa. É assim que eu e meus colegas estamos chamando esse projeto”, disse o promotor Sílvio Antônio Marques, especialista na legislação. Marques trabalha há 25 anos na Promotoria de Defesa do Patrimônio Público de São Paulo e foi o responsável pela apuração que localizou as contas bancárias do ex-prefeito Paulo Maluf, na Ilha de Jersey, no Reino Unido. “Os dados demoraram três anos para chegar”, observou. Segundo a procuradora regional da República Samantha Chantal Dobrowolski, algumas alterações na lei, como o prazo de um ano para a conclusão do inquérito civil, parecem “claramente visar que não funcione”. Para ela e para seus colegas, não era necessário retirar da lei a punição por culpa, mas especificar de que se tratava da culpa grave, conforme já definido pelo STJ. A procuradora regional disse que pontos polêmicos foram incluídos na Câmara sem que houvesse debate. Segundo ela, há, no entanto, avanços, como a possibilidade de acordo judicial. “No passado, houve muito erro. A lei é punitiva e inclui desde a possibilidade de punir o desvio de uma rama de papel até grandes desvios. Conforme o lugar, promotores não faziam o juízo de significância. E houve exageros lá atrás, nos anos 1990. O que existe, às vezes, é um problema de ‘timing’, como entrar com ação em época eleitoral. O preconceito contra a lei vem dessa época.” Para o cientista político José Álvaro Moisés, da Universidade de São Paulo (USP), a aprovação da proposta na Câmara, com apoio do governo, demonstra abandono do compromisso com o combate à corrupção, “proposta fundamental” da campanha de Jair Bolsonaro em 2018. “É totalmente contra qualquer critério ético que figuras de responsabilidade pública possam influir em mudanças de regras em leis que, em certo sentido, vão beneficiá-los.” Moisés disse que o placar da votação na Câmara, que uniu setores da oposição a bolsonaristas e ao Centrão, indica desafios para os dois campos na próxima campanha eleitoral, pois, para ele, o tema da corrupção ainda pode influenciar o debate em 2022. “A corrupção era vista pela maioria dos entrevistados de pesquisas de opinião como o principal problema do País.” Já Roberto Dias, professor de Direito Constitucional da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), pondera que há o risco de senadores legislarem em causa própria na alteração da lei, mas ressalta que o exercício do mandato é uma prerrogativa protegida pela Constituição. Ele acredita que a legislação poderia ter regras mais equilibradas para evitar condenações graves por erros de gestão. “Obviamente a lei foi um avanço para o combate à corrupção, mas de fato a legislação vigente tem algumas previsões extremamente genéricas”, disse o professor, que defende mudanças na lei desde que o combate à corrupção não seja prejudicado. “O que não pode é afastar da gestão pública profissionais de qualidade: quem vai querer se submeter a um risco desse, comprometer a carreira e o patrimônio por um ato que entendia correto?” Prescrição. A demora no julgamento das ações é uma das queixas dos políticos. O senador Esperidião Amin (Progressistas-SC) é alvo de ação proposta pelo Ministério Público, que questionou o patrocínio dado pela empresa catarinense de energia, a Celesc, ao réveillon de Laguna em 2001. O processo ficou suspenso por decisão judicial até que o Supremo julgasse o tema da prescrição de atos de improbidade administrativa. Amin era governador de Santa Catarina na época. Outras quatro ações similares, que não tiveram a tramitação suspensa, foram arquivadas. “Agora o tema me interessa”, disse o senador, em tom de brincadeira, ao ser questionado sobre a ação. “Se os contratos foram cumpridos, os serviços foram prestados, não houve irregularidade, não é correto que a pessoa fique respondendo um processo por 20 anos.” A nova lei estabelece prazo de 8 anos a partir do ato para a prescrição da improbidade – hoje é de 5 anos após o político deixar o cargo. E aumenta de 8 para 14 anos a inelegibilidade do condenado por enriquecimento ilícito. Recordista de processos diz que foi vítima de seu sucessorCampeão de ações de improbidade entre os senadores, Nelsinho Trad (PSD-MS) disse que seu sucessor na prefeitura de Campo Grande, que ele governou de 2005 a 2013, está por trás da coleção de processos – atualmente 17 – que o parlamentar responde na Justiça. “Meu sucessor foi um adversário político que se pautou apenas e tão somente em abrir procedimentos investigatórios contra os atos da gestão que representei.” Segundo ele, foram mais de duas centenas de processos:

Promessas feitas por Bolsonaro já estouram ‘folga’ do Orçamento em 2022

De olho nas eleições em 2022, o presidente Jair Bolsonaro tem feitos promessas que não cabem no Orçamento do ano que vem e vão obrigar o governo a encontrar alternativas para não furar o teto de gastos. Somente com a ampliação do Bolsa Família, a fatura extra será de R$ 18,7 bilhões. Um aumento de 5% nos salários dos funcionários públicos pode gerar uma fatura extra de R$ 15 bilhões, como revelou o Estadão. A soma desses valores já supera o espaço que o governo conseguiu abrir no orçamento para respeitar o limite de gastos no ano eleitoral de 2022, estimado pelo próprio governo em R$ 25 bilhões. Se hoje as demandas já são maiores do que o dinheiro disponível, o cenário pode se complicar ainda mais. Caso a inflação não desacelere no segundo semestre, a folga no Orçamento ficará ainda menor. Hoje, a previsão é que o governo se beneficie de um “descasamento” entre índices de inflação. O teto de gastos, que limita as despesas, é corrigido pelo IPCA acumulado em 12 meses até junho. Esse indicador registra alta de 8,06% até maio. Já as despesas do governo sobem pelo INPC, cujas previsões oscilam hoje entre 5,5% e 6,5%. Descontados outros aumentos de gastos, como concessões de novas aposentadorias e o reajuste dos militares aprovado em 2019, chega-se à “folga” de 2022. Se a inflação continuar elevada até o fim do ano, porém, o valor disponível encolhe. O principal fator de risco para isso é a conta de luz. Diante da seca histórica, que ameaça o abastecimento de energia, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) deve aumentar em mais de 20% o valor da bandeira vermelha 2, o patamar mais alto de cobrança extra nas tarifas. O reajuste bate direto na inflação, sobretudo no INPC, índice que capta os preços para famílias de menor renda – para as quais a conta de luz pesa mais no bolso. PrevisõesO espaço de R$ 25 bilhões foi indicado pelo secretário do Tesouro Nacional, Jeferson Bittencourt, em entrevista ao Estadão/Broadcast no último domingo. A previsão, porém, é tida como conservadora pelo mercado. Há a avaliação de que já existe uma tentativa da equipe econômica de controlar expectativas e conter a sede por gastos em ano eleitoral. “Pode significar uma tentativa de não sinalizar um espaço fiscal que é incerto”, afirma o diretor-executivo da Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado, Felipe Salto. Nas contas da IFI, o espaço fiscal será de R$ 47 bilhões, mas cada 1 ponto porcentual a mais de inflação tira de R$ 10 bilhões a R$ 12 bilhões desse valor. Há ainda estimativas mais conservadoras no mercado – de folga de R$ 30 bilhões nos cálculos da RPS Capital e do BTG Pactual. O consenso dos especialistas, no entanto, é de que a inflação está com viés de alta e pode encurtar ainda mais a verba para novos gastos em ano eleitoral. “Se não tiver desinflação no segundo semestre, o espaço fiscal no ano que vem é menor e pode se exaurir rapidamente”, diz o sócio e economista-chefe da RPS Capital, Gabriel Leal de Barros. Enquanto isso, Bolsonaro sinaliza mais gastos e afirmou na terça-feira passada que a reformulação do Bolsa Família pagará, em média, R$ 300 a partir de dezembro deste ano. O anúncio surpreendeu o próprio governo, que trabalhava até então com o valor médio de R$ 250 e um aumento na despesa de R$ 18,7 bilhões. O Estadão revelou ainda que o presidente encomendou ao ministro da Economia, Paulo Guedes, um reajuste para servidores públicos. Também já é dada como certa a pressão de parlamentares para emplacar mais uma vez as chamadas emendas de relator, instrumento pelo qual os congressistas direcionam recursos para seus redutos eleitorais. Em 2022, as eleições incluem os cargos de deputado e uma cadeira de cada Estado para o Senado Federal. “Sem ter espaço fiscal em 2021, eles conseguiram as emendas. Imagina no ano que vem, com espaço fiscal”, afirma Salto. “Para o político, é a senha para gastar, mas tem de ter muita cautela.” Bolsonaro tem acenado com outras medidas populares do lado das receitas, como o aumento da faixa de isenção do IR, hoje em R$ 1,9 mil, e um programa de refinanciamento de dívidas tributárias de empresas. O pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e especialista em reforma tributária Rodrigo Orair já calculou que um aumento da faixa para R$ 3 mil beneficiaria cerca de 7 milhões de pessoas. O ESTADO DE S. PAULO

Orla de Copacabana tem ‘roseiral’ em homenagem às vítimas da covid-19

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A orla de Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro, amanheceu neste domingo, 20, com um imenso roseiral de flores vermelhas em homenagem às vítimas da covid-19, em uma ação da ONG Rio de Paz. O ato faz menção à marca de mais de 500 mil mortes em decorrência da doença no País alcançada na tarde deste sábado, 19. De acordo com a organização, a manifestação tem como objetivo prestar solidariedade às famílias enlutadas dos brasileiros e repudiar o modo como o governo federal e parte da sociedade vem tratando a pandemia desde o início da crise sanitária. Em redes sociais, o presidente da ONG Rio de Paz, Antônio Carlos Costa, lamentou o comportamento do presidente Jair Bolsonaro. “O presidente da república tem um comportamento criminoso e execrável. Prescreveu medicamentos e tratamento preventivo sem eficácia comprovada. Desacreditou a campanha de vacinação em massa e desestimulou o uso de máscara”, pontuou Antonio Carlos. O ESTADO DE S. PAULO

Inglês para trabalho: empresas cobram, mas o quanto é necessário?

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Jackie Oliveira estuda inglês há muitos anos. Já cursou escolas de idiomas, tomou aulas com professor particular e fez intercâmbio. Além disso, é gerente de engenharia de software, então trabalha em contato com a linguagem da https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg toda em inglês. Ainda assim, essa experiência não a livrou da surpresa que o trabalho na Loggi lhe trouxe. O período de imersão na cultura da empresa, para a qual entrou há dois meses, foi uma prévia do que ela viveria todos os dias, porque ali já conheceu colegas estrangeiros e participou de reuniões em inglês. A surpresa se deu porque o processo seletivo não cobrou o conhecimento, embora constasse do currículo de Jackie. Assim, ela percebeu sozinha que era o momento de “ligar no ouvido o chipzinho para entender inglês”, brinca. Apesar de a funcionária usar mais o idioma do que o que foi cobrado para entrar na empresa, o mercado de trabalho também sofre o inverso: cobra-se fluência em inglês ainda que o candidato não vá usá-lo no seu dia a dia. Em 2021, a plataforma de recrutamento e seleção Gupy observou aumento de 36% na frequência do requisito nos anúncios de vagas em comparação ao mesmo período do ano passado. O debate é ainda mais frequente em vagas de empresas que trabalham com programação e https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg da informação (TI) e, nos últimos anos, também por conta da expansão internacional de startups brasileiras e da chegada de multinacionais no País, como Netflix, LinkedIn e Spotify. Segundo a Associação Brasileira de Startups, hoje há 13,5 mil empresas do tipo no Brasil, resultado de um crescimento de cerca de 100% ao ano desde 2011. Para equilibrar a conta, consultorias de RH têm pedido aos gestores mais informações sobre a rotina de trabalho que aguarda o candidato e usado até inteligência artificial para entender melhor a necessidade de cada cliente. “Muitas empresas apontam o inglês como um pré-requisito, mas, por não ser tão relevante no dia a dia, essa habilidade acaba não sendo determinante na contratação”, afirma o CMO (Chief Marketing Officer) e cofundador da Gupy, Guilherme Dias. A plataforma usa inteligência artificial para entender quais características profissionais são levadas em conta pelos contratantes. Dessa forma, consegue atribuir pesos diferentes para os itens de perfil e currículo. A exigência do inglês está presente em 20% das vagas de emprego publicadas na Gupy atualmente, enquanto 31% dos currículos cadastrados possuem a habilidade. O peso dado aos idiomas, em média, é de 3%. “Esse peso varia segundo o perfil da empresa e também com o escopo da vaga, já que uma companhia global tende a ter um segundo idioma como pré-requisito, mas apenas para vagas de níveis e departamentos que realmente precisarão interagir com pessoas de outros países, por exemplo”, explica Dias. É o caso de Jackie na startup de logística. Ela usa o idioma para escrever a documentação de projetos, aprender novas ferramentas e fazer apresentações. A gerente de engenharia ainda lida com a língua no desenvolvimento de códigos — inclusive os verbos. “A Loggi percebeu que o inglês faz parte da comunidade tech”, diz ela. Qual o nível de inglês para a vagaEm reunião com clientes, a consultoria RH Share costuma perguntar o que a empresa considera como inglês avançado: desenrolar uma conversa fluida, fazer uma leitura técnica ou entender uma reunião e interagir minimamente? “Em escolas, você tem níveis bem claros do que se considera avançado, fluente, intermediário. Mas no mundo corporativo essa linha nem sempre é clara”, explica Douglas Rufino, head de recrutamento e seleção da consultoria. Para vagas que requerem entrevistas em língua inglesa, além da avaliação objetiva, o consultor observa o quão confortável no idioma o candidato parece estar. Rufino conta que há casos em que se pode sugerir à empresa trabalhar alguma limitação que o candidato apresenta. “É importante o entendimento do nível que o cliente precisa para a gente não perder perfis bons”, diz ele. Quer debater assuntos de Carreira e Empreendedorismo? Entre para o nosso grupo no Telegram pelo link ou digite @gruposuacarreira na barra de pesquisa do aplicativoNo caso da startup do setor imobiliário QuintoAndar, quando é solicitada a língua inglesa para uma vaga, a empresa costuma especificar o uso que o conhecimento poderá ter no trabalho. Para o cargo de performance marketing coordinator, por exemplo, foi explicado no anúncio que o colaborador “poderá participar de reuniões em inglês com parceiros ou fornecedores”. “Essa é uma característica muito forte do QuintoAndar. A gente tem uma preocupação grande de ser transparente com o que a gente precisa, quando a gente precisa, de que jeito a gente precisa”, diz Aline Esteves, diretora de people da startup. Aprendizado contínuo com idiomasSegundo Jackie, quem não fala inglês tem espaço na Loggi, mas o ambiente motiva a desenvolver a língua. Na “daily”, por exemplo, a gerente conversa em português por não ter estrangeiros na equipe, mas durante a “sync”, reunião em que apresentam projetos, usa o segundo idioma quem se sentir confortável. “Quando você vira para o lado e vê que o amigo talvez fale o inglês com um pouco de sotaque, gaguejando, mas tem termos técnicos (e todo mundo se entende em termos técnicos), isso dá uma liberdade muito grande”, afirma ela. A Loggi oferece aos colaboradores um incentivo educacional que pode ser usado para fazer cursos de idioma. O fundador da escola Wise Up, Flávio Augusto da Silva, compara a decisão de um adulto de voltar a estudar inglês a tomar uma injeção de Benzetacil: “É dolorido, mas resolve o problema dele”. Para o empresário, o aluno mais velho não encara o idioma como prazer, mas como um investimento profissional. Especializada em inglês para adultos, a instituição tem como método não infantilizá-los. Em vez disso, traz para as aulas temas de interesse como liderança, oratória e gestão emocional. Os alunos da escola, em geral, estão empregados. Criador do projeto de desenvolvimento pessoal Geração de Valor, Flávio Augusto diz que qualquer pessoa pode aprender a língua sozinha, sem a necessidade de escolas. “Mas a curadoria desse assunto, as ferramentas

Inglês como nota de corte reforça desigualdades entre candidatos

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Renata, Tattiane e Bárbara se encontram na exclusão. O inglês, considerado fator de conexão das pessoas ao mundo globalizado, quase as colocou à margem do mercado de trabalho. Sem domínio da língua, elas foram reprovadas em diversas seleções de emprego, que privilegiavam o idioma em detrimento de outras habilidades. Negras, periféricas e sem condições financeiras de investir no inglês, elas viveram o drama de quem é excluído do mercado por um critério que se torna uma “nota de corte” de classe e de cor. Para tentar reparar essa desigualdade social, empresas adotam iniciativas para deixar os processos seletivos com mais diversidade e inclusão, mas precisam avançar nas ações, avaliam especialistas. Bárbara Tayná, de 26 anos, participou de 17 seleções de estágio apenas no segundo semestre do ano passado. Foi reprovada em 16 porque não sabe inglês. O pouco que sabe do idioma aprendeu na rede pública de ensino, onde estudou. Recebeu aprovação apenas na última seletiva, em dezembro, que não exigia o idioma. Hoje atua na área de marketing da empresa, que montou uma plataforma online de ensino da língua para funcionários. A estudante de Relações Públicas critica empresas que querem adotar iniciativas de diversidade racial, mas não percebem como o idioma pode dificultar a vida de pessoas negras e periféricas, que, historicamente, têm menos acesso a uma educação de qualidade. Com a pandemia, a desigualdade racial no mercado de trabalho bateu recorde. Enquanto o desemprego atingiu 15,8% entre pretos e pardos em junho de 2020, entre brancos, amarelos e indígenas ficou em 10,4%, maior diferença desde 2012, segundo dados da Pnad contabilizados pela consultoria LCA. “Uma empresa que se diz diversa deve entender onde o público diverso vive. A maioria da população negra não tem inglês. Se você quer aumentar a equidade racial na sua empresa, você tem que saber o dia a dia do povo preto que se candidata”, reivindica Bárbara. Tattiane Cruz, de 37 anos, conta que já chegou a ficar entre os dois finalistas de uma seleção, mas, no fim das contas, perdeu a vaga porque o concorrente tinha um inglês melhor. “Eu me sentia parcialmente desvalorizada. É como se toda a sua história, suas fortalezas não fossem consideradas na sua plenitude”, lamenta. Hoje atuando como scrum master de projetos e inovação em uma indústria de cosméticos, ela lembra ainda que, apesar da exigência, o uso do idioma não é necessário no dia a dia para grande parte das funções. “Às vezes, eu achava estranho porque um colega da minha classe era aprovado e, quando a gente falava do nível de inglês, o nosso nível era o mesmo”, relata ela, que acredita que o inglês acaba sendo um critério das empresas para criar barreiras de acesso a pessoas negras. Cotas de diversidade e inclusãoVontade de estudar o idioma não faltou para Tattiane. O que estava em falta mesmo era dinheiro da família para pagar cursos. Ela só conseguiu estudar inglês após receber bolsa de uma empresa onde trabalhou. Depois de se formar, passou dois meses fora do País, onde aprimorou seus conhecimentos na língua, e também pagou aulas particulares. A barreira do inglês não vai encontrar pessoas negras apenas em cargos iniciais, mas em postos de liderança também. Renata Hilário, especialista em insights de uma cervejaria, reclama que a exigência dificulta ainda mais a presença de não-brancos em posições de chefia. No Brasil, mulheres negras ocupam apenas 8% dos cargos de liderança, segundo pesquisa feita no ano passado pela consultoria Indique uma Preta e pela empresa Box1824. “Para cargos de liderança, já pedem um inglês mais avançado. Você já faz entrevista em inglês no processo seletivo online ou presencial”, critica ela, que ironiza que “nosso Brasil é com z, não com s”, em referência à escrita de Brasil em inglês. “Nos pautamos sempre pelos norte-americanos. A gente tem competência, mas é barrado porque não tem inglês fluente, não fez intercâmbio.” Quer debater assuntos de Carreira e Empreendedorismo? Entre para o nosso grupo no Telegram pelo link ou digite @gruposuacarreira na barra de pesquisa do aplicativoChefe de Cultura Inclusiva da 99jobs, Fábio Mariano explica que a exigência do inglês para o trabalho se consolidou na segunda metade da década de 1980, quando multinacionais se instalaram no Brasil a partir da reabertura política. Com isso, as empresas convencionaram um perfil a ser preenchido pelos funcionários. “Era preciso vir de faculdades de primeira linha, ter alguma vivência no exterior, então começou a se privilegiar pessoas com intercâmbio, que já tivessem viajado várias vezes para fora do País. Além de tudo isso, a exigência em inglês. Assim, só uma elite vai ocupar cargos de liderança em empresas”, destaca Mariano. Renata Hilário reclama. “De 10 palavras que as pessoas falam (na empresa), cinco são em inglês. Isso é muito excludente. As empresas querem mais pretos no seu time, mas elas promovem um ambiente seguro psicologicamente quando a gente entra? Eu acredito que não.” Segundo Eduardo Migliano, cofundador da 99jobs, de 2019 para 2021, cresceu de 5% para 40% o porcentual de empresas que pedem medidas de diversidade e inclusão nos processos seletivos organizados pela startup. “O conceito de reparação é muito mais amplo que diversidade e inclusão. Empresas que trazem palavras como meritocracia para seus processos obviamente não cabem mais no contexto atual”, diz. Curso de inglês e soft skillsPara evitar que o inglês seja elemento excludente, empresas têm abolido a exigência de processos seletivos ou custeado cursos para os funcionários aprovados. A Ambev, por exemplo, retirou a necessidade do idioma de uma seleção iniciada no mês passado para mulheres e pessoas não brancas na área de https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg da informação (TI). Já a Coca-Cola vai pagar curso de inglês para os selecionados no programa de estágio da multinacional, aberto no início do mês. A Basf resolveu criar uma plataforma de autoaprendizagem da língua para auxiliar aqueles que forem aprovados na sua seletiva de estágio, voltada para negros, pessoas com deficiência e pessoas transexuais. Outra tendência é a aposta cada vez maior das empresas nas chamadas soft skills (habilidades comportamentais), em

Desemprego deve ser recorde este ano com retomada desigual

O ânimo com o desempenho melhor da atividade fez pouca diferença nas avaliações sobre o mercado de trabalho, que deve seguir em reação lenta e com uma taxa de desemprego elevada, a despeito de um PIB que pode crescer mais de 5% em 2021. Segundo a mediana de estimativas de 28 consultorias e instituições financeiras ouvidas pelo Valor Data, a fatia de desempregados na força de trabalho ficará em 14,3% na média do ano. Este seria o nível recorde da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do IBGE, iniciada em 2012. Embora o Brasil não esteja vivenciando uma “jobless recovery” – expressão em inglês para uma recuperação sem geração de vagas -, economistas apontam que a dinâmica desigual da retomada, em que setores mais informais da economia estão patinando, faz com que o emprego responda com defasagem ainda maior ao aquecimento da atividade. Nesse cenário, enquanto o PIB já recuperou as perdas da pandemia no primeiro trimestre, a população ocupada só deve voltar ao nível précovid no fim do ano ou no começo de 2022. Coordenadora técnica do Boletim Macro do Instituto Brasileiro de Economia (FGV Ibre), Silvia Matos afirma que a visão sobre o mercado de trabalho segue negativa, em contraste à percepção mais favorável em relação à atividade. A entidade projeta que a taxa média de desemprego vai aumentar de 13,5% no ano passado para 14,7% neste ano. “Temos mais PIB, mas sem emprego”, diz Silvia. O motivo para o descasamento maior entre os dois indicadores, para ela, é a recuperação heterogênea: “outros serviços”, serviços de transporte e construção civil estão crescendo em ritmo mais fraco e são setores mais intensivos em mão de obra, o que prejudica a retomada do emprego e da renda. “Apesar da melhora das projeções macroeconômicas, continuamos com uma visão cautelosa sobre o mercado de trabalho brasileiro, que permanece muito fragilizado”, diz Lucas Assis, economista da Tendências Consultoria. A Tendências começou o ano projetando expansão de 2,7% para o PIB em 2021, número que hoje está em 4,4%. No mesmo período, a estimativa para o avanço da população ocupada no ano quase não mudou: passou de 3,7% para 4%. Caso essa perspectiva seja concretizada, o contingente de 92,2 milhões de ocupados que havia no país no primeiro trimestre de 2020 será retomado apenas ao fim do ano, aponta Assis, enquanto o PIB recuperou o patamar pré-pandemia em março. Naquele mês, o total de pessoas ocupadas era de 85,6 milhões, ainda 7% abaixo do nível anterior ao surto de covid-19. Já a taxa de desemprego deve subir a 14% na média anual para a consultoria. “A economia está mais resiliente por outros fatores que não o mercado de trabalho, que vai demorar para retomar”, afirma Assis. Ele destaca a dificuldade dos trabalhadores informais, especialmente de serviços, em se recolocar no mercado como um fator limitante para crescimento mais expressivo da geração de vagas, em sentido contrário ao maior dinamismo observado no mercado formal. Gabriel Couto, economista do Santander, pondera que os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) estão alinhados à recuperação mais rápida da atividade. Por essa métrica, que registra o saldo entre admissões e demissões de empregados com carteira, após a perda de 1,15 milhão de vagas celetistas entre março e junho do ano passado, houve recuperação de 2,31 milhões desde então. “Mas o mercado informal está em situação muito ruim. É uma parcela que, em tempos normais, representa 40% do total dos empregos no Brasil e não mostrou quase nenhuma recuperação.” No trimestre terminado em março, enquanto a população ocupada diminuiu 7,1% sobre igual intervalo do ano anterior, a ocupação de trabalhadores sem carteira na iniciativa privada caiu 12,1%. Nos trabalhadores domésticos informais, a retração chega a 17,1%. Segundo Couto, as medidas de distanciamento social penalizaram mais atividades que dependem de interação, o que se reflete negativamente no nível de emprego desses setores. Conforme a vacinação avançar e a economia tiver reabertura maior no segundo semestre, o emprego informal tende a crescer em ritmo mais alinhado ao formal, diz Couto, mas o desemprego deve seguir alto. Isso porque a crise e as medidas de isolamento fizeram muitas pessoas desistir de buscar uma vaga. Com uma parcela maior da população vacinada, elas devem voltar ao mercado, que não vai absorver todo esse contingente. Por isso, com o ajuste sazonal do banco, o Santander estima que a taxa de desemprego vai subir um ponto entre 2020 e 2021, a 14,2%. O caráter atípico da crise da covid-19, que retirou muitas pessoas da força de trabalho, e o método de coleta da Pnad, agora feita por telefone, adicionam ainda mais incertezas para estimar o comportamento do desemprego daqui em diante, observa Cosmo Donato, economista da LCA Consultores. De qualquer forma, o cenário melhor para a atividade – a LCA passou a trabalhar com alta de 5% do PIB este ano – vai ajudar na retomada do mercado de trabalho, que deve ganhar mais tração a partir do terceiro trimestre, avalia Donato. Mesmo assim, ainda há um longo caminho a percorrer, diz o economista, para quem o total de ocupados só vai voltar ao nível anterior à covid no primeiro trimestre de 2022. Na série dessazonalizada por ele, a população ocupada era de 93,9 milhões em fevereiro de 2020 – o patamar pré-crise -, caiu a um piso de 81,9 milhões em agosto e, em março, estava em 86,3 milhões. “O mercado de trabalho está demorando mais para responder à retomada da atividade do que num ciclo recessivo normal.” VALOR ECONÔMICO

A confiança volta às pequenas empresas (Editorial)

O alívio das restrições necessárias ao enfrentamento da pandemia e o aumento da oferta de vacinas estão devolvendo o otimismo a um dos segmentos mais afetados pelo avanço da covid-19: o das micro e pequenas empresas (MPEs). Em geral menos preparadas material e financeiramente para operar em crises, essas empresas foram muito afetadas no início do ano, quando o aumento rápido do número de contaminações e de mortes pelo coronavírus exigiu novas restrições. Em março, por isso, a confiança desses empreendedores teve forte queda. Mas a recuperação tem sido rápida. A Sondagem de Micro e Pequenas Empresas, realizada pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), mostra que em maio o Índice de Confiança desse segmento de empresas alcançou 93,5 pontos, o maior nível desde dezembro. Desde março, o crescimento foi de 11 pontos, sendo 5,4 entre abril e maio. O Índice de Confiança resulta da combinação de medições relativas aos três principais segmentos em que atuam as empresas de menor porte, que são comércio, serviços e indústria de transformação. Todos vêm mostrando maior confiança, mas os melhores sinais de recuperação estão no comércio e nos serviços, mais duramente afetados na chegada da pandemia, em março do ano passado, e novamente em março deste ano, com o aumento das notificações de casos de contaminação pela covid-19. Um ponto particularmente animador da pesquisa apontado pelo presidente do Sebrae, Carlos Melles, é a melhora da expectativa de geração de vagas nos próximos três meses, depois de meses de sinalização de demissão pelas empresas de pequeno porte. “Uma das possíveis razões para o otimismo das MPEs é o fato de que medidas restritivas têm sido flexibilizadas, além da possibilidade do aumento na oferta de vacinas para a população em geral”, diz o presidente do Sebrae. Em maio, em particular, além do Dia das Mães, houve redução no número de mortes diárias pela covid-19. Também houve a manutenção do pagamento do auxílio emergencial, que impulsionou a demanda. Em dois meses, a confiança do comércio aumentou 22 pontos. A dos empreendedores do setor de serviços cresce um pouco menos, mas a recuperação é consistente, segundo o Sebrae. O ESTADO DE S. PAULO

Sem chips, indústria de carros adia recuperação

O fechamento das fábricas da Volkswagen e da General Motors a partir desta segunda-feira, 21, e do corte de mais um turno de trabalho na Hyundai, dão o tom de um segundo semestre preocupante para a indústria automobilística brasileira, que segue com dificuldades em conseguir semicondutores para os veículos. O setor deve perder a chance de recuperar mercado no período em que tradicionalmente se vendem mais carros, na segunda metade do ano, e que vai coincidir com a retomada mais consistente da economia, melhora do Produto Interno Bruto (PIB) e mais pessoas vacinadas contra a covid. “É difícil afirmar, no momento, se vamos conseguir atender à demanda no segundo semestre”, admite o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Carlos Moraes. Ele concorda que, a partir do próximo mês, as previsões são de PIB um pouco melhor – apesar da inflação e dos juros mais altos –, e de maior controle da pandemia, “mas não podemos carimbar que vai ter oferta (de produtos)”. Moraes e outros executivos da cadeia preveem que o equilíbrio entre oferta e demanda se dará ao longo de 2022. Hoje, a espera por modelos como as picapes Strada e Toro, da Fiat, pode passar de três meses. “Se tudo der certo, o segundo semestre de fato será bom para a economia brasileira, o que deve aumentar a confiança do consumidor, reduzir o desemprego e melhorar a renda da população, mas não vai ter carro para entregar por falta de semicondutores”, avalia Ricardo Bacellar, da consultoria KPMG do Brasil. “Isso vai ser um problemão para a indústria.” ParadasA Volkswagen suspendeu a produção por dez dias em São Bernardo do Campo e São Carlos (SP). A fábrica de São José dos Pinhais (PR), fechada desde o dia 7, voltaria hoje, mas teve a paralisação estendida até início de julho. A de Taubaté, que parou no mesmo dia, voltou na quinta-feira. A GM suspendeu operações em São Caetano por seis semanas, mas aproveita e prepara a linha para a produção de uma nova picape. A planta de Gravataí (RS) está parada desde abril e volta só em meados de agosto. A Hyundai passou a operar com apenas um turno de trabalho. O terceiro tinha sido suspenso no fim de maio, e agora o segundo turno também foi interrompido, até o fim do mês. PrejuízosPor causa da escassez de itens eletrônicos, em sistemas de segurança, aceleração, freios e iluminação, entre outros, a indústria global de veículos deve deixar de produzir entre 2,5 milhões e 4 milhões de veículos este ano. Antes, a previsão para o total da produção era de 84 milhões de unidades. No Brasil, seguindo porcentuais globais, a perda pode passar de 120 mil veículos. Se confirmada, a produção será de 2,4 milhões de veículos, ante 2,52 milhões previstos. Estudo recém-concluído pela KPMG indica que, globalmente, a indústria automobilística terá prejuízo de US$ 100 bilhões neste ano por causa das paradas de produção. O valor equivale a 80% da perda total de US$ 125 bilhões projetada para os principais setores que usam chips nos produtos. Segundo Bacellar, embora fique com cerca de 10% da produção mundial de semicondutores, o setor automotivo perdeu a prioridade nas compras ao suspender encomendas no ano passado, quando fechou as fábricas para evitar contágios na pandemia. “A demanda por semicondutores já vinha crescendo porque os automóveis estão cada vez mais tecnológicos, mas o setor é muito dependente de poucos fornecedores”, diz. Segundo as empresas, a eletrônica embarcada representa 40% dos custos de produção de um veículo hoje, o dobro de 20 anos atrás. A projeção é de chegar a 50% em uma década. Um carro elétrico, por exemplo, usa o dobro de semicondutores do que um a combustão. O veículo totalmente autônomo usará de oito a dez vezes mais. O estudo global da KPMG, chamado de “Sobrevivendo à tempestade do silício”, indica algumas sugestões para as montadoras, como parcerias para criar empresas próprias de produção de semicondutores, mesmo que parciais, a exemplo do que está ocorrendo com baterias elétricas. Outra solução apresentada é a realização de alianças entre várias montadoras para o desenvolvimento conjunto de componentes de uso comum, para baratear custos. O ESTADO DE S. PAULO

IPOs de grandes empresas devem trazer mais investidores estrangeiros para a Bolsa

Apesar da situação ainda difícil com a pandemia, do desequilíbrio fiscal e da dificuldade em avançar com as reformas, os estrangeiros parecem que voltaram a apostar no Brasil. Desde janeiro, o saldo de dinheiro estrangeiro na B3, a bolsa de valores de São Paulo, já chega a R$ 44 bilhões – número que contrasta fortemente com o primeiro semestre do ano passado, quando a bolsa viu uma saída de R$ 76 bilhões de dinheiro dos investidores de outros países. E a expectativa do mercado é que esse fluxo melhore ainda mais, puxado pelas aberturas de capital de grandes empresas previstas para julho – como Raízen, da Cosan, CBA, da Votorantim, e CSN Cimentos. “A chance é de termos uma ‘janela’ (de aberturas de capital) muito forte. Já houve uma retomada da entrada de estrangeiros nas últimas semanas. E, para se atrair o estrangeiro, quanto maior a operação, mais fácil fica”, diz Roderick Greenleess, responsável global do banco de investimento do Itaú BBA. “Estamos vendo agora um volume de estrangeiros um pouco maior do que no passado recente. Ele começou a montar uma posição em Brasil e isso ajuda, mas tem ocorrido, por enquanto, mais no secundário (em ações que já estão listadas na bolsa)”, comenta Fábio Nazari, sócio do BTG Pactual responsável pelo mercado de renda variável. O executivo cita que a Bolsa contou com um “rally” recente e, apesar de um pouco mais de volatilidade nas últimas semanas, a demanda pelas últimas ofertas tem sido grande. O próprio BTG fez uma oferta de ações neste mês de quase de R$ 3 bilhões, registrando elevada demanda. Rumo ao recordeAs grandes operações de abertura de capital previstas para o próximo mês vêm animando o mercado. A projeção dos bancos de investimento é de que a nova safra de aberturas de capital, entre julho e setembro, movimente cerca de R$ 40 bilhões. Isso deve fazer com que as emissões de ações batam um novo recorde este ano – já foram cerca de R$ 80 bilhões desde janeiro. O Itaú BBA, por exemplo, prevê um volume total no ano entre R$ 150 bilhões e R$ 170 bilhões. “Estamos muito otimistas para a próxima ‘janela’ (de aberturas de capital). Estamos vendo que, após alguns dados locais positivos, como a retomada do nível de atividade, voltamos a ver o fluxo de gringos (na bolsa). A conjuntura mostra um momento mais construtivo do que a janela de janeiro”, diz Bruno Saraiva, corresponsável pelo banco de investimento do Bank of America no Brasil. Por isso, a sua leitura é de que o investidor estrangeiro deve participar de forma relevante nas próximas aberturas de capital. “Há espaço para boas companhias”, diz. Investidor local ainda segura mercadoApesar de o dinheiro de fora na Bolsa de Valores ser sempre bem-vindo, o mercado descobriu que dá para fazer operações de abertura de capital, sim, contando apenas com o investidor brasileiro. Tanto que as ofertas iniciais de ações no primeiro semestre já chegam a cerca de R$ 80 bilhões, mesmo sem a presença maciça dos estrangeiros. A explicação para isso está nos juros em patamares historicamente baixos no Brasil (mesmo com as altas recentes, que deixaram a Selic em 4,25% ao ano). Sem os ganhos “fáceis” da renda fixa, os investidores começaram a migrar em massa para a renda variável, e o número de pessoas físicas na bolsa passou de cerca de 600 mil, no fim de 2019, para 3,7 milhões agora. Por isso, há uma avaliação de que os estrangeiros devem entrar nas grandes operações de abertura de capital, como as previstas para julho (ver abaixo), mas que o investidor local ainda deve continuar sendo muito importante para o mercado. Para Felipe Thut, responsável pelo Bradesco BBI, apesar de as ofertas maiores terem mais atratividade para o investidor estrangeiro, não há ainda segurança sobre o fluxo de capital de fora para a bolsa brasileira. Sua expectativa é de que essa segurança só apareça passadas as eleições presidenciais de 2022. “Até lá, essa movimentação dos estrangeiros deverá ser mais tática”, diz. Ele lembra que, diante da grande migração de recursos da renda fixa para a renda variável no País, não há mais uma dependência do capital estrangeiro para as aberturas de capital. Mesmo assim, para as ofertas de ações de empresas de maior porte, o executivo diz que é possível imaginar que o estrangeiro fique com uma fatia de 50% do volume. MudançaO mercado de capitais também tem passado por uma mudança de perfil. Nazari, do BTG Pactual, aponta que o número de empresas na fila para abrir capital é grande, mas que muitas companhias viram desafios para conseguir levantar o que pretendiam e saíram do circuito, para tentar retornar mais à frente. “Já vimos uma depuração dos candidatos”, diz. Fora isso, para algumas empresas o conselho tem sido lançar a oferta apenas para investidores institucionais – como fundos de investimento e fundos de pensão, por exemplo –, além dos estrangeiros, deixando de fora os investidores pessoas físicas. Essa oferta não precisa de registro do regulador e por isso é mais rápida. Consegue, assim, se desviar da volatilidade do mercado. Foi assim, por exemplo, que o banco BR Partners fez um IPO, muito rapidamente, que movimentou R$ 400 milhões. Segundo Saraiva, do Bank of America, essa estrutura mais célere para a emissão de ações poderá ser utilizada por empresas que já tentaram abrir o capital, mas que acabaram postergando a operação. “A discussão é caso a caso, mas temos recomendado que a companhia deixe o registro de companhia aberta para ter essa opção”, diz. Veja quais são as principais empresas que devem fazer IPO em julho:RaízenDestaque na temporada de IPOs, a Raízen, empresa de energia da Cosan e da Shell, promete fazer uma das maiores aberturas de capital da história da Bolsa brasileira, de mais de R$ 10 bilhões. A projeção é de que sua estreia na B3 ocorra no fim de julho. Com a oferta, os bancos miram um valor de mercado para a Raízen de cerca de R$ 90