Maia pede foco na pandemia e descarta agir contra Bolsonaro
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), reforçou ontem que a prioridade neste momento deve ser evitar o aumento do número de mortes por covd-19 e descartou que as atenções da cúpula do Parlamento estejam voltadas ao avanço de um dos pedidos de impeachment que tramitam na Casa contra o presidente Jair Bolsonaro. No entanto, ele repetiu que o impeachment pode entrar no pauta “em algum momento no futuro”. Maia também deixou no radar a possibilidade de uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) ser criada para “investigar tudo que aconteceu na área de saúde durante a pandemia”. “Neste momento, acho que com tantas vidas perdidas pelo Brasil e com o caso dramático de Manaus esse tem que ser o nosso foco”, disse Maia a jornalistas. Para o presidente da Câmara, porém, esta não é a hora adequada para tratar desses assuntos. “Acho que, neste momento, se a gente tira o foco do enfrentamento ao coronavírus, a gente transfere para o Parlamento uma crise política e deixa de focar no principal neste momento, que é tentar salvar vidas”, pontuou. As declarações ocorrem em meio ao aumento da pressão nas redes sociais para que Maia aceite um pedido de afastamento contra Bolsonaro, devido ao agravamento da pandemia. A falta de oxigênio em Manaus, por exemplo, colocou em xeque a capacidade logística do governo em lidar com a crise. Além disso, declarações de Bolsonaro geraram críticas da oposição, que apresentou um novo pedido de impeachment. A indignação aumentou ainda mais depois que foi revelado que o Ministério da Saúde recebeu avisos do governo do Amazonas sofre a falta de oxigênio dias antes do agravamento da situação no Estado, mas não teria adotado as medidas para evitar o colapso do sistema de saúde local. Reservadamente, aliados de Maia afirmam que os recentes desabafos do presidente da Câmara contra o chefe do Poder Executivo foram motivados por um “possível cansaço” em relação aos ataques sofridos pelos bolsonaristas e pelo próprio presidente da República nas redes sociais. Os movimentos recentes de Maia também são interpretados como um aceno à oposição em meio à disputa pelo comando da Casa. Como alguns integrantes de partidos de esquerda vêm flertando com Arthur Lira (PP-AL), candidato apoiado por Bolsonaro, o parlamentar do DEM passou a mencionar a possibilidade de um impeachment no futuro. A ideia seria passar aos parlamentares a percepção de que um processo de afastamento tem mais chances de avançar, se a Câmara for comandada por um aliado dele do que por um deputado alinhado ao Palácio do Planalto. Apesar do aceno aos processos que estão à Mesa, a lembrança de que o “timing” pode não ser o adequado também está relacionado ao fato de que Maia não poderia acatar um dos pedidos de impeachment durante o recesso parlamentar. Desde o ano passado, ele pediu em mais de uma oportunidade que o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEMAP), se juntasse a ele na autoconvocação dos trabalhos do Congresso em janeiro, para que se pudesse analisar medidas relacionadas ao combate ao coronavírus, aos efeitos da crise e ao plano nacional de vacinação. O presidente da Câmara precisaria também contar com apoio majoritário da Casa. Além do impasse técnico, a abertura de um dos processos de impeachment ainda esbarra na avaliação de Maia de que ainda não há o clamor popular necessário para levar atuais aliados do Planalto a votarem pelo afastamento de Bolsonaro. Integrantes do grupo político de Maia avaliam que Alcolumbre não cederá à pressão do correligionário. De olho em um cargo na Esplanada dos Ministérios após deixar o comando do Senado, o amapaense está disposto a segurar o recesso e, assim, evitar que presidente da Câmara articule a favor de Baleia ou acolha um dos pedidos de impeachment. VALOR ECONÔMICO
Guedes aposta em vitória de Lira para reapresentar proposta de nova CPMF
A proximidade das eleições para o comando da Câmara e do Senado, marcadas para 1.º de fevereiro, recolocou de novo a proposta de criação de um tributo sobre transações financeiras, nos moldes da antiga CPMF, na agenda da equipe econômica. Desta vez, com uma alíquota mais baixa. A expectativa é grande porque o candidato apoiado pelo Palácio do Planalto na Câmara, o deputado Arthur Lira (PP-AL) – que até agora aparece à frente das intenções de voto, segundo placar do Estadão –, já se manifestou no ano passado favorável ao tributo, com a condicionante de que fosse aprovado com uma alíquota menor. Nos últimos dois anos, a proposta já entrou e saiu diversas vezes da agenda do governo, mas a avaliação da equipe econômica é que o cenário do mercado de trabalho pós-pandemia vai abrir o caminho para que ela ganhe força. Isso porque a promessa é que o novo tributo, que seria cobrado de todas as transações, poderá compensar uma redução nos encargos cobrados das empresas sobre os salários dos funcionários. Na teoria, a redução estimularia a abertura de mais vagas de trabalho, com custo menor. O ministro da Economia, Paulo Guedes, deu sinais, nas últimas duas semanas, que pode voltar com a proposta após as eleições do Congresso. Como mostrou reportagem do Estadão na semana passada, o presidente Jair Bolsonaro já sinalizou para caciques do Congresso que aceitaria uma alíquota de 0,10% para o novo tributo. Esse porcentual seria cobrado tanto no débito como no crédito, na retirada e no depósito de recursos, ou seja, nas duas pontas. Quando o apoio dos líderes dos partidos ao novo tributo tinha sido costurado para o anúncio em reunião no Palácio da Alvorada, o presidente, Jair Bolsonaro, chamou os seus líderes na Câmara, Senado e Congresso e abortou a medida. Com uma alíquota de 0,10%, a arrecadação prevista é de R$ 60 bilhões. Um integrante da equipe econômica, que falou na condição de anonimato, disse que Guedes é persistente e que não desistiu da ideia porque considera a desoneração essencial para avançar com a agenda de aumento em massa do emprego. O foco será mostrar que não se trata de aumento da carga, porque os impostos sobre os salários seriam desonerados. Na visão do governo, uma medida compensaria a outra. Ou, como já disse Guedes, se colocaria um “imposto feio” (a nova CPMF) no lugar de um “horroroso” (a cobrança sobre os salários). Num cenário de vitória de Arthur Lira, acredita-se que o apoio do presidente será conquistado, já que ele já tinha sinalizado essa possibilidade com alíquota de 0,10%. O atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), sempre se colocou contra a volta da CPMF e chegou a afirmar que, enquanto comandasse a Casa, o novo tributo não seria discutido entre os deputados. Esse foi um dos motivos da desavença entre Guedes e Maia que acabou atravancando a tramitação da proposta de reforma tributária – paralisada no ano passado. OposiçãoAo Estadão, o principal concorrente de Lira na sucessão de Maia, o deputado Baleia Rossi (MDB-SP), disse que a CPMF é um imposto muito ruim. “Não tem espaço para aumento da carga tributária. A nossa reforma tributária, que é a PEC 45, com ajustes da PEC 110 e o projeto do governo, vai ajudar a geração de empregos e a retomada da economia”, disse Baleia. “Não vejo a CPMF tendo algum impacto positivo na economia, senão aumentar a carga tributária. Não é bom.” Baleia Rossi lembrou que o Brasil está vivendo um processo de desindustrialização da economia, evidenciado pela saída da Ford do País. “A reforma tributária em discussão na Câmara tem condições de reverter esse processo”, disse Baleia, que é o autor da PEC 45. A reforma tributária em tramitação na Câmara (PEC 45) substitui cinco tributos (IPI, PIS, Cofins, ICMS e ISS) pelo IBS (Imposto sobre Bens e Serviços). A alíquota estimada para não alterar a arrecadação é de 20% a 25%. A receita seria compartilhada entre União, Estados e municípios. O ESTADO DE S. PAULO
No 7º mês seguido de alta, ‘prévia’ do PIB tem elevação de 0,59% em novembro, aponta BC
Após a forte retração nos meses de março e abril, em razão dos efeitos da pandemia do novo coronavírus, a atividade econômica brasileira apresentou o sétimo mês consecutivo de alta em novembro de 2020. Apesar do resultado positivo, o nível desacelerou na comparação com os meses anteriores e não atingiu patamar de antes da covid-19. O Banco Central informou nesta segunda-feira, 18, que seu Índice de Atividade (IBC-Br), uma espécie de prévia do PIB, subiu 0,59% em novembro ante outubro, na série já livre de influências sazonais, uma espécie de “compensação” para comparar períodos diferentes. Em outubro, o avanço havia sido de 0,75% (dado revisado). Os efeitos da pandemia do novo coronavírus sobre a economia, apesar de percebidos em fevereiro do ano passado, se intensificaram em todo o mundo a partir de março. Para conter o número de mortos, o Brasil adotou o isolamento social em boa parte do território, o que impactou a atividade econômica. Os efeitos negativos foram percebidos principalmente em março e abril. A partir de maio, o indicador apresenta uma sequência de altas, sempre na comparação com o mês anterior, e o número de novembro é o menor entre eles. De outubro para novembro, o índice de atividade calculado pelo BC passou de 136,61 pontos para 137,41 pontos na série dessazonalizada. Este é o maior patamar desde fevereiro do ano passado (140,02 pontos), ou seja, de antes da pandemia. A alta do IBC-Br ficou dentro do intervalo projetado pelos analistas do mercado financeiro consultados pelo Projeções Broadcast, que esperavam resultado entre +0,20% e +1,50% (mediana em +0,50%). Na comparação entre os meses de novembro de 2020 e novembro de 2019, houve baixa de 0,83% na série sem ajustes sazonais. Esta série encerrou com o IBC-Br em 139,98 pontos em novembro, ante 139,14 pontos no mesmo mês de 2019. Conhecido como uma espécie de “prévia do BC para o PIB”, o IBC-Br serve mais precisamente como parâmetro para avaliar o ritmo da economia brasileira ao longo dos meses. A projeção atual do BC para a atividade doméstica em 2020 é de retração de 4,4%. Este cálculo foi atualizado no Relatório Trimestral de Inflação (RTI) de dezembro. O ESTADO DE S. PAULO
PIS/Pasep 2020/2021: Caixa paga abono salarial para nascidos em janeiro e fevereiro
Cerca de 3,4 milhões de trabalhadores nascidos em janeiro e fevereiro começam a receber, nesta terça-feira, 19, R$ 2,75 bilhões referentes ao abono salarial do calendário 2020/2021 – ano-base 2019. A Caixa Econômica Federal depositará o dinheiro na conta corrente informada ou na conta poupança digital, usada para pagar o auxílio emergencial, para quem não é cliente do banco. As poupanças digitais podem ser movimentadas pelo aplicativo Caixa Tem. Disponível para telefones celulares, o aplicativo permite o pagamento de contas domésticas (água, luz, telefone e gás), boletos bancários, compras com cartão de débito virtual pela internet e compras com código QR em estabelecimentos parceiros. Para os funcionários públicos ou trabalhadores de empresas estatais, vale o dígito final do número de inscrição do Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público (Pasep). A partir de quarta-feira, 20, fica disponível o crédito para inscritos com final 5. O Pasep é pago pelo Banco do Brasil. Os trabalhadores que nasceram entre julho e dezembro receberam o abono salarial do PIS em 2020. Os nascidos entre janeiro e junho terão o recurso disponível para saque em 2021. Os servidores públicos com final de inscrição do Pasep entre 0 e 4 também receberam em 2020. As inscrições com final entre 5 e 9 ficaram para 2021. O fechamento do calendário de pagamento do exercício 2020/2021 ocorre em 30 de junho. Quem tem direitoTem direito ao abono salarial 2020/2021 o trabalhador inscrito no Programa de Integração Social (PIS) há pelo menos cinco anos e que tenha trabalhado formalmente por pelo menos 30 dias em 2019, com remuneração mensal média de até 2 salários mínimos. Também é necessário que os dados tenham sido informados corretamente pelo empregador na Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) ou e-Social, conforme categoria da empresa. Recebem o benefício na Caixa os trabalhadores vinculados a entidades e empresas privadas. Em todo o calendário 2020/2021, a Caixa deve disponibilizar R$ 15,8 bilhões para 20,5 milhões trabalhadores. As pessoas que trabalham no setor público têm inscrição no Pasep e recebem o benefício no Banco do Brasil. Nesse caso, o beneficiário pode optar por realizar transferência (TED) para conta de mesma titularidade em outras instituições financeiras, nos terminais de autoatendimento do BB ou no portal do banco, ou ainda efetuar o saque nos caixas das agências. Para o exercício atual, o BB identificou abono salarial para 2,7 milhões trabalhadores vinculados ao Pasep, totalizando R$ 2,57 bilhões. Desse montante, aproximadamente 1,2 milhão são correntistas ou poupadores do BB, e aqueles com final de inscrição de 0 a 4 receberam seus créditos em conta antecipadamente no dia 30 de junho, no total de R$ 580 milhões, segundo a instituição financeira. Abono salarial anteriorOs trabalhadores que não sacaram o abono salarial do calendário anterior (2019/2020), finalizado em 29 de maio, ainda podem retirar os valores. O prazo vai até 30 de junho de 2021. O saque pode ser feito nos canais de atendimento com cartão e senha Cidadão, ou nas agências da Caixa. A consulta sobre o direito ao benefício, bem como ao valor à disposição, pode ser feita por meio do aplicativo Caixa Trabalhador, pelo atendimento Caixa ao Cidadão (0800-726-0207) e no site do banco. No caso do Pasep, os recursos ficam disponíveis para saque por cinco anos, contados do encerramento do exercício, de acordo com resolução do Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador (Codefat). Os abonos não sacados são transferidos automaticamente para o próximo exercício, sem necessidade de solicitação do trabalhador. O ESTADO DE S. PAULO
Em tempos de pandemia, lazer é fundamental para enriquecer desempenho no trabalho
É tempo de férias. E aí vem a pergunta: vale a pena tirar férias na pandemia? Sempre vale, mesmo que você adore viajar como eu, faça parte do grupo de risco e não queira se expor além do absolutamente necessário. São indiscutíveis os benefícios de se ausentar do nosso ambiente de trabalho, ainda que por poucos dias. Mas isso não significa sacrificar sua carreira. Ao contrário, o descanso se reverterá em maior equilíbrio emocional, produtividade e também criatividade. Como sabemos, as boas empresas querem profissionais com riqueza de experiências, nas mais diversas áreas da vida. Seu repertório deve ser amplo e variado, é esse caldo de cultura que estimula a criatividade. Lazer é fundamental, não apenas para balancear vida pessoal e profissional, mas para enriquecer o desempenho no trabalho. Não é apenas compensação, mas também grande fonte de aprendizado de novas competências. Em suma, lazer não é antagônico ao trabalho e ao sucesso profissional. Porém, com o isolamento social, como cultivar o lazer? Cada um é cada um. No meu caso, como desde março fiquei conectada ao Zoom, para as aulas e reuniões, o primeiro passo seria tomar distância dele. Decidi investir mais no lazer “interno”. De fato, voltei-me para o meu mundo interior. Assim como vinha fazendo desde março de 2020, não abri mão das atividades físicas, como caminhar na pracinha perto de casa, treinar com “personal”, ainda que pelo Facetime. Mas intensifiquei muito as atividades culturais. Muitos filmes, sempre em casa, via streaming. Leituras. Ouvir músicas? Sim, muitas e variadas, no momento com ênfase especial no novo CD de Sir Paul McCartney. Cursos de arte e até reciclagem de inglês, tendo como meu maior estímulo obter maior fluidez nas conversas com minha neta Pietra, que é americana. Admito, muita atividade na tela…Mas agora como aluna. Que delícia! Leituras? Os contos, de Lygia Fagundes Telles e A regra é não ter regras: a Netflix e a cultura da reinvenção, de Reed Hastings e Erin Meyer. Ah, e dois livrinhos infantis sobre a Amazônia, para eu preparar aulas a distância para minha neta. Já que não posso estar com ela, como em geral acontece nesta época do ano, interagimos papeando sobre assuntos que gosta. E, me preparando, sempre me deparo com algo que não sabia ou que não me recordava. Por exemplo: ariranha é um mamífero. Cursos livres? Claro. Fiz o curso Henri Matisse online: “Painting with Scissors”, organizado pelo London Drawing Group. Como sou apaixonada por filmes, cinema ou audiovisual, como queiram, pedi ao professor e amigo Sérgio Rizzo para me indicar uma lista de filmes que deveria ver, sem assuntos ou gêneros específicos, apenas que fossem bons para minha formação e diversão. A grande maioria eu ainda não havia visto. Por minha conta resolvi rever filmes de Clint Eastwood (outra paixão!) e assistir a vários filmes dele que eu não conhecia, fosse atuando como ator ou diretor. Professor Rizzo e eu temos ministrado cursos de Cine & Gestão. Utilizar audiovisual para ensinar não é novidade. Mas adotá-lo numa abordagem de “metodologias ativas” (sala de aula invertida, pré-aula, método da descoberta etc.) é que tem sido bastante inovador e eficaz. A arte cinematográfica não é apenas um belo entretenimento. Tem muito a nos ensinar, na vida em geral e em especial na gestão empresarial e na gestão de carreira. Destaco sempre que filmes são um recurso didático riquíssimo para estimular reflexões sobre temas atuais e relevantes, de maneira séria, emocionante e ao mesmo tempo leve. Também alavancam capacidade crítica, reflexiva, analítica, estética e até mesmo filosófica. Vale experimentar! Com relação às viagens, também dediquei um tempo em conhecer vicariamente alguns lugares que pretendo visitar fisicamente, assim que for possível. Não faltam livros, pesquisas e até mesmo filmes. Quer ir para Índia, Japão, Alasca, Paris, Nova York ou Patagônia? Veja quantos filmes de qualidade puder sobre esses países! Esportes? Política? Educação? Música? Obviamente, selecione os temas que te motivam. E por aí vai. Quanta riqueza de conhecimentos e sensações! Li recentemente neste jornal que há empresas de turismo oferecendo experiências sensoriais sobre países, cidades, além de expedições virtuais. São caixas contendo objetos que aguçam o paladar, o toque e o olfato dos viajantes, remetendo-os a um determinado lugar, e, logicamente, contendo dicas turísticas, gastronômicas e culturais sobre a localidade. Tradicionalmente, férias para mim significavam me proporcionar uma viagem ao mundo exterior, fosse ir para uma região que propiciasse novas vivências sociais e culturais, mesmo aventuras, já que sou adepta ao ecoturismo, ou mesmo reviver experiências anteriores. Férias sempre foram sinônimo de arrumar mala, mochila e entrar num avião. Desta vez foi muito diferente. Viajei por outras geografias, mas virtualmente e na minha imaginação. Enfim, se você leitor, como eu, optou por continuar se cuidando, há muita distração e lazer saudável para aproveitarmos as férias, recarregarmos as baterias e evoluirmos. Com certeza, nada substitui os abraços e os beijos presenciais da minha neta. Mas nessa festa silenciosa voltada ao nosso mundo interior, crucial para o autoconhecimento, vamos nos desenvolvendo, consolidando valores, mantendo nossos vínculos, afetos e sonhos em alta. Até que a vacina nos liberte. Viva a ciência! *É doutora em Administração pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP e especialista em Educação Corporativa. É professora de graduação e do mestrado profissional da Faculdade FIA de Administração de Negócios (meboli@usp.br). O ESTADO DE S. PAULO
Capitais projetam retomada com crédito popular, capacitação e desburocratização
Após um 2020 de retração devido à pandemia do novo coronavírus, prefeitos de várias capitais brasileiras iniciaram a gestão com foco em planos de retomada econômica. As ações anunciadas nos primeiros dias do ano englobam, de maneira geral, investimentos públicos em obras, qualificação profissional, diminuição de impostos, desburocratização para agilizar abertura de empresas e oferta de créditos populares. Em um segundo momento, após um possível arrefecimento da Covid-19, os gestores apostam em estratégias para reaquecimento do setor de turismo. Em Florianópolis, o prefeito reeleito Gean Loureiro (DEM) fez uma live no primeiro dia útil da nova gestão para anunciar várias ações na tentativa de turbinar a economia da cidade, mesmo em meio à indefinição sobre o calendário nacional de vacinação. Entre vários pontos, destacou um plano de capacitação e qualificação profissional. De acordo com o político, 20 mil empregos vão ser gerados em dois anos. “Não podemos esquecer que o plano de retomada começa em um momento que ainda estamos lidando com a pandemia. Então, é essencial que as ações sejam planejadas e realizadas de forma segura para a população”, afirmou Loureiro. O Floripa Mais Emprego engloba investimento de R$ 25 milhões. A prefeitura promete entrar com R$ 7 milhões. O Sebrae-SC (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Santa Catarina) aportará R$ 5 milhões, e há um complemento de R$ 13 milhões provenientes do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador). “Esses recursos são possíveis porque a geração de emprego se dará pelo desenvolvimento econômico, que é puxado pela iniciativa privada”, declarou o vice-prefeito Topázio Silveira, responsável pela coordenação do programa. A prefeitura promete abrir, até o fim deste mês, a Casa do Empreendedor, com serviços voltados para pessoas jurídicas. Também foi anunciado, dentro do plano de retomada, a ampliação do Floripa Simples, que permite abertura de empresas em apenas quatro horas em um processo totalmente digital. Nos próximos dois anos, a meta, segundo dados apresentados pelo Executivo da capital catarinense, é um investimento de R$ 300 milhões. Deste total, R$ 80 milhões vão ser aplicados em obras de construção civil e outros R$ 220 milhões investidos na área de saúde, saneamento e educação. O fim do auxílio emergencial pago pelo governo federal tem preocupado os prefeitos. “A gente sabe que não adianta cuidarmos da saúde sem que tenhamos uma maneira de estimular o emprego”, disse Loureiro. No Recife, o prefeito João Campos (PSB) promete implementar, nos três primeiros meses da gestão, um programa de crédito popular com juros abaixo de 1%. O empreendedor que pagar as primeiras 11 parcelas em dia é liberado do pagamento da 12ª. O objetivo do plano é impulsionar a economia local com o incentivo a pessoas que querem investir ou que já possuem negócio próprio. O limite máximo de empréstimo é de R$ 3.000. “A gente vai poder dar acesso também a quem está negativado para receber, com aquele período de carência. Nós vamos fazer, no mínimo, dez mil operações de crédito dessa por ano”, disse Campos em entrevista à imprensa local. No primeiro ano, o aporte será de R$ 13 milhões. A ação foi uma das principais promessas de campanha. O novo prefeito também planeja, nos primeiros cem dias da gestão, implementar o Invest in Recife, a primeira agência de fomento do município para fazer captação de recursos e interligação com mecanismos de qualificação profissional para atender novos investimentos. Há também a intenção de fechar parcerias com empresas do Porto Digital, um dos mais relevantes parques tecnológicos do Brasil. Em Curitiba, o prefeito Rafael Greca (DEM) já vinha propagando um plano de retomada econômica durante a campanha eleitoral. Há previsão de aporte de, aproximadamente, R$ 1 bilhão em investimentos em obras, como a implantação de uma nova linha de ônibus e a reurbanização do bairro Caximba, um dos mais pobres da cidade, gerando 85 mil empregos. O plano contém ações em outras diversas áreas e foca principalmente no auxílio às atividades produtivas de pequeno porte. Há um fundo que concede garantias aos empréstimos contraídos por empresários, no valor de R$ 10 milhões, com potencial de R$ 100 milhões. Houve a ampliação das atividades simplificadas e a criação de um programa de apoio financeiro a artistas, com beneficiamento de 600 projetos. Segundo a prefeitura, logo após o início da pandemia, Curitiba foi a primeira cidade a criar um fundo anticrise, que garante reserva financeira para situações de crise econômica, desequilíbrio fiscal ou calamidade pública. “Fechamos todos os anos em azul. Saímos do vermelho, entregamos a prefeitura melhor, mais bonita e mais justa”, disse Greca durante cerimônia de posse, no dia 1º de janeiro. PARCERIAS PÚBLICO-PRIVADASEm Salvador, o prefeito Bruno Reis (DEM) definiu como prioridades para reativar a economia a busca de parcerias público-privadas, a atração de empresas do segmento de https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg e o lançamento de um novo pacote de obras da prefeitura. A meta é criar 50 mil novos empregos até o final do ano. O primeiro passo para atingir tal meta foi uma minirreforma na estrutura da prefeitura, que criou uma secretaria específica para tratar de emprego e renda e outra focada em https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg e inovação. “Queremos captar novos investimentos e perseguir a criação de novos postos de trabalho. Um dos nossos principais focos será atrair empresas de https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg, estimulando um novo vetor de crescimento econômico”, afirma Reis. Salvador tem a geração de empregos como um de seus problemas mais graves. A cidade possui uma taxa de desemprego de 17,5%, segunda maior dentre as capitais brasileiras. São 289 mil pessoas que estão sem trabalho, mas em busca de ocupação, segundo o IBGE. Sem grandes indústrias, a capital baiana tem segmentos como serviços e turismo como principais bases da economia. Os dois setores foram fortemente atingidos pela pandemia do novo coronavírus. Ainda no ano passado, a prefeitura lançou pacote voltado para investimento no turismo, com a capacitação de 7 mil trabalhadores. Reis promete mais estímulos para retomada do setor após o arrefecimento da pandemia. Em Porto Alegre, o projeto de retomada do prefeito Sebastião Melo (MDB) é pautado pela bandeira
Para empresários, disputa política em meio à crise sanitária atrasa crescimento
É num tom de pessimismo que o empresariado começa o ano de 2021. Dois dias após o início da vacinação do país – o evento ficou marcado pelo acirramento da crise entre o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), e o presidente Jair Bolsonaro -, as principais lideranças empresariais e bancos ouvidos pelo Valor estão preocupados com a falta de uma agenda de crescimento para o Brasil por conta do acirramento da disputa eleitoral para 2022. Às vésperas das eleições para o comando da Câmara e do Senado, o setor privado, que até o fim do ano passado estava mais otimista com a possibilidade da aprovação das reformas administrativa e tributária neste ano, tem adotado um discurso mais cauteloso. “Estamos vivendo um momento muito tóxico com toda essa discussão de politização da vacina, somada com a incompetência e irresponsabilidade do Ministério da Saúde e do governo (federal) como um todo”, diz o empresário Horácio Piva, acionista da Klabin. “O que mata o empresário são as incertezas, falta de confiança, ambiente não competitivo, acesso precário ao consumo, ambiente institucional e ético duvidosos”, pontua Piva. O início da vacinação é visto com um ponto de virada para a economia, segundo empresários e banqueiros. Mas, para uma parte do setor privado, o atraso do cronograma e os problemas que o país vai enfrentar com a distribuição da vacina devem retardar a recuperação de setores importantes da economia. “Acho desnecessária [a politização]. Vejo a recuperação de empresas de pequenos e médios portes mais lenta e isso impacta na recuperação de postos perdidos de trabalho e na geração de novos empregos”, diz Luiza Trajano, presidente do conselho da varejista Magazine Luiza. “O presidente não discute propostas para o país. Está preocupado com 2022. Não tem agenda clara de reformas e não vemos uma ação propositiva do Ministério da Economia. Onde está o Paulo Guedes? O presidente parece que está esperando a eleição da Câmara e do Senado para começar a governar. Isso preocupa”, diz um empresário do setor de infraestrutura que tem bom trânsito com o governo, mas preferiu não se identificar. As indústrias de aço e de máquinas e equipamentos evitam fazer críticas diretas ao governo, mas temem que a falta da agenda de reformas trave a economia. Em anúncio publicado na imprensa, a Coalizão Indústria, que reúne 14 entidades do setor, quer que as negociações em torno das chamadas reformas estruturais sejam retomadas o mais rápido possível. O anúncio do fechamento das fábricas da Ford na semana passada foi o “gatilho” do comunicado, segundo Marco Polo de Mello Lopes, presidente do Instituto Aço Brasil e coordenador da Coalizão Indústria. “Há um conjunto de fatores [que levou ao anúncio], que teve como gatilho a saída da Ford. É absurdo ter uma empresa que sai do Brasil e vai para a Argentina, país que está em condição muito pior que a nossa. Está tudo errado.” A reforma prioritária para o setor é a tributária, que não tem andado por questões políticas, diz Lopes, que avalia bem o governo Bolsonaro. “A indústria tem um diálogo com o governo que nunca teve antes. 2020 foi um ano de pandemia e o governo fez o que tinha que fazer.” “Há uma discussão estéril sobre por que as empresas estão saindo do Brasil. Todo mundo sabe os motivos e a solução. Temos o diagnóstico, mas nada acontece”, diz José Velloso, presidente-executivo da Abimaq, do setor de máquinas e equipamentos. Para um banqueiro, “é tudo muito grave” na gestão da saúde e não se pode dizer que os deslizes do governo tenham sido cometidos em nome de minimizar o impacto na economia. “O erro não foi não fazer um lockdown. O erro foi o discurso negacionista, essa coisa ideológica”, diz. “O que não ajuda em nada é fazer pouco da doença, dizer que é uma gripezinha e fazer aglomeração. Essas coisas causaram mais mortes e agravaram a pandemia.” Bem ou mal, diz esse interlocutor, a atividade econômica está caminhando, mas o grande número de vidas perdidas poderia ter sido evitado. A impressão dessa fonte é que a crise dos últimos dias será um divisor de águas e que, daqui para a frente, o governo irá se mobilizar para comprar vacinas. Conforme esse processo avançar, haverá melhora nos indicadores da pandemia e, por consequência, também nos econômicos. Para outro executivo graduado de um importante banco, o clima tende a se acalmar com o início da vacinação, mas o ambiente para a retomada não será fácil. A alta da inflação “está dada”, a taxa de juros vai ter de subir e o real se desvalorizará, caso as reformas tributária e administrativa não avancem. VALOR EDCONÔMICO
O começo do fim (Ana Carla Abrão)
O dia D foi um domingo, dia 17 de janeiro de 2021. Um dia D de Doria e de Dimas quando, poucos minutos após a aprovação pela Anvisa para uso emergencial, a primeira dose da Coronavac, fruto da parceria entre o laboratório Sinovac e o Instituto Butantã, foi aplicada na enfermeira Monica Calazans. Isso não é pouco e justifica a emoção que tomou conta do Brasil. Após 11 meses de pandemia, acumulam-se números trágicos. Já são mais de 200 mil brasileiros mortos por covid-19, a expectativa de queda do PIB gira em torno de 4,5% para 2020 e já temos 14 milhões de trabalhadores desempregados no País. Numa visão setorial, o turismo foi dizimado, com impacto relevante em diversas regiões do País; atividades culturais e artísticas foram interrompidas e agora se esforçam para ressurgir quase que das cinzas; o setor de serviços minguou – em particular nas áreas de alimentação e alojamento, mas também em muitas outras, deixando um rastro de empresas fechadas e causando desesperança em relação ao futuro. Companhias aéreas enfrentam dificuldades e se veem ao sabor das ondas da pandemia, o comércio teve de se reinventar para sobreviver e a indústria sofre para se reerguer. O pior nesse campo veio com os milhões de pessoas que engordaram as já tristes estatísticas de pobreza e extrema pobreza enquanto os afortunados – que mantêm sua renda e sua casa – tiveram de se adaptar à ausência de fronteiras entre casa e trabalho e lidar com a angústia do isolamento social. Crianças e jovens fora das salas de aula compõem o triste legado que ficou desse período e que exigirá muito esforço para ser revertido. Na saúde, o SUS – Sistema Único de Saúde – mostrou sua força, mas também escancarou as décadas de má alocação de recursos, da burocracia excessiva e, acima de tudo, dos grotescos erros de gestão que acompanharam o negacionismo de um governo federal que ainda hoje desdenha da pandemia, insiste em prescrever tratamentos sem comprovação científica e fez pouco caso da vacina. O resultado? Além do trágico saldo de mortos, o caos representado por Manaus e a tragédia, pela segunda vez, anunciada. Há novas variantes do vírus, que se espalham mais rápido e fazem voltar o pesadelo dos postos de saúde e hospitais lotados. Ao mesmo tempo, jovens – e nem tão jovens – se aglomeram numa manifestação de fadiga e de irresponsável resistência contra o isolamento social. Somos jovens, aguentamos, acreditam eles. Mas contribuem para que o vírus continue se disseminando e levando embora mais e mais pessoas. Foram nove meses para que o mundo atingisse 1 milhão de mortos por covid-19. Nem sequer outros quatro meses completos foram suficientes para acumularmos o segundo milhão de óbitos. Recursos públicos e privados foram mobilizados de forma inédita para combater os impactos da pandemia. No Brasil, o auxílio emergencial levou dinheiro ao bolso de cidadãos vulneráveis (e também a muitos outros nem tão vulneráveis) em valores que totalizaram mais de R$ 250 bilhões. Medidas de liquidez adotadas pelo Banco Central atingiram a casa do trilhão de reais se considerarmos aí a soma dos estímulos nas áreas de crédito e as alterações nas regras de depósitos compulsórios e de requerimentos de capital. Houve ainda os programas governamentais voltados à manutenção de empregos, além dos programas especiais que o BNDES desenhou e operou. No privado, nunca se doou tanto. Desde programas estruturados como os de tantas grandes e médias empresas, passando por mobilizações expressivas e coordenadas como a do governo do Estado de São Paulo e por iniciativas individuais, volumes se somaram num protagonismo inédito da sociedade civil brasileira. E assim passamos esses onze meses de 2020 e deveremos passar alguns outros em 2021. Desde o último domingo, com a aplicação da primeira dose da vacina contra a covid-19, uma luz de esperança se acendeu, abrindo caminho para que a discussão sobre recuperação econômica e a volta a alguma normalidade ganhasse concretude no Brasil. Graças a meses de planejamento, investimentos e mobilização do setor privado pelo governo do Estado de São Paulo – que também assumiu os riscos de eventuais reveses sempre presentes nas apostas científicas – tivemos a primeira boa notícia do ano. Sabemos que a vacina é o único ponto de partida para uma recuperação econômica consistente. É também a partir dela que se pavimentará a trilha de reversão de parte das nossas mazelas sociais tão agravadas pela pandemia. Além disso, será a vacina que nos permitirá, finalmente, retomar uma discussão de curso e rumo para um País à deriva e em breve celebrar o fim dessa pandemia que tanto nos tirou e tanto fez sofrer. A Coronavac nos trouxe esperança, mas também reforçou a lição de que foco, persistência e liderança são fundamentais na gestão pública. Vidas perdidas não voltam, mas a perspectiva de que outras serão poupadas é um alvissareiro sinal de que o fim desse trágico pesadelo – em todas as suas dimensões – começa a se delinear no horizonte. *ECONOMISTA E SÓCIA DA CONSULTORIA OLIVER WYMAN. O ARTIGO REFLETE EXCLUSIVAMENTE A OPINIÃO DA COLUNISTA O ESTADO DE S. PAULO
SP muda plano de vacinação e ainda não há data para iniciar campanha com idosos
Diante do acordo com o Ministério da Saúde, que prevê o uso de todas as doses da vacina Coronavac disponíveis no Instituto Butantã pelo Sistema Único de Saúde (SUS), o cronograma original de vacinação contra a covid-19 anunciado pelo governador de São Paulo, João Doria (PSDB), para a população do Estado, está suspenso e novas datas serão apresentadas. Doria previa que, em 25 de janeiro, populações indígenas do Estado seriam as primeiras vacinadas, ao mesmo tempo que os profissionais de saúde. Já os idosos com mais de 75 anos passariam a receber as doses a partir de 8 de fevereiro. Esse calendário inicial previa aplicar as duas doses da Coronavac em nove milhões de pessoas até o fim de março. Após a venda de todas as doses da Coronavac, segundo a Secretaria Estadual da Saúde, São Paulo passará a cumprir o Plano Nacional de Imunização (PNI) do ministério e não o cronograma anterior apresentado por Doria. Desde a autorização de uso emergencial pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no domingo, 17, o Estado tem vacinado profissionais de saúde na capital e no interior. O PNI, apresentado em dezembro pelo Ministério da Saúde, previa que na primeira fase seriam vacinados os profissionais de saúde, idosos acima de 75 anos, idosos acima de 60 anos que vivessem em asilos (ou instituições similares) e povos tradicionais. Com o número limitado do primeiro lote da Coronavac (seis milhões de unidades), o ministério prevê agora imunizar somente idosos em instituições de longa permanência – grupo que representa 0,5% da população acima de 60 anos no País. A gestão paulista não soube informar se, dentro de cerca de 1,37 milhão de doses disponíveis no Estado no primeiro lote , haverá unidades da vacina enviadas ao grupo dos mais idosos (mais de 75 anos). Por enquanto, as pessoas não devem buscar postos de saúde para a vacinação. Sobre as populações indígenas, afirmou que as prefeituras que quiserem poderão usar as doses recebidas também para imunizar esse grupo. Falta de matéria-prima preocupaO Instituto Butantã tem 4,8 milhões de doses em fase final de produção, mas aguarda nova autorização da Anvisa para uso emergencial. O pedido foi feito nesta segunda, 18. O órgão paulista se comprometeu a enviar 8,7 milhões de doses ao SUS ainda em janeiro e, até abril, serão 46 milhões de doses. A produção dos imunizantes, no entanto, depende da chegada de insumos vindos da China que ainda não têm data para serem embarcados e sofrem atrasos de liberação das autoridades do país asiático. “Temos um carregamento de matéria-prima pronto lá na China para ser despachado”, afirmou o presidente do Butantã, Dimas Covas. “Estamos aguardando apenas a autorização do governo chinês para poder trazer e, assim, iniciar a 2ª etapa de produção. Mas dependemos da matéria-prima para poder continuar esse processo.” Ele disse que o problema é de ordem burocrática, mas não deu detalhes. O Butantã tem capacidade para fabricar um milhão de doses por dia, segundo Covas. Mas, para isso, depende desses insumos feitos pelo laboratório chinês Sinovac que precisam ser importados. “A capacidade de produção foi atingida, mas precisamos dessa matéria-prima”, acrescentou Covas. A instituição estima ainda que demore dez meses para ter capacidade de produzir a vacina sem depender de insumos trazidos do exterior. Uma nova fábrica do Butantã está em construção na zona oeste paulistana. A falta de matéria-prima também é um problema para a Fiocruz, que vai produzir a vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford e a farmacêutica britânica AstraZeneca no Brasil. O ESTADO DE S. PAULO
Para presidente do Ipea, crescimento em 2021 pode chegar a 4%
A perspectiva de início mais rápido do que se previa da vacinação para combater a covid-19 no Brasil melhora as perspectivas de desempenho da economia brasileira neste ano. E já colocam uma expansão de até 4% para o PIB de 2021 no cenário, ritmo acima do esperado por governo e mercado. A avaliação é do presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Carlos Von Doellinger. Segundo ele, o Ministério da Saúde demorou a agir no que diz respeito à vacina, mas se ajustou e, por isso, ele agora está mais otimista com a retomada da economia, já que o processo de imunização vai dar mais confiança a famílias, empresários e investidores. Um dos integrantes da área econômica com mais afinidade com o ministro Paulo Guedes, Doellinger é defensor do liberalismo e da adoção de medidas fortes para resolver o problema fiscal brasileiro. A principal delas, segundo ele, é a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) do Pacto Federativo, em suas linhas originais, da qual participou da elaboração e prevê medidas como redução de salários e desindexação, desvinculação e desobrigação das despesas públicas, os “3 Ds” sempre citados por Guedes. Para ele, o Brasil não vive uma segunda onda da covid-19, mas sim um “repique” temporário, que já seria previsível diante da “maluquice” do fim do ano, quando muita gente abandonou as restrições de contato. “Estamos chegamos aqui ao pico da irresponsabilidade que foi a maluquice no fim de ano”, disse Doellinger. De olho no fiscal, ele disse considerar temerária uma renovação do auxílio emergencial neste ano como vem defendendo parlamentares devido à situação fiscal frágil do governo brasileiro. Retomando o conceito de “vantagens comparativas”, o presidente do Ipea defendeu que o Brasil centre foco em setores econômicos em que é mais competitivo, como produção de alimentos, mineral e energia e deixe de fomentar a indústria manufatureira, como a automotiva, mirando nos exemplos de Austrália, Chile e Canadá. A seguir os principais pontos da entrevista que ele concedeu ao Valor. Crescimento em 2021- No nosso cenário já temos uma expectativa de um crescimento para este ano entre 3,5% e 4%. Isso de certa forma repõe o nível de atividade, de produção de atividade que a gente estava em 2019. A gente zera ao longo deste ano, com a perspectiva de normalização gradativa ao longo do ano. Quando começar a vacinação, você vai ter um ambiente de maior otimismo. O investidor vai começar a voltar a fazer planos, o consumidor começa retornar. Essa previsão maior está relacionada ao cronograma mais concreto da vacinação. Isso influência diretamente nas expectativas. Ainda não publicamos, mas pelas discussões que tivemos, já deu para estimar esse retorno da atividade entre 3,5% talvez até um pouco mais, chegando próximo de 4%. A última estimativa que fizemos estava mais próxima de 4%. Não trabalhamos juntos mas coincide em grande parte com a projeção da SPE [Secretária de Política Econômica]. De qualquer maneira isso já configura um V, não um vezão, mas um v com perninha um pouco [gesticula como se a segunda perna do v fosse mais para baixo]. Para frente tem um conjunto de medidas que precisa ser tomada para reativar investimentos e fazer as tais reformas prometidas, sempre prometidas, e que precisam sair. Renovação do auxílio – O auxílio emergencial já deu o que tinha que dar. Tivemos um período muito difícil do setor público. Toda encrenca está centrada no setor público com um déficit que chegou R$ 840 bilhões. Eu acredito que não haja necessidade [de renovação do auxílio], a não ser que haja uma catástrofe, uma segunda onda devastadora. Esse é um cenário, que até pode acontecer, é de horror. Acho que não vai ser necessário insistir nessa história de auxílio. Até porque já está se vendo a luz no fim do túnel [referindo-se à vacinação]. Acho isso [renovar auxílio] um pouco temerário pelo menos no momento. É claro que o que estamos vendo agora [aumento do número de casos e mortes por covid-19] é consequência óbvia, lógica e previsível dos 15 dias atrás. Acho que seria um pouco temerário fazer novo auxílio porque vai agravar a situação fiscal, vai trazer uma incerteza quanto ao rumo que a gente já estava seguindo e, de certa forma, fazer isso é que o governo não está acreditando muito que vai ter uma campanha permanente de vacinação. Enquanto não tivermos a vacina, nós não vamos superar isso. Acho preferível dar um susto [refere-se ao fim do auxílio] e mostrar que agora estamos numa solução que é a desejada por todos e que vai levar a bom termo. É possível que o governo tenha, eventualmente se os números continuarem nesse horror, pode ser até que o governo resolva [fazer de novo o auxílio]. Se eu tivesse lá, segurava um pouco. Tudo está muito sujeito as chuvas e trovoadas. Vacinação e segunda onda do coronavírus – Enquanto não estiver resolvida essa questão da vacinação, indicando um caminho para a saída desse inferno que a gente tem vivido, tudo fica precário. A própria economia fica em compasso de espera, mas não é só aqui é no mundo inteiro. Estou achando que agora está saindo. Acho que o aumento de casos e mortes já era uma coisa mais ou menos previsível. Todos viram a maluquice do final de ano. Quando vi isso, já pensei: janeiro vai ser um terror. Estamos chegando aqui ao pico da irresponsabilidade que foi a maluquice do fim do ano. Não sei o que deu na cabeça das pessoas que fizeram um carnaval total. Mas, acho que isso é uma corcova [aumento de casos e mortes] que tem que ser enfrentada. Estou querendo olhar um pouco mais a frente diante da perspectiva mais concreta, que a gente já tem, de iniciar o processo de vacinação, mesmo que todos os cuidados tenham que continuar. Não tenho dados quantitativos. Eu acredito que estamos com essas corcovas que é a consequência dessa irresponsabilidade total que tivemos no final do ano. Não sei se poderia chamar de segunda onda. A meu