IBGE pede que AGU intermedeie liberação de recursos para preparar o Censo em 2022

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) confirmou que enviou nesta sexta-feira, 21, um ofício à Advocacia-Geral da União solicitando que o órgão faça a intermediação com o Ministério da Economia para a liberação imediata dos recursos necessários para conduzir neste ano os preparativos que viabilizem a coleta em campo do Censo Demográfico em 2022. O envio do documento, preparado pela área jurídica do IBGE, foi decidido em reunião extraordinária do Conselho Diretor do órgão. O instituto é subordinado ao Ministério da Economia. O IBGE afirmou que trabalha num plano para levar o Censo Demográfico a campo em 2022, de forma a cumprir a decisão da maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), mas alerta para a “necessidade urgente de recomposição do orçamento para conclusão de etapas preparatórias essenciais ao longo de 2021”. “O projeto descreverá as demandas de recursos a serem repassados ao Instituto ainda este ano, para que o Censo ocorra no ano que vem – por enquanto, sem data definida. A prioridade, agora, é fechar a proposta, já que há necessidade urgente de recomposição do orçamento para conclusão de etapas preparatórias essenciais ao longo de 2021. Após a elaboração do plano de trabalho, serão retomadas reuniões com as áreas técnica, consultiva e operacional, que vão definir as melhores condições e o período adequado para realização do Censo em 2022”, escreveu o instituto, em nota divulgada na última terça-feira, 18. O sindicato nacional dos servidores do IBGE, o Assibge, estima em cerca de R$ 250 milhões os recursos necessários ainda este ano para que o órgão possa dar início à coleta do censo em 2022. Entre os preparativos estão a atualização dos cadastros de endereços que serão visitados pelos recenseadores, preparação da base cartográfica, validação dos instrumentos de coleta e transmissão de dados, finalização das etapas de planejamento do treinamento e compra de equipamentos de proteção para os trabalhadores, segundo servidores envolvidos na operação. Sem verbaRealizado a cada dez anos, o Censo Demográfico visita todos os cerca de 71 milhões de lares brasileiros. O levantamento foi orçado inicialmente pela equipe técnica do IBGE em mais de R$ 3 bilhões, para ir a campo em 2020. Em meio a pressões do governo pela redução no orçamento, os questionários originais foram enxugados, e a verba encolheu para R$ 2,3 bilhões. Quando foi adiado devido à pandemia para 2021, o governo federal reduziu ainda mais esse montante previsto, para R$ 2 bilhões. No entanto, apenas R$ 71 milhões foram aprovados pelo Congresso Nacional no mês passado, e o Orçamento sancionado e publicado no Diário Oficial da União trouxe um veto do presidente Jair Bolsonaro que cortou esse valor para apenas R$ 53 milhões, o que inviabiliza até os preparativos para o levantamento ir a campo em 2022. Os sucessivos cortes no orçamento do censo geraram uma crise de comando no instituto. Em 26 de março, dia seguinte à aprovação pelo congresso da redução no orçamento que inviabilizava o censo em 2021, a então presidente do instituto, Susana Cordeiro Guerra, pediu demissão. O novo presidente, Eduardo Rios Neto, era diretor de Pesquisas do IBGE e teve sua nomeação publicada no Diário Oficial da União em substituição a Susana apenas em 27 de abril. As informações recolhidas pelo Censo servem de base, por exemplo, para o rateio do Fundo de Participação de estados e municípios, sendo essenciais também para políticas de saúde, como a necessidade de alocação de profissionais e equipamentos para atendimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e planejamento de políticas educacionais. Os dados são usados ainda como base para pesquisas amostrais, como a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, do próprio IBGE, que levanta informações sobre o mercado de trabalho, como a taxa de desemprego, e até para pesquisas eleitorais. O ESTADO DE S. PAULO

Economia do Brasil teve um 1º trimestre difícil, mas retomada continua (José Márcio Camargo)

O primeiro trimestre de 2021 foi particularmente difícil para a economia brasileira. O País viveu uma segunda onda da pandemia, que ainda não foi totalmente revertida, com números de casos e de mortes muito superiores aos da primeira onda. O excesso de demanda por vacinas no mundo e a incapacidade dos produtores nacionais de atender à demanda interna atrasaram o processo de vacinação e geraram forte tensão entre a população. A disputa pelas presidências da Câmara e do Senado paralisou o Congresso, travou a votação das reformas, atrasou a aprovação do Orçamento e gerou incertezas quanto à possibilidade de que o teto para o crescimento do gasto público viesse a não ser respeitado. Após as eleições no Legislativo houve um momento de descontração, com o destravamento da pauta do Congresso e a consequente aprovação de um conjunto importante de projetos como o novo marco regulatório de óleo e gás, a nova lei de falências, o novo marco regulatório do saneamento, a autonomia do Banco Central, a Reforma Emergencial, entre outros. Entretanto, o impasse gerado pelas negociações em torno da aprovação do Orçamento de 2021 criou um ambiente de grande incerteza, trazendo de volta o fantasma do travamento da pauta no Congresso, reduziu a probabilidade de andamento das reformas e, ao mesmo tempo, voltou a aumentar a probabilidade de que o teto do gasto público não fosse respeitado. No final do processo, a solução do impasse, com o veto do presidente da República a gastos discricionários e investimentos dos Ministérios, mantendo o Orçamento dentro do teto, melhorou o ambiente político e econômico e reduziu a volatilidade. Apesar deste ambiente fortemente negativo a economia brasileira se mostrou bastante resiliente, com crescimento relativamente forte nos dois primeiros meses do ano, aumento da produção industrial e da atividade nos setores de comércio e serviços. Com a introdução de lockdowns em algumas das principais cidades do País e o aumento das medidas de isolamento social, a atividade mostrou queda em março, mas, ainda assim, bem menor do que a esperada pelos analistas. E, após a queda de março, os indicadores antecedentes para o segundo trimestre têm mostrado comportamento positivo. Ao mesmo tempo, o governo implementou com sucesso um forte programa de concessões, com o leilão de 22 aeroportos, 1 ferrovia, 3 instalações portuárias, 1 rodovia, além da privatização dos serviços de esgoto sanitário no Estado do Rio de Janeiro, que vai exigir investimentos da ordem de R$ 30 bilhões em 10 anos. Todos os leilões tiveram forte demanda e ágios elevados, gerando um total de outorgas da ordem de R$ 50 bilhões, o que indica que o País continua atraente para os investimentos de longo prazo. Fatores do lado da oferta e do lado da demanda justificam este comportamento positivo da economia. Do lado da oferta, em razão das características desta recessão, deverão sobreviver à crise os agentes com maior produtividade e com maiores reservas, ou seja, com mais acesso ao mercado de capitais, o que é favorecido pelo elevado nível de liquidez internacional e pelas baixas taxas de juros vigentes. Os menos produtivos e os agentes com poucas reservas e pouco acesso ao mercado de capitais deverão ficar pelo caminho. Do lado da demanda, depois de mais de um ano impossibilitados de convivência social, de frequentar bares e restaurantes, fazer compras presencialmente, as pessoas estão ávidas para retomarem sua vida social, o que deverá gerar forte crescimento da demanda. Este é um cenário muito propício ao crescimento do investimento e, portanto, da economia. Os maiores riscos a este cenário são o agravamento da pandemia e os entraves decorrentes dos gargalos nas cadeias produtivas, o excesso de demanda por insumos e as pressões inflacionárias, o que poderá forçar os bancos centrais a reduzir a liquidez e aumentar as taxas de juros. *PROFESSOR TITULAR DO DEPARTAMENTO DE ECONOMIA DA PUC/RIO (APOSENTADO) E ECONOMISTA-CHEFE DA GENIAL INVESTIMENTOS O ESTADOD E S. PAULO

Personal branding é estratégia de carreira; veja como criar imagem profissional

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Se você pedir para os seus amigos mais próximos que eles descrevam você com alguns adjetivos, quais seriam? Se perguntasse também para seus colegas de trabalho, eles citariam as mesmas características? E se você perguntar para um cliente, para alguém que o segue nas redes sociais ou a um ex-chefe? Todo mundo responderia a mesma coisa? Ainda que você tenha uma relação diferente com cada pessoa, todo mundo usa a sua imagem para definir e descrever quem você é. E não é diferente no mercado de trabalho. Assim como qualquer empresa, criar uma marca pessoal (ou personal branding, como é chamada no mundo corporativo) faz parte de criar uma estratégia de carreira. “O branding pessoal está ligado a você identificar aquilo que o faz ser quem você é, a junção de características, talentos e habilidades associada ao seu repertório acadêmico, pessoal e profissional. Combinados, esses itens criam a sua identidade. A partir do momento em que você identifica a sua essência, você consegue trabalhar a sua individualidade no mercado”, explica a estrategista em gestão de imagem e carreira Patrícia Dalpra. Segundo especialistas, chegar a essa identidade e a como ela vai se expressar no mercado de trabalho é, antes de tudo, uma atitude ativa: defini-la é função do próprio profissional. Na hora de criar a sua imagem pessoal, as dicas não têm hierarquia. Ter um branding pessoal bem definido e trabalhado nas redes sociais vale tanto para o CEO da empresa quanto para o estudante em seu primeiro estágio. Para entender por onde começar a criar a sua marca pessoal, o Estadão conversou com três especialistas no assunto. Veja abaixo 5 passos para trabalhar sua imagem: Quem é você e pelo que você é conhecidoO primeiro passo para definir a sua imagem pessoal é o autoconhecimento. Para além do sentido psicológico da questão, se conhecer é saber quais são seus talentos e habilidades, com um destaque especial para as habilidades comportamentais, as soft skills. “Diferentemente do que a gente fazia há 10 anos, quando os aspectos relacionados à parte acadêmica eram o que nos diferenciava, hoje – embora eles ainda tenham força – é o seu repertório, a sua colcha de retalhos, tudo o que você construiu na sua jornada que tem peso muito importante para sua marca pessoal”, explica Patrícia. Uma das formas de identificar as forças e talentos é escrevendo uma autobiografia curta, entre cinco e sete páginas, aconselha a especialista. “Conte a sua história com os pontos mais importantes, não só com foco profissional. A partir dessa reflexão, você consegue fazer uma retrospectiva de todas as passagens da sua vida, identificar forças que você teve, dificuldades e como as superou. Consegue encontrar talentos que você ativou em determinado momento, refletir sobre como você conseguiu atingir um objetivo e traçar uma linha para identificar as suas forças e habilidades.” No entanto, muitas vezes, é difícil que a pessoa perceba uma característica como um talento. Há coisas que são tão fáceis para ela executar que passa batido e deixa de ser visto como força para ser encarado como algo que todo mundo faz. Para isso, a especialista recomenda uma pesquisa de percepção de imagem. Para saber quem você é:Escreva uma autobiografia com as passagens importantes da sua vida, não só profissional; ao escrever, vai conseguir identificar suas forças, dificuldades que enfrentou e como as superou Faça três listas sobre sua vida profissional, descrevendo a) aquilo no que é bom e entrega, b) aquilo que faz mais ou menos, e c) aquilo no que é ruim; o que acha que precisa desenvolver mais? “Eu faço com quem se relaciona comigo de forma pessoal, familiar e profissional. É a forma como essas pessoas veem o profissional a partir das diversas personas que ele representa e vemos se a marca que estamos deixando está alinhada com o que queremos passar. Por mais que o branding pessoal esteja relacionado à nossa essência, é muito mais o que os outros veem de nós. A partir do momento que você entende qual é a sua marca, você vai induzir que a pessoa te veja como você é”, diz Patrícia. Ao olhar para as habilidades e talentos, é preciso também identificar os pontos de melhoria que podem fazer falta para o seu desenvolvimento profissional. “Faça três listas: uma com o que você é bom, aquilo que só você entrega, outra com o que você faz mais ou menos e a terceira com o que você é ruim. Isso é importante para você entender as suas potencialidades, o que você pode entregar para o mercado. É uma foto para avaliar se faz sentido. Por exemplo, às vezes, você não é tão bom em inglês, mas será que você precisa investir nisso? Muitas vezes, a gente investe tempo no que não somos bons sem precisar”, destaca a consultora de carreira Ana Minuto. Qual é a sua imagem nas redes sociaisCom a variedade de redes sociais, uma das formas mais práticas de começar a trabalhar a imagem pessoal é pela presença digital, que precisa estar alinhada com os pontos que você traçou na parte de autoconhecimento. “Antes, o primeiro contato entre empresa e empregador era na entrevista. Hoje, o primeiro contato é jogar o nome do candidato no Google e a presença digital dele vai impactar na minha decisão de seguir ou não com aquela pessoa. Quem não tem força digital acaba não tendo o valor da marca e a competência técnica percebidas”, explica Patrícia. Para isso, o primeiro passo é identificar quem é o seu público e em quais redes sociais ele está. Esse estudo prévio ajuda a não perder tempo gerando conteúdo para as redes que possam não ter muita serventia para o seu propósito de carreira. “O tom de se comunicar com o público vai ser o que mais te representa. Não adianta só querer transmitir uma ideia e não saber como. Depois de pensar em tudo o que você é e no que você quer, você precisa pensar em como apresentar esse conteúdo. Enxergar

Cybercriminosos vendem acessos digitais de empresas brasileiras por US$ 40 na Dark Web

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Acessos digitais a empresas brasileiras estão sendo vendidos na Dark Web, ambiente da internet no qual são praticados crimes, por valores que variam de US$ 4 a US$ 40, a cybercriminosos que aplicam golpes de sequestro de dados. O Mantis, plataforma de proteção de riscos digitais (DRP, na sigla em inglês), identificou 1,5 mil acessos remotos em sistemas brasileiros sendo oferecidos em ambientes obscuros da internet, sendo 541 das próprias empresas. O restante são acessos de funcionários de companhias brasileiras. Um ataque de sequestro de dados como esse impactou o maior oleoduto dos Estados Unidos, o Colonial Pipeline, paralisado no dia 8 de maio. A companhia teve de pagar US$ 4,4 milhões aos criminosos. Os valores variam conforme o perfil da máquina ou servidor infectado por vírus (ramsoware) que sequestram dados, pelos quais os cybercriminosos pedem um valor para o resgate. Brasil é campeão nos ataques digitaisO Brasil é o país mais atingido por ataques de violação em toda a América Latina, de acordo com a fabricante de softwares de segurança Kaspersky. Dos mais de 5 mil golpes desse tipo diários, 46,6% são registrados no Brasil. Por ano, os prejuízos às empresas ficam na casa dos US$ 700 mil e vão de perda de dados, a pagamento de resgate ou danos à imagem ou relações com os clientes. O ESTADO DE S. PAULO

Em busca de inovação, grandes empresas batem recorde de aquisições de startups

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A velocidade das transformações digitais, acelerada pela pandemia da covid-19, criou uma cultura de urgência dentro das empresas em busca de inovação. Para não ficar para trás e não perder espaço para a concorrência, muitas delas, como Magazine Luiza, Via, B2W e Alpargatas, têm ido às compras à procura de soluções para problemas do dia a dia. A preferência tem sido pelas startups, empresas novatas com mais agilidade no desenvolvimento de produtos e com mão de obra qualificada. Só no primeiro quadrimestre deste ano, o número de aquisições de startups cresceu 120% – um recorde para o segmento. Foram 77 negócios ante 35 em igual período do ano passado, segundo dados da plataforma de inovação Distrito. O movimento começou a se intensificar no terceiro trimestre do ano passado, quando aumentou a corrida pela digitalização para amenizar os efeitos da crise. Para se ter ideia do apetite das empresas, o número de aquisições entre janeiro e abril deste ano foi maior que o de 2019 inteiro. “A pandemia acelerou a transformação das empresas diante de uma mudança forte no comportamento dos consumidores. Elas entenderam que precisavam ter novos canais para atender a esse cliente”, afirma o cofundador da Distrito, Gustavo Gierun. Para ele, as aquisições de startups se mostraram o caminho mais rápido para encurtar o tempo da digitalização. “Todos os dias temos de decidir se vamos construir as soluções ou vamos procurar fora”, diz o vice-presidente de negócios do Magalu, Eduardo Galanternik. No primeiro quadrimestre, a estratégia foi buscar no mercado: a empresa comprou cinco startups e continua com forte apetite. “Procuramos negócios que vão resolver nossos problemas nas áreas de https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg, logística e pagamentos”, diz Galanternik, destacando que o objetivo é acompanhar os novos hábitos de clientes cada vez mais conectados. Outras varejistas acompanharam a estratégia do Magalu. Neste ano, a venda de startups com soluções voltadas para o setor ficou em primeiro lugar no ranking de fusões e aquisições, com 14% das operações, segundo a Distrito. Em 2020, as fintechs estavam na liderança, com 16%, e o varejo em quarto lugar, com 11%. Para Gierun, as empresas do setor entenderam que avanços na parte de serviços, operações, clientes e na cadeia logística serão essenciais para o crescimento. O vice-presidente de inovação digital da Via (ex-Via Varejo), Helisson Lemos, concorda. O grupo tem buscado startups que incrementem seus serviços, como a compra da empresa de logística Asap Log. Em menos de um ano, conseguiu elevar de 28% para 42% o número de entregas feitas em 24 horas e de 47% para 65%, em 48 horas. Em abril, a Via comprou a fintech Celer, que vai compor os trabalhos de outra aquisição: o banco digital BanQi, com dois milhões de clientes. “É inimaginável fazer isso em casa na mesma velocidade.” Para ele, a aquisição tem efeito imediato nos resultados. A velocidade das mudanças num mundo em forte disrupção reforça o movimento de compra de startups em vez de começar um projeto do zero. “Hoje em dia a https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg se torna obsoleta rapidamente. Enquanto uma empresa desenvolve uma solução, outras surgem e superam as demais”, afirma o sócio da consultoria PwC, Leonardo Dell’Oso, líder da área de fusões e aquisições. Além da urgência do digital, o cenário tem sido favorável às aquisições. Com a queda dos juros e abertura de capital na bolsa, há muito dinheiro em circulação que precisa ser alocado em algum lugar, diz o sócio-fundador da butique de fusões e aquisições Solstic Advisors, Flávio Batel. “Só nas últimas três semanas, recebemos cinco novos mandatos de negócios que envolvem busca de soluções para empresas tradicionais.” A maioria delas tem criado áreas e fundos dedicados à busca de oportunidades no mercado, como é o caso da Tivit, Porto Seguro e a B2W, que criou o IF – Inovação e Futuro. É essa área que fica à frente das aquisições de empresas do Universo Americanas (Americanas e B2W). De janeiro de 2020 para cá, a companhia já comprou oito startups para reforçar os serviços do grupo. A aquisição mais recente foi a Nexoos, uma plataforma que conecta tomadores de crédito com investidores. “A estratégia é entrar em negócios de novas frequências, novas verticais e que tenham times e conhecimentos para acelerar nosso trabalho”, diz o diretor do IF, Thiago Barreira. O ESTADO DE S. PAULO

Recuperações judiciais ficam de lado, enquanto IPOs multiplicam-se

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A enxurrada de pedidos de recuperação judicial esperada no início do ano não aconteceu. Ao contrário: no primeiro quadrimestre, foram 279 requerimentos, o menor total desde 2014 na mesma base de comparação. Em 2020, até abril, haviam sido 377 pedidos; em 2019, 371 e, em 2018, foram 518. No outro extremo, apesar dos 32 cancelamentos ou adiamentos de ofertas iniciais de ações (IPOs, na sigla em inglês) previstas para o período, esse tipo de operação se mantém forte em plena pandemia, com nova fila à espera da próxima temporada de captações. “É um paradoxo porque, num momento muito ruim, no qual o Brasil virou ‘covidário’ mundial, mesmo empresas muito frágeis, com plano de negócios até capenga e pouca chance de dar certo, conseguiram construir uma narrativa de crescimento. São dezenas de casos, às vezes de empresas à beira do pedido de recuperação judicial, que fizeram IPO”, diz Ricardo Knoepfelmacher, especialista em reestruturação de companhias, conhecido como Ricardo K. Sem abrir nomes, ele diz que algumas no rol de IPOs podem integrar, num futuro não muito distante, a fila de recuperações judiciais. De acordo com dados da Serasa Experian, compilados pelo escritório de advocacia Marcello Macêdo, desde o início oficial da pandemia, em março de 2020, até abril foram deferidas 1.012 recuperações judiciais, a maior parte delas nos setores de serviços (46%) e comércio (21%). O número não chega a ser assustador. Em 2019, quando o mundo nem cogitava conviver com a doença, os processos de recuperação judicial totalizavam 1.387. No ano de 2020, os registros caíram para 1.179. Uri Wainberg, sócio do Marcello Macedo Advogados, afirma que haverá um “boom concentrado” de pedidos de recuperação dentro de uns três meses. Até julho ou agosto, as empresas tentarão acumular caixa para planejar suas recuperações. Segundo ele, deverá haver pedidos muito relevantes, de empresas grandes. Custo dificulta acesso da recuperação judicial a empresas menores Já as pequenas dificilmente irão suportar muito tempo com baixo fluxo de caixa. De acordo com Ricardo K, recuperação judicial é um processo caro e inacessível a empresas menores. No mês passado, no Rio, por exemplo, a Viação Acari, uma empresa de ônibus urbanos que operava há 59 anos, foi direto à falência sem passar pelo processo de recuperação. A empresa já estava em dificuldades dois anos antes da pandemia. A crise deflagrada pela covid apenas agravou a situação. O ESTADO DE S. PAULO

Dívida das empresas abertas cresce 50% em 10 anos e chega a R$ 1,2 tri

Entre empresários, executivos e economistas, já virou lugar comum dizer que as empresas brasileiras têm vantagem competitiva no mercado global por atuar em meio a turbulências constantes e estar melhor preparadas para enfrentar as adversidades. Mas, mesmo acostumadas a navegar em mar revolto, elas tiveram de se desdobrar para se manter à superfície nos últimos anos, com a economia em marcha à ré, o dólar nas nuvens, o desemprego batendo recordes históricos e a renda da população em queda livre. Para completar, ainda tiveram de lidar com as incertezas e as mudanças trazidas pela pandemia. Muitas empresas, incluindo as de grande porte, precisaram recorrer aos bancos e ao mercado de capitais para reforçar o caixa e honrar os seus compromissos. O endividamento deu um salto. Ao contrário do que se poderia imaginar, porém, os números mostram que o aumento do endividamento não é um fenômeno de curto prazo, decorrente da pandemia, mas um movimento que vem se acentuando desde o início da década passada. Segundo um estudo feito para o Estadão pela Economatica, uma empresa de dados de mercado, a dívida bruta das companhias de capital aberto mais que dobrou em dez anos. De dezembro de 2011 a março de 2021, o total dos “papagaios” na praça passou de R$ 486 bilhões para R$ 1,213 trilhão – um aumento de 149,6%. Em termos reais (descontada a inflação acumulada, de 66,7%), o crescimentos chegou a quase 50%. Em relação ao patrimônio líquido, a dívida chegou a 115,4% em março – eram 75,9% em 2011. Mesmo levando em conta que parte do resultado está inflada pela alta do dólar, já que muitas empresas de capital aberto têm dívidas em moeda forte e elas são obrigadas a convertê-las em reais nos balanços pela cotação atualizada, o quadro não se altera de forma significativa. “Teve muito solavanco no meio do caminho”, afirma o economista Adriano Pitoli, ex-diretor de análise setorial e regional da Tendências Consultoria e ex-chefe do núcleo da Secretaria de Indústria e Comércio do Ministério da Economia em São Paulo. “Muitas empresas não tinham alternativa e tomaram crédito para sobreviver.” Falta de liquidezO levantamento incluiu 239 empresas não financeiras, de diferentes ramos de atividade, que divulgaram os balanços do 1.º trimestre de 2021 até 10 de maio. Como as dívidas da Petrobrás e da Vale – de R$ 404,3 bilhões e de R$ 78,7 bilhões, respectivamente, no fim de março – provocariam uma forte distorção, as duas companhias foram excluídas da amostra. Se fossem incluídas, a dívida bruta total alcançaria R$ 1,7 trilhão, 40% a mais. O cenário ganha contornos mais claros quando se observam também outros indicadores relacionados à situação financeira das empresas. Desde 2011, o caixa das companhias, ou seja, o dinheiro disponível para o pagamento de gastos correntes, teve uma redução de 44,1% – o equivalente a 13,6%, em termos reais. Com isso, a dívida líquida (dívida bruta menos caixa), cresceu 325% desde 2011 – 155,4% em termos reais. Só nos últimos 15 meses, do fim de 2019 a março de 2021, em meio à pandemia, a dívida líquida das empresas listadas em Bolsa chegou a 15,1% – 8,4% reais. “Dá para perceber uma intenção das empresas de fortalecer os seus balanços para enfrentar a crise. O pior de tudo seria morrer por falta de liquidez”, diz o economista Evandro Buccini, diretor de gestão de fundos de renda fixa e multimercado da Rio Bravo, empresa de investimentos da qual o economista Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central, foi um dos fundadores. Embora o aumento progressivo do endividamento das empresas nos últimos dez anos tenha a ver, em boa medida, com a busca de recursos para atravessar a pasmaceira e as incertezas da economia, isso não explica tudo, de acordo com os economistas ouvidos pelo Estadão. “No Brasil, a gente tem o cacoete de ver sempre dívida como algo negativo”, afirma Pitoli. “Mas não necessariamente o aumento do endividamento acende uma luz amarela.” Endividamento saudávelEm sua visão, houve uma transformação estrutural na economia na última década com a redução dos juros, principalmente depois de 2016, que também levou muitas empresas a aumentar o endividamento. Ele diz que a mudança se iniciou no fim dos anos 1990, com a liberação cambial, foi interrompida no governo Dilma, em especial no segundo mandato, retomada com o ex-presidente Michel Temer e se mantém até hoje, apesar da alta recente da taxa básica de juros (Selic). “Uma empresa toma crédito quando acredita que tem oportunidades de investimento que vão trazer um retorno maior do que o custo do endividamento”, diz. “Sob essa ótica, é natural e até saudável as empresas ficarem mais endividadas.” Ao destrinchar os dados da pesquisa, ele observou que os setores que tiveram os maiores aumentos de endividamento, como petróleo e gás, papel e celulose, software e dados, minerais não metálicos, agronegócio e assistência médica, vêm realizando investimentos vultosos e crescendo mais do que a média da economia. A exceção do grupo, segundo ele, é a área de educação, que enfrenta dificuldades, em razão da digitalização crescente e da disseminação do ensino a distância, e está tendo de repensar o seu modelo de negócio. “As empresas que mais tomaram recursos de terceiros, para não depender só de capital próprio, foram as que fizeram as maiores apostas em relação ao futuro.” Buccini, da Rio Bravo, vai na mesma linha. Para ele, o aumento do endividamento revela “uma intenção do empreendedor de se alavancar mais”. “Com a queda dos juros, muitos projetos que antes eram inviáveis se tornam mais viáveis”, afirma. “Como a gente fala, a queda dos juros aproxima o futuro do presente e é possível vislumbrar um pouco melhor o sucesso dos projetos de investimento que a empresa tem.” Por ora, esse alegado interesse das empresas pela realização de novos projetos e pela compra de novas máquinas e equipamentos ainda não se refletiu num aumento da taxa de investimento do País. No período da pesquisa, entre 2011 e 2020, o índice foi, em média, de 17,9% do PIB (Produto Interno Bruto),

Sete em cada dez pequenas indústrias paulistas preveem demissões

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Sete em cada dez pequenas indústrias paulistas preveem demitir funcionários nos próximos meses, segundo levantamento do Sindicato das Micro e Pequenas Indústrias do Estado de São Paulo (Simpi). Em abril, 20% das empresas relataram já terem dispensado trabalhadores no mês anterior, de acordo com o Indicador de Atividade da Micro e Pequena Indústria, encomendado pelo Simpi ao Datafolha. A pequena indústria vem demitindo mais do que contratando desde o início da crise sanitária, mostra o índice de contratações, que, numa escala de 0 a 200, recuou de 95 pontos em março para 90 pontos em abril. Resultados abaixo de 100 pontos significam redução no pessoal ocupado. “De um modo geral, são empresas com mais dificuldade de acesso a financiamentos e ao comércio internacional”, apontou Rafael Cagnin, economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). “Elas são mais dependentes de uma recuperação do mercado doméstico e são mais vulneráveis à evolução da pandemia, seja pelo lado das restrições (para conter a disseminação da covid) seja pelo lado do acesso às medidas de socorro.” O índice de satisfação das micro e pequenas indústrias do Estado de São Paulo desceu a 83 pontos em abril, na zona de pessimismo, o pior patamar dos últimos quatro anos. O fenômeno é resultado do aumento nos custos de produção e da queda nas vendas, em meio a um cenário de piora da pandemia e atraso na reedição de programas de ajuda do governo, como os de concessão de crédito e manutenção do emprego, justifica o Simpi. “Existe uma série de condições competitivas desfavoráveis neste momento”, justificou Joseph Couri, presidente do Simpi. “Em abril, 40% das empresas disseram que perderam fornecedores por recuperação judicial ou falência desde o início da pandemia, e 45% perderam clientes por recuperação judicial ou falência”, acrescentou. O engenheiro Vagner Luis Gianini, proprietário das empresas World Connections, que presta serviços de cabeamento, e World Project, de serviços de engenharia, relata que tem enfrentado dificuldades na compra de produtos de seus fornecedores de longa data, pequenas indústrias que enfrentam os desafios da desorganização do processo produtivo decorrente da pandemia. “Nós temos pequenas indústrias fornecedoras que faliram totalmente, como uma que fabricava caixas de piso elevados e acessórios metálicos, e outras que tiveram que cortar muito emprego, então quando a gente pede material a gente não consegue. Temos uma empresa fornecedora de dutos de ar-condicionado que perdeu um fornecedor, uma empresa que fabricava as chapas metálicas para que ela fizesse os dutos. Estamos com esse efeito bola de neve, que está piorando. Isso está atrapalhando demais o nosso trabalho de prestação de serviços”, relatou Gianini. No mês de abril, apenas um terço das empresas relatou estar funcionando normalmente, enquanto as demais tinham pelo menos parte das operações paradas. Uma em cada dez indústrias informou estar completamente paralisada. Entre os industriais entrevistados, 68% relataram que as vendas estavam abaixo do esperado. “Temos cada vez menos pessoas com recursos para comprar bens e serviços, que é a base do sistema que vivemos”, justificou Joseph Couri. O recrudescimento da pandemia neste início de 2021 atrapalhou os planos de crescimento da MMP, que fabrica materiais pedagógicos para o ensino de matemática. No ano passado, o fechamento de escolas em decorrência do coronavírus fez a pequena indústria diversificar seu público-alvo, que se expandiu de editoras e instituições de ensino para alcançar também o usuário final, que são os professores e alunos. “Embora eu não estivesse fechado, meus clientes fecharam”, contou Cezar Guimarães, diretor da MMP. “Tivemos que nos reinventar”, relatou. A estratégia de alcançar diretamente o público-alvo e a reorganização de todo o processo produtivo fez o faturamento da MMP recuar apenas 5% em 2020 em relação a 2019. A projeção para este ano, porém, era de expansão acelerada logo no início do ano letivo, abalado pelas novas medidas restritivas de combate à covid-19. “Estamos esperando uma alta de 30% nas vendas ao fim de 2021 em relação ao que foi em 2020, mas a nossa previsão no início do ano era dobrar o faturamento”, disse Guimarães. O estado de São Paulo concentra 42% das micro e pequenas indústrias do País, segundo o Simpi. Rafael Cagnin, do Iedi, lembra que as pequenas empresas industriais também têm mais dificuldade de elevar a produtividade, o que deveria ser objeto de políticas públicas, para assegurar a manutenção de empregos e do bom funcionamento da cadeia produtiva. “Me parece ser muito mais eficaz do que deixar essas empresas falirem”, defendeu o economista do Iedi. O ESTADO DE S. PAULO

Pandemia reduz chances de rescisão indireta por salários atrasados

Ficou mais difícil para o trabalhador, em meio à pandemia, obter a chamada rescisão indireta na Justiça. Tribunais têm levado em consideração as provas de dificuldades financeiras das empresas e negado os pedidos. Para os desembargadores, o contexto atual reforça que pequenos atrasos e até mesmo a demora no recolhimento do FGTS não podem ser enquadrados como faltas graves do empregador. Na rescisão indireta, obtida somente pela Justiça, o trabalhador garante o direito de receber verbas rescisórias, como se tivesse sido demitido – inclusive a indenização de 40% sobre o FGTS. Para ser concedida, porém, o pedido deve se encaixar em algumas das condições listadas no artigo 483 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Entre elas, está o não cumprimento pelo empregador das obrigações do contrato – como pagar o salário. Muitos trabalhadores acabam recorrendo à medida. No ano passado, aproximadamente 116 mil processos abordavam o tema “rescisão indireta”. Este ano, já são 41,3 mil, segundo a Data Lawyer Insights, plataforma de jurimetria. Um dos casos analisados recentemente pelo Tribunal Regional do Trabalho (TRT) de São Paulo (2ª Região) envolve um hospital, que atrasou por poucos dias o pagamento dos salários dos meses de junho, agosto e setembro de 2020. Meses, que segundo ressaltou a relatora, desembargadora Fernanda Oliva Cobra Valdívia, “o país enfrentou sua maior crise econômica em razão dos impactos da pandemia pelo covid-19.” Para a desembargadora “da mesma forma que se exige gravidade para se caracterizar a falta grave do empregado, também se exige o mesmo requisito para configurar a falta grave do empregador”. O que, acrescentou, não seria o caso do processo. De acordo com a relatora, para o reconhecimento da rescisão indireta, o atraso salarial deve ser reiterado e contumaz, de modo que inviabilize o prosseguimento do contrato de emprego. No caso, destacou, a funcionária foi admitida em maio de 2019 e até então não havia relato de atraso no pagamento de salário, o que ocorreu só em julho de 2020. “A mora salarial de alguns dias em apenas três meses não pode ser considerada falta gravíssima do empregador, diante da crise que se iniciou no país em meados de 2020”, diz a desembargadora ao votar (processo nº 1001316-79.2020.5.02.0606). No pedido, a trabalhadora também trata do atraso no recolhimento dos depósitos do FGTS. A relatora entendeu, porém, que isso não seria obstáculo à continuidade do vínculo empregatício, diante do curto período do contrato de trabalho. Ao não reconhecer a rescisão indireta, determinou que a rescisão se deu por iniciativa da empregada. Ela foi seguida pelos demais desembargadores. Os advogados Luis Henrique Borrozzino e Amanda Valentim, do Miglioli e Bianchi Advogados, que assessoram o hospital, consideram a decisão “uma grata surpresa”. Em geral, acrescentam, a corrente majoritária da Justiça do Trabalho concede a rescisão indireta se há atrasos no pagamento de salários. “Mas conseguimos comprovar que o hospital e maternidade teve uma queda de atendimentos e de receita durante o período da pandemia, o que gerou os atrasos”, diz Borrozzino. Para ele, a Justiça do Trabalho está mais sensível às dificuldades financeiras enfrentadas pelas empresas. “Até porque se a empresa quebra, não há mais empregos.” A argumentação de que há uma crise financeira nas empresas, contudo, não é uma carta branca para que descumpram o contrato de trabalho, segundo o advogado. “Tenho falado para os clientes que eles devem tomar cuidado porque isso não pode servir de desculpa para o empregador demitir, reduzir salários, sem que a empresa não esteja realmente com sua saúde financeira em risco”, afirma. Procurada pelo Valor, a advogada que representa a funcionária no processo não foi localizada. Segundo a advogada Mariana Barreiros Bicudo, do Franco Advogados, a decisão foi ponderada e surpreendente. “Considerando a situação atual, da crise financeira gerada com a pandemia não posso punir a empresa, que atrasou os pagamentos por um dia, mas ainda assim se esforçou para honrar seus compromissos”, diz. Para ela, a funcionária devia ter pensado mais antes de entrar com a rescisão, já que foram pequenos atrasos e, com a crise, está difícil de se recolocar no mercado. A 1ª Turma do TRT de Manaus (11ª Região) também negou o pedido de rescisão indireta em processo movido por um instrumentador cirúrgico contra um outro hospital. A desembargadora Rita Albuquerque, ao analisar o caso, afirmou que o hospital foi notoriamente afetado com a suspensão das cirurgias eletivas, conforme comprovado. Para ela, portanto, os atrasos salariais e a ausência de recolhimento do FGTS, “neste contexto, não podem ser interpretados simplesmente como má-fé do empregador” (processo nº 0000572-09.2020.5.11.0006). A Justiça do Trabalho, em geral, tem sido rígida para aplicar a rescisão indireta, assim como é na confirmação da demissão por justa causa contra empregados, de acordo com a advogada especialista em direito do trabalho Juliana Bracks, de escritório que leva seu nome. “Mesmo que não houvesse a pandemia, a Justiça não poderia dar rescisão indireta por pequenos atrasos. O mesmo deve ocorrer com algumas poucas faltas ao trabalho injustificadas cometidas por empregados, de não dar justa causa”. No momento de pandemia, segundo a advogada, com a crise que a empresa pode estar enfrentando e tem como comprovar, a rescisão indireta seria uma medida muito forte. VALOR ECONÔMICO

Limites do trabalho remoto (Editorial)

A rapidez com que muitas empresas, em acordo com seus empregados, conseguiram instituir regimes de trabalho diferenciados para reduzir os contatos pessoais e, assim, reduzir também os riscos de contágio pela covid-19, sem perda perceptível no resultado final, mostrou que o trabalho remoto pode ser uma boa solução para muitas atividades. O crescimento do home office durante a pandemia foi uma das transformações mais notáveis no mercado de trabalho em todo o mundo. Sua adoção permitiu a continuidade de uma grande variedade de serviços mesmo nos momentos mais graves da pandemia. É enganoso, porém, imaginar que seu alcance sobre as diferentes atividades humanas remuneradas continuará a crescer como se observou até agora. A grande maioria das profissões só pode ser exercida de maneira presencial. O título de reportagem publicada pelo Estado (21/3) é esclarecedor: Trabalho remoto não passa nem perto da maioria. Um imenso grupo de trabalhadores não tem como trabalhar em casa. No fim de 2019, alguns meses antes do início da crise da covid-19, esse grupo que não pode trabalhar em regime de home office somava 79,7 milhões de pessoas, ou 86% do total de empregados no País. Na ocasião, considerava-se que 12,9 milhões de trabalhadores (os 14% restantes) podiam desempenhar suas tarefas a distância, de acordo com estudo da IDados ao qual a reportagem teve acesso. Durante o ano passado, pesquisadores do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) acompanharam a evolução do trabalho remoto, com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Covid-19 que o IBGE realizou até dezembro. No dado mais recente, de novembro, o Ipea constatou que o contingente de trabalhadores atuando de forma remota somava 7,3% milhões de pessoas, o que correspondia a 9,1% das pessoas ocupadas e não afastadas. No mês anterior, correspondia a 9,6% do total. A diferença se deve a conceitos e metodologias utilizadas em um e em outro estudo, mas ambos mostram que, mesmo quando o home office alcançou seu porcentual mais alto durante a pandemia, mal alcançou 10% do total de pessoas ocupadas. De fato, não chega perto da maioria dos trabalhadores, como diz a reportagem. O estudo do Ipea mostra, além do limite de abrangência, o caráter diferenciado do trabalho remoto sob várias perspectivas. Quanto à renda, por exemplo, é notório que quem trabalha em regime de home office ganha em média mais do que os demais trabalhadores. Embora não constituíssem 10% do total de pessoas ocupadas em novembro do ano passado, os que trabalhavam em home office haviam recebido 17,4% da massa total de rendimentos efetivamente gerados naquele mês. Outra característica do trabalho remoto é seu alto índice de formalização. Dos que trabalhavam em home office em novembro, 84,8% tinham registro em carteira, enquanto em todo o mercado de trabalho a informalidade alcança cerca de metade do trabalhadores. A distribuição geográfica é outro diferencial do trabalho remoto em relação às demais ocupações. Os trabalhadores em home office concentram-se no Distrito Federal, em São Paulo e no Rio de Janeiro. O perfil traçado pelo Ipea da pessoa em teletrabalho é predominantemente de pessoa ocupada no setor formal, com escolaridade de nível superior completo, do sexo feminino, de cor branca e idade entre 30 e 39 anos. É um perfil muito diferente da média do trabalhador brasileiro que forma quase 90% do mercado. Este ganha menos, tem menor escolaridade, tende a estar no mercado informal, seu porcentual é maior em regiões menos desenvolvidas e está mais sujeito aos riscos de contágio por causa dos deslocamentos para o trabalho presencial. Suas oportunidades de ocupação são mais escassas e seus riscos de demissão, maiores. Com o fim do auxílio emergencial, sua renda média certamente caiu. É essa imensa maioria do mercado de trabalho que precisa da atenção preferencial das autoridades. O ESTADO DE S. PAULO