A árdua recuperação dos serviços (Editorial)

A despeito de ter crescido mais do que a indústria e o comércio em outubro, o setor de serviços ainda não conseguiu superar as perdas em que incorreu por causa da pandemia. E o aumento de 1,7% de seu faturamento real entre setembro e outubro, embora seja a quinta taxa mensal positiva consecutiva (crescimento de 15,8% desde junho), pode indicar perda de vigor, pois a média de crescimento de julho a setembro superou 2%. Como lembraram os pesquisadores do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na Pesquisa Mensal de Serviços de outubro, a expansão acumulada após junho ainda é insuficiente para compensar a perda de 19,8% registrada de fevereiro a maio. Comparações com os resultados do ano passado mostram quanto ainda falta para o setor retomar sua rota normal de expansão. O volume de serviços de outubro é 7,4% do de um ano antes. É a oitava taxa negativa consecutiva na comparação com o ano passado. O acumulado dos dez primeiros meses do ano é 8,7% menor do que o de 2019. A taxa dos 12 meses até outubro é 6,8% menor do que a dos 12 meses anteriores, “mantendo a trajetória descendente iniciada em janeiro de 2020 e chegando ao resultado negativo mais intenso da série”, iniciada em dezembro de 2012. O crescimento de outubro foi puxado pelos serviços de informação e comunicação, que avançaram 2,6% no mês, acumularam 10,0% de crescimento entre junho e outubro e já compensaram a perda de 8,8% de janeiro a maio. O aumento do home office e a digitalização mais rápida das empresas impulsionaram esse segmento, que já está em nível superior ao do início do ano. No outro extremo, o agregado de atividades turísticas, embora venha crescendo, ainda precisa avançar 54,7% para voltar ao nível de fevereiro, o que dá a medida de quanto a pandemia afetou suas operações. A natureza das atividades do setor, como o turismo e o de serviços às famílias, exige proximidade física e maiores contatos pessoais, razão pela qual as medidas de isolamento social necessárias para conter a pandemia o afetam mais duramente. Assim, no quadro atual da pandemia, ainda dependente da eficiência da esperada campanha de vacinação, não parece irreal a previsão do próprio IBGE de que o setor de serviços fechará o ano com a queda mais intensa da história. O ESTADO DE S. PAULO

Economia cresceu 0,86% em outubro, aponta prévia do PIB do BC

Após a forte retração nos meses de março e abril, em meio à pandemia do novo coronavírus, a atividade econômica brasileira apresentou em outubro o sexto mês consecutivo de alta. O Banco Central informou nesta segunda-feira, 14, que seu Índice de Atividade (IBC-Br, considerado uma espécie de prévia do PIB) subiu 0,86% em outubro na comparação com setembro, na série já livre de influências sazonais (uma espécie de compensação para comparar períodos diferentes). Em setembro, o avanço havia sido de 1,68% (dado revisado). No acumulado do ano até outubro, o indicador registra uma queda de 4,92%. Em 12 meses, a queda é de 3,93%. Os efeitos da pandemia do novo coronavírus sobre a economia, apesar de percebidos em fevereiro, se intensificaram em todo o mundo a partir de março. Para conter o número de mortos, o Brasil adotou o isolamento social em boa parte do território, o que impactou a atividade econômica. Os efeitos negativos foram percebidos principalmente em março e abril. Nos últimos meses, porém, o IBC-Br demonstrou reação. De setembro para outubro, o índice de atividade calculado pelo BC passou de 135,59 pontos para 136,75 pontos na série dessazonalizada. O patamar ainda é inferior, porém, a fevereiro deste ano (140,07 pontos), antes da pandemia. A alta do IBC-Br ficou abaixo da estimativa do mercado financeiro, calculada em 1,10%. Na comparação entre os meses de outubro de 2020 e outubro de 2019, houve baixa de 2,61% na série sem ajustes sazonais. Esta série encerrou com o IBC-Br em 139,37 pontos em outubro. Neste caso, a queda foi maior que a mediana das estimativas (-2,00%) e ficou dentro do intervalo das previsões (-3,70% a 0,30%). Conhecido como uma espécie de prévia do BC para o PIB, o IBC-Br serve mais precisamente como parâmetro para avaliar o ritmo da economia brasileira ao longo dos meses. A projeção atual do BC para a atividade doméstica em 2020 é de retração de 5%. Este cálculo será atualizado na próxima quinta-feira, por meio do Relatório Trimestral de Inflação (RTI). No Relatório de Mercado Focus divulgado pelo BC nesta segunda-feira, a projeção é de queda de 4,41% do PIB em 2020. O Focus reúne as projeções dos economistas do mercado financeiro. DesaceleraçãoA mensagem mais importante do indicador foi a confirmação da esperada desaceleração da retomada da atividade no quarto trimestre, aponta a economista-chefe da BNP Paribas Asset Management, Tatiana Pinheiro. Ela destaca que, após as revisões feitas na série, o IBC-Br desacelerou de 8,43% no trimestre encerrado em setembro para 6,5% no período terminado em outubro. “O dado indica que o País deve continuar a crescer no quarto trimestre, mas em ritmo menor, de 1% a 2% na margem, com ajuste sazonal. Os números mostram desaceleração do ritmo, seja porque a comparação é com um período em que a economia já fora religada, já estava aberta, seja pela redução no auxílio emergencial.” A economista espera alta de 1,5% do Produto Interno Bruto (PIB) no quarto trimestre (de 7,7% no terceiro trimestre na margem), fechando o ano com queda de 4,5%. Para 2021, a expectativa é de alta de 3,0%, sendo que cerca de 2 pontos porcentuais são carrego estatístico do resultado de 2020, ou 64% da projeção. A maior dúvida se concentra, reforça Pinheiro, no desempenho da economia no início de 2021, com a retirada dos estímulos fiscais e o risco de novas restrições econômicas devido à ressurgência de casos de covid-19. “O País deve ter crescimento no primeiro e no segundo trimestres, mas em ritmo menor. Porque no ano de 2021 é a economia que tem de andar com as próprias pernas. O que vemos é o Brasil voltando ao padrão de crescimento anterior à pandemia, com crescimento trimestral, em média, entre 0,3% e 0,4%.” Para a XP Investimentos, o IBC-Br de outubro sinaliza que o ritmo da recuperação vai continuar gradual por algum tempo. Em nota, a instituição afirma que a combinação entre redução do auxílio emergencial, aumento de casos de covid-19 e mercado de trabalho ainda frágil ajudaram a frear o ritmo da atividade no mês. O ESTADO DE S. PAULO

Guedes fala em antecipar pagamento de benefícios e adiar cobrança de impostos no início de 2021

Após defender o cumprimento do teto de gastos em 2021, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou nesta sexta-feira, 11, que o governo tem instrumentos para atenuar o fim do auxílio emergencial em 2021. “Não descartamos usar ferramentas dentro do teto (a regra que proíbe que as despesas cresçam em ritmo superior à inflação). Temos a capacidade de antecipar benefícios, diferir arrecadação de impostos (adiar o pagamento dos tributos). Já fizemos isso neste ano. Esses instrumentos vão permitir fazer aterrissagem em 2021”, afirmou, em audiência na Comissão Mista do Congresso Nacional que acompanha a execução das medidas de enfrentamento à pandemia de covid-19. Entre as medidas adotadas pelo governo neste ano por causa do novo coronavírus estavam o adiamento do pagamento de tributos (inclusive o Simples Nacional) e a antecipação de benefícios, como o 13º de aposentados e pensionistas do INSS. Guedes lembrou ainda que, apesar da execução orçamentária do auxílio emergencial acabar em dezembro, o cronograma de pagamentos pela Caixa e o Ministério da Cidadania deve avançar um mês e meio ou dois meses em 2021. “Ainda haverá uma cobertura do auxílio em janeiro e metade de fevereiro”, completou. De acordo com portaria do Ministério da Cidadania publicada hoje, o calendário para saques do auxílio emergencial prevê pagamentos até o dia 27 de janeiro de 2021. Em tom de otimismo, o ministro disse esperar que 2021 seja um ano diferente, mas voltou a cobrar do Congresso a aprovação de reformas, ao repetir que “não existe milagre” para a recuperação da economia. “Só as reformas vão transformar recuperação baseada em consumo em crescimento com investimento”, enfatizou. Guedes defendeu novamente que a PEC do pacto federativo incorpore instrumentos para que o chamado “orçamento de guerra” seja replicado em novas calamidades públicas no futuro. “Meu sonho era que instrumentos do orçamento de guerra estivessem em PEC para casos agudos”, afirmou. Com o orçamento de guerra, o governo pôde ampliar os gastos no combate à pandemia sem as “amarras” das regras fiscais. A previsão é que o rombo nas contas públicas neste ano chegue a R$ 844,6 bilhões. Entre as mudanças na PEC do pacto federativo, Guedes defende que haja uma cláusula para reuniões semanais do Conselho Fiscal da República em situações de emergência fiscal. “Seja uma crise ambiental aguda no futuro, seja uma repetição de problema com vírus como a pandemia deste ano, seja na razão improvável de uma guerra”, detalhou. Guedes disse ser difícil fazer uma autoavaliação e disse que no momento todos de sua equipe ainda estão “exaustos”. Ele voltou a reclamar de críticas à equipe econômica e pediu um “clima de fraternidade e colaboração”. “Temos que estar unidos. As eleições acabaram, daqui dois anos temos eleições de novo, pega a senha, entra na fila e briga lá na frente”, completou. Segundo ele, o “superministério” unificado da Economia sob o seu comando que permitiu a tomada de decisões rápidas para a implementação de programas de enfrentamento à pandemia de covid-19. Com Guedes, houve a unificação dos minsitérios da Fazenda, do Planejamento, do Trabalho e Previdência, e da Indústria. “Não seria possível agir com tanta velocidade se não houvesse um comando único na Economia. Quando decidimos descentralizar os recursos para Estados e municípios, o ministro do Planejamento poderia se desentender com o ministro da Fazenda tradicional. Da mesma forma, com o Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda (BEm), poderia haver discordância do Ministério do Trabalho, que poderia preferir chamar os sindicatos para fazer outra ação”, afirmou. O BEm foi o benefício pago pelo governo para os trabalhadores com carteira assianda que tiveram os salários reduzidos ou os contratos suspensos durante a pandemia. O ESTADO DE S. PAULO