Governo espera arrecadar R$ 25 bilhões com privatização da Eletrobrás

O governo federal espera arrecadar R$ 25 bilhões com a privatização da Eletrobrás, estatal com foco em geração e transmissão de energia, e espera que a operação em que a União deixará de ser a acionista majoritária da empresa seja concluída até dezembro deste ano. O valor é maior que os R$ 16,2 bilhões iniciais com os quais o governo contava porque a Medida Provisória enviada ao Congresso na terça-feira incluiu a possibilidade de renovação antecipada da hidrelétrica de Tucuruí, um dos principais ativos da subsidiária Eletronorte. A usina tem 4 mil megawatts médios de garantia física e sua concessão vence em 2024, mais da metade dos 7,5 mil MW médios das outras usinas da Eletrobrás que também terão os contratos alterados. O valor deverá ser pago para que a Eletrobrás possa alterar o regime de exploração da energia de suas usinas, de cotas – que cobrem apenas custos de operação e manutenção – para o modelo de produção independente – de preços livres. A “descotização” poderá ser feita em um prazo entre três e dez anos, mas as premissas do governo enviadas pelo Ministério de Minas e Energia à Eletrobrás e divulgadas ao mercado consideram um horizonte de cinco anos. O secretário especial de Desestatização, Desinvestimento e Mercados do Ministério da Economia, Diogo Mac Cord, disse que o valor que o Tesouro arrecadará e o que deve ser injetado na CDE ainda poderão ser alterados pelo Ministério de Minas e Energia, através do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), colegiado de ministros presidido pelo MME. Mas ele garantiu que o processo não será feito de uma única vez, de forma a reduzir as tarifas rapidamente em um ano para, logo depois, haver aumento novamente – como ocorreu após a Medida Provisória 579/2012, editada durante o governo Dilma Rousseff. Mac Cord afirmou que a Eletrobrás também deverá pagar outros R$ 25 bilhões para o fundo setorial Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), em dez anos, de forma a abater os custos de subsídios embutidos nas tarifas. Isso será feito de forma associada a outro projeto, o PLS 232, já aprovado no Senado e enviado à Câmara, conhecido como novo marco do setor elétrico, que visa a reduzir o volume descontos tarifários embutidos nas contas de luz. Projetos“Precisamos trazer racionalidade para as tarifas de energia, com reajustes mais próximos da inflação, como era antes da MP 579/2012”, disse ele. “A redução do custo da energia será organizada e estruturada”, acrescentou. Ainda sobre os valores que deverão ser pagos pela Eletrobrás, Mac Cord disse que não há como aumentar os valores destinados pela Eletrobrás na forma de políticas públicas de apoio às regiões Norte, Nordeste e Sudeste. Ao todo, serão R$ 8,75 bilhões distribuídos ao longo de dez anos, mas os valores serão corrigidos pela inflação. Segundo ele, de outra forma, “o projeto não para em pé”. Ele disse que a maioria dos políticos no Congresso quer direcionar recursos para suas regiões, o que é um movimento legítimo. O secretário disse que a ação de classe especial (golden share) que o governo vai deter na Eletrobrás vai garantir que a empresa seja uma corporation, com controle pulverizado entre diversos acionistas. Segundo ele, a golden share vai proibir alterações futuras no estatuto da companhia que possam flexibilizar o limite de 10% da participação de cada acionista no capital social da Eletrobrás – como propõe a Medida Provisória enviada pelo governo no dia 23. IntervencionismoPara Mac Cord, o envio da MP ao Congresso na terça-feira, 23, pelas mãos do presidente Jair Bolsonaro é prova do comprometimento do governo com a agenda liberal e o programa de privatizações. Ele disse que não há motivo para acreditar que o general Joaquim Silva e Luna, escolhido por Bolsonaro para presidir a Petrobrás no lugar de Roberto Castello Branco vá descontinuar a venda de refinarias ou mudar a política de preços da empresa. Segundo Mac Cord, as oscilações no mercado sobre as ações da Petrobrás e Eletrobrás são “comuns” pelo fato de serem empresas públicas. “Empresa pública oscila mais que empresa privada. Quem investe precisa ter estômago forte”, afirmou. Para ele, a tendência é de que as ações das companhias se recuperem. O ESTADO DE S. PAULO

Imposto de Renda 2021: Receita libera programa para declaração; veja como baixar

A Receita Federal liberou nesta quinta-feira, 25, o programa para preenchimento e transmissão da declaração de Imposto de Renda 2021, ano-base 2020. A entrega da prestação de contas ao Fisco começa na próxima segunda-feira, 1º, mas já é possível deixar todas as informações prontas. O prazo final é dia 30 de abril. Vale lembrar que, nos casos em que o contribuinte tem valores a receber, quanto mais rápida a entrega da declaração, mais cedo virá a restitução. Assim como no ano passado, o calendário de pagamentos será de cinco meses, de maio até setembro. Para baixar o programa, basta acessar este link, disponibilizado pela própria Receita. Caso queira efetuar o download por aqui, é só selecionar o sistema operacional que pretende utilizar. Quem precisa declarar o Imposto de Renda 2021 Renda tributável em 2020 superior a R$ 28.559,70Receita bruta rural em 2020 superior a R$ 142.798,50Renda não tributável em 2020 superior a R$ 40.000,00Encerrou 2020 com patrimônio superior a R$ 300.000,00Recebeu auxílio emergencial em qualquer valor e outro rendimento tributável superior a R$ 22.847,76Teve ganho de capital com venda de bens, realizou operações na Bolsa ou pretende compensar prejuízo com atividade rural O que muda na declaração de IR 2021 A Receita Federal reservou algumas mudanças e novas regras para a declaração do Imposto de Renda 2021. Entre elas, chama atenção a devolução do auxílio emergencial para contribuintes que receberam o benefício e também tiveram rendimentos tributáveis acima de R$ 22.847,76 no ano passado. Tem também algumas outras novidades, como a possibilidade de declaração pré-preenchida para contribuintes com conta no site gov.br. Até agora, essa opção só era acessível para usuários com certificado digital. O ESTADO DE S. PAULO

Estratégia populista e falso liberalismo

Algumas decisões do presidente Jair Bolsonaro podem passar a impressão de que a estratégia continua sendo de política econômica liberal. Mas é grave engano. A intervenção desastrada do presidente na Petrobrás produziu enormes estragos. A principal divergência de Bolsonaro com o presidente da Petrobrás, Roberto Castello Branco, talvez não tenha sido a questão dos preços dos combustíveis nem a política adotada, mas de falta de afinidade visceral, do tipo “não vou com tua cara, e pronto”. Mesmo se fosse por aí, não seria preciso tanta truculência. A substituição do presidente da Petrobrás poderia ter sido feita com jeito. Afinal, o mandato de Castello Branco terminaria em março. Se o chefe dos acionistas majoritários quisesse trocar o comando da Petrobrás, como se viu que quis, teria bastado acionar os mecanismos ordinários previstos para isso sem a turbulência que se viu depois. De todo modo, Bolsonaro parece ter sentido a necessidade de olhar para o outro prato da balança. Primeiramente, tratou de afagar a cabeça do ministro da Economia, Paulo Guedes, que vinha sendo ignorado. Na terça-feira, trabalhou para dar andamento no projeto de privatização da Eletrobrás – outro item da agenda liberal. Nesta quarta-feira, além de sancionar a lei de autonomia do Banco Central, pleito que não pode ser considerado populista, o governo também encaminhou ao Congresso o projeto de privatização dos Correios. Há alguns meses, o governo mudou sua política em relação à China. A hostilidade ostensiva aos produtos chineses, manifestada inicialmente na definição das regras da conexão 5G, foi trocada por atitude mais pragmática. A vacina Coronavac, produzida pelo Instituto Butantan em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac, teve há alguns meses o veto do presidente por ser “vacina da China e do governador João Doria”. Mas, diante da necessidade de iniciar a vacinação contra a covid-19 no País, o Ministério da Saúde acabou autorizado a comprá-la. Pesaram nessa mudança de postura os interesses do agronegócio, o setor mais dinâmico da economia brasileira. Mas essa aparente correção de rotas não significa reconversão a uma política econômica de equilíbrio fiscal e de apoio às reformas, onde prevalecessem a racionalidade das decisões e os princípios da livre concorrência. Bolsonaro deu inúmeras demonstrações de que seu objetivo é ganhar as eleições de 2022, custe o que custar. Para isso, ele precisa que a economia supere o atual marasmo e os 14 milhões de desempregados. Depois de ter feito os acordos já conhecidos com o Centrão, pretende conseguir a virada da economia com distribuição de auxílios sociais sem contrapartida de corte de despesas, com desoneração dos combustíveis também sem contrapartida fiscal, com preços artificiais da energia elétrica e com uma espécie de bolsa subsidiada aos caminhoneiros. Ele também afirma que o dólar acima de R$ 4,50 não atende a seus objetivos. Mas não disse como conseguiria derrubá-lo dos níveis atuais. Será esse seu próximo alvo? Apenas neste ano (até esta quarta-feira) os preços do petróleo tipo Brent e WTI subiram (em dólares) 27,41% e 31,67%, respectivamente. Não há nenhum indício de que a escalada pare por aí. Ao contrário, analistas do setor preveem que os preços do barril de 159 litros, que hoje oscilam em torno dos US$ 63, saltem para acima dos US$ 70. Mesmo se isso não acontecer, a nova direção da Petrobrás, que conta agora com as bênçãos do governo, terá de apontar o novo critério a ser adotado para os preços. O ESTADO DE S. PAULO

‘Marca Brasil’ perde seis posições em índice de percepção global, diz estudo

O Brasil perdeu seis posições no ranking do Índice Global de Soft Power (GSPI), que mede a percepção da marca-país de mais de 100 nações por meio de indicadores como reputação, reconhecimento e governança. De acordo com o relatório da consultoria inglesa Brand Finance, divulgado nesta quinta-feira, 25, fatores como a gestão da crise da covid-19 e a fuga de investidores estrangeiros fizeram o País cair da 29.ª posição geral – alcançada em 2020, primeiro ano da listagem – para o 35.º lugar. Por outro lado, países vistos como modelos no combate ao novo coronavírus registraram o movimento contrário. A Nova Zelândia, considerada o principal exemplo de gestão da crise, ganhou seis posições. “O Brasil é muito representativo na mídia. Tudo que se faz aqui é potencializado. Atribuo essa queda predominantemente à forma desorganizada com que o governo tratou a vacina, por exemplo, em algumas declarações. Essas falas rodam o mundo e acabam influenciando as pessoas”, explica Eduardo Chaves, diretor-geral da Brand Finance no País. No ranking que avalia a forma com que as pessoas classificam a performance dos países no enfrentamento à pandemia, o Brasil teve a segunda pior avaliação, ficando à frente apenas dos Estados Unidos. O país também perdeu posições no ranking geral, assim como China e Índia. Para as mais de 75 mil pessoas ao redor do mundo que participaram da pesquisa – entre o público em geral, de 102 países, e especialistas -, a crise da covid-19 também impactou de forma negativa a percepção das habilidades de governança do País. Apesar de a perda ter sido pequena (0,1), ganhos expressivos de outros países, como o Catar (0,8) contribuíram para a queda do Brasil. O próximo país-sede da Copa do Mundo, que ocupava a 31ª posição no GSPI em 2020, abaixo do Brasil, subiu cinco posições em 2021. O Brasil ganhou pontos por percepções de negócios (0,7), relações internacionais (0,7), influência (0,2) e reputação (0,1). No quesito familiaridade, a avaliação permaneceu a mesma, uma das maiores da lista. CulturaO País ocupa a 8.ª posição na categoria de herança cultural, que mede as referências de arte, entretenimento, culinária e esportes. Para Chaves, o mundo vê com bons olhos a música brasileira, que tem como representantes desde Tom Jobim até a cantora Anitta. Segundo o executivo da Brand Finance, o show realizado por Anitta durante o réveillon de Nova York reforçou a imagem positiva do País. “O Brasil gera uma lembrança positiva com a musicalidade. Neste ano, especificamente, o que fez as pessoas ao redor do mundo falarem do Brasil? Foi o bom nível dos nossos artistas. Tivemos uma artista nacional na Times Square – e isso eleva a percepção.” A participação do Brasil em grupos como o G-20 (das 20 maiores economias do mundo) e blocos como o Brics (que ainda inclui Rússia, Índia, China e África do Sul) também ajuda a percepção internacional do País, diz Chaves. O ESTADO DE S. PAULO

Arrecadação de impostos cai 1,5% e fica em R$ 180,2 bi em janeiro

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A arrecadação federal de impostos ficou em R$ 180,2 bilhões em janeiro, segundo dados divulgados nesta quinta-feira pela Receita Federal. Apesar de o resultado ser superior em termos nominais, houve uma uma queda de 1,5%, descontada a inflação do período. Segundo o Fisco, o resultado foi influenciado por pagamentos atípicos e compensações — opções que contribuintes têm de abater imposto. Sem esses fatores, a arrecadação teria crescido, afirma o órgão. “Sem considerar os pagamentos atípicos e as compensações, haveria um crescimento real de 3,72% da arrecadação no mês de janeiro de 2021. Esse desempenho pode ser explicado pelo comportamento da economia e pelo crescimento da arrecadação do IRPJ/CSLL, especialmente, das empresas que fecharam seus balanços no mês de dezembro de 2020”, diz o relatório da Receita. Apesar da queda em relação ao ano passado, a arrecadação em janeiro de 2021 ainda ficou acima do patamar R$ 180 bilhões, o que representa um volume superior a todos os outros anos da série histórica. O desempenho vem na esteira do resultado ruim de 2020, quando o valor levantado com tributos foi fortemente impactado pela pandemia de Covid-19. Com o surto do novo coronavírus, a arrecadação despencou 6,91% no ano passado, na comparação com 2019, já descontada a inflação. O governo arrecadou R$ 1,479 trilhão. Essa queda foi reflexo do tombo na atividade econômica e das medidas de mitigação que o governo adotou para combater os impactos da pandemia da Covid-19 sobre a economia. Com menos atividade, há menos arrecadação. O GLOBO

Famílias que dependiam de idosos mortos pela covid precisam de auxílio (José Pastore)

Os estudos sobre pobreza no Brasil indicam que ela castiga mais as famílias que têm crianças e menos as que têm pessoas idosas. Por outro lado, os dados dos epidemiologistas indicam que a covid-19 é mais letal entre idosos do que entre jovens e crianças: 75% das mortes ocorrem em pessoas com mais de 60 anos. O que isso tem a ver com a pobreza? No Brasil, um homem que morre com 60 anos poderia viver mais 18 anos e continuar contribuindo para a formação da renda em uma parcela grande de domicílios (35%) onde há pelo menos um idoso. Ana Amélia Camarano, uma das maiores autoridades em demografia econômica, revela que a crescente morte de idosos pelo coronavírus agrava enormemente a situação econômica das famílias porque muitas delas dependem da renda dos idosos. Os dados de 2019 mostram que, dentre os 73 milhões de domicílios brasileiros, cerca de 34 milhões tinham idosos. Nesses domicílios, eles respondiam por 71% da renda familiar. Cerca de 63% dos recursos vinham de aposentadorias e pensões e 37% do trabalho. Esse quadro deve persistir até os nossos dias. Ou seja, muitos idosos estão sustentando filhos, netos e outros parentes que vivem no mesmo domicílio (Ana Amélia Camarano, Os dependentes da renda dos idosos e o coronavírus: órfãos ou novos pobres?, Ciência & Saúde Coletiva, Vol. 25, Suplemento 2, 2020). Contrariando o senso comum, as pesquisas indicam que os idosos são menos atingidos pelo desemprego do que os jovens e continuam com grande responsabilidade na formação da renda de milhões de famílias (Pedro F. Nery e colaboradores, Probabilidade de desemprego por faixa etária, Brasília: Núcleo de Estudos e Pesquisas da Consultoria Legislativa, Senado Federal, 2018). Voltando ao tema, fica claro que, ao matar mais os idosos, a covid-19 causa um grande problema social porque as suas receitas respondem por mais de 50% da renda dos domicílios onde moram. Há casos mais graves. Em 13,5 milhões de domicílios (19% do total de domicílios), os idosos são os únicos responsáveis pela renda familiar. Na sua falta, a renda do trabalho é imediatamente zerada e a proveniente de aposentadorias (se tiverem) vira pensão que é reduzida. Em vista das graves dificuldades para exercer um trabalho formal e informal devido aos estragos da pandemia, os remanescentes dessas famílias dependerão nos próximos meses dos programas assistenciais. São grupos muito grandes. Os que dependem exclusivamente da renda dos idosos somam cerca de 35 milhões de pessoas; e os que dependem parcialmente, outros 30 milhões. Ou seja, a morte antecipada pelo coronavírus deixa um vazio nos corações dos entes queridos e um buraco profundo na capacidade de compra das famílias. Até janeiro de 2021, 150 mil idosos foram ceifados pela covid-19. Só isso subtraiu cerca de R$ 3 bilhões da massa salarial deste ano (Claudio Considera e Marcel Balassiano – Em busca do capital humano perdido, Rio de janeiro: Ibre/FGV, 13/10/2020). Redução de massa salarial, como se sabe, é redução de consumo, mais sofrimento e menos crescimento econômico. Sei e concordo que acudir as famílias pobres com crianças é prioridade máxima. Afinal, são as que carregam os que vão responder pelo futuro do Brasil. Mas, considerando que milhões de pessoas estão ficando repentinamente sem renda e sem trabalho porque dependiam dos idosos falecidos, defendo que esse grupo de famílias seja igualmente considerado dentre as prioridades para receber um novo auxílio emergencial. *PROFESSOR DA FEA-USP, PRESIDENTE DO CONSELHO DE EMPREGO E RELAÇÕES DO TRABALHO DA FECOMERCIO-SP, É MEMBRO DA ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS. O ESTADO DE S. PAULO

Fatiamento da PEC emergencial começa a ser discutido por líderes

A tentativa do governo de fazer uma desvinculação dos pisos de saúde e educação fez aumentar as pressões por uma nova “desidratação” da proposta de emenda à Constituição (PEC) emergencial, em tramitação no Senado. Líderes partidários passaram a discutir, nos bastidores, um possível “fatiamento” da matéria, de forma que apenas os artigos que viabilizam o novo auxílio emergencial seriam votados. A tese foi endossada até mesmo pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), o que fez o governo reagir publicamente. Palácio do Planalto e equipe econômica insistem na votação de uma proposta “robusta” que aponte para a “responsabilidade fiscal”. As discussões pela desidratação ganharam força por conta do impasse em relação à revogação dos mínimos constitucionais de saúde e educação, proposta inserida no texto pelo relator Márcio Bittar (MDB-AC). O ex-presidente do Senado Davi Alcolumbre (DEM-AP), agora presidente da Comissão de Constituição e Justiça, foi um dos primeiros a admitir, no entanto, que o projeto dificilmente será levado à votação se o governo insistir nessa medida. Ele disse à imprensa que a PEC só deve ser analisada pelo plenário se houver um acordo neste sentido. “Não vai votar, está dando confusão. O acordo que pode se buscar é tirar [a desvinculação]”, explicou. “A polêmica maior[é essa. Tem muita coisa lá na PEC que estão conversando. A proposta já está ficando enxuta”, complementou. Pacheco, por outro lado, acabou fazendo um aceno ao fatiamento. “Eventualmente pode ser uma possibilidade”, admitiu. Não é de hoje que o presidente do Senado mostra contrariedade com a votação casada dos dois temas: auxílio emergencial e gatilhos fiscais. Desde o início das negociações, o presidente do Senado vem enfatizando que a aprovação da PEC Emergencial não pode ser uma “condicionante” para que o governo autorize o pagamento de um novo benefício destinado às camadas mais atingidas pela pandemia. Todo esse movimento fez o Executivo se contrapor. O líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDBPE), reiterou que a ideia é levar ao plenário da Casa uma PEC “sem fatiamento”. “A PEC emergencial não será fatiada. Vamos votar uma PEC robusta, que traduza o compromisso com a sustentabilidade da dívida e a responsabilidade fiscal”, defendeu. A equipe econômica também rechaça a ideia de fatiamento da PEC emergencial, admitida por Pacheco. Quando os rumores em torno dessa possibilidade surgiram na Câmara, na terça-feira, o presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), negou peremptoriamente, mensagem reforçada por fontes graduadas. No Ministério da Economia, há uma percepção de que é grande a chance de a desvinculação dos gastos de saúde e educação, revogando seus pisos, cair até a votação da medida. E isso até não é visto como um grande problema, desde que o núcleo da PEC (colocando a dívida como âncora fiscal, os gatilhos para congelar despesas e as regras de emergência fiscal e calamidade) não seja revogado. Uma fonte lembra que o próprio governo sabia da enorme dificuldade política em torno do tema, tanto que originalmente, ainda em 2019, propôs unificar os pisos, em vez de extingui-los. A avaliação é que, do jeito que está hoje, em muitos casos o piso é apenas fonte de ineficiência de gastos, principalmente em municípios, que acabam tendo que gastar em educação mesmo com poucos jovens. No Ministério da Economia também já se considera o cenário de adiamento da votação para a próxima semana. Na prática, isso atrasa mais o pagamento do auxílio, dado que o governo, pelo menos até o momento, disse que só publicará uma MP renovando o benefício após a PEC aprovada no Senado.. Embora o adiamento seja vantagem para os que não querem votar, a área econômica avalia que o clima está favorável para a votação e aprovação da matéria. VALOR ECONÔMICO

É preciso reforçar a gestão de pessoas para além das crises

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A pandemia levou muitas organizações a repensar o planejamento da gestão de pessoas e do ambiente de trabalho, saindo de uma abordagem reativa a crises (econômica, de imagem ou social) ou à própria disrupção digital, para a construção de uma base sólida capaz de prosperar em múltiplos cenários. Os executivos, tanto globalmente quanto no Brasil, reconhecem hoje que o planejamento de eventos esperados e incrementais não é uma estrutura forte para o negócio prosperar em cenários futuros desconhecidos. Esta é a principal conclusão da nova edição do estudo de tendências de gestão de pessoas (HC Trends 2021) da consultoria Deloitte. Antes da covid-19, 40% de executivos brasileiros e 28% no mundo disseram que suas empresas não tinham uma estratégia de preparação preventiva – e cerca de 40% do total afirmaram que focavam em “eventos incrementais”. No pós-covid, o foco em planejar-se para eventos múltiplos e diversos alcança 50% do total das empresas dos executivos entrevistados. O estudo ouviu 6 mil profissionais (sendo 3,6 mil deles executivos) de 99 países. No Brasil, foram ouvidos 271 profissionais, sendo 30% vice-presidentes e diretores, 36% da área de recursos humanos (RH) e 64% da área de negócios. Na autoanálise sobre o quanto consideram suas organizações bem posicionadas para lidar com mudanças drásticas no futuro, 43% dos brasileiros disseram que estão preparadas versus 41% no âmbito global. “Há um limiar hoje entre sobreviver e prosperar o negócio atendendo as demandas atuais, mas tocando aquelas imprevisíveis em cenários futuros. A maior parte das companhias ainda trabalha em um movimento de ‘reação’ ao que ocorre”, diz Luiz Barosa, sócio da área de capital humano da Deloitte. Melhorar esse “nível de prontidão”, como a consultoria define esse indicador, exige o comportamento direto da liderança para 60% do total de entrevistados. Em segundo lugar, vem o desafio de adaptar sua cultura para agir de outra forma para cerca de 50% e um redesenho da forma de trabalho para aproximadamente 40%. “É a liderança quem vai dar o tom da transformação necessária, seja unindo as pessoas em uma única direção, seja promovendo o bem-estar, seja mapeando e promovendo a requalificação da força de trabalho para que todos sejam capazes de se adaptar e desempenhar suas funções com a https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg”, diz Barosa. O que impede hoje a liderança de empreender essa transformação da força de trabalho com maior escala e eficácia é, para 59% dos brasileiros, o grande número de prioridades, que “competem entre si” na gestão. Há também uma percepção, para 42%, que faltam competências e experiência nos líderes. Para 40% o problema é limitação financeira e 18% citam “falta de visão” na organização. “Hoje, de fato, o Brasil experimenta uma escassez de profissionais com fluência em https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg preparados para lidar e repensar o desenho do trabalho a partir de todos os novos fatores”, diz Barosa. O executivo analisa que a https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg, com “raras exceções de empresas brasileiras excepcionais”, é aplicada no que é “incremental”: melhoria do que já é feito para ganhar eficiência e diminuir os erros. “Enquanto isso, muitos países estão mais avançados, incorporando pessoas e https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpgs no mesmo ambiente, trabalhando a gestão de pessoas diante da automação, criando o que chamamos de ‘super times’”. No Brasil, 14% dos executivos afirmam que as empresas estão fazendo um investimento significativo para alcançar resultados na transformação do trabalho ao passo que globalmente temos 20%. Reimaginar a forma de trabalho, alcançando resultados diferentes com novas combinações de https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg e pessoas, é o principal objetivo dessa transformação nos próximos três anos, segundo 72% dos brasileiros e 61% dos líderes globais entrevistados. O estudo da Deloitte também indica que a confiança no departamento de RH, entre os executivos de negócios, aumentou com a pandemia. O percentual de ‘muito confiantes’ com a importância da área para navegar em cenários futuros, aumentou de 9% em 2020 para 12% em 2021. Entre os ‘confiantes’, esse número cresceu de 33% para 42% e a proporção de executivos “não confiantes” no RH caiu drasticamente: de 26% para 12%. No Brasil, 65% dos profissionais entrevistados que não são de RH confiam na importância da área. “Nos últimos anos, os RHs já vinham incorporando novos atributos e responsabilidades relacionadas à agilidade, a colocar o cliente no centro das decisões e à experiência total do colaborador. Mas com a pandemia, assumiram um papel de protagonista na quebra de muitos paradigmas sobre como o trabalho é feito”, diz Barosa. Cuidar da segurança física e saúde mental das pessoas, melhorar a comunicação entre toda a força de trabalho e promover o bem-estar foram as três frentes onde os entrevistados consideram que o RH teve maior impacto. No pós-covid, Barosa avalia dois desafios da área. Continuar fomentando o binômio “colaboração e agilidade” na cultura organizacional e mostrar resultados concretos de suas ações. “Abriu-se uma janela de oportunidade para os recursos humanos, mas é preciso ser assertivo para manter a confiança dos executivos e esse papel estratégico nos próximos anos”. VALOR ECONÔMICO

Jovem vê renda cair mais que a média e teme ‘efeito cicatriz’

Tradicionalmente, os jovens já são os que têm maior dificuldade de inserção no mercado de trabalho. Numa crise, a situação piora, diante da concorrência de profissionais mais experientes e dispostos a ganhar menos. Na pandemia, a condição é ainda mais crítica, já que o setor de serviços, um dos grandes empregadores, foi profundamente atingido. Os números mostram que os jovens tiveram avanço expressivo no desemprego e a maior perda de renda entre as faixas etárias no ano passado, situação que ainda deve se agravar neste início de 2021. Mais do que o impacto no curto e no médio prazos, no entanto, o que preocupa os especialistas são as marcas que esta geração carregará ao longo de sua vida profissional, o chamado “efeito cicatriz”. Um detalhe que complica o cenário é o fato de que a pandemia veio quando a atividade econômica no país pouco tinha se recuperado da recessão recente, o que já afetava a busca por trabalho. “O jovem não é uma grande vítima da pandemia do ponto de vista sanitário, mas é do mercado de trabalho. Ele sentirá o impacto na sua vida profissional. Eles começam a trajetória em um ponto mais baixo e a curva de ascensão profissional fica comprometida”, afirma Marcelo Neri, diretor do FGV Social. Levantamento feito pelo economista mostra que a renda dos adolescentes (15 a 19 anos) e dos jovens (tanto os mais novos, entre 20 e 24 anos, quanto os mais velhos, entre 25 e 29 anos) caiu 34%, 25% e 22%, respectivamente entre o primeiro e o terceiro trimestres de 2020. O ritmo é bem superior ao da média dos trabalhadores (18%). “A desigualdade da renda do trabalho aumentou. O grande medo da pandemia era com o desemprego, mas a renda dos ocupados caiu muito”, aponta Neri. Publicado antes da pandemia, um estudo do professor do Insper e da FEA-USP Naercio Menezes, ao lado de dois colegas, já apontava para o efeito permanente para o futuro de quem entra no mercado de trabalho em períodos de recessão: a tendência é de mais desemprego e menos renda ao longo da vida. “O início da vida profissional é a chance de o jovem experimentar, conhecer diferentes áreas de trabalho, descobrir o que ele mais gosta de fazer. Na crise, a disponibilidade de empregos diminui e aí ou ele fica desempregado ou pega a primeira oportunidade que aparece. Isso afeta a produtividade lá na frente”, aponta Menezes. O estudo mostra que os jovens menos qualificados acabam sendo os mais prejudicados, especialmente no que diz respeito ao rendimento. Mesmo os que conseguem emprego ficam “presos” a trabalhos de menor qualificação, sem opção de sair para buscar melhores oportunidades. Neste contexto da pandemia, acabam também mais intensamente prejudicados por terem que enfrentar as limitações da educação pública. Com 20 anos, Ursula Albuquerque Campos está terminando o ensino médio pela Educação de Jovens e Adultos (EJA), depois de interromper o ensino convencional há alguns anos. Hoje, estuda cerca de uma hora e meia por dia com os vídeos enviados pelos professores da escola pública em que estuda, na zona sul do Rio, e os exercícios, bem menos do que na época de ensino presencial. Ela perdeu o emprego de ajudante em uma van escolar antes da pandemia e, como mora com a avó, voltou a buscar trabalho só no segundo semestre. “Já mandei dezenas de currículos e não fui chamada para nenhuma entrevista. Tenho ajudado o pai do meu namorado, que tem uma barraca na praia, em Copacabana, e ganho por dia, de acordo com as vendas, mas queria um trabalho mais certo.” Mesmo os jovens com mais qualificação têm sentido as dificuldades do mercado de trabalho. Formado em direito pelo Ibmec, Enrico Noronha Indelicato, de 23 anos, já tinha passado no exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) antes mesmo da formatura, no fim de 2019. A pandemia atrasou a liberação da carteira exigida para as funções na área e, mesmo depois de já ter o documento, ainda não conseguiu uma oportunidade. Ele tem procurado em sites de empregos, pelo LinkedIn, enviado currículos para empresas e para conhecidos, mas até agora só conseguiu duas entrevistas. “Falam que sou um ótimo candidato, mas que preciso de mais experiência. A sensação é que querem alguém pronto, não têm interesse em treinar. E agora, com a pandemia, tem muita gente procurando quem tem mais experiência que eu. A sensação é de ficar encurralado”, diz ele. Preocupado com a crise, Noronha lembra principalmente dos colegas que usaram o financiamento estudantil e agora têm uma dívida a pagar, mesmo sem terem conseguido trabalho ainda. A queda brusca nas oportunidades para programas de estágio e de trainee e também de jovem aprendiz é um dos sinais das dificuldades enfrentadas pelos jovens. Os números vêm se recuperando gradualmente, apontam as empresas que organizam esses programas, mas ainda são inferiores ao do período pré-pandemia. Segundo o Núcleo Brasileiro de Estágios (Nube), a expectativa é que haja oferta de 44,6 mil vagas de estágio neste primeiro trimestre do ano, queda de 4% em relação a igual período do ano passado. O presidente do Nube, Seme Arone Junior, e a gerente de desenvolvimento e inserção profissional da Fundação Mudes, Celia Gonzaga, são unânimes em ressaltar a importância de o jovem investir em mais qualificação enquanto segue na busca por trabalho, seja com pós-graduação, seja com cursos livres. Eles apontam que é preciso procurar não apenas por cursos técnicos, como de informática e em áreas específicas de atuação, mas também comportamentais, com dicas de como fazer bom currículo e se comportar em entrevistas. VALOR ECONÔMICO

Mercedes-Benz abre mil vagas na fábrica de caminhões no ABC paulista

A Mercedes-Benz informou nesta quarta-feira, 24, a contratação de 1 mil funcionários para a fábrica de São Bernardo do Campo, no ABC paulista. A maior parte das novas vagas abertas no início do ano são de trabalhadores temporários (por seis meses a um ano, com possibilidade de renovação) e aprendizes que foram efetivados. O presidente da empresa no Brasil e na América Latina, Karl Deppen, afirma que o grupo confia na melhora do mercado neste ano e está reforçando a produção de caminhões. A fábrica tem 8,5 mil funcionários atualmente. Como ainda há desafios a serem enfrentados para a economia voltar a crescer de forma sustentável – entre eles um plano de vacinação, reforma tributária e normalidade na cadeia de fornecedores -, a empresa decidiu pelas vagas temporárias. Como outras montadoras no Brasil e em outros países, a Mercedes também enfrenta a falta de componentes, o que tem provocado atrasos na produção, mas informa que não precisou, até o momento, fazer paradas. Deppen afirma ainda que há problemas de logística como falta de contêineres, atrasos na chegada de navios e o frete aéreo – que era uma alternativa para receber peças mais rapidamente – ficou extremamente caro. “Como o transporte de passageiros diminuiu, não existe porão disponível (em aeronaves)”, explica o executivo. Para ele, o problema ainda vai demorar para ser resolvido e se soma aos aumentos dos preços do aço, ferro, borracha e plástico, situação que afeta também toda a cadeia de fornecedores. Apesar disso, lembra Deppen, a Mercedes-Benz está mantendo o investimento de R$ 2,4 bilhões no Brasil programado para o período de 2018 a 2022, sendo que R$ 800 milhões ainda estão em andamento para serem aplicados em produtos, serviços, conectividade e sustentabilidade. A Mercedes estuda adotar no Brasil as novas https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpgs desenvolvidas pela matriz alemã de caminhões e ônibus elétricos ou movidos a célula de combustível “quando esse mercado virar realidade”. Segundo Deppen, o grande desafio para o País é a infraestrutura. “Temos a https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg, mas precisamos encontrar soluções certas para trajetos urbanos e de longa distância.” A montadora foi líder nos segmentos de caminhões e ônibus em 2020, com respectivas participações de 31,6% e 46,7% no mercado total. Para este ano o grupo trabalha com as mesmas previsões da Associação Nacional dos fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), de vendas totais de 101 mil caminhões e 16 mil chassis de ônibus – ambos com crescimento de 13% em relação ao ano passado. O ESTADO DE S. PAULO