Empresários articulam um nome de centro para 2022

Parte da elite da indústria e do mercado financeiro tem articulado a construção de uma candidatura de centro na tentativa de derrotar o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na eleição de 2022. O grupo inclui nomes de peso, como Pedro Passos (Natura), Fábio Barbosa (ex-Santander e exFebraban), Jayme Garfinkel (Porto Seguro) e Pedro Wongtschowski (Ultra). A movimentação teve início há quatro meses, mas ganhou força com o recrudescimento da pandemia, as incertezas sobre a economia e a recuperação dos direitos políticos de Lula. Desde então, vários encontros com lideranças partidárias e potenciais candidatos já foram realizados. Participam das reuniões cerca de 30 pessoas. Não há consenso sobre nomes, mas os que surgem com mais frequência são os dos governadores de São Paulo, João Doria, e do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, do prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, e do apresentador e empresário Luciano Huck, que pode não efetivar sua candidatura. A maioria considera que o ex-juiz Sérgio Moro não deve ser cabeça de chapa. Já houve encontros com Doria, com o líder do PSD, Gilberto Kassab, com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e com o ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia. Também foram feitas reuniões com Mandetta e Paulo Hartung, exgovernador do Espírito Santo que busca articular uma candidatura de Huck. O diálogo não estaria acontecendo somente entre empresários e potenciais presidenciáveis. Três ou quatro possíveis candidatos já conversaram entre si e colocaram na mesa de discussões a ideia de concentrar esforços em apenas um nome que represente esse centro político, afirma uma fonte próxima às articulações. VALOR ECONÔMICO

Guedes diz concordar em elevar auxílios a vulneráveis, mas exige contrapartidas

O ministro Paulo Guedes (Economia) afirmou nesta quinta-feira (25) em audiência no Congresso que governo e parlamentares devem trabalhar juntos em maneiras de aumentar a transferência de recursos aos mais pobres. Ele defendeu que a elevação dos recursos seja acompanhada de contrapartidas nas contas públicas. As declarações foram dadas em resposta a senadores que o questionaram sobre a possibilidade de elevar o valor do auxílio emergencial, como Wellington Fagundes (PL-MT) e Zenaide Maia (Pros-RN). O governo definiu um pagamento de R$ 250 ao mês em 2021, reduzido para R$ 150 no caso de quem mora sozinho ou elevado para R$ 375 no caso de mães solteiras. Guedes respondeu comentando tanto o auxílio emergencial como o Bolsa Família. Ele criticou o valor do programa social criado na era Lula, que paga um valor médio de R$ 200, e disse estar “indignado” com os montantes pagos até hoje. “Acho muito interessante as pessoas que ficaram anos aqui e botaram o Bolsa Família em R$ 200. E de repente ela [senadora] me pergunta por que não é R$ 600. Eu também estou indignado com esse valor. Não consigo entender por que ficou tantos anos assim, com um valor tão baixo”, disse. “Quero fazer uma denúncia pública de como ficou tantos anos esse valor. É um absurdo que a gente tenha que descobrir, no meio de uma pandemia, que a melhor forma de erradicar a miséria é dar dinheiro ao pobre”, afirmou. Guedes disse que o auxílio não é mais alto porque, em sua visão, o Estado brasileiro carrega uma máquina aparelhada de ativos como estatais e não mobiliza os recursos aos mais vulneráveis. “O dinheiro vai para as corporações que dão apoio, os sindicatos, os grupos políticos que se elegem e se esquecem de dar dinheiro na veia ao pobre. Se ele [Estado] desse o dinheiro ao pobre, a miséria já tinha acabado”, disse. O ministro afirmou ser preciso buscar o dinheiro para os aumentos entre fontes de financiamento disponíveis. “Temos que trabalhar isso sim e vamos trabalhar juntos, possivelmente com a senadora Zenaide, para aumentarmos o valor. Agora, tem a contrapartida. De onde vai sair esse dinheiro? Temos que buscar esse dinheiro”, disse. “Ele [Estado] poderia ter dobrado o valor do Bolsa Família. Bastava ter fechado ou vendido estatais que davam prejuízo. Então espero que trabalhemos juntos no que é um desejo comum nosso, que é reduzir a miséria. Se possível, erradicar. Vimos que é possível se a gente aumentar o valor. Mas tem que ser em bases sustentáveis”, disse. Guedes também repetiu a ideia de criar um fundo social formado por recursos oriundos de dividendos e vendas de estatais. No ano passado, a União recebeu R$ 6,8 bilhões em dividendos das empresas públicas federais (em comparação, o orçamento anual do Bolsa Família fica em pouco mais de R$ 30 bilhões). “Por que eu não pego o lucro dessas estatais e pago em dividendos sociais, justamente para os mais frágeis?”, questionou. “Em vez de ganhar R$ 200, o mais pobre poderia receber R$ 300, R$ 350, R$ 600”, afirmou. O titular da equipe econômica lembrou ainda que o governo planeja criar o programa Renda Brasil, que seria um aprimoramento em relação ao Bolsa Família, e insistiu que conceder valores sem compensações fiscais teria consequências econômicas danosas ao país. “Se você aumenta esse valor sem do outro lado ter as fontes de recursos corretas, você traz de novo uma inflação de dois dígitos como era antigamente, com juros altos. E o resultado final é o desemprego em massa e o imposto mais cruel de todos sobre os mais pobres, que é a inflação”, disse. Guedes defendeu reduzir o valor da dívida pública o quanto antes e disse que o crescimento do país vai auxiliar no reequilíbrio das contas públicas. “Vamos gerar superávit já, já”, disse. O ministro disse que o ministério gora se volta às medidas anticrise. “Começamos a segunda grande guerra. O protocolo para essa crise nós temos e essa segunda grande guerra começa com muito mais mortes e intensidade”, disse. Entre as medidas, está o novo programa de manutenção de emprego e da renda. Guedes afirmou que o desenho da medida, que usaria recursos do seguro-desemprego, enfrentou entraves políticos. E sinalizou que serão usados créditos extraordinários, que ficam fora do teto. “Nós estávamos tentando isso, aí houve muito obstáculo político, não pode mexer nisso. No meu ponto de vista, é um equivoco técnico. Mas tudo bem. Quem manda é a política e tenho que aceitar e reformular o programa”, disse. “Naturalmente, vai ter mais impacto fiscal, um pouco mais de juros, um pouco mais de dificuldade na retomada, em vez de realocar despesas que já existem”, disse. Também estão na lista de medidas anticrise a renovação de programas de crédito usados em 2020 como o Pronampe e o Peac Maquininhas, além da antecipação de benefícios do INSS. “Aprovado o Orçamento, se os senhores aprovarem o Orçamento hoje, podemos disparar imediatamente a antecipação dos benefícios de aposentados e pensionistas”, afirmou. Em sua fala na audiência do Senado, Guedes criticou a IFI (Instituição Fiscal Independente) –órgão da Casa que monitora as contas públicas. “O IFI disse que nós iríamos furar o teto no primeiro ano, furar no segundo ano, que a dívida ia chegar a 100% do PIB. Acho que o IFI tem previsões muito fracas, tem trabalhado muito mal. Acho até que o Senado devia rever um pouco quem lidera o IFI. Aparentemente, é um economista que tem errado dez em cada dez [previsões]”, disse. Felipe Salto, diretor-executivo da IFI, afirmou que o trabalho do órgão é reconhecido internacionalmente e que a crítica demonstra a insatisfação do ministro com posições divergentes. “Devo lamentar. Trabalho sem descanso para construir a IFI, com equipe enxuta. O resultado é reconhecido por OCDE, FMI, mercado, setores do governo, academia, imprensa e Congresso. O ataque revela aversão ao contraditório”, afirmou Salto em rede social. Em nota, a instituição explicou as suas metodologias e afirmou que “não pode ser considerada adversária por aqueles que também zelam pela

Congresso turbina emendas e aprova Orçamento que tira verba da Previdência

O Congresso aprovou nesta quinta-feira (25) o projeto de Orçamento de 2021 e chancelou a decisão do relator, senador Márcio Bittar (MDB-AC), de retirar R$ 26,5 bilhões dos recursos do seguro-desemprego, do abono salarial e da Previdência Social para bancar obras. A verba para Censo Demográfico de 2021 também foi reduzida. Por outro lado, foram preservados os recursos para o aumento salarial de militares, única categoria beneficiada com reajuste. Os demais servidores estão com os ganhos congelados. O texto segue agora para sanção do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Para destravar a votação, interlocutores do governo e o relator negociaram a ampliação da verba para obras e projetos a serem executados nas bases eleitorais de congressistas. Assim, o Congresso ampliou de aproximadamente R$ 20 bilhões para quase R$ 49 bilhões a fatia do Orçamento aplicada com base em critérios de parlamentares. Trata-se de um volume de um recorde caso seja efetivamente aplicado. Técnicos legislativos criticaram vários pontos do Orçamento de 2021. Alguns chamaram o texto de peça de ficção, pois estaria subestimando ou adiando despesas obrigatórias, como aposentadorias e abono salarial, para acomodar gastos com emendas parlamentares. O mecanismo de despesas condicionadas à mudança no auxílio doença é visto por esses técnicos como uma contabilidade criativa, já que dependem de uma medida ainda inexistente. O instrumento foi também usado no Orçamento de 2020.​ No Orçamento de 2020, as emendas parlamentares somaram, inicialmente, cerca de R$ 50,5 bilhões, em valor corrigido pela inflação. No entanto, após o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) se aproximar do centrão e com a chegada do coronavírus no Brasil, o Congresso encerrou o embate com o governo envolvendo o controle de parte do Orçamento. A fatia do Congresso caiu para aproximadamente R$ 38 bilhões. As emendas previstas para 2021 beneficiaram principalmente o ministro Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional). Responsável por obras nas áreas de habitação, saneamento e recursos hídricos, a pasta ampliou espaço no Orçamento de R$ 6,5 bilhões, previsto na proposta original do governo enviada em agosto do ano passado, para quase R$ 21 bilhões. Para os parlamentares, o ministério de Marinho, assim como o de Infraestrutura e o de Turismo, viabiliza a ampliação do capital político em suas bases. Em ano de pandemia, o Congresso privilegiou, portanto, pastas ligadas a obras. O orçamento do Ministério da Saúde teve um aumento mais tímido, de 7%, após a apresentação das emendas parlamentares. A redução, em especial nas contas da Previdência, preocupa técnicos do Ministério da Economia. A tesourada nesta área foi de R$ 13,6 bilhões. O problema, segundo integrantes da equipe econômica, é que a verba para pagar aposentadorias e pensões já estava abaixo do considerado ideal. Em vez de corrigir o rombo, Bittar ampliou a defasagem no orçamento da Previdência Social. Segundo o relator, o corte na Previdência seria ainda maior, mas, “num esforço conjunto”, foi possível minimizar a tesourada. Bittar diz que a aprovação da reforma da Previdência e da lei do pente-fino nos benefícios com indício de irregularidade possibilitaram o corte. A redução na verba do abono salarial foi de R$ 7,4 bilhões. Esse valor não será necessário, pois o Codefat (Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador) decidiu adiar o pagamento do abono. Os benefícios que seriam liberados no segundo semestre foram transferidos para 2022. O ajuste, segundo o governo, foi necessário por causa de atraso no processamento dos dados de quem tem direito ao abono e também para atender a uma recomendação da CGU (Controladoria-Geral da União) para que o calendário de pagamentos se encerre no mesmo ano. Atualmente, os lotes começam a ser liberados no segundo semestre de um ano e acabam no primeiro semestre do ano seguinte. O governo queria que essa redução de R$ 7,4 bilhões na verba do abono fosse usada para reduzir a pressão sobre o teto de gasto —regra que limita o crescimento das despesas. O Ministério da Economia estimou que precisará cortar R$ 17,6 bilhões para cumprir o teto neste ano. A conta foi feita com base na proposta de Orçamento enviada pelo governo em agosto de 2020. Portanto, o número pode ser alterado. A tesourada no seguro-desemprego ocorre num momento de piora das expectativas da atividade econômica a reboque do agravamento da pandemia. Bittar disse, no entanto, que a redução era necessária para permitir a recriação do programa emergencial de manutenção do emprego e da renda, o “que permitirá que centenas de empregos sejam preservados.” Dentre os acréscimos, Bittar incluiu recursos para recuperação de ativos da União, obras em rodovias de Pará, Ceará e Santa Catarina, entre outros estados, construção de viadutos e regularização fundiária. Do total de R$ 26,5 bilhões das novas emendas do relator, cerca de R$ 4 bilhões só serão executados após ser aprovada uma lei ou apresentada uma medida provisória que altere as regras de pagamento do auxílio doença. O projeto de Orçamento não diz exatamente qual deve ser a mudança no auxílio doença. Uma das hipóteses em análise é que o auxílio-doença devido a trabalhadores afastados por motivos de saúde poderá ser pago pelas empresas, em vez ser pago pelo INSS (Instituto Nacional do Seguro Social). O reembolso para a empresa seria por abatimento em imposto federal devido ao governo, como a contribuição patronal para a Previdência. Isso não deve atingir micro e pequenas empresas, nem trabalhadores autônomos e rurais. Se as mudanças no auxílio doença não forem apresentadas em até 30 dias após o Orçamento ser convertido em lei, os gastos condicionados a esta medida deverão ser cancelados. Na nova versão do Orçamento, foi feito um novo corte nos recursos para a realização do Censo. No ano passado, o governo previu R$ 2 bilhões para a pesquisa. No começo da semana, Bittar reduziu esse valor em R$ 1,7 bilhão. Agora, com o texto em análise no Congresso, restam menos de R$ 100 milhões para o Censo. O líder do governo no Congresso, Eduardo Gomes, acenou com uma proposta para recompor os recursos do Censo, mas não houve acordo. “Inviabilizar o Censo é declarar a falta de

Comissão reduz orçamento de Censo de R$ 2 bilhões para R$ 71,7 milhões e inviabiliza pesquisa

O orçamento para o Censo Demográfico, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foi reduzido de R$ 2 bilhões para apenas R$ 71,7 milhões após a aprovação da Lei Orçamentária Anual (LOA) na Comissão Mista de Orçamento (CMO). Com isso, a realização do levantamento censitário em 2021 ficará inviabilizada. O censo deveria ter ido a campo em 2020, mas foi adiado por causa da pandemia de covid-19. O órgão trabalhava para dar início à coleta, que visitaria todos os cerca de 71 milhões de lares brasileiros, a partir de agosto deste ano. Tecnicamente, a verba ainda pode ser alterada na votação do plenário do Congresso. Não há, porém, nenhum movimento para essa mudança. De R$ 2 bilhões programados inicialmente pelo Executivo, o orçamento do Censo Demográfico ficou em R$ 240,7 milhões no relatório do senador Márcio Bittar (MDB-AC). Nesta quinta-feira, 25, ele apresentou uma complementação do parecer retirando mais R$ 169,7 milhões, restando apenas R$ 71,7 milhões para essa despesa. “O Censo ficou inviabilizado, é uma decisão de governo. Só aprovou o que o governo queria”, afirmou o deputado Felipe Carreras (PSB-CE), relator setorial do Ministério da Economia no Orçamento de 2021. De acordo com o parlamentar, a falta do levantamento vai comprometer até a distribuição de vacinas contra a covid-19, pois não haverá dados precisos e atualizados sobre a população em cada município. Com isso, o deputado anunciou que apresentará uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para tornar o Censo Demográfico uma política de Estado, com garantia de recursos federais, como ocorreu com o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb). Uma PEC depende de 171 assinaturas entre deputados para começar a tramitar na Câmara, além de 308 votos favoráveis na Casa e de 41 votos no Senado se o texto chegar à votação. Os dados da população brasileira são atualizados a cada dez anos. Hoje, o que se sabe da população é com base em estimativa do Censo de 2010. Quanto mais se afasta da base do Censo, mais impreciso fica o dado para a definição de políticas públicas, inclusive distribuição de recursos para Estados e municípios. Os pesquisadores do Censo visitam a casa de todos os brasileiros para traçar uma radiografia da situação de vida da população nos municípios e seus recortes internos, como distritos, bairros e outras realidades. Esse nível de minúcia não é alcançado em outras pesquisas do IBGE feitas por amostragem, que entrevistam apenas parcela da população. A formulação do Bolsa Família, por exemplo, é baseada em informações sobre as famílias que estão em situação de pobreza, levantadas a partir de pesquisas como a Pnad, que traz dados sobre emprego e renda no País. A definição da amostra populacional que será ouvida na Pnad para fazer o retrato mais fiel possível do País é guiada pelos dados disponíveis sobre o total da população – ou seja, pelo Censo. No caso de divisão de recursos federais, há casos de municípios que recorreram à Justiça para tentar ampliar os valores recebidos da União para políticas na área de saúde, por exemplo. A justificativa é que os dados do IBGE, que só tem conseguido fazer projeções da população, já não demonstram o real crescimento do número de pessoas vivendo em determinadas cidades. A pesquisa também é importante para que empresas possam tomar suas decisões de investimento. O ESTADO DE S. PAULO

Por emendas parlamentares, contabilidade criativa volta com força ao Orçamento

Em nome de arranjar espaço para mais emendas parlamentares, a contabilidade criativa voltou com força na votação do Orçamento deste ano. O Estadão/Broadcast identificou até agora pelo menos cinco ações adotadas na proposta de Orçamento que apresentam indícios de manobras artificiais para fugir das restrições do teto de gastos, a regra que limita o avanço das despesas à inflação. O objetivo dos parlamentares é garantir um total de R$ 46 bilhões para obras e outros gastos de seu interesse. A primeira manobra prevê a mudança na forma de pagamento do auxílio-doença. Hoje, o benefício é pago pelo INSS, mas o relator do Orçamento, senador Marcio Bittar (MDB-AC), desenterrou uma proposta de repassar a responsabilidade às empresas, que recuperariam o valor abatendo sobre os tributos devidos. A medida abriria um espaço de ao menos R$ 4 bilhões no teto, mas o valor pode chegar a R$ 5 bilhões. A proposta é apontada por técnicos experientes da área orçamentária como uma “pedalada” para burlar o teto, já que o Orçamento foi enviado com as despesas no limite, sem espaço para os congressistas remanejarem recursos para as ações que gostariam de apadrinhar. Para evitar a pedalada, a recomendação técnica é que a mudança no pagamento do auxílio-doença seja acompanhada por um ajuste retroativo no próprio teto de gastos, para consertar a “quebra da cadeia”. Na prática, isso implicaria retirar os gastos com o benefício do valor que serviu de base para o cálculo do teto em 2016, quando a emenda constitucional que criou o limite foi aprovada. A despesa ficaria menor, e o teto também. Um movimento semelhante foi feito com o Fies, o programa de financiamento para alunos do ensino superior. O atropelo na votação do projeto, aprovado na Comissão Mista de Orçamento (CMO) sem tempo para aprofundar o debate, fez com que os parlamentares aprovassem uma proposta de elevação das emendas com base em uma mudança ainda não aprovada no mecanismo do auxílio-doença. Na prática, o espaço para essas despesas não existe até o momento. Polêmica, a alteração já foi tentada no passado pelo Congresso, mas tem oposição do grupo mais fiscalista do Ministério da Economia. Bittar também melhorou o resultado da Previdência com base em ações ainda não aprovadas e cálculos desconhecidos. Ele cancelou R$ 13 bilhões em despesas que são obrigatórias. Desse valor, R$ 5 bilhões seriam pagamentos de benefícios do INSS que, segundo ele, serão revertidos a partir de uma Medida Provisória com ações antifraude – que sequer foi editada e, portanto, não está em vigência. A terceira manobra é o corte de despesas com o pagamento de subsídios do Pronaf, voltado à agricultura familiar. Após a condenação das “pedaladas fiscais” no governo Dilma Rousseff, o entendimento conjunto firmado com Tribunal de Contas da União (TCU) e Controladoria-Geral da União é o de que é preciso ter orçamento integral para pagar as despesas de subsídios na hora de aprovação da operação de crédito. Mesmo que o dinheiro destinado ao subsídio sobre ao final do ano, a aprovação do crédito depende da existência do orçamento para todo o ano, inclusive para bancar as despesas que ficam para períodos seguintes (os chamados restos a pagar). Por isso, o corte é visto com preocupação. Outra manobra é a decisão do Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador (Codefat) de adiar o calendário do abono salarial, benefício pago a trabalhadores com carteira que ganham até dois salários mínimos. A medida liberou R$ 7,4 bilhões dentro do Orçamento de 2021, valores que foram totalmente abocanhados pelos parlamentares na distribuição das emendas. A mudança no abono foi feita por recomendação da CGU, que viu problemas na forma de empenho da despesa (metade em um ano, metade em outro), dado que o calendário de pagamentos vai de julho a junho. A CGU orientou o governo a empenhar tudo no ano do reconhecimento do direito do trabalhador, o que obrigaria a equipe econômica a destinar agora R$ 20 bilhões à próxima rodada do benefício – R$ 12,7 bilhões a mais que o previsto. Sem espaço no teto, o governo convocou reunião de emergência do Codefat e aprovou o adiamento. Técnicos de dentro e de fora do governo, porém, viram a manobra como a “pedalada clássica”: a postergação de uma despesa para trazer um alívio momentâneo, resultando em uma maquiagem das contas. Há a preocupação inclusive com o custo desse adiamento. No calendário anterior, o governo pagaria a metade dos beneficiários o salário mínimo atual (R$ 1.100), e a outra metade receberia o valor previsto para 2022 (R$ 1.147). Como agora todos receberão no ano que vem, o governo gastará R$ 47 a mais com cerca de 11,5 milhões de trabalhadores. Por último, a revisão para baixo nos gastos com seguro-desemprego (R$ 2,6 bilhões) é vista com grande desconfiança, sobretudo em um quadro de agravamento da pandemia de covid-19 e de piora da atividade econômica. A avaliação de técnicos é que a previsão desses gastos foi subestimada com base em informações do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), que teve metodologia alterada e tem sido alvo de críticas que apontam subnotificação de demissões pelas empresas. Veja como fica:Mudança na forma de pagamento do auxílio-doença, que passaria às empresas, para abrir um espaço de ao menos R$ 4 bilhões no teto de gastos. Medida foi chamada de pedalada pelos próprios técnicos do Ministério da Economia.Corte de R$ 13,5 bilhões nas projeções de gastos do INSS com base em ações ainda não aprovadas (uma Medida Provisória antifraude) e cálculos desconhecidos. Medida ignora previsões dos consultores legislativos e da equipe econômica de que era preciso ampliar em R$ 8,4 bilhões a previsão de gastos por causa do impacto do salário mínimo nos benefícios.Corte de despesas com o pagamento de subsídios do Pronaf, voltado ao financiamento da agricultura familiar. Operações de crédito com subsídios do Tesouro Nacional só podem ser feitas quando há orçamento integral para o pagamento desses subsídios. Prática contrária já foi condenada pelo TCU no Programa de Sustentação do Investimento (PSI) e no Programa de

Estou na faculdade, como me preparo para meu primeiro estágio?

Quando um recrutador recebia currículos de estudantes para uma seleção, tinha de fazer um filtro técnico logo de cara. As empresas pediam faculdade de primeira linha, alunos com conhecimento prévio, como inglês e domínio do Excel, e até mesmo experiência — ainda que cursassem os primeiros semestres. Se você ainda tem essa imagem dos processos seletivos, vire a chave. As coisas mudaram. Claro que o filtro técnico continua sendo valorizado. Mas, antes dele, o recrutador vai olhar coisas que antes não eram observadas, como história de vida, valores e comportamentos. Ou seja, a ordem da avaliação mudou. Pessoas que teriam poucas chances de passar num processo seletivo tempos atrás, agora têm mais chances. Essa é uma boa notícia. Mas, calma, os filtros técnicos ainda são importantes e fazem parte da avaliação, mas ganharam um peso diferente. Ter consciência disso ajuda você a se preparar melhor para uma futura vaga de estágio ou de trainee. Vejamos como tudo se encaixa. Como passar pela primeira peneiraCadastre-se nas principais plataformas de vagas. Elas concentram os estágios mais interessantes do mercado e aumentam as suas oportunidades. Ao fazer cadastro em vários sites, você potencializa a visibilidade do seu perfil. Por isso, a dica é preencher o cadastro completo (sem erros de português!), com o maior número de itens possível.Invista em cursos, palestras, eventos e fóruns. Quando um recrutador pega o currículo e vê apenas o nome, faculdade e nada mais, a leitura que faz é de acomodação, mesmo que o estudante curse os primeiros semestres. Mas, se o currículo trouxer algo que tenha feito a mais, a mensagem para o recrutador é que o candidato é proativo em vez de acomodado.Envolva-se em atividades da faculdade. Você pode participar do diretório acadêmico, de uma empresa júnior, da atlética. Mesmo que, aparentemente, isso não tenha nada a ver com você, acredite que a recompensa vai valer a pena. Experiências desse tipo ajudam a desenvolver soft skills — competências sociais e emocionais — que são valorizadas no mundo corporativo. O recrutador levará isso em conta. Fica a dica.Turbine o currículo incluindo redes sociais. É uma prática boa, mesmo sendo “bixo” de faculdade, crie sua página no LinkedIn e coloque no currículo. Com isso, o seu perfil começa a circular e você tem a chance de mostrar o seu potencial. Mas cuidado com o que fala nas redes sociais. As empresas checam, sim, o que o candidato posta. Não adianta falar uma coisa no LinkedIn e fazer outra no Instagram. Tome cuidado com a incoerência. Foi chamado para participar do processo seletivo? A primeira coisa que você precisa saber é que, de modo geral, há três etapas principais: uma entrevista pelo recrutador; uma dinâmica, que pode ser mais lúdica, como construir um produto ou participar de um game interativo, por exemplo; ou um estudo de caso, que é uma dinâmica um pouco mais palpável, com dados, infográficos, números, tabelas e gráficos, para que discutam em grupo e façam uma proposta de solução. Com isso em mente, eu sugiro que você siga três passos. Primeiro passo: estudar É muito comum o candidato chegar ao processo e dizer que não sabe sobre a posição que está disputando nem sobre a companhia. Isso já passa a imagem de uma pessoa relapsa. E, cá entre nós, não custa nada pesquisar antes, não é? Dá até para ir além e pesquisar sobre o gestor no LinkedIn. Isso demonstra que o candidato é curioso e tem iniciativa. Que gestor não quer ter uma pessoa organizada, que busca entender o desafio e apresentar soluções? Segundo passo: ensaiar Isso mesmo. Não existe nada de errado em treinar para ganhar fluidez e segurança na apresentação. Falar sobre sua vida em poucos minutos não é fácil. Mas você pode se preparar para isso. Se o entrevistador pedir que resuma sua trajetória, você poderá pinçar os pontos principais, porque já refletiu e pensou sobre eles. Se não souber o que destacar a seu respeito, você vai se perder e será visto como o candidato que não soube fazer um resumo nem ser objetivo. Terceiro passo: perguntar A maioria dos candidatos acha que os processos são apenas para responder. Mas, ao fazer questionamentos e interagir, você mostra que tem interesse e curiosidade. Candidatos que não perguntam têm uma chance maior de passar batido na seleção. Candidatos que perguntam deixam suas marcas. Se o seu ponto fraco é falta de um conhecimento específico, invista em cursos. Se é comportamental, aposte no treino. Você só vai desenvolver novas habilidades se entrar em campo. Participar de processos seletivos, apresentar trabalhos em sala de aula, fazer ações na faculdade, atuar em ONGs ou igrejas são alguns exemplos do que pode ser feito para ganhar confiança e controlar a ansiedade. Seu esforço será a diferença entre ser aprovado ou continuar procurando por uma oportunidade. Minha pergunta é: o quanto você quer a vaga? Estou certo de que você já tem a resposta — e sabe exatamente o que precisa fazer para chegar lá. Tiago Mavichian é CEO e fundador da Companhia de Estágios, startup de RH especializada em seleção e desenvolvimento de aprendizes, estagiários e trainees. Pós-graduado em gestão de pessoas pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, possui mais de 15 anos de experiência na área de RH. O ESTADO DE S. PAULO

Com pandemia, comércio online cresce 41% em 2020 e acelera processo de interiorização

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No ano da pandemia, as vendas online no País deram um galope e atingiram R$ 87,4 bilhões em 2020, com crescimento de 41% em relação ao ano anterior, o maior avanço desde 2007, segundo a consultoria Ebit-Nielsen. A título de comparação, em 2018, o crescimento do comércio online havia sido 12% e, em 2019, 16%. O crescimento de 30% no número de pedidos, que atingiu 194 milhões no ano passado, foi a principal alavanca do varejo online. Também o frete grátis, oferecido em 43% das transações, foi apontado como outro fator que impulsionou as vendas, segundo o relatório Webshoppers 43 Ebit/Nielsen & Bexs Banco. Mais das metade das vendas (55,1%) ocorreu por meio de dispositivos móveis, com avanço de 79% em relação a 2019 em valor. Em número de pedidos, o crescimento das transações usando telefone celular foi de 56%, totalizando 106,6 milhões de transações em 2020. Apesar de muitas empresas terem estreado no varejo online, os negócios ficaram concentrados nas lojas de departamento, que responderam por 84,3% do faturamento total. O Sudeste foi a região que deteve mais da metade das vendas (52%) em valor do e-commerce no ano passado, mas o Nordeste dobrou a sua participação, de 18,5% em 2019 para 31,7% em 2020. Segundo o head de e-commerce da consultoria, Marcelo Osanai, esse resultado mostra que, com a pandemia, o comércio online deixou de ser algo restrito e passou a ser uma realidade de todo País, acelerando o processo de interiorização do e-commerce. Por categoria, um dos crescimentos mais expressivos foi vista em casa e decoração, que avançou 71% em número de pedidos e passou a representar 15% do total. Em faturamento, a categoria responde por 12% do total. “Nessa categoria, estão incluídos móveis, decoração e produtos de limpeza, tudo o que é para consumo doméstico”, diz Osanai. A categoria alimentos e bebidas apresentou crescimento de 59% do número de pedidos, mas representa apenas 4% do total. A categoria farmácia subiu 19% no mesmo indicador, mas responde só por 1% do total. “Com a maioria das lojas fechadas, as pessoas procuravam ir pessoalmente fazer suas compras nessas duas categorias”, diz Osanai. Para o executivo, a menor representatividade de ambas as categorias também está relacionada ao tíquete médio mais baixo, que nem sempre compensa o valor do frete. O ESTADO DE S. PAULO

Produtividade sobe em 2020 com diminuição de horas trabalhadas

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Características específicas da crise da covid-19, com a paralisação de atividades inteiras, levaram a produtividade do trabalho no Brasil a subir em 2020, na contramão de anos anteriores, aponta estudo do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV) antecipado ao Valor. Na ponta, porém, todas as medidas de produtividade perderam fôlego no último trimestre de 2020, indicando, como já sugeria o instituto, que o movimento não representa ganho genuíno de eficiência e pode ser revertido rapidamente conforme os efeitos da pandemia se dissipem. A alta na produtividade parece contraintuitiva em um ano de retração forte do Produto Interno Bruto (PIB), mas é fruto de um recuo na jornada dos trabalhadores muito superior à queda na produção. Em 2020, o valor adicionado da economia cedeu 3,9%, mas as horas efetivamente trabalhadas caíram 14,5%, afetadas pela expressiva redução da jornada de muitos trabalhadores na pandemia, por exemplo. Já as horas habitualmente trabalhadas, um conceito que reflete como seria a jornada média, excluindo situações atípicas como férias e feriados, recuaram 7,7%. A população ocupada, por sua vez, encolheu 7,9%. Com isso, a produtividade do trabalho por horas efetivas cresceu 12,4% no Brasil em 2020, enquanto a métrica por horas habituais avançou 4,1% e a por pessoal ocupado subiu 4,3%, estimam os economistas Fernando Veloso, Silvia Matos e Paulo Peruchetti. “Aumento da produtividade em si não necessariamente é bom. Nesse caso, foi às custas de 10 milhões de pessoas que saíram do mercado de trabalho, de empresas que fecharam”, diz Veloso. Um “efeito composição” importante ajuda a explicar a maior produtividade média da economia brasileira em 2020, já que os setores mais atingidos na crise foram também aqueles menos produtivos, como serviços. Além disso, dentro de cada setor, trabalhadores de baixa produtividade também foram os mais impactados, especialmente os informais e menos escolarizados. Como explicação, esses efeitos tendem a prevalecer sobre eventuais ganhos com https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpgs na pandemia. “Pode contribuir, mas ainda não está claro. O que está evidente é que as empresas que foram mais capazes de se adaptar ao mundo remoto tiveram resultado melhor, mas elas também já eram mais produtivas”, diz Veloso, citando o setor financeiro. Até 2019, as três medidas do fator trabalho – população ocupada e horas habitualmente trabalhadas e efetivamente trabalhadas, retiradas da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, do IBGE – caminhavam juntas. Mas, sobretudo a partir do segundo trimestre de 2020, as horas efetivas despencaram, na esteira da paralisação de atividades e de programas do governo para repor renda e sustentar emprego, como o auxílio emergencial e o BEm (para redução de jornada e suspensão de contratos). Isso fez com que a produtividade medida por essas três variáveis registrasse discrepância muito grande ao longo de 2020. A produtividade por horas efetivas subiu 23,9% no segundo trimestre, na comparação com igual período de 2019, enquanto a métrica por horas habituais avançava apenas 0,2%, e por pessoal ocupado, 0,4%. Desde o terceiro trimestre, e mais claramente nos três meses seguintes, com o retorno de algumas atividades, os três indicadores se aproximaram, ainda que em níveis atipicamente elevados. A produtividade por horas efetivas subiu 10,1% no quatro trimestre de 2020, ante igual período de 2019. A produtividade por horas habituais cresceu 8,5% e a métrica por pessoas ocupadas avançou 8,2%. “Há aparente normalização da produtividade por horas efetivas, mas ainda não terminou”, diz Veloso. Nas séries dessazonalizadas, no entanto, houve queda em todos os indicadores de produtividade no quarto trimestre, em relação ao período imediatamente anterior. No caso das métricas que consideram o pessoal ocupado e as horas habitualmente trabalhadas, após elevações no terceiro trimestre de 9,1% e 9,3%, respectivamente, foram registradas quedas de 1% e 0,6%, pela ordem, nos três meses seguintes. A contração na produtividade por horas efetivas começou já no terceiro trimestre (-6,9%, ante crescimento de 19,3% no segundo trimestre) e continuou no período de outubro a dezembro (-5,1%). Segundo os pesquisadores do Ibre, esses resultados na margem sinalizam que os efeitos positivos da pandemia nos indicadores de produtividade podem ter sido temporários, tornando-se menos relevantes ao longo de 2021. Os reflexos atípicos da pandemia sobre a produtividade não devem, porém, sumir por completo em 2021, já que não há certeza sobre o fim da crise neste ano. O agravamento da doença, a volta de medidas de restrição mais severas, o novo auxílio emergencial e a eventual reedição do BEm colocam dúvidas sobre o comportamento das horas efetivas, diz Veloso. “Depende totalmente dessa dinâmica de pandemia e vacinação.” A expectativa era de recuperação mais rápida do emprego formal e de segmentos de maior informalidade, segundo Silvia, mas a pandemia limita a renormalização dos setores e “o ‘efeito composição’ pode prevalecer ainda no agregado”, diz ela. Quando o pior da crise passar, é possível que o Brasil retorne ao cenário pré-covid de produtividade – baixa e desacelerando -, “talvez até um pouco pior”, afirma Veloso. “Por mais que as firmas menos produtivas e o emprego informal tenham caído, é difícil imaginar que isso seja permanente.” VALOR ECONÔMICO

Congresso aprova Orçamento com mais dinheiro para obras e reajuste para militares

O Congresso aprovou o Orçamento de 2021, após mais de três meses de atraso. Na última hora, os parlamentares alteraram o projeto para cancelar despesas planejadas inicialmente pelo governo em áreas como Previdência e seguro-desemprego e turbinar o volume de emendas. Com isso, o Legislativo aumentou o volume de recursos que recebem a digital dos deputados e senadores e são destinados a redutos eleitorais, com pagamento obrigatório. O cenário pressiona o Executivo e vai provocar o rompimento do teto de gastos, que limita o crescimento de despesas, se não houver cortes ao longo do ano. Com o Orçamento aprovado, o ministro da Economia, Paulo Guedes, prometeu antecipar o 13º de aposentados e pensionistas do INSS e tirar da gaveta outras medidas “engatilhadas” para o combate ao recrudescimento da pandemia. Até a sanção do texto pelo presidente Jair Bolsonaro, o governo federal, como vem acontecendo desde o início do ano, só pode acessar 1/12 do orçamento anual previsto a cada mês. Para destravar a votação, o Executivo se comprometeu com a esquerda em fazer reajustes posteriores, por meio de abertura de créditos extraordinários (fora do teto), para recompor cortes em áreas como saúde, educação e no Censo a ser realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Coube ao líder do governo no Congresso, Eduardo Gomes (MDB-TO), costurar o acordo. “Façamos na próxima semana ou no primeiro momento, uma reunião para estudarmos a tempo, uma discussão breve sobre composição do orçamento das universidades, na área da saúde, assuntos que são primordiais”, disse Gomes no plenário do Congresso. “A gente quer fazer esse compromisso de público”, acrescentou. O líder do PCdoB, deputado Renildo Calheiros (PE) propôs que os presidentes da Câmara e do Senado participem das negociações com o governo para que os recursos sejam repassados por meio de projetos de abertura de crédito orçamentário (PLNs). Apesar do acordo, os partidos orientaram contra a aprovação do Orçamento, mas deixaram de obstruir a votação, com exceção do PSOL e do Novo. Entre a esquerda, o PDT foi o único a favor da aprovação do texto. Críticas ao reajuste de militares e à concentração de investimentos na DefesaUm dos principais alvos de críticas foi o orçamento destinado ao Ministério da Defesa. Conforme o Estadão/Broadcast revelou, os investimentos previstos para os militares superam R$ 8 bilhões e representam um quinto (22%) do total para o governo federal neste ano. Só para aquisição de aeronaves de caça, são garantidos R$ 1,6 bilhão. Para construção de submarinos, R$ 1,3 bilhão. No total, ações e serviços públicos de saúde terão um orçamento de R$ 125 bilhões, pouco acima do piso constitucional (R$ 123,8 bilhões). O montante está acima do orçamento do ano passado, que era de R$ 121 bilhões, mas abaixo dos valores efetivamente aplicados em saúde no ano passado, considerando os créditos extraordinários da pandemia, que totalizaram R$ 161 bilhões. “Minha gente, nós estamos guerreando contra quem? Eu pergunto a vocês: submarino e aviões de caça vão combater o coronavírus? Então, não dá para entender que prioridades são essas. Como aumentamos o orçamento da defesa e diminuímos o orçamento da educação e diminuímos também o orçamento da saúde, que é vital para todos nós?” questionou o deputado Bira do Pindaré (PSB-MA). “Esse Orçamento é de uma austeridade fiscal seletiva, de massacre para os pobres e benesses para a cúpula”, criticou a líder do PSOL na Câmara, Fernanda Melchionna (PSOL-RS). Os militares também são a única categoria que deve ser contemplada este ano com reajuste, o que deve consumir outros R$ 7,1 bilhões dos cofres públicos, enquanto todo o restante do funcionalismo está com o salário congelado até dezembro. “O Congresso Nacional age como puxadinho do Palácio do Planalto e se submete de maneira humilhante, dando aumento para os militares enquanto congelamos, com razão, o salário do funcionalismo público. O congelamento tinha que ser para todos”, afirmou o deputado Kim Kataguiri (DEM-SP). “A única guerra que nós temos agora é contra os trágicos efeitos sanitários, econômicos e sociais decorrentes da pandemia e o Orçamento deve expressar isso! As próprias Forças Armadas deveriam se levantar contra isso. Após todos os brasileiros estarem protegidos do covid e o país voltar a alguma normalidade econômica, aí sim podemos falar em comprar submarino nuclear ou aviões caças. É só uma questão de prioridades!”, tuitou o deputado Marcelo Ramos (PL-AM), vice-presidente da Câmara. Embora com críticas, o orçamento foi mantido com a maior parcela em investimentos para o Ministério da Defesa e também o reajuste dos militares previsto para este ano. Na Câmara, o placar foi de 346 favoráveis e 110 contrários; no Senado, foram 60 votos a favor do texto e apenas 12 contrários. O texto segue agora para sanção do presidente. Congresso usa de manobras para reduzir despesas e ampliar verba para emendas parlamentaresCom o cobertor curto, o Congresso fez uma série de manobras para construir a redação final e atender pressões por emendas parlamentares. O senador Márcio Bittar, cancelou R$ 26,46 bilhões em despesas do seu parecer. A tesourada maior foi feita nas despesas obrigatórias de Previdência Social, no valor de R$ 13,5 bilhões. A medida é uma manobra contábil para cumprir o acordo de aumento das emendas negociado durante a votação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do auxílio emergencial há duas semanas, como antecipou o Estadão. Com a volta da “contabilidade criativa”, o Congresso consolidou uma articulação para assumir o controle de R$ 48,8 bilhões em recursos do Orçamento federal deste ano. O volume de emendas parlamentares, indicadas por deputados e senadores para seus redutos eleitorais, é uma pressão contra o governo do presidente Jair Bolsonaro. O clima de “festa das emendas”, conforme classificado pelos próprios congressistas, vai, na prática, estourar o teto de gastos e exigir um bloqueio do Orçamento para garantir o seu cumprimento em 2021. O volume adicional de emendas foi negociado com parlamentares do Centrão, historicamente mais ativos na elaboração do orçamento federal. O volume inicial de R$ 3 bilhões em emendas de relator, proposto no início da semana, havia frustrado os

Guedes diz que vai antecipar benefícios para aposentados e permitir que empresas cortem salários

O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse nesta quinta-feira, 25, que o governo tem “engatilhadas” novas medidas para o combate ao recrudescimento da pandemia no Brasil. Em audiência pública na comissão temporária do Senado que acompanha as medidas de enfrentamento ao coronavírus, Guedes citou a antecipação de benefícios de aposentados e pensionistas, uma nova fase do programa de apoio a micro e pequenas empresas, o Pronampe, bem como o relançamento do programa que permite a suspensão de contratos e redução de jornadas e salários de trabalhadores. Guedes disse que, em 60 dias, possivelmente o País terá um cenário completamente diferente a partir das medidas do protocolo de crise a serem disparadas em sequência. “Aprovado o Orçamento, se os senhores aprovarem o Orçamento hoje, podemos disparar imediatamente a antecipação dos benefícios de aposentados e pensionistas. Mais R$ 50 bilhões vem de dezembro para agora. Vamos proteger os mais vulneráveis e os idosos, nessa segunda grande guerra contra o coronavírus”, afirmou. Ele citou também a mudança na regra de cobrança de impostos, para auxiliar pequenos empresários durante o momento mais grave da pandemia. “Da mesma forma, ontem (quarta-feira) anunciamos o diferimento dos impostos do Simples, são milhões e milhões de empresas e trabalhadores que foram atingidos brutalmente com o recrudescimento da pandemia e com o reinício do lockdown”, disse Guedes. Ele considerou um equívoco a resistência às mudanças no uso de seguro-desemprego para pagar o programa emergencial de manutenção de empregos, o Bem, a trabalhadores que tiverem o contrato suspenso ou o salário reduzido. Aceitou, no entanto, fazer a reformulação do programa, ainda que isso possa acarretar impacto fiscal. “Quem manda é a política. Tenho que aceitar e reformular o programa, então naturalmente tem mais impacto fiscal, um pouco mais de juros, de dificuldade na retomada, mais despesa”, criticou Guedes. O ESTADO DE S. PAULO