Centrais sindicais pedem para China doar vacina a trabalhadores brasileiros

laboratory, test, cure

Centrais sindicais como CUT, Força e UGT se reuniram nesta sexta (5) com o ministro conselheiro Qu Yuhui, da embaixada da China, para pedir que o país doe vacinas a trabalhadores brasileiros. As centrais também sugeriram um seminário do governo chinês para falar da experiência das medidas sanitárias adotadas por lá. FOLHA DE S. PAULO

Licença-maternidade precisa mudar para incentivar mulher no trabalho

baby belly, pregnant, pregnancy

A política que garante no mínimo quatro meses de licença-maternidade às mulheres empregadas no mercado formal, enquanto concede aos homens o afastamento de apenas cinco dias corridos, reforça o estereótipo de que os cuidados com os filhos são responsabilidade das mulheres e pode dificultar a permanência delas no trabalho. “A licença-maternidade é a razão número 1 das diferenças de trajetória entre homens e mulheres no trabalho. No Brasil, 40% das mulheres estão fora do mercado formal um ano depois de tirarem a licença”, afirma a economista Cecília Machado, professora na Escola Brasileira de Economia e Finanças da FGV e colunista da Folha. Ela foi uma das participantes do segundo painel do webinário Mulheres no Mercado de Trabalho, promovido pela Folha, com apoio do INW (Instituto Nelson Wilians), na última quinta-feira (4). Segundo Machado, o Brasil deveria adotar um modelo de licença familiar ou parental que reconheça o compartilhamento da tarefa de cuidar do filho entre pais e mães ao possibilitar a divisão entre eles do tempo de afastamento do trabalho. “Precisamos pensar como envolver os gêneros de uma forma mais equitativa e equilibrada nos cuidados com os filhos e isso implica também as políticas públicas”, diz. “O setor privado pode inclusive considerar algumas características do setor público, que consegue reter os profissionais por mais tempo.” Para os servidores públicos federais, a licença-maternidade é de seis meses e a paternidade de 20 dias.Há ainda no âmbito privado uma modalidade em que empresas participantes de um programa especial do governo oferecem mais dois meses de afastamento para as mães e 20 dias para os pais em troca de desconto tributário. Essa ampliação é facultada ao trabalhador, que pode decidir se aceita ou não. Um estudo da OIT (Organização Internacional do Trabalho) analisou as informações disponíveis de 169 países e constatou que 66 deles tinham em 2013 alguma concessão de licença parental. Os países nórdicos (Dinamarca, Finlândia, Islândia, Noruega e Suécia) são reconhecidos por estarem entre os precursores na adoção dessa política. Para Isabelle Christina, analista de negócios em diversidade e inclusão na Oracle e jovem transformadora na Ashoka, organização com foco em empreendedores sociais, as mulheres que se tornam mães quando ainda estão dando seus primeiros passos no mercado de trabalho merecem maior atenção das empresas. “A maior parte das mulheres nesse recorte são negras e de classes sociais mais baixas. As empresas precisam não só incluir essas mães jovens, mas também oferecer benefícios que atendam às suas necessidades”, afirma. Rafa Brites, influenciadora digital e autora do livro “Síndrome da Impostora” (ed. Planeta, 144 págs., R$ 36,90), conta o relato que recebeu de uma seguidora que explicita a vulnerabilidade de mulheres grávidas que ocupam postos no mercado de trabalho informal. “Era uma motorista de aplicativo e estava desesperada porque terá o filho em breve e vai perder sua principal fonte de renda. Também recebo muitas mensagens de sobrecarga das mulheres na vida familiar, e isso acontece pelo machismo estrutural e da relação alienada da paternidade no Brasil, onde ainda existe a expressão ‘o pai que ajuda’”, afirma Brites. Para a escritora, o que mais afeta as mulheres é a falta de uma estrutura familiar compartilhada para elas poderem investir em suas carreiras. “As minhas amigas falam que meu marido é ótimo, porque dá banho e leva nosso filho para a escola, mas digo pra elas que isso não o torna um bom marido, isso faz dele um pai”, diz. Na Microsoft Brasil, o abandono do emprego pelas mulheres após a licença-maternidade também é considerado um problema a ser enfrentado, de acordo com Alessandra Karine, líder de diversidade e inclusão da empresa. “Temos uma desigualdade de gênero maior nos cargos de liderança. Para combater isso, oferecemos flexibilidade, trabalho remoto, mesmo antes da pandemia”, relata Karine, que aponta outras ações da empresa para reverter esse cenário, como a garantia de equidade salarial entre os que ocupam o mesmo posto e a exigência de ao menos uma mulher entre os finalistas dos processos seletivos. Uma pesquisa da rede social LinkedIn e da The Female Lead de fevereiro deste ano aponta que praticamente metade (48%) das mulheres afirmam esperar vivenciar um momento em que irão reduzir as expectativas sobre suas carreiras. Os principais motivos citados por elas são o entendimento de que a sociedade ainda não superou a desigualdade de gênero (37%), o aumento da carga mental causada pela responsabilidade de gerenciar a vida profissional e pessoal (32%) e uma licença-maternidade ou pausa na carreira (21%). O levantamento entrevistou 2.009 profissionais ativos com idades entre 25 e 55 anos no Brasil. Para a influenciadora Rafa Brites, a “síndrome da impostora”, expressão que dá título ao seu livro, é resultado da falta de representatividade e proporcionalidade das mulheres no mercado de trabalho. “Para reverter isso, políticas públicas e empresariais são bem-vindas, e uma das principais ferramentas que nós mulheres podemos usar é falar sobre o assunto, inclusive nas entrevistas de trabalho”, afirma. FOLHA DE S. PAULO

Empreendedora no Brasil encara crise, machismo e dupla jornada

computer, pc, workplace

Tirar leite de pedra. É assim que empreendedoras e cientistas ouvidas durante debate da série Diálogos Transformadores, promovido pela Folha e pelo British Council na última terça-feira (2), descrevem o empreendedorismo feminino no Brasil. Com dificuldades extras em razão de fatores como a dupla jornada de trabalho e o machismo, o público feminino busca empreender, muitas vezes, por uma questão de sobrevivência. Na pandemia, que levou uma massa de mulheres para fora do mercado formal de trabalho, isso ficou mais evidente. “Entendo que a criatividade feminina surge de um lugar de vulnerabilidade, não só emocional, mas também social”, diz Ítala Herta, fundadora da DIVER.SSA, uma iniciativa voltada para o fomento do empreendedorismo feminino nas regiões Norte e Nordeste. Para a consultora, é possível observar, em especial em territórios mais marginalizados, que a criatividade das mulheres para empreender nasce, em grande parte, da busca por soluções para problemas concretos do dia a dia. Ainda que essa “potência criativa” esteja presente, as debatedoras elencam uma série de entraves. Segundo o Sebrae, mulheres estão à frente de pelo menos 50% de novos empreendimentos no país, mas, em comparação aos homens, captam menos recursos para seus negócios. Ana Fontes, presidente do Instituto Rede Mulher Empreendedora e professora do Insper, diz que, além da capacitação e do acesso à informação didática, só é possível fortalecer o ecossistema do empreendedorismo feminino se houver recursos e mercado disponíveis. A crise sanitária que se prolonga desde março de 2020 afeta a empreendedora brasileira em especial pelo seu perfil, que está mais voltado para as chamadas áreas de conforto, como moda, beleza, estética e alimentação fora de casa, setores atingidos em cheio na pandemia, diz Fontes. Por outro lado, o período também acelerou uma inovação necessária que, mais cedo ou mais tarde, daria as caras: a necessidade de se adaptar ao digital. A britânica Jiselle Steele, assessora de gênero, igualdade e empreendedorismo social, diz observar um perfil de rápida adaptabilidade das mulheres, tanto no Brasil como no Reino Unido. Segundo ela, as empreendedoras usaram a necessidade de trabalhar de casa —ainda que com o sobrepeso do trabalho doméstico não remunerado— como um catalisador para acelerar suas estratégias de negócios. A própria responsabilidade de cuidar dos familiares, ainda que uma marca de desigualdade, foi o impulso para que elas buscassem novas soluções para reerguer seus projetos, afirma. Ao lado da criatividade e da capacidade de reinvenção feminina, as debatedoras destacam o papel que o uso da https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg tem tido para gerar impacto social em meio às crises sanitária e econômica. Além de ter sido usada para potencializar empreendimentos, ela também ajudou a mitigar problemas sociais e tornar as informações mais transparentes. Um exemplo foi o aplicativo Alerta Indígena Covid-19, criado em setembro do último ano para monitorar as mortes pelo novo coronavírus entre os povos da floresta. O projeto, de autoria da Coiab (coordenação das organizações indígenas da Amazônia) e do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), foi criado para “aliviar, em partes, um momento doloroso para a população indígena”, diz Ane Alencar, diretora de ciência do Ipam. Para a cientista, “a https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg propicia a democratização do conhecimento” não só para as mulheres, mas para negros e indígenas. Em um período marcado também pelo agravamento da crise ambiental, ela lembra que a ferramenta ajuda indígenas a acessarem conhecimento científico sobre mudanças climáticas. Assim, podem conectá-lo aos saberes empíricos que já têm. Um desafio que ainda pesa no campo da https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg, porém, é a baixa participação feminina. Nina da Hora, cientista da computação e colunista da revista MIT Technology Review, diz observar, em especial, um estigma com mães no mercado de TI (https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg da informação). “Parece que, para a sociedade, quando uma mulher tem filhos ela perde a capacidade de gerenciar sua vida no mercado de trabalho. Vi muitas casos em que mulheres foram afastadas da conquista de postos de tomada de decisão na https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg somente porque engravidaram.” Junto com iniciativas que provenham da sociedade civil, as participantes destacam que o Estado não pode se ausentar. “Se conseguirmos empurrar políticas públicas inclusivas para mulheres, sairemos desta crise econômica com mais rapidez”, diz Ana Fontes, da Rede Mulher Empreendedora, projeto de capilaridade nacional. Colaborações internacionais também são bem-vindas nesse sentido. O British Council, organização do Reino Unido com foco em relações culturais, tem investido em dois programas que fortalecem o empreendedorismo feminino. O Dice (Developing Inclusive and Creative Economies) apoia o desenvolvimento de economia criativa e negócios de impacto social em seis países, entre eles o Brasil. Já o programa Women in Science (mulheres na ciência, em português) apoia a diversidade de gênero em instituições científicas. “Nossos focos com essas iniciativas são a igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres, duas ferramentas essenciais para que a gente possa superar as barreiras sociais relacionadas à participação e à liderança feminina”, aponta o diretor do British Council Brasil, Andrew Newton, responsável pela fala de abertura do encontro. O webinário foi mediado pela jornalista Eliane Trindade, editora do prêmio Empreendedor Social. FOLHA DE S. PAULO