FHC, Doria, Maia, Ciro Gomes, Flávio Dino e Boulos são convidados por centrais sindicais para 1º de Maio
Tendo em mente o fortalecimento de uma frente democrática de oposição a Jair Bolsonaro, as centrais sindicais convidaram políticos de centro para o ato virtual unificado do 1º de Maio. Foram chamados FHC (PSDB), que já enviou seu vídeo, João Doria (PSDB), que ainda não decidiu se participará, e Rodrigo Maia (DEM), que também já fez e entregou uma gravação. Da esquerda, Ciro Gomes (PDT) e Flávio Dino (PCdoB) vão participar. Os petistas Lula e Dilma costumam marcar presença. Em 2020, Guilherme Boulos (PSOL) desistiu de participar por não concordar com o convite a Maia, que comandava a reforma da Previdência. Ele ainda aguarda para tomar sua decisão em 2021. FOLHA DE S. PAULO
Arthur Lira quer apoiar ou enterrar o relatório da reforma tributária?
Novo fiador das reformas para o mercado financeiro e setor empresarial, o presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), não assinou a prorrogação dos trabalhos da comissão mista de reforma tributária. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, acabou assinando sozinho o ato que estendeu por mais um mês o funcionamento da comissão, criada no ano passado para dar uma solução ao impasse em torno das duas propostas de emenda constitucional de reforma tributária que tramitam no Congresso: a PEC 45, na Câmara, e a PEC 110, no Senado. A recusa de Lira é tratada muito reservadamente nos corredores (virtuais e presenciais) do Congresso, mas o episódio retrata bem as relações estremecidas entre a Câmara e o Senado após a votação fatídica do Orçamento no dia 25 de março (que, aliás, continua até hoje sem solução com a indecisão do presidente Bolsonaro). Lira não aceitou que o Senado tenha ficado com mais emendas do que os deputados, em valores acima do acordo político fechado entre as duas Casas e o governo. O presidente da Câmara se queixou de não ter sido consultado por Pacheco sobre a prorrogação até o dia 30 deste mês. Lira está pressionando o relator, deputado Aguinaldo Ribeiro (Progressistas-PB), para apresentar o seu parecer. Aguinaldo, que originalmente é o relator da PEC 45 (patrocinada pelo ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia), queria que a Câmara fizesse uma nova rodada de conversas com empresários para apresentar o texto. Mas Lira não gostou da ideia e reclamou, com ironia, que se fosse fazer isso ele só apresentaria o relatório daqui a alguns anos. A comissão foi criada, em fevereiro, em ato conjunto da Câmara e Senado, que recebeu as assinaturas dos então presidentes Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Davi Alcolumbre (DEM-AP). O colegiado foi formado por 25 deputados e 25 senadores e fez várias reuniões, sob a presidência do senador Roberto Rocha (PSDB-MA). Sem rumo claro e com a proximidade do fim do prazo, as especulações se voltaram agora em desvendar a real estratégia de Lira em relação à reforma, que foi prometida por ele e Pacheco ao mercado e empresários em comunicado em fevereiro. O presidente da Câmara quer apoiar ou enterrar o relatório da comissão? No início do seu mandato como presidente, Lira chegou a buscar nomes para trocar o relator. A desconfiança é de que a pressão para a apresentação do relatório seja uma armadilha para o parecer ficar exposto a bombardeios e críticas fortes de quem não quer essa reforma ou quem não acha o momento atual o ideal. Essa preocupação tem sua razão de ser porque há empresários, apoiadores do governo Bolsonaro, que preferem que a reforma dessas PECs não seja aprovada. Por enquanto, esse lado está ganhando a parada porque, depois de um ano da instalação da comissão mista, o avanço foi quase nenhum. Além dos entraves políticos, a razão para isso ter acontecido é o temor com o fim de incentivos tributários dos setores beneficiados e o aumento da carga tributária. Entre os empresários e tributaristas que apoiam o texto, a esperança de um acordo para a aprovação da reforma tributária, ainda no governo Bolsonaro, está minguando. Mas não morreu de vez. Enquanto Lira ainda não deu sinas claros do encaminhamento que pretende dar à reforma tributária, no Senado as conversas de bastidores se intensificaram com lideranças em meio às discussões de um novo Refis. Pacheco quer a reforma e conseguiu a aprovação esta semana de um programa para atualização patrimonial voluntária de imóveis e bens móveis com alíquota de 3%, medida com grande interesse dos empresários. O grupo que quer a reforma logo articulou um movimento de empresários, governadores e prefeitos para “ressuscitá-la”. Uma carta conjunta foi assinada em defesa de uma reforma ampla. Eles estão buscando apoio de mais instituições. A tentativa é manter o debate aceso aguardando a definição política que continua sem rumo. Em encontro com representantes do mercado, o presidente da Câmara prometeu mais uma vez acelerar a agenda das reformas. Como mais novo fiador delas, papel que está ocupando no lugar da equipe econômica de Bolsonaro, será cobrado logo mais. O ESTADO DE S. PAULO
Acordo tributário global mira empresas de fachada
Um acordo tributário global, que pode ser anunciado em julho, não significará que os paraísos fiscais e suas empresas de fachadas sairão imediatamente do negócio de evasão fiscal e outras práticas que causam centenas de bilhões de dólares de prejuízos para os governos. Mas o acordo mudará o jogo no combate ao abuso e fraude fiscal, dizem negociadores. A pressão cresce também contra os facilitadores dessas operações. Companhias de fachada – conhecidas também por “shell company”, “mailbox” ou “letterbox company” – são firmas fictícias, frequentemente usadas para ocultar dinheiro do fisco. Não têm operações concretas, e procuram isolar o real beneficiário contra taxação, transparência, ou ambos. A magnitude dos recursos que passam por paraísos fiscais e firmas fantasmas é dada em relatório recente do painel de alto nível das Nações Unidas, conhecido pela sigla FACTI: governos perdem entre US$ 500 bilhões e US$ 650 bilhões por ano com a otimização agressiva de multinacionais de transferir lucros para paraísos fiscais. Além disso, ao menos US$ 7 trilhões de fortuna privada, equivalente a 8,3% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial em 2020, são ocultados em contas offshore (fora do país do cliente). Subornos de todo tipo representam de US$ 1,5 trilhão a US$ 2 trilhões, e boa parte toma o rumo do sigilo bancário. Um tipo específico de estrutura de firma de fachada é a “international business corporation”, ou IBC. Cerca de 40% dos lucros de multinacionais são transferidos para paraísos fiscais globalmente, segundo estimativas do professor Gabriel Zucman, da Universidade de Berkeley, nos EUA. Isso tanto na forma de pagamento de royalties de propriedade intelectual quanto na de empréstimos entre subsidiárias para a companhia em paraíso fiscal ou operações que baixam artificialmente lucros onde realmente operam. O G-20, que reúne as maiores economias do mundo, quer anunciar em seu encontro de ministros das Finanças, em julho, ao menos um “acordo político” sobre novas regras tributárias globais para enquadrar multinacionais. A negociação envolve 135 países. Um dos pontos principais do acordo será a criação de uma taxa mínima global para as multinacionais. Se a taxa mínima for de 21% e a empresa paga apenas 1% num paraíso fiscal, vai ser cobrada depois pelos outros 20% no seu país de origem, pelo esboço atual do acordo em negociação. “Um imposto mínimo ambicioso acabaria com o valor das empresas de fachada para a transferência de lucros e as empurraria ainda mais para a marginalidade, como lavagem dos lucros do crime, evasão fiscal por indivíduos e uma série de outras práticas corruptas”, afirma Alex Cobham, diretor da Tax Justice Network, ONG voltada para questões tributárias. Se o acordo global tem como foco as empresas, a pressão sobre pessoas físicas continuará subindo através do Fórum Global sobre Troca de Informações para Fins Fiscais, com participação de mais de 160 países, na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Economico (OCDE). Um trabalho está sendo feito para que seja conhecido o real proprietário (“beneficial ownership”) que hoje é dissimulado numa prática que facilita transações ilícitas como evasão fiscal. Para Cobham, é urgente a criação de um registro público dos proprietários reais dessas firmas de fachada. Isso depende, em grande parte, de países aprovarem individualmente leis necessárias para a criação de um sistema eficaz de controle, capaz de rastrear e identificar o proprietário efetivo, concorda Lakshmi Kumar, diretor da Global Financial Integrity, ONG em Washington que procura identificar fluxos financeiros ilícitos. Lumar dá o exemplo dos EUA, com uma reforma única em uma geração. Os EUA aprovaram no começo do ano o “Corporate Transparency Act”, que vai requerir que muitas companhias registrem seus verdadeiros proprietários, para desencorajar o uso de firmas de fachada para ações ilícitas. A informação será mantida em sigilo pelo Departamento do Tesouro. Os 27 países da União Europeia e o Reino Unido já exigem a divulgação dos verdadeiros proprietários de empresas. A questão será fazer os paraísos fiscais aceitarem a mesma regra. Em relatório publicado em fevereiro, a OCDE abre outra frente de luta. A organização aconselha os governos a melhor detectar e desmontar as atividades de profissionais que facilitam a evasão e outros crimes financeiros. Nota que a maioria dos profissionais respeita a lei, ajudando empresas e particulares a compreender as regras fiscais. Mas que um pequeno grupo de advogados, contadores, estabelecimentos financeiros e outros “facilitadores” têm um papel essencial na ajuda a contribuintes para fraudar o Estado. Suas montagens financeiras opacas protegem os sonegadores. Operações dessa natureza tomaram dimensão política nacional e internacional importante, com escândalos como “Panama Papers” ou “Paradise Papers”. “Embora os profissionais facilitadores (dessas práticas) sejam apenas um elemento na questão de crime fiscal, são um componente importante’’, diz a OCDE. A organização recomenda estratégias nacionais, incluindo legislação efetiva para puni-los. VALOR ECONÔMICO
Câmbio ‘justo’ deveria estar na faixa de R$ 4,60, diz especialista
Não tem nem 10 dias que o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que a taxa de câmbio de equilíbrio no Brasil deveria estar em torno de R$ 4,50. A fala foi feita na esteira da pressão política sobre o governo para aumentar a vacinação. Guedes disse que o dólar vai cair, nos próximos três ou quatro meses, com a aceleração da vacinação em massa e retomada da economia. Um ano antes, logo após confirmação do novo coronavírus no Brasil, uma outra declaração do ministro ficou marcada: Guedes disse que a cotação do dólar poderia ir a R$ 5 caso fosse feita “muita besteira”. O Estadão ouviu o economista do Instituto Brasileiro de Economia (IBRE) da Fundação Getúlio Vargas, Livio Ribeiro, especialista em fazer uma série de exercícios de modelos econômicos para entender o comportamento do real frente ao dólar. Num desses modelos, que leva em conta uma avaliação dos fundamentos de longo prazo, o cambio “justo” para o final do ano passado era de R$ 4,60, bem próximo ao citado pelo ministro. Para Ribeiro, a taxa de câmbio no Brasil está desalinhada também por razões que ele classifica de “idiossincráticas”. Ou seja, características ao Brasil que vão além do risco fiscal e os problemas recentes com o Orçamento de 2021. “Podemos elencar um rosário delas, que são questões que sugerem o mau humor com o País”, diz. Na lista, o economista aponta desde a gestão da pandemia, a questão ambiental e até mesmo o recente intervencionismo do presidente nas empresas estatais de capital misto, como a Petrobrás e o Banco do Brasil. “As pessoas reduzem o debate ao fiscal mais tem que abrir um pouco o horizonte e entender: fiscal é um problemão, mas nossos problemas não se encerram na questão fiscal. Ele tem peso e não colocaria todos os ovos nessa cesta”, diz Ribeiro. Esse desalinhamento da cotação do real frente ao real também pode ser observado em comparação do real a outras 14 moedas de países emergentes, África do Sul, Turquia, Hungria, Polônia, Chile, México e Argentina. “O Brasil está muito mais perto da classe de países emergentes. Está sempre na pior turma”, afirmou. Um recente relatório do BTG chamou atenção por causa das suas projeções de câmbio. O banco elevou a cotação do câmbio de R$ 5,00 para R$5,60 em 2022 por causa da deterioração substancial do cenário doméstico. Já a taxa de câmbio no fim de 2021 subiu de R$5,20 para R$5,40. “Enquanto a pandemia não for controlada e a incerteza permanecer elevada, é possível que a taxa de câmbio alcance patamares ainda mais depreciados antes de iniciar trajetória de apreciação sugerida pelos fundamentos”, previu o BTG. O ponto que mais chamou atenção, no entanto, foi cenário pessimista, que mostra que um custo custo fiscal adicional entre R$200 bilhões e R$ 300 bilhões com a pandemia, a taxa de câmbio depreciada para R$6,40 no fim de 2021. O BTG diz que esse é um cenário menos provável. O economista-chefe da BlueLine Asset, Fábio Akira, diz que a maior estabilidade dos juros nos Estados Unidos medidos pelos papéis do Tesouro norte-americano pode fazer com os investidores voltem a buscar oportunidade de ganho em países onde a moeda pode apreciar em relação ao dólar. “Nesse contexto, como o real apanhou bastante recentemente por motivos externos e locais, pode acabar se beneficiando um pouco porque está barato”, avaliou. A taxa Selic mais alta no Brasil pode dar um conforto maior. Para Akira, o problema é que essa estabilidade dos títulos americanos, calcada no discurso do FED que vai ser mais paciente com a inflação doméstica no Estados Unidos, pode mudar com uma “simples virgula”. O ESTADO DE S. PAULO
‘Sobra’ de recursos do Bolsa Família pode resolver impasse do Orçamento
A fim de evitar indisposição com o Congresso, o governo mira em cortar despesas próprias para resolver o impasse do Orçamento de 2021. O uso da “sobra” de recursos do Bolsa Família é uma das alternativas, além de tesourada em despesas não obrigatórias. O ajuste é necessário porque o Orçamento foi aprovado com despesas subestimadas para permitir aumento de emendas parlamentares. O presidente Jair Bolsonaro tem até o dia 22 para sancionar a lei. A economia com a transferência temporária de beneficiários do Bolsa Família para o auxílio emergencial deve render economia entre R$ 7 bilhões e R$ 8 bilhões. Como o auxílio será pago por quatro meses também para os beneficiários do Bolsa Família, a expectativa agora é que essa economia possa dar um alívio no Orçamento deste ano. Essa alternativa esbarra, porém, em entraves legais. Pelo acórdão do Tribunal de Contas da União (TCU), o governo não pode redistribuir esses recursos, a não ser que sirvam para financiar despesas relacionadas à crise – como um aumento imprevisto nos gastos do seguro-desemprego. Segundo apurou o Estadão/Broadcast, o uso dos recursos ainda não está 100% decidido, mas, se for utilizado, terá de “seguir a linha do TCU”, disse uma fonte. No Orçamento, uma das despesas maquiadas é o seguro-desemprego. O ministro da Cidadania, João Roma, não gosta da ideia e quer utilizar os recursos para o próprio programa no segundo semestre. Em entrevista ao Estadão/Broadcast, ele prometeu a reformulação do programa para agosto, com o aumento do valor médio e “prêmios” para desempenho acadêmico e esportivo. Mas a alternativa de usar os recursos do Bolsa Família já chegou ao mercado financeiro, onde se fala num valor de até R$ 15 bilhões, o que não é considerado factível pelo Ministério da Cidadania. No ano passado, o TCU gritou quando tentaram usar essa sobra, mas agora analistas do mercado avaliam que o TCU pode não repetir a ação. No Ministério da Economia, há preocupação com a posição do TCU e o risco de a medida bater de frente com a decisão do órgão, mas não está descartada uma negociação para flexibilizar o uso da “sobra”. Fim de prazoA uma semana do prazo para a sanção do Orçamento de 2021, a briga continua e se concentra na escolha entre vetar emendas parlamentares ou cancelar despesas discricionárias (que não tem pagamento obrigatório) do Executivo para readequar os gastos sem contratar uma crise política com o Congresso. Segundo um integrante da equipe econômica, o que está em estudo é a possibilidade de cancelar despesas de custeio ou investimento sob responsabilidade do Executivo para amenizar a tesourada sobre as emendas de relator (que, no jargão orçamentário, têm outro tipo de classificação). A cúpula do Congresso tentou nos últimos dias, com base em pareceres de consultores legislativos, convencer Bolsonaro de que não há risco de sancionar integralmente o Orçamento. A equipe econômica, por sua vez, vai na direção contrária e vê necessidade de veto para evitar que o texto seja avalizado com despesas maquiadas. A própria consultoria da Câmara reconheceu que a insuficiência é de R$ 21,3 bilhões. Por trás do movimento da cúpula do Congresso, está o desejo de garantir a obrigação do governo em executar essas emendas, que são impositivas. Se o Legislativo concorda com o envio posterior de um projeto de lei para recompor as emendas vetadas, essas novas despesas aprovadas não serão impositivas e podem sofrer mudanças ou remanejamentos – o que os parlamentares querem evitar. Dentro da área econômica, porém, a estratégia de mirar nas discricionárias é vista com reserva. O valor já está muito baixo, e a própria Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) estabelece como prioritários os gastos obrigatórios e as despesas necessárias ao “funcionamento dos órgãos e das entidades que integram os Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social”. O ESTADO DE S. PAULO
‘Orçamento está falido e não deveria ser sancionado’, diz Rodrigo Maia
Presidente da Câmara até fevereiro deste ano, o deputado Rodrigo Maia diz que o Orçamento está “falido” e “capturado pelos projetos paroquiais”. A prova é que o volume de emendas parlamentares – gastos incluídos por deputados e senadores no Orçamento para obras em seus redutos eleitorais – é maior do que os recursos destinados aos projetos do governo. Maia diz que não é normal pressionar para sancionar um Orçamento que é ilegal. “Tenho convicção que o presidente não deve e não pode sancionar”, afirma o ex-presidente da Câmara. Como já mostrou o Estadão, o risco de o presidente sancionar o texto consiste em cometer crime de responsabilidade, que poderia desembocar em um processo de impeachment. Leia a seguir os principais trechos da entrevista de Maia: Como Congresso e governo chegaram a esse impasse orçamentário? A situação do Orçamento está gerando esse conflito e daqui para frente vai gerar outros. Tanto governo e Congresso tem responsabilidade por esse Orçamento em que as emendas parlamentares são maiores do que os gastos discricionários (despesas que não são obrigatórias e incluem investimentos) de projetos do governo. É a prova que esse Orçamento está falido, capturado pelos projetos paroquiais de um lado, e pelos subsídios tributários de setores beneficiados no Brasil de outro. Quais os erros? Está provado que a PEC (emergencial) foi irrelevante. Não tem um novo marco fiscal, como o ministro Paulo Guedes disse. Do outro lado, temos um Congresso propondo que o presidente sancione algo que ele próprio está dizendo ‘sanciona e depois corrige’. A casa das leis não pode aprovar algo que está indo contra a Constituição e as leis de controle do Brasil. Não podemos achar que é normal pressionar para sancionar algo que todo mundo sabe que vai precisar ser corrigido. Há erros por parte do governo de ter feito um acordo sobre um recurso que não existe. Qual a consequência? Acaba tento um debate em que daqui a pouco vão construir várias casinhas fora do teto de gastos (regra constitucional que impede que as despesas cresçam em ritmo superior à inflação). Com casinhas ao lado onde tem o teto principal, as paredes vão quebrar, os alicerces vão quebrar, vai arrebentar tudo porque a gente não vê por parte desse governo uma organização para aprovar o que precisa ser aprovado. O Congresso propõe sancionar algo que é ilegal. É um erro para o presidente sancionar sem veto? É um erro para o Brasil. Não há outra decisão para o governo que não seja vetar o Orçamento e corrigi-lo rapidamente. A sanção de um projeto que está com problemas, a partir daí, sem dúvida nenhuma, o presidente da República passa a ser refém do Congresso. A relação dos Poderes não pode ser assim. Tem de ser de independência, mas harmônica. O governo ficará refém porque o presidente poderá sofrer um impeachment? Não sei se impeachment ou inelegibilidade. A casa das leis tem responsabilidade com o que aprova. Até porque como é uma sanção conjunta do Orçamento, o tempo para digerir o que foi aprovado numa casa para a outra não existe. Foi o que eu tentei fazer, inclusive, com os partidos independentes de oposição. Era atrasar o Orçamento uma semana para mostrar onde estavam os problemas. Infelizmente, como é uma sessão conjunta, não dá tempo para compreender que o relator (senador Márcio Bittar), que foi sempre muito intencionado com a necessidade de cortes de despesas, viu o relatório minguar e virar nada. Para conseguir aprová-lo, acabou tendo de reduzir despesas que não são possíveis, não há como contingenciá-las. E abriu espaço para ter um Orçamento onde a política paroquial tem mais do que os projetos do governo federal. Está tudo errado? Isso está errado. O sistema está distorcido, esgotado, falido. Precisa ter a compreensão que o custo que vamos pagar por sancionar um Orçamento irregular é o custo de ter o câmbio mais desvalorizado (o dólar mais caro do que o real), inflação num patamar de 10% por mais tempo e ter uma taxa de juros maior para o Brasil financiar sua dívida. Toda essa conta quem paga é o cidadão. Mas o avanço das emendas do relator começou no Orçamento de 2020 quando o sr. era presidente da Câmara. Começou ali e explodiu este ano, não foi? Emenda de relator sempre existiu. Só que era dentro do Orçamento. Quando virou impositiva (que precisa ser paga), se tirou a emenda de dentro do Orçamento para dar transparência. Os valores são muito parecidos, mas eram dentro do teto e depois não foram executados. O governo de fato não executou, mas o que nós aprovamos era dentro do teto. Essa é a diferença? Teve um imbróglio político grande no ano passado. O que teve é que o relator incluiu um valor além do que foi acordado e que foi devolvido num PLN (projeto de lei do Congresso). Ele mudou rubricas RP2 (governo) para RP9 (emendas do relator) e devolveu para RP2. O que se colocou para o Parlamento, num Orçamento que tinha espaço, foi o valor negociado com o governo. Só que depois o governo não cumpriu e o próprio Centrão, quando aderiu ao governo, abriu mão da execução daqueles emendas. O ministro Paulo Guedes pode cair por causa do impasse do Orçamento? A impressão que me dá, olhando de longe, é que Paulo Guedes errou na negociação do Orçamento e o Parlamento errou em aprovar nas condições que aprovou. A melhor coisa para todos é que esse jogo seja zerado. O governo deveria vetar, chamar o Orçamento, rediscutir e ver ao longo dos meses como vai ser a execução desses gastos. Tem uma corrente da assessoria técnica que acha que as despesas previdenciárias estão superestimadas e outra acha que não. Isso só vai ter condição de saber mais à frente. A coalização que comanda hoje o Congresso é preocupada com questões orçamentárias? Minha avaliação é que é. Tanto Rodrigo (Pacheco, presidente do Senado) quanto o Arthur (Lira, presidente da Câmara) têm compromisso com essa pauta. Só que eles estão olhando
CEOs e líderes lutam contra ansiedade e depressão na pandemia
Se 41% dos brasileiros já relatavam sintomas como ansiedade, insônia ou depressão por consequência da pandemia da covid-19 em março de 2020, hoje mais da metade da população (53%) afirma que seu bem-estar mental piorou no último ano. De acordo com uma pesquisa do Instituto Ipsos encomendada pelo Fórum Econômico Mundial para medir a piora no quadro de saúde mental em 30 países, o Brasil ocupa o quarto lugar do ranking, superado apenas por Itália (54%), Hungria (56%), Chile (56%) e Turquia (61%). A corrida das empresas foi imediata para oferecer apoio e ferramentas que ajudem os colaboradores a manter a cabeça em dia. As lideranças também tiveram que abraçar a causa e se aproximar ainda mais do time – afinal, as pessoas precisam sentir (e ver) que estão todas no mesmo barco. E daí a revelação: estão todas no mesmo barco – e no mesmo divã. Os CEOs e profissionais que ocupam cargos estratégicos de liderança, muitas vezes vistos como inabaláveis, também sofrem com angústia, ansiedade, depressão, perdas e incertezas. A diferença é que, enquanto isso, precisam tomar decisões que podem afetar toda uma rede de pessoas e negócios, além do próprio cargo. Segundo Ronaldo Ramos, ex-country head da Rio Tinto Brasil e fundador do CEOlab (hub de mentores que acompanha profissionais de companhias como Gerdau, Usiminas e Natura), os C-levels tiveram que esquecer a ideia de fazer gestão de crise para fazer gestão “na crise”. “É uma contínua adaptabilidade e reformulação de processos”, diz. “Agora a gente lida com um tipo diferente de crise, em que você não sabe de onde vem a bomba, então o medo é muito presente”, ele enfatiza. Ramos explica que o CEO se sente isolado pela responsabilidade de tomar as decisões. “O risco do erro é maior”, ele afirma, fazendo um paralelo com o jogador de futebol. “Se faz gol, a torcida aplaude, mas se não faz, é vaiado.” Apesar de hoje existir uma cultura organizacional que permite o erro, o especialista diz que há limites. “Precisa aprender a errar rápido e pequeno porque as decisões precisam ser tomadas e não dá para pestanejar”, alerta. “É hora de segurar o ego e confiar na capacidade de aprender colaborativamente para formular o problema do jeito certo porque a gente tende a aplicar soluções conhecidas a problemas desconhecidos.” A fala vem do alto de muita experiência. Ramos era executivo de mineração na época das tragédias do rompimento das barragens em Mariana e Brumadinho, onde a Rio Tinto também atuava. “Aquilo devastou minhas saúdes emocional e mental, eu simplesmente não conseguia mais dormir”, lembra. “No estresse crônico, a pessoa perde o raciocínio, então precisa promover um espaço para a vulnerabilidade.” Ele acredita que a ideia de ligar a figura do CEO à imagem de super herói não dá certo. “A primeira recomendação para não entrar em parafuso é que não adianta querer planejar lá na frente”, sentencia. “A preocupação agora é nadar até a próxima boia.” Convicção em meio ao caosQuando a pandemia bateu à porta, o caos tomou conta da vida do administrador de empresas Raphael Mattos, CEO e fundador da rede de microfranquias pernambucana Premiapão. Com quatro filhas pequenas, ele descreve a rotina do último ano como um cenário de guerra. “Me pergunto qual é o limite do ser humano, mas mãe e pai realmente têm superpoderes”, brinca. Para ele, o momento mais difícil foi no primeiro lockdown. Mattos fala que o ambiente físico da empresa, inspirado no modelo do Google, tinha um papel importante no dia a dia do time. “Foi muito duro mandar todo mundo para o home office porque eu sabia que as pessoas não teriam esse mesmo ambiente em casa”, diz. Outro desafio foi bater o pé para não demitir ninguém. “No começo tomamos um prejuízo danado e eu fiquei muito abalado, com a certeza de que iria falir em 6 meses, mas no final deu certo e hoje nosso faturamento é bem maior do que antes da pandemia”, revela. Mattos afirma que ter um sócio para compartilhar riscos e ansiedades foi fundamental no processo, tornando as decisões mais leves. A transparência no relacionamento com colaboradores e franqueados também jogou a favor. “Prezo poder deitar a cabeça no travesseiro e dormir”, diz ele. “Isso é impossível quando você se relaciona na base dos conflitos, da inimizade e da intolerância.” No meio do caos, o CEO fala que outros fatores serviram como fonte de descompressão, como desligar do celular e do mundo para ficar com as filhas e praticar esporte, coisa de que nunca abriu mão. Luto, depressão e descobertasO diretor de assuntos corporativos e comunicação da multinacional JTI no Brasil, Flavio Goulart, tinha se mudado para São Paulo com a família um mês antes da pandemia. O processo não foi fácil quando ficaram trancados em casa. “Eu estava acostumado a passar boa parte do tempo em aviões. Parar com isso tudo mexeu muito comigo e com minhas equipes no Rio Grande do Sul, em Brasília, em Genebra”, lembra. “Como ficariam todos sem a gente estar próximo, sabe? Para quem está acostumado com o olho no olho, isso é muito doloroso.” Goulart confidencia que a gota d’água, porém, foi em maio do ano passado, quando perdeu a mãe, que vivia no Recife. “Não pude me despedir dela. Foi muito desestruturador.” Foi nesse momento que passou a ter sintomas efetivos de ansiedade e depressão. De pronto, procurou o terapeuta que o acompanhava no Rio Grande do Sul, que o medicou e passou a fazer atendimentos online. A empresa, que tem um programa de suporte psicológico, financeiro e jurídico para os colaboradores (Programa Amparo), também teve um papel importante no processo de luto. “Todos, do meu chefe imediato à VP sênior em Genebra, me ligaram e falaram para eu parar de trabalhar e abrir espaço para lidar com o peso da perda”, conta. Goulart, no entanto, quis continuar a trabalhar – e o fato de ele sempre ter empoderado e sido próximo da equipe ajudou nos momentos difíceis. “A gente compartilha tudo,
‘Não há vacina disponível para vender a empresas’, diz presidente da Raia Drogasil
Com 2,4 mil lojas, a Raia Drogasil (RD), maior rede de farmácias do Brasil, poderia lucrar com a vacinação contra a covid-19 pelo setor privado. Porém, segundo o presidente da companhia, Marcilio Pousada, ainda não é hora de se pensar nessa possibilidade – até porque, segundo ele, não há estoque nos grandes laboratórios para compras que não sejam feitas por governos. “Os laboratórios não têm vacina (para a iniciativa privada). Fui falar com a Pfizer, temos relacionamento centenário com a Janssen. Eles vão falar com o governo, que é o agente imunizador. Primeiro é o governo”, afirma Pousada. Ele diz que entrar em disputa com a administração pública pode inflacionar o preço das vacinas – o que não é do interesse de ninguém neste momento. Para o executivo, a vacinação poderia estar caminhando mais rápido no Brasil caso a pandemia tivesse sido encarada com a necessária urgência. “Deveríamos ter sido mais diligentes. Faltou cooperação e senso de urgência. Com a vacina, a economia anda – nisso concordo com o ministro da Economia (Paulo Guedes).” Ele diz que o debate sobre a imunização pelo setor privado – por clínicas particulares, por empresas fazendo campanhas para funcionários ou pelas drogarias – deve ficar para o segundo semestre, depois da finalização da vacinação de todos os grupos prioritários. Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista: O que o sr. acha da proposta de compra de vacinas por empresas privadas?O Programa Nacional de Imunização (PNI) brasileiro é genial, poucos países do mundo conseguem vacinar na velocidade do Brasil – isso quando o PNI é bem organizado. Então, nós temos de apoiar o PNI. Não acho que seja hora de empresa vacinar, temos de vacinar os grupos prioritários, apoiar os esforços do governo. É isso o que os empresários têm de fazer agora. E como a RD tem feito isso?A gente se aproximou das prefeituras, a partir de agosto do ano passado, para ajudar os secretários municipais. Estamos transformando nossas lojas em postos para atender a população via sistema público na cidade de São Paulo. Quem vacina dentro do nosso espaço é o funcionário da prefeitura. Estamos super engajados em ajudar o governo a dar vacina, e não em sair comprando vacina. Empresários querem comprar vacinas, mas há doses disponíveis para a iniciativa privada?Os laboratórios não têm vacina (para a iniciativa privada). Fui falar com a Pfizer, temos um relacionamento centenário com a Janssen. Eles vão falar com o governo, que é o agente imunizador. Primeiro é o governo, depois são outras entidades. Temos de completar os grupos prioritários. No futuro, a Raia Drogasil pode vender vacina?Depois que o PNI tomar a decisão, as clínicas de imunização poderão ajudar com a vacina, tanto com vacina privada quanto ajudando o governo (a aplicar as doses compradas pelo setor público) – eu acho essa última opção a mais certa. Se a iniciativa privada for comprar vacina (agora), vai inflacionar o preço. Pode ser que no segundo semestre, depois que a vacinarmos todos os grupos prioritários – maiores de 60 anos, comorbidades, profissionais de saúde, da segurança pública e professores –, possamos começar a pensar nisso. A pandemia trouxe aprendizados para o negócio da RD?Trouxe duas coisas definitivas: a omnicanalidade, que é deixar o cliente escolher se vai à loja, se é atendido por telefone ou WhatsApp. E houve também uma ressignificação do que significa a farmácia, e isso ficou claro nos testes para covid como um hub de saúde. Temos pessoal treinado para fazer os testes, e fizemos 7% do total de testes de covid. Agora estamos com a campanha de vacinação de gripe. O plano de abrir mais de 200 lojas ao ano continua em pé?Vamos abrir 240 lojas por ano – fizemos isso pelo quarto ano seguido em 2020. Chegamos a 53 novos municípios, para um total de 403. O processo continua o mesmo, embora seja mais difícil e mais custoso. Mas seguimos com o guidance (objetivo) de 240 lojas. Já abrimos 40 no primeiro trimestre. Qual é sua avaliação do desempenho do governo na pandemia?O combate à pandemia não pode ser político, tem de ser técnico. Com a excelência do Brasil em aplicar vacinas, se a gente tivesse entrado com mais força e comprado vacina… Sabendo que iria ter esse problema de escassez em todo o mundo, deveríamos ter sido mais diligentes no passado. Faltou cooperação e senso de urgência. Com a vacina, a economia anda – nisso concordo com o ministro da Economia (Paulo Guedes). Agora temos de focar na vacina, para podermos voltar a pensar nas reformas. O ESTADO DE S. PAULO
Guedes vira a primeira guerra da CPI da Covid
A CPI da Covid se reúne esta semana para eleger presidente, vice e designar relator, mas, antes disso, já vive um clima de confronto. A convocação de Paulo Guedes como depoente transformou-se em motivo de divergência entre o futuro presidente, Omar Aziz, e integrantes do colegiado. O GLOBO
Sindicatos pedem apoio a indústria para campanha pela volta dos R$ 600 de auxílio
As centrais sindicais não desistiram da campanha pelo aumento do auxílio emergencial e começam a buscar apoio da indústria. Em uma carta ao governo Doria na semana passada, elas elogiaram os esforços de SP na vacinação e defenderam a volta dos R$ 600. Além de UGT, Força Sindical, CTB, Nova Central e CSB, as indústrias de brinquedos, Abrinq, remédios, Sindusfarma, e outros assinaram embaixo. FOLHA DE S. PAULO