‘Grupos mais organizados travam reforma tributária’

Presidente do Insper, o economista Marcos Lisboa é um observador atento do desenrolar da reforma tributária no Congresso. Ele considera que o caminho para uma boa reforma é garantir que os “iguais” paguem a mesma carga de impostos. Lisboa alerta, porém, que, na hora em que se tenta tratar todo mundo como igual, os grupos organizados se mobilizam e dizem: “comigo não, começa pelos outros”. Essa é a resistência, segundo ele, que vem sendo enfrentada pela proposta que não avançou no ano passado. “Vamos aceitar os grupos terem pequenas perdas organizadas em troca de um ambiente de negócios mais saudável, mais competição, justiça tributária e maior abertura ao comércio, com maior acesso às https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpgs? Ou vamos continuar nessa situação ruim em que ninguém quer abrir mão?”, questiona ele. A seguir, trechos da entrevista. • Por que é tão difícil avançar na agenda de corte de renúncias? É um desafio porque, em geral, cada um desses gastos está regulamentado por uma lei específica ou até mesmo pela Constituição. Não é possível fazer uma abordagem geral, uma lei geral, para reduzi-los. Tem de enfrentar caso a caso. Mas cada vez que se vai entrar num caso particular, os grupos beneficiados se opõem. Vai discutir Zona Franca de Manaus, Simples (regime que simplifica o pagamento de impostos e oferece tratamento diferenciado para micro e empresas de pequeno porte), isenções, recebe a reação dos diversos grupos que são beneficiados. • A reforma tributária ajuda a desatar esse nó? A proposta que está na Câmara enfrenta o problema da tributação sobre consumo. Cria uma regra comum. Qualquer decisão de consumo, independentemente se é um serviço ou a compra de um bem durável, passará a pagar a mesma carga tributária. • Para os críticos, vai gerar um aumento da carga, e que não seria o momento porque o Brasil está saindo de uma recessão. Se a alíquota for bem calibrada, não é verdade que vai aumentar. Vai ser cobrada a mesma alíquota de todas as decisões de consumo, deixando-se de privilegiar algumas decisões em detrimento das demais. Aumentará em alguns casos e cairá em outros. Por exemplo, alguns serviços são muito onerados, como energia elétrica, que tem uma carga tributária muito elevada. Telecomunicações é a mesma coisa. Isso seria desonerado. Significa menos preços desses insumos para as empresas, as famílias. • O corte de renúncias, não relacionados diretamente à reforma tributária, deveria ser aprovado antes dela ou pode vir junto? O sistema do Brasil é tão caótico que é difícil corrigir todas as distorções de uma vez só. Há muitas distorções e muitas injustiças. Famílias em situações muito parecidas de renda, número de filhos, pagam alíquotas muito diferentes de imposto sobre a renda. Se é um empregado formal, a alíquota é bastante alta. Por outro lado, se você se organiza como uma pequena pessoa jurídica, paga muito menos. O caminho para uma boa reforma tributária é garantir que os iguais sejam igualmente tributados. • Por que o brasileiro reclama que paga muito imposto, mas não briga para acabar com essas distorções e desigualdades? No Brasil, se paga muito imposto para um país emergente. Isso decorre de termos gastos obrigatórios do setor público muito altos. A segunda parte da história é que esse imposto é desigualmente distribuído sobre as decisões de consumo e sobre as famílias. Aí, os grupos reagem. Quem paga menos imposto, não quer ser tratado como os demais. Vimos na discussão da reforma tributária diversos setores que ficaram preocupados de ter um pequeno aumento da carga tributária porque pagam menos. A reação foi de que querem pagar menos do que os demais: ‘não quero pagar imposto como o resto da sociedade’. Essa é a resistência à reforma. • O governo terá de aumentar impostos para pagar os gastos da covid-19 em 2021? O ideal seria uma reforma tributária que equalizasse a tributação para as famílias com a mesma renda. Isso daria um alívio para o País e tiraria todo esse contencioso tributário gigantesco que temos hoje, que paralisa os negócios e penaliza a produção. Isso permitiria ganhos de produtividade. “No Brasil, se paga muito imposto para um país emergente (…) A segunda parte da história é que esse imposto é desigualmente distribuído sobre as decisões de consumo e sobre as famílias.” • Governo e Congresso estão convencidos dessa agenda? A sociedade não está convencida dessa agenda. Vemos diversos grupos organizados da sociedade e do setor privado contra uma agenda de modernização e maior justiça tributária e redução dos subsídios. O que acaba acontecendo no Congresso é o reflexo de uma falta de consenso da sociedade. Mas tem também uma falta de liderança do Executivo nessa agenda. O próprio governo dá sinais contraditórios do rumo que quer retomar. • 2020 provou que não dá para avançar na agenda de reforma tributária sem o governo? É extremamente difícil. Estamos num regime presidencialista, o Executivo é quem tem as informações consolidadas da política pública. É quem tem a liderança do processo. Mas o próprio governo não sabe bem o que quer. • A tributária é aquele tipo de reforma que todo mundo quer, mas sem que saia perdendo? A reforma tributária tem o mérito de equalizar a cobrança de tributos. Mas na hora que vai tratar todo mundo como igual, os grupos organizados se mobilizam e dizem: ‘comigo não, começa pelo outros’. Isso trava o processo. • A reforma tributária tem interesses muito mais pulverizados e é mais complexa que a da Previdência. Como captar apoio? Estamos crescendo pouco e há muito tempo. Perdemos essa década. Os brasileiros empobreceram nessa década. Parte do problema vem dessa série de distorções setoriais e distribuição de benefícios. Para o País voltar a crescer como os demais, tem de começar a superar essas restrições. É uma escolha do País. Vamos aceitar os grupos terem pequenas perdas organizadas em troca de um ambiente de negócios mais saudável, com mais competição, justiça tributária e maior abertura ao comércio, com maior acesso às https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpgs? Ou vamos continuar com essa economia estagnada porque ninguém

Aumento do PIB em 2021 será por efeito estatístico

A recuperação da economia em 2021, pelo aumento do consumo ou dos investimentos, é observada com cautela por analistas. O cenário é repleto de incertezas na saúde, no mercado de trabalho e nas contas públicas. Projeções para o PIB acima de 3% podem parecer fortes em um país que cresceu pouco acima de 1% nos anos pré-pandemia, porém, descontada a herança estatística de 2020, sobra pouco espaço para um avanço efetivo em 2021. A A.C. Pastore & Associados prevê uma expansão de 4,5% neste ano, mas estima que 2020 deixará 4,1% de carregamento estatístico – ou seja, se o PIB ficar estacionado no nível do fim do ano passado, já crescerá 4,1%. VALOR ECONÔMICO

Fim do auxílio e repique da pandemia podem atrasar retomada de serviços

O apetite dos consumidores para compras em restaurantes e supermercados seguiu em recuperação no mês de novembro, mas ainda sem apagar os prejuízos herdados do choque da covid-19, mostram dois índices calculados pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) e a bandeira de benefícios Alelo. À frente, os sinais para ambos os segmentos são ambíguos: a expectativa é que a retomada, ainda que lenta, continue nos próximos meses, mas o repique da pandemia e o fim do auxílio emergencial podem inibir a volta do consumo das famílias. O Índice de Consumo em Restaurantes (ICR) mostrou em novembro uma queda de 42,7% nas transações em relação ao mesmo mês de 2019, menos negativo quo que o mês anterior, quando caiu 44,3%, e bem abaixo do ápice da crise em abril, quando registrou baixa de mais de 60%, também na comparação anual. O valor total gasto em restaurantes segue numa retomada mais rápida: registrou baixa de 23,1% em novembro, de um recuo de 48,5% em abril, um sinal de que parte do movimento nesses estabelecimentos foi transferido para as entregas em domicílio. Vale a ressalva, no entanto, que o número de estabelecimentos funcionando está muito próximo ao patamar de novembro de 2019, e é apenas 1,7% menor. “Se de um lado tem uma tendência de as pessoas saírem mais de casa no fim do ano, por outro o repique da pandemia acaba diminuindo a propensão de ir a restaurantes, então é difícil prever como serão os resultados em dezembro”, afirma Bruno Oliva, pesquisador da Fipe. Na reta final de 2020, o governo paulista decidiu apertar momentaneamente os horários de funcionamento de bares e restaurantes, assim como o período para venda de bebida alcoólica. São Paulo é o local com maior peso dentro do indicador. Em trajetória mais benigna, o Índice de Consumo em Supermercados (ICS) caiu 13,9% em novembro, também em recuperação ante outubro (-14,5%) e acima do pior momento, quando recuou 18,6%. Os dados nacionais ainda apontam um cenário mais positivo no valor total gasto em supermercados, que está 4,1% acima de novembro de 2019. Ou seja, embora façam menos idas, os consumidores estão gastando mais nos estabelecimentos. A quantidade de supermercados que realizaram transações também é quase a mesma do ano passado (-07% na análise anual). “Claro que as pessoas não vão do dia para a noite aumentar a ida ao supermercados, mas já observamos essa melhora gradativa. O que não sabemos é se essa melhora marginal vai persistir em dezembro”, comenta Oliva. Para 2021, o pesquisador prevê uma continuidade da volta gradual do consumo nos dois setores, especialmente nos dois primeiros trimestres do ano. “Mesmo que ainda demore, a vacina certamente vai dar um pouco mais de segurança para que as pessoas saiam de casa. Mas a economia ainda vai demorar a reagir, principalmente se pensarmos que um [eventual novo] auxílio emergencial e outras transferências vão ficar prejudicados neste início do ano por conta dos problemas fiscais”, diz Oliva. VALOR ECONÔMICO

Parte dos brasileiros não está preparada para fazer quase nada, diz Bolsonaro

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse a apoiadores nesta terça-feira (5) que uma das explicações para o desemprego no país é que parte dos brasileiros não tem preparação para fazer “quase nada”. Bolsonaro chegou ao Palácio da Alvorada no fim da tarde acompanhado do ministro José Levi (Advocacia-Geral da União). Em conversa com apoiadores divulgada em versão editada por um canal simpático ao presidente na internet, o chefe do Executivo criticou o volume de ações trabalhistas e afirmou que “ser patrão é uma desgraça”. “Então, [o Brasil] é um país difícil trabalhar. Quando fala em desemprego, né, [são] vários motivos. Um é a formação do brasileiro. Uma parte considerável não está preparada para fazer quase nada. Nós importamos muito serviço”, disse o presidente. A retomada do emprego ainda é dúvida, mesmo com a geração recorde de vagas com carteira em novembro. No total, o desemprego bateu novo recorde em novembro, atingindo 14 milhões de brasileiros. A taxa de desocupação chegou a 14,2%, o maior percentual da série histórica da Pnad Covid, pesquisa do IBGE iniciada em maio para mensurar os efeitos da pandemia no país. Esse indicador considera o mercado informal de trabalho, autônomos e funcionários públicos.​ Esta terça-feira foi o primeiro dia em que Bolsonaro teve compromissos oficiais depois dos 17 dias em que sua agenda não registrou nada. Ele retornou a Brasília na segunda-feira (4), após recesso nos litorais de Santa Catarina e São Paulo. Aos apoiadores, o presidente também disse nesta tarde que irá ao Maracanã para acompanhar a final da Copa Libertadores, em 30 de janeiro. Horas antes, a outro grupo de apoiadores, Bolsonaro havia dito que o Brasil está quebrado e que ele não consegue fazer nada. “Chefe, o Brasil está quebrado, e eu não consigo fazer nada. Eu queria mexer na tabela do Imposto de Renda, teve esse vírus, potencializado por essa mídia que nós temos. Essa mídia sem caráter. É um trabalho incessante de tentar desgastar para tirar a gente daqui e atender interesses escusos da mídia”, disse o mandatário pela manhã, também em conversa transmitida pelo canal bolsonarista na internet. As declarações do presidente destoam de posições apresentadas publicamente pela equipe econômica, que tem batido na tecla de que a atividade econômica do país está em plena recuperação, o que trará resultados positivos para a arrecadação de impostos. No fim da tarde, Bolsonaro disse que “a gente não tem recursos para investir” e voltou a falar de sua promessa de campanha de atualização da tabela de Imposto de Renda. “Eu queria mexer na tabela do Imposto de Renda. O cara me cobra: ‘compromisso de campanha’. Mas não esperava esta pandeia pela frente. Nos endividamos em aproximadamente R$ 700 bilhões. Complicou mexer nisso aí”, afirmou no fim da tarde. Ainda na conversa vespertina, Bolsonaro disse que alguns não o deixam governar, mas não citou nomes. “Alguns falam que ‘não sei quem’ não deixa eu governar. Quisera eu que fosse só um ‘não sei quem’, unzinho só”, afirmou o presidente da República. FOLHA DE S. PAULO

Após falar que país ‘está quebrado’, Bolsonaro convoca reunião com Guedes

Um dia depois de afirmar que o ‘Brasil está quebrado’ e que não consegue fazer nada, o presidente Jair Bolsonaro convocou uma reunião com ministros. O titular da Economia, Paulo Guedes, interrompeu as férias para ir ao encontro no Palácio do Planalto, nesta quarta-feira. Outros 16 ministros também foram chamados. A declaração de Bolsonaro foi feita em conversa com apoiadores ontem. O presidente culpou a pandemia de Covid-19 e a imprensa, que, segundo ele, teria “potencializado” o coronavírus, por promessas não cumpridas em seu governo. Citou especificamente o Imposto de Renda. Durante a campanha eleitoral de 2018, Bolsonaro prometeu isentar o IR de quem ganha até R$ 5 mil. Hoje, o limite de isenção é de R$ 1.903,98. No fim de 2019, propôs uma elevação para R$ 3 mil, mas o plano também não foi adiante. Mas foram várias as promessas não cumpridas. Eleito com um programa econômico liberal e reformista, Bolsonaro não conseguiu aprovar reformas estruturais para além das mudanças nas regras de aposentadoria, em 2019. Tem tido dificuldades para fazer privatizações e controlar as contas públicas. Também pretendia substituir o Bolsa Família por um benefício de valor maior e mais abrangente, batizado de Renda Brasil e depois de Renda Cidadã. Sem espaço fiscal, a ideia não avançou. Faltam recursos também para investir em obras públicas, outro plano que enfrenta limitações para sair do papel. Vários economistas criticaram a declaração do presidente. Disseram que o país vive uma situação de crise fiscal grave, que pode levar à insustentabilidade da dívida pública. Mas está longe de estar quebrado. Os economistas disseram ainda que cabe ao governo articular com o Congresso a aprovação das reformas necessárias para tirar o país da crise. Ao GLOBO, Guedes disse na noite de terça-feira que Bolsonaro se referia ao setor público. O ministro passa férias em Brasília e o seu período de descanso iria até a próxima segunda-feira. O GLOBO

Economistas refutam fala de ‘país quebrado’

O presidente Jair Bolsonaro cometeu uma impropriedade ao afirmar, ontem, que o Brasil está “quebrado”. Se tivesse credibilidade, poderia ter causado problemas, mas o mercado ignorou a fala e a bolsa teve até pequena alta, de 0,4%. “Quebrado significa que o país não consegue financiar seu déficit e nem rolar [refinanciar] sua dívida. Não chegamos nesse ponto”, disse ao Valor o diretor da Instituição Fiscal Independente (IFI), Josué Pellegrini. O economista Manoel Pires, da FGV, também descarta a tese: “Isso significa que o país está insolvente. Não chegamos nem perto disso”. VALOR ECONÔMICO

Bolsonaro diz que País está quebrado e culpa covid

O presidente Jair Bolsonaro disse ontem que o “País está quebrado” e ele “não consegue fazer nada”, como mexer na tabela do IR, por causa da covid-19. A declaração contradiz o ministro da Economia, Paulo Guedes, que vê melhora na situação econômica. Em seu primeiro dia de trabalho em 2021, o presidente Jair Bolsonaro contradisse o mantra do ministro Paulo Guedes, ao afirmar que o Brasil está “quebrado”. Para um grupo de simpatizantes, ele declarou ontem que, por causa da situação da economia, não “consegue fazer nada” e citou como exemplo as mudanças prometidas ainda durante a campanha eleitoral na tabela do Imposto de Renda. “O Brasil está quebrado, chefe. Eu não consigo fazer nada. Eu queria mexer na tabela do Imposto de Renda, tá, teve esse vírus, potencializado pela mídia que nós temos, essa mídia sem caráter”, afirmou Bolsonaro a um apoiador na saída do Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência. A fala do presidente vai de encontro às declarações recentes do ministro da Economia, de que a atividade econômica do País está numa trajetória de recuperação em “V”, ou seja, com a retomada na mesma velocidade da queda causada pelos efeitos da pandemia do novo coronavírus. Oficialmente, a equipe econômica espera que o Produto Interno Bruto (PIB) cresça 3,2% este ano, depois de um tombo previsto de 4,5% em 2020. Tanto Guedes quanto o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, defendem a vacinação em massa da população como essencial para que a economia, de fato, se recupere em 2021. No último ano, o governo precisou se endividar mais para bancar o aumento das despesas para combater a covid-19. A combinação da maior necessidade de financiamento com a aversão ao risco dos investidores, turbinada pela desconfiança em relação à continuidade do processo de ajuste fiscal no Brasil, levou o Tesouro a concentrar boa parte das emissões em títulos de prazo mais curto. Como mostrou o Estadão,o Tesouro começa 2021 com uma fatura trilionária a ser paga aos investidores. A dívida que vence este ano já somava R$ 1,31 trilhão no fim de novembro de 2020, valor que deve crescer com a incorporação de mais juros. O desafio chega num ano decisivo para ditar os rumos das reformas consideradas essenciais para o equilíbrio fiscal do País – e, consequentemente, para a capacidade de pagar toda essa dívida no futuro. O volume de vencimentos em 2021 equivale a 28,8% do estoque de toda a dívida pública interna e já representa quase o dobro da média de resgates nos últimos três anos. Mesmo assim, a equipe econômica sempre diz estar bastante “tranquila” em relação ao refinanciamento da dívida. Pelo cenário traçado pelo Ministério da Economia, o Brasil deve acumular 13 anos de rombos sucessivos nas contas públicas. Com despesas maiores que receitas desde 2014, o País deve manter essa tendência até 2026. As contas públicas só devem voltar ao azul em 2027. Procurado para comentar as declarações de Bolsonaro, o ministério não quis se pronunciar. Economistas de fora do governo criticaram a atitude do presidente (mais informações nesta página). Tabela. A ampliação da isenção do IR foi uma das promessas de campanha de Bolsonaro que nunca saíram do papel. Em 2019, o presidente chegou a retomar o assunto algumas vezes, ao afirmar que a ampliação estava sendo estudada pelo governo. Atualmente, quem ganha até R$ 1.903,98 mil por mês está isento de declarar o IR. A partir desse valor, os descontos são de 7,5%, 15%, 22,5% ou 27,5% sobre o valor dos rendimentos. A última alíquota é aplicada para quem ganha acima de R$ 4.664,68. A última atualização na tabela foi feita em 2015. Bolsonaro já chegou a dizer que gostaria de aumentar a isenção da tabela do IR para quem ganha até cinco salários mínimos (hoje, R$ 5,5 mil) até o final de seu mandato. A ideia, contudo, já enfrentava resistência da equipe econômica ainda em 2019, quando as contas do governo não estavam afetadas pela crise do novo coronavírus. A isenção até R$ 5 mil também tinha sido prometida pelo candidato da oposição nas eleições, Fernando Haddad, do PT. Sem espaço fiscal, a correção acabou não sendo feita. Mas o ministro Paulo Guedes, para conseguir o apoio do presidente a uma proposta de criação de imposto semelhante à antiga CPMF, acabou incluindo a atualização da tabela numa proposta mais ampla, que também não foi enviada ao Congresso. Uma parte do dinheiro da CPMF seria usada para bancar o aumento da faixa de isenção para quem recebe até R$ 3 mil por mês. Ontem, também em resposta a um apoiador, o presidente disse que o coronavírus foi “potencializado” pela mídia. Segundo dados do Ministério da Saúde divulgados ontem, o Brasil registrou 1.171 novas mortes nas últimas 24 horas em decorrência da covid-19. Com isso, chega a 197.732 o número total de óbitos pela doença no País. “O Brasil está quebrado, chefe. Eu não consigo fazer nada. Eu queria mexer na tabela do Imposto de Renda, teve esse vírus.” Jair Bolsonaro. O ESTADO DE S. PAULO

Funcionários do Google nos EUA criam sindicato e contrariam a empresa

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Mais de 225 engenheiros do Google e outros trabalhadores criaram um sindicato nesta segunda-feira, 4, coroando anos de crescente ativismo em uma das maiores empresas do mundo. Trata-se de um raro posicionamento de defesa para os trabalhadores do ferozmente antissindical Vale do Silício. A criação do sindicato é altamente incomum para o setor de https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg, que há muito resiste aos esforços em organizar sua força de trabalho formada basicamente por funcionários de colarinho branco. A nova organização é resultado de crescentes demandas dos funcionários do Google por reformas de políticas de pagamento, assédio e ética, e provavelmente aumentará as tensões com a alta liderança. O novo sindicato, chamado Sindicato de Trabalhadores da Alphabet, em homenagem à empresa-mãe do Google, a Alphabet, foi organizado em segredo por quase um ano e elegeu sua liderança no mês passado. O grupo é afiliado ao Communications Workers of America (CWA), um sindicato que representa os trabalhadores de telecomunicações e mídia nos EUA e no Canadá. Mas, ao contrário de um sindicato tradicional, que exige que um empregador venha à mesa de negociações para chegar a um acordo sobre um contrato, o Sindicato de Trabalhadores da Alphabet é o chamado sindicato minoritário por representar apenas uma fração dos mais de 260 mil empregados em tempo integral da empresa e prestadores de serviço. Os trabalhadores disseram que a criação do sindicato era primordialmente um esforço para dar estrutura e longevidade ao ativismo do Google, e não uma iniciativa para negociar contratos. Chewy Shaw, engenheiro do Google na região da baía de São Francisco e vice-presidente do conselho de liderança do sindicato, disse que a organização era uma ferramenta necessária para sustentar a pressão sobre os gestores para que os trabalhadores pudessem forçar mudanças nas questões trabalhistas. “Nossos objetivos vão além de questões como ‘As pessoas estão ganhando o suficiente?’ Nossas causas são muito mais amplas”, disse ele. “Trata-se de um momento em que o sindicato é a resposta para esses problemas.” Em resposta, Kara Silverstein, diretora de recursos humanos do Google, disse: “Sempre trabalhamos duro para criar um ambiente de trabalho acolhedor e recompensador para nossos trabalhadores. Claro, nossos funcionários têm protegido os direitos trabalhistas que apoiamos. Mas, como sempre fizemos, continuaremos nos comprometendo diretamente com todos os nossos funcionários. ” MobilizaçãoO novo sindicato é o sinal mais claro de como o ativismo dos funcionários se espalhou pelo Vale do Silício nos últimos anos. Enquanto os engenheiros de software e outros profissionais de https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg se mantiveram calados no passado sobre questões sociais e políticas, os funcionários da Amazon, Salesforce, Pinterest e outras companhias se tornaram mais ativos em questões como diversidade, discriminação salarial e assédio sexual. Em nenhum lugar essas vozes foram mais obstinadas do que no Google. Em 2018, mais de 20 mil funcionários fizeram uma greve para protestar contra a forma como a empresa lidava com o assédio sexual. Outros se opuseram a decisões de negócios que consideraram antiéticas, como desenvolver inteligência artificial (IA) para o Departamento de Defesa e fornecer https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg para a Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA. Apenas alguns pequenos esforços de sindicalização tiveram sucesso no setor de https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg. Trabalhadores do site de crowdfunding Kickstarter e da plataforma de desenvolvimento de aplicativos Glitch realizaram campanhas sindicais no ano passado, e um pequeno grupo de prestadores de serviço em um escritório do Google em Pittsburgh se sindicalizou em 2019. Milhares de funcionários em um armazém da Amazon no Alabama também devem votar sobre a sindicalização nos próximos meses. “Há quem queira que você acredite que a organização trabalhista no setor de https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg é completamente impossível”, disse Sara Steffens, secretária-tesoureira do CWA, a respeito do novo sindicato do Google. “Se não há sindicatos no setor da https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg, o que isso significa para o nosso país? Essa é uma razão, do ponto de vista do CWA, para tratarmos disso como uma prioridade.” O sindicato provavelmente aumentará as tensões entre os engenheiros do Google, que trabalham com carros autônomos, IA e pesquisa na Internet, e a administração da empresa. Sundar Pichai, CEO do Google, e outros executivos tentaram lidar com uma força de trabalho cada vez mais ativista – mas cometeram erros. No mês passado, autoridades federais disseram que o Google havia demitido injustamente dois funcionários que protestavam contra a colaboração da empresa com as autoridades de imigração em 2019. Timnit Gebru, uma mulher negra que é uma respeitada pesquisadora de IA, também disse no mês passado que o Google a demitiu depois de ela ter criticado a postura da empresa quanto à contratação de minorias e aos preconceitos embutidos nos sistemas de IA. Sua saída gerou uma tempestade de críticas em relação ao tratamento que o Google dá aos funcionários que fazem parte de minorias. “Essas empresas acham que é uma fonte constante de aborrecimento ter até mesmo um pequeno grupo de pessoas que diz: ‘Nós trabalhamos no Google e temos outro ponto de vista’”, disse Nelson Lichtenstein, diretor do Centro para o Estudo do Trabalho, Força de Trabalho e Democracia na Universidade da Califórnia, Santa Bárbara. “O Google pode muito bem ter sucesso em dizimar qualquer organização que venha a surgir.” O Sindicato de Trabalhadores da Alphabet, que representa os funcionários no Vale do Silício e em cidades como Cambridge, Massachusetts e Seattle, oferece proteção e recursos aos trabalhadores que se associam a ele. Aqueles que optarem por se tornar associados contribuirão com 1% de sua remuneração total para o sindicato financiar suas iniciativas. Mas vários funcionários do Google que haviam organizado petições e protestos na empresa anteriormente se opuseram às propostas do CWA. Eles disseram que se recusaram a se sindicalizar porque temem que o esforço tenha deixado de lado organizadores experientes e minimizado os riscos da sindicalização enquanto recrutava associados. Amr Gaber, engenheiro de software do Google que ajudou a organizar a paralisação de 2018, disse que os funcionários do CWA desprezaram outros grupos trabalhistas que apoiaram os funcionários do Google durante um telefonema em dezembro de 2019 com ele e outros funcionários da empresa. “Eles estão mais preocupados