Soft skills ganham relevância com trabalho remoto e têm peso na contratação

Boa notícia para nós, seres humanos. O que ainda pode nos fazer bater as máquinas no processo de automação das empresas já nasceu conosco e pode ser desenvolvido conforme a necessidade: habilidades comportamentais. Resiliência, comunicação, liderança, criatividade, atenção plena e autogestão engrossam a lista das chamadas soft skills. Todas elas são treináveis, afirmam os especialistas no assunto. Ao lado de especializações ou de cursos de extensão em universidades, soluções práticas colaboram para fomentar ou adquirir cada um desses aspectos ausentes ou incipientes. E foi reforçando o que há de mais humano que médicos conseguiram ter o seu melhor rendimento técnico durante a pandemia. “Nas equipes assistenciais, o espírito de equipe, o relacionamento interpessoal e a colaboração foram fundamentais no enfrentamento da covid-19”, afirma Miriam Branco, diretora de Recursos Humanos da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein, que responde pelo hospital e pela instituição de ensino na área de saúde. “Neste mundo Vuca em que estamos vivendo, as habilidades socioemocionais fazem toda a diferença na qualidade e na agilidade das entregas.” Vuca vem das iniciais em inglês para Volatility, Uncertainty, Complexity and Ambiguity – robôs ainda não sabem responder a situações voláteis, incertas, complexas e ambíguas como esta de pandemia. Miriam completa: “Nas equipes corporativas, no home office, a cooperação e a comunicação assertiva entre as áreas foram essenciais na resolução de problemas”. Diante de um futuro ainda incerto, a edição de 2020 do Global Human Capital Trends, relatório da Deloitte sobre tendências de capital humano, destaca a resiliência como capacidade fundamental a ser desenvolvida nas equipes. No LinkedIn, um levantamento entre junho e julho de 2020 analisou as habilidades comportamentais e técnicas mais demandadas globalmente, com base nas ofertas de emprego. “A comunicação, que já apareceu em edições anteriores, ganha ainda mais destaque, principalmente quando pensamos no fato de que muitas pessoas estão trabalhando remotamente”, argumenta Milton Beck, diretor-geral do LinkedIn para a América Latina. NA PRÁTICANão apenas cursos que o profissional busque por conta própria ou faça por indicação da empresa têm o poder de fomentar ou expandir as habilidades comportamentais. “As habilidades comportamentais não são sempre algo que obtemos em um diploma ou certificado”, afirma o diretor-geral do LinkedIn para América Latina. “O profissional interessado em desenvolvê-las precisa investir em treinamentos, convivência com colegas, feedbacks, conversas com mentores e, claro, cursos.” Voluntariado, intercâmbio e cursos ligados à arte, como fotografia, pintura e teatro, também podem ajudar, complementa Beck. “A vivência é muito importante para o desenvolvimento das soft skills. Portanto, atividades extracurriculares são uma ótima maneira de aprimorá-las.” São várias as soluções práticas. Sócia-diretora da MBA Empresarial, Sandra Betti dá outros exemplos. “Suponhamos que você não saiba trabalhar em equipe. Se for jogar esportes coletivos, vai desenvolver liderança e visão de conjunto”, indica Sandra. “Artes marciais são excelentes para desenvolver foco e disciplina, e melhorar sua autoconfiança e até combatividade. Outra coisa legal é coral: você aprende a ouvir. Jogar War ou xadrez desenvolve a visão sistêmica.” MAIS EMPATIAA Casa do Saber tem um aplicativo com 135 cursos de diferentes campos, caso de Neurociência e Comunicação Não Violenta. Nele, Claudia Feitosa-Santana, com mestrado em Psicologia Experimental pela Universidade de São Paulo (USP) e pós-doutorado em Neurociências Integradas pela Universidade de Chicago, e Flávia Feitosa, com mestrado em Psicologia Social pela London School of Economics and Political Science, trabalham a empatia e a percepção das outras pessoas para alcançar uma comunicação mais eficiente. Cofundador da startup de recursos humanos Revelo, Lachlan de Crespigny destaca os benefícios desses programas, mesmo os rápidos. “Na nossa plataforma, o profissional que faz cursos mais curtos, de educação não tradicional, recebe duas vezes mais entrevistas na média e tem 30% mais sucesso nas entrevistas”, conta. Todas essas inovações contribuem também para tornar o profissional capaz de lidar com a diversidade. “Hoje, a gente fala de diversidade como diferencial competitivo. Porque é a coisa certa a fazer e traz resultados para o negócio”, afirma Telma Gircis, gerente regional de Recursos Humanos da Intel na América Latina e no Canadá. “Quando olho para a minha equipe, tenho de ver o que está faltando. Não posso contratar à minha imagem e semelhança.” De acordo com relatório de junho de 2020 da consultoria McKinsey, no Brasil, empresas com mais mulheres em cargos executivos têm 31% mais chances de uma performance financeira maior do que a média. Nesta entrevista que deu ao vivo para o Sua Carreira, Telma fala como a pandemia mudou os processos seletivos. Ela conta que ficou mais importante haver uma conexão cultural entre o candidato e a empresa que está contratando. Na Intel, o processo de seleção inclui as hard e as soft skills, como a gerente de RH explica na entrevista no fim desta página. TREINE O OTIMISMOFundadora do Instituto Feliciência, Carla Furtado conta que nunca trabalhou tanto quanto agora na pandemia. Ela dá curso e faz treinamento em empresas sobre as happiness skills, habilidades relacionadas ao bem-estar. “Otimismo é treinável. Mas é sentir uma felicidade real, não fantasiosa. Vem de uma mudança no estilo de vida, você vai adquirindo as práticas paulatinamente”, diz Carla, que é professora em cursos de pós-graduação e MBA na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). “A questão da felicidade virou uma grande moda, mas tem de ter muita adesão do indivíduo. Aristóteles dizia que a felicidade não é para os inertes, é para os ativos.” De acordo com ela, na University of Wisconsin, estudos conseguiram destacar quatro habilidades relacionadas à felicidade: resiliência, que é como se atravessa aquilo que é passível sem adoecer; mindfulness, a atenção plena sem julgar; savoring, a capacidade de apreciar coisas simples ao redor; e generosidade, quando a gente tira a atenção de si mesmo para pôr nos outros, a gente tem um benefício químico. Uma forma simples de começar a trabalhar essas habilidades, recomenda Carla, é praticar meditação ou mindfulness. BURNOUT E ASSÉDIONas situações em que as habilidades socioemocionais de toda a equipe não são desenvolvidas, a capacidade de lidar com a diversidade fica para segundo plano, as decisões
Cultura digital é habilidade necessária. E ainda um desafio no mercado de trabalho

Embora as organizações globalmente admitam que dados são fundamentais na era da transformação digital, 66% deles ainda são desperdiçados ou subaproveitados, como revela um levantamento divulgado em setembro de 2020 pela Splunk, companhia americana de big data, que transforma dados captados por máquinas em soluções de valor para empresas. O movimento para conter essa perda de informações e convertê-las em novos negócios abre caminho para os profissionais no futuro, seja com contratações ou pela modificação das funções existentes. Realizada pela Splunk com 2.256 líderes de Negócios e de Tecnologia da Informação (TI) de oito países entre as principais economias mundiais, a pesquisa The Date Age is Here. Are You Ready? (A Era dos Dados Chegou. Você Está Preparado?) mostra que 81% das organizações consideram que dados são muito ou extremamente valiosos. No entanto, apenas 14% se dizem prontas para essa nova era. Então, todo mundo precisa entender de https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg? “Não acho que tem de aprender a programar, mas é importante conhecer o ambiente e ter a habilidade para resolver problemas de um jeito estruturado”, responde Lachlan de Crespigny, cofundador da startup de recursos humanos Revelo. “É um pouco de mito esse negócio de que é uma questão apenas para empresas de https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg. Quase todas estão investindo nisso”, diz. Para Crespigny, trata-se de um aspecto relevante para qualquer negócio, assim como é indispensável se preocupar com vendas, por exemplo. CULTURA DIGITALSegundo André Miceli, professor da Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro (FGV-RJ), a longo prazo o programador clássico deve perder espaço. “Quando empresas colocam o consumidor no centro da sua estratégia, tem uma modificação no modelo operacional que faz com que o relacionamento entre profissionais de TI e de negócios seja diferente. Eles passam a ser membros de uma mesma equipe. É um gerenciamento mais associado ao produto do que ao departamento em si.” Expert em TI e empreendedor, André Miceli acredita também que a https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg vai permitir que os seres humanos se desenvolvam mais em termos de relações interpessoais, na empatia e nas demais soft skills, como ele explica no vídeo abaixo e na entrevista no fim desta reportagem. São mudanças que já estão em curso em empresas de diferentes setores, como relata Telma Gircis, gerente regional de Recursos Humanos da Intel na América Latina e no Canadá. “A Intel está mudando sua cultura, de uma empresa focada em PC para uma empresa focada em dados. É uma mudança de business, então é preciso modificar o comportamento das pessoas”, afirma Telma. “É preciso acompanhar a velocidade dessas transformações. Pesquisas apontam que 80% das profissões ainda vão surgir em dez anos.” Diante da nova divisão de trabalho entre pessoas, computadores e algoritmos, o relatório The Future of Jobs 2020, divulgado em outubro pelo Fórum Econômico Mundial, indica que 85 milhões de funções serão substituídas e 97 milhões de outras podem surgir até 2025. O documento listou as carreiras que estarão em alta nos próximos cinco anos. Confira: Como se vê no relatório do Fórum, toda a parte de Inteligência Artificial e automação está em alta. “O futuro do trabalho inclui áreas específicas para tratar da relação entre humano e máquina”, diz Luciana Lima, professora de Liderança e Gestão na graduação, na pós e em cursos executivos do Insper. Uma das soluções digitais necessárias atualmente é treinar chatbots, robôs de atendimento ao cliente, ensinando sistemas de inteligência artificial a reproduzir a comunicação humana. “Hoje, você não sabe mais se está falando com uma pessoa real ou um robô.” Dados atuais já apontam a alta demanda em outra área do documento do Fórum Econômico Mundial, a de softwares. No Indeed, site global de oferta de empregos, 45% das oportunidades para engenheiro de software estão abertas há mais de dois meses. Além dessa função, webmasters e desenvolvedores Java, Android ou iOS têm muitas oportunidades de trabalho que não foram preenchidas durante o mesmo período. Mundialmente, menos de 1% dos desenvolvedores de software está desempregado, explica Lachlan de Crespigny, da Revelo. “A demanda por profissionais de https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg vai continuar crescendo pelos próximos dez anos.” No Brasil, o cenário também é animador. Nos próximos cinco anos, o mercado de https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg terá um aumento de quase 150 milhões de ofertas de empregos, diz Milton Beck, diretor-geral do LinkedIn para a América Latina. “Um levantamento nosso recente apontou que três das cinco vagas que seguem crescendo em ritmo constante são ligadas a essa área aqui no País.” TELEMEDICINAViraram realidade home office, reuniões de equipe por vídeo, telemedicina e aulas pelo computador. Por dia, 200 milhões de pessoas no mundo usavam o Zoom em março – em dezembro de 2019, eram apenas 10 milhões. A empresa fechou o segundo trimestre de 2020 com aproximadamente 370,2 mil clientes corporativos com mais de dez funcionários, enquanto 66 mil organizações com esse perfil tinham o serviço de conferência online no mesmo trimestre do ano passado. Com o isolamento social, até campos nos quais havia resistência para mudar a mentalidade, caso da educação, foram desafiados. A medicina já vinha incorporando muita https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg em diagnósticos e cirurgias. No entanto, as consultas permaneciam presenciais. A crise da covid-19 obrigou médicos a descobrirem como atender a distância. Esse é um dos assuntos abordados nos cursos gratuitos do Centro de Educação em Saúde do Hospital Israelita Albert Einstein, que nos últimos anos vem oferecendo programas que englobam o uso da https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg na medicina. “Os cursos têm aumentado, tanto no Brasil como fora, principalmente pelo estímulo à transformação digital na área de saúde provocado pela pandemia”, afirma Eduardo Cordioli, gerente médico de Telemedicina do hospital e coordenador do Certificate em Transformação Digital na Saúde da instituição, curso lançado neste ano. Como são cada vez mais desejados profissionais que dominem o assunto, mas com foco no paciente e na ciência de dados, novas turmas já são previstas. “Há uma ainda neste ano e estamos programando duas para o ano que vem. As startups de saúde e de conferência remota estão entre as que mais cresceram durante a quarentena e devem seguir conquistando espaço, diz Pedro Prates, co-head
Liminares reduzem contribuição ao ‘Sistema S’

Entidades empresariais começam a obter decisões judiciais coletivas para limitar a 20 salários mínimos a base de cálculo das contribuições ao “Sistema S”. A Associação Nacional das Administradoras de Benefícios (Anab), da qual fazem parte a Qualicorp, administradoras do Grupo AllCare e o Grupo Elo, obteve liminar que beneficia 26 empresas que congregam a entidade. Todas elas passaram a ter uma carga tributária reduzida. Em média, o peso total dessas contribuições sobre a folha de pagamentos é de 5,8% ao mês. De acordo com a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN), há ao menos 8.580 processos sobre o tema, entre ações individuais e coletivas, que são acompanhadas pelo órgão. A liminar que beneficia a entidade foi proferida pelo juiz Caio José Bovino Greggio, da 21ª Vara Cível Federal de São Paulo. A medida suspende a exigibilidade dos tributos decorrentes dos valores que excederem esse limite de 20 salários mínimos. Só ficou de fora o salário-educação (processo nº 5010088-25.2020.4.03.6100). “Constato que, recentemente, o STJ fixou o entendimento de que existe um valor limite a ser considerado na base de cálculo das contribuições sociais por conta de terceiros ou parafiscais”, diz o juiz na decisão. No começo deste ano, uma decisão unânime da 1ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) limitou para a indústria química Rhodia Brasil a base de cálculo do salário-educação, Incra e das contribuições destinadas ao Sebrae, Senac e Sesc a 20 salários mínimos (REsp 1570980). A partir da publicação do entendimento, empresas começaram a usar o acórdão na tentativa de obter decisão similar. Especialmente, após o Supremo Tribunal Federal (STF) declarar a cobrança do Sebrae constitucional, por maioria de votos, com repercussão geral (RE nº 603624). Segundo o advogado que representa a Anab no processo, Eduardo Muniz Cavalcanti, sócio da Bento Muniz Advocacia, o artigo 3º do Decreto-Lei nº 2318, de 1986, revogou a limitação da base de incidência, na Lei nº 6.958, de 1981, apenas das contribuições previdenciárias. “Também apresentamos ao magistrado o julgado da 1ª Turma do STJ como jurisprudência”, diz. Outra entidade que obteve decisão favorável é a Associação das Indústrias de Boituva, Iperó e Região (Assinbi), com 35 empresas associadas. Nesse caso, a liminar foi negada na primeira instância, mas a 6ª Turma do Tribunal Regional Federal da 3ª Região (SP e MS) aceitou o pedido, excetuando apenas o salário-educação. Na decisão, também é citada a decisão da 1ª Turma do STJ. As duas decisões são importantes porque têm validade para todos os associados das entidades, segundo Rafael Pinheiro Lucas Ristow, tributarista do BCOR Advogados, que representa a Assinbi no processo. “E defendo que não só associados da época do ajuizamento da ação, mas pode usar a decisão para reduzir a carga tributária também quem entrar na entidade depois”, diz. Ristow destaca acórdão da 2ª Turma do STJ sobre os efeitos de decisão proferida em mandado de segurança coletivo (Resp nº 1.377.063/RJ). “Os ministros decidiram, na ocasião, que a medida alcança quem estiver em situação jurídica idêntica àquela tratada na decisão da impetração coletiva”, diz o advogado. Diante da proliferação de decisões a respeito do tema, a PGFN pediu ao STJ que o assunto seja julgado como recurso repetitivo – o que orientará os demais magistrados a seguir a decisão. “Antevendo a importância de que seja atribuído um tratamento isonômico aos contribuintes e a célere resolução dessa controvérsia, própria do chamado contencioso de massa, a PGFN encaminhou o ofício à Corte”, diz o procurador Manoel Tavares Neto, coordenador-geral da Representação Judicial da Fazenda Nacional. De acordo com a PGFN, há acórdãos desfavoráveis a contribuintes que entraram com ações individuais para tentar limitar a base de cálculo das contribuições ao “Sistema S” a 20 salários mínimos nos cinco tribunais federais do país. VALOR ECONÔMICO