Empresas aceleram processos rumo à transformação digital
A pandemia, que gerou uma crise econômica sem precedentes nas últimas décadas, alterou a forma de fazer negócios. O mundo digital, nos momentos iniciais da quarentena para conter o novo coronavírus, foi a única forma de contato entre clientes e muitas empresas, principalmente as ligadas diretamente ao consumo. Com o comércio fechado em grande parte das cidades, a guinada para a internet teve que ser feita às pressas. E não foi só a relação com o cliente que passou a ser virtual. Novas estratégias tiveram que ser desenvolvidas rapidamente por equipes que também passaram a trabalhar remotamente. O processo de transformação digital de muitos negócios foi acelerado e as empresas correram para concretizar em poucos meses avanços planejados para anos à frente. A experiência dessa metamorfose radical foi descrita por executivos de grandes empresas e especialistas em negócios digitais que participaram, na terça-feira, da quarta edição on-line do encontro “E agora, Brasil?”, realizado pelos jornais “O Globo” e Valor, com patrocínio do Sistema Comércio através da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Sesc, Senac e de suas federações. O evento debateu como a transformação digital está impactando o mercado no momento em que a pandemia desencadeou um salto no consumo pela internet, forçando rápida adaptação dos negócios em meio à crise sanitária e financeira. O debate foi mediado por Pedro Doria, colunista de “O Globo”, e Daniela Braun, repórter de https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg do Valor. Participaram Eduardo Peixoto, CDO do CESAR, um hub de https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg baseado em Recife; Hudson Mendonça, líder do programa MIT REAP no Brasil e pesquisador do LabrInTOS da Coppead/UFRJ; Jean Lessa, diretor de https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg e marketplace da B2W Digital; Maricy Porto, diretora de marketing de Kopenhagen e Chocolates Brasil Cacau (Grupo CRM); e Patricia Borges, CMO da L’Oréal Brasil. A partir de seus casos concretos, os participantes do debate contaram como as empresas enfrentaram o novo desafio. O caminho passou por intensificar o investimento em https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg, encontrar maneiras de manter o relacionamento com o consumidor e vender on-line produtos que, muitas vezes, ele estava acostumado a testar pessoalmente numa loja física. E ainda eliminar gargalos de logística para a encomenda chegar rapidamente na casa do cliente. Patricia Borges, da L’Oréal Brasil, contou que a gigante francesa de cosméticos já tinha como obsessão ser “líder da beleza do amanhã”. E buscava isso com forte investimento em inovação, do desenvolvimento de inteligência de produto à maneira como influencia consumidores. Ainda assim, os movimentos de transformação digital foram acelerados e adaptados à pandemia. “Nós já tinhamos muito investimento em mídia digital. O que mudou foi o conteúdo. Por exemplo, nunca tínhamos feito uma live. E tivemos que entender que elas tinham um papel de entretenimento e de ajuda. No momento em que os salões estavam fechados, foi um canal de suporte para a mulher aprender a colorir o cabelo em casa, fazer a própria unha”, explicou Patricia. A experiência fez a multinacional perceber que deixou de ser só uma vendedora de produtos de beleza. Assumiu mais um papel: o de serviço. “Trabalhamos para desenvolver aplicativos de beleza e ferramentas que permitissem à cliente experimentar uma sombra ou uma base, com exatidão no rosto, sem necessariamente tocar no produto, já que as medidas de restrição não permitem mais. Isso tranquiliza e facilita a compra.” Jean Lessa, diretor de https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg e marketplace da B2W Digital, que já nasceu na internet, em 2006, unindo Submarino, Shoptime e Americanas.com, revelou que a pandemia obrigou a empresa a acelerar planos em curso para dar conta da alta na demanda. Contou a favor da empresa a consistência mantida nos investimentos de R$ 1,2 bilhão em https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg e logística nos últimos três anos, segundo ele. “O grande diferencial foi capturar esse crescimento”, disse Lessa, acrescentando que a B2W investe principalmente na capacitação dos parceiros que vendem produtos na plataforma, a maioria de pequenos empresários, para fidelizar. “Parte dos consumidores que aprenderam a comprar desse jeito não volta mais (para a loja física).” A Confederação Nacional do Comércio tem um programa de inovação para estimular varejo, serviços e turismo, setores que mais sofreram com as restrições impostas pela pandemia. Segundo o presidente da entidade, José Roberto Tadros, o programa intitulado CNC Transforma já tem 650 inscrições. “ É consenso que a transformação digital é um caminho sem volta e que ela foi acelerada com a pandemia”, disse Tadros. “A meta é estabelecer uma cultura de inovação de forma a estender às empresas do setor ferramentas e conceitos que contribuam para uma gestão mais ágil, eficiente e competitiva. Já temos 23 soluções desenvolvidas por startups apresentadas à CNC para serem avaliadas.” Além do desafio tecnológico, as vendas na rede dependem de soluções logísticas. Como entregar mais produtos com a mesma rapidez de antes? No primeiro momento, houve gargalos. Encomendas podiam demorar mais de um mês. Para ganhar agilidade e se aproximar daquela compra por impulso de quem passa diante de uma bela vitrine de chocolates no shopping, a Kopenhagen buscou soluções simples. Focada nas lojas físicas até a pandemia, treinou os franqueados rapidamente para operar os canais digitais e entregar em pouco tempo. “Se o cliente quer uma ‘Nhá Benta’ em casa em meia hora, vamos atendê-lo”, resumiu a diretora de marketing da marca, Maricy Porto. Com a retomada das atividades, os varejistas cada vez mais integram lojas de verdade com virtuais. Na B2W, por exemplo, os mais de 1,7 mil estabelecimentos das Lojas Americanas servem de ponto de distribuição de encomendas para agilizar entregas. A tendência agora é vender por diferentes plataformas ao mesmo tempo, destaca ela. “A maioria das empresas não vai conseguir ser 100% digital, mas ficar 00% no analógico não é mais uma opção”, disse o chief design officer (CDO) do CESAR, Eduardo Peixoto. “As empresas podem buscar um modelo híbrido, misturar o analógico com o Hudson Mendonça, do LabrInTOS, da Coppe/UFRJ, sublinhou que, mais que https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg, as empresas precisam de profissionais capacitados, preparados para o novo: “ Existe uma mudança cultural por trás desse processo que talvez seja tão ou até mais importante que a
País vive ‘evasão silenciosa’ de talentos
Com a crise provocada pela pandemia do novo coronavírus a partir de março, o Brasil superou a marca de 13 milhões de desempregados. Mas, na área de https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg da informação (TI), sobram vagas. O que falta é mão de obra formada para atender à demanda do setor que avança junto com a transformação digital em diferentes segmentos da economia, o que pode atrapalhar os planos de empresas e a recuperação do país. Eduardo Peixoto, diretor de design do CESAR, contou no “E agora, Brasil” que o hub de https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg instalado no Recife cresceu 35% neste ano. Com mais demanda por serviços, foi preciso contratar. “Nós contratamos 130 pessoas durante a pandemia, e continuamos com 70 vagas abertas”, afirmou Peixoto, citando que o problema também afeta o Porto Digital, parque tecnológico que abriga 330 empresas, que faturam mais de R$ 2 bilhões “Tanto no CESAR como no Porto Digital, os negócios não aceleram mais rapidamente por falta de mão de obra qualificada.” Segundo dados da Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação (Brasscom), o setor de TI empregava 1,56 milhão de pessoas no fim de 2019. A demanda é de 70 mil profissionais de TI por ano, mas aproximadamente 25 mil vagas ficam ociosas. As empresas ainda enfrentam a crescente concorrência de empresas estrangeiras. Com o dólar alto, contratar em reais é barato. E, com o trabalho remoto, nem é preciso se preocupar com vistos e mudanças. “As https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpgs de comunicação aplainaram o acesso ao capital humano. Não existem mais barreiras geográficas. Empresas de fora estão contratando profissionais que já são escassos aqui”, disse Peixoto. “Estamos vivendo uma evasão silenciosa.” O especialista lembrou cenário semelhante que aconteceu na virada do século, com as empresas de https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg americanas buscando mão de obra em outros países. O Brasil poderia ser o destino dos investimentos, mas tinha poucos formados em ciências exatas: “Esse negócio, de desenvolvimento de softwares, acabou indo para a Índia”. Para resolver o problema é preciso investir na formação profissional, mas isso leva tempo. Para queimar etapas e atender a essa demanda, Peixoto propõe que o país invista no ensino médio, para habilitar estudantes como técnicos em programação. VALOR ECONÔMICO
Bancos alertam para alta de custos a clientes se tiverem de deixar mais recursos no BC
A possibilidade de elevar o depósito compulsório — o montante que os bancos são obrigados a deixar no Banco Central — para obter recursos a fim de criar um programa de microcrédito para os trabalhadores informais, depois que terminar o auxílio emergencial, não foi bem recebida pelos bancos, devido ao custo que isso representaria. Na prática, diz um executivo de um grande banco, quanto maior o compulsório, maior o custo de captação das instituições. A possibilidade de elevar o valor dos depósitos compulsórios para bancar um programa de microcrédito, que teria recursos de até R$ 25 bilhões, foi noticiada na quinta-feira pelo jornal O Estado de S.Paulo. Segundo esse executivo, isso vai se refletir em maiores taxas de juros cobradas dos clientes. Ele avalia que são os bancos públicos (Caixa e Banco do Brasil) que trabalham mais com microcrédito. Os bancos privados são mais cautelosos quanto a esse tipo de empréstimo, exatamente por falta de garantias. — O aumento do compulsório pode resultar em redução do volume de crédito e possível aumento de spreads bancários, o que é ruim tanto para os bancos como para quem busca acesso a crédito — ressalta Leo Monteiro, analista de investimentos da Ativa Investimentos. O analista de bancos da consultoria Eleven Financial, Carlos Daltozo, observa que o caminho lógico para aumentar a oferta de empréstimos seria reduzir compulsório e liberar recursos para o sistema. Não o contrário. — Não faz sentido reduzir o dinheiro em circulação e “carimbar” a parcela a ser recolhida no BC para empréstimos de microcrédito. Os bancos podem preferir deixar esse dinheiro parado no BC, que é remunerado a 2% ao ano, do que correr um risco elevado nas operações de microcrédito — diz Daltozo. Cenário desfavorávelEmbora a ideia seja não onerar o governo, que já está com a situação fiscal difícil e não tem recursos para prolongar auxílios sociais, trata-se de uma medida ruim, avalia Daltozo. O auxílio emergencial foi dado a fundo perdido, numa situação de emergência, e destinado ao consumo. O microcrédito precisa de garantias, observa. Um especialista em setor financeiro também afirma que o fluxo normal para aumentar a oferta de crédito seria reduzir ainda mais a parcela de compulsório dos bancos para ampliar o bolo de recursos destinado ao crédito, não o inverso. Além disso, mesmo liberando mais recursos para o crédito, não há garantia de que os bancos privados vão realmente destinar esse dinheiro ao microcrédito. De acordo com esse especialista, os bancos olham sobretudo para as garantias, e o cenário atual, com desemprego elevado, é desfavorável. Ele disse ainda que será preciso ver que taxa de juros será cobrada.Procurada, a Febraban disse que não tem conhecimento e não comenta futuros programas oficiais de assistência. Mas a notícia sobre o aumento de compulsórios afetou os papéis dos bancos na quinta-feira. As ações ordinárias (ON, com direito a voto) do Banco do Brasil recuaram 4,19%. Já os papéis preferenciais (PN, sem voto) de Bradesco e Itaú Unibanco caíram, respectivamente, 3,95% e 2,44%. O GLOBO
Retomada lenta e dúvidas quanto à volta do emprego (Editorial)
Os indicadores de emprego oferecem poucas perspectivas promissoras para os trabalhadores. Pesquisas recentes da Fundação Getúlio Vargas (FGV) apontam para leve melhora das contratações, mas isso ocorre conjunturalmente, pois o futuro é incerto. São dados menos ruins do que os do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mas revelam que falta muito para que se retorne à situação anterior à da pandemia de covid-19. Segundo o Indicador Antecedente de Emprego (IAE) do Ibre/FGV, houve pequeno avanço de 2,9 pontos entre setembro e outubro, para 84,9 pontos, mas o número ainda é inferior à marca de 100 pontos que separam os campos positivo e negativo. Divulgado simultaneamente ao IAE, o Indicador Coincidente de Desemprego (ICD) ficou estável em 96,4 pontos pelo terceiro mês consecutivo, sendo melhor para as famílias mais ricas. Baseado em séries de dados dos setores da indústria e de serviços e das sondagens do consumidor, os resultados do IAE de outubro confirmam um cenário de recuperação do mercado de trabalho. Mas, como nota o economista Rodolpho Tobler, do Ibre/FGV, “a melhora tem sido mais tímida com o passar dos meses e o nível atual ainda se encontra consideravelmente abaixo do período pré-pandemia”. Ou seja, a incerteza ainda elevada “e a proximidade do período final de ajuda do governo parecem contribuir para maior cautela dos empresários”, enfatiza Tobler. Entre os sete componentes do IAE, quatro registraram alta em outubro, com destaque para a situação atual de negócios da indústria, que subiu 18,5 pontos, para 139,1 pontos. Na mesma base de comparação, houve queda nos indicadores de tendência de negócios e de emprego previsto em serviços. Embora a indústria ofereça emprego de melhor qualidade, qualquer recuperação mais forte passa pelo setor de serviços, que é o maior empregador. A dependência do auxílio emergencial para a manutenção de um nível razoável de atividade e de emprego, como foi notado pela FGV, parece ser o fator de maior incerteza quanto ao ritmo de recuperação da economia em 2021. E não há como prever soluções fáceis para o problema, haja vista as implicações fiscais e políticas, agravadas pelo temor quanto às tendências populistas do presidente Bolsonaro. O ESTADO DE S. PAULO
Recuperação desigual (Editorial)
Maior fonte de empregos em tempos normais, o setor de serviços cresceu em setembro pelo quarto mês consecutivo, mas ainda sem retomar o nível de atividade pré-pandemia. Indústria e varejo começaram a recuperar-se mais cedo, em maio, e saíram mais rapidamente do buraco onde haviam caído em março e abril. Desde o início da retomada, o volume de serviços prestados acumulou expansão de 13,4%, resultado modesto quando comparado com a perda de 19,8% no período de março a maio. Com aumento de 1,8% em setembro, a prestação de serviços ainda foi 7,2% menor que a de um ano antes. Foi a sétima taxa negativa nesse tipo de confronto. O balanço de janeiro a setembro foi 8,8% inferior ao dos nove meses correspondentes de 2019. Em 12 meses o recuo foi de 6%. O último dado mensal da indústria foi melhor que o de um ano antes, assim como o do comércio varejista. Também isso mostra o descompasso na recuperação. O distanciamento social atingiu muito mais duramente os serviços do que os outros setores. Quando se comparam os períodos de janeiro a setembro deste ano e de 2019, as maiores perdas são observadas em alojamento e alimentação, com queda de 40,2%; transporte aéreo, com recuo de 37,6; e “outros serviços prestados às famílias”, com declínio de 30%. É fácil entender o contraste com os serviços de https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg da informação, com ganho de 6,5% no confronto entre os dois períodos de nove meses. Barbearias, salões de beleza e academias também estão, sem surpresa, entre os negócios com grandes perdas na fase de maior distanciamento social. Seus problemas foram muito mais graves que os do comércio varejista, beneficiado, assim como parte dos bares e restaurantes, pela possibilidade de vendas online. O governo conta com a recuperação dos serviços para o aumento do emprego, principalmente informal, em 2021. Essa é uma das expectativas indicadas pelo Ministério da Economia. Mas para isso a retomada do setor terá de ser bem mais vigorosa que a observada entre junho e setembro. Além disso, a evolução dos negócios, nos diferentes setores, será certamente afetada pelas prioridades de milhões de famílias com orçamento muito apertado. Com o fim do auxílio emergencial, por enquanto previsto para dezembro, os consumidores terão de controlar severamente seus gastos. Segundo o ministro da Economia, Paulo Guedes, o auxílio poderá ser prorrogado se ocorrer no Brasil uma segunda onda de covid-19. Nesse caso, haverá, de acordo com a perspectiva do governo, condições mais favoráveis à oficialização de um novo estado de emergência. Mas alguma pessoa ainda normal poderá desejar essa nova calamidade? Uma segunda onda será menos provável que na Europa, se muitos cidadãos, contrariando as opiniões do presidente da República, forem cautelosos, continuando a usar máscara e observando outras medidas de prevenção. O abandono desses cuidados em muitas áreas da Europa e dos EUA foi desastroso. Produziu mortes e internações evitáveis e forçou um retrocesso na abertura econômica. No Brasil falta um plano de manutenção da retomada. Contar com uma nova onda de covid-19 para reativar ou manter o auxílio emergencial parece no mínimo estranho. Também se fala, em Brasília, no lançamento de um grande programa de microcrédito. Crédito fácil ajudará, mas sem substituir o auxílio direto ou um bom programa de incentivo fiscal. Além disso, quanto risco os banqueiros estarão dispostos a aceitar? De toda forma, essas questões parecem até estranhas quando nem se sabe se um orçamento para 2021 será votado até 31 de dezembro. Empresários contam com as vendas de fim de ano para reforço de caixa. Há alguns sinais de otimismo e as contratações têm aumentado. Mas, segundo a Federação do Comércio do Estado de São Paulo, o varejo paulista deve contratar em novembro e dezembro cerca de 22,9 mil funcionários, o menor número desde 2017, quando foram abertas 24,3 mil vagas. Em 2019 foram 35,3 mil. Como ficará o País depois do réveillon? O governo tem pouco tempo para cuidar da resposta. O ESTADO DE S. PAULO
Ganho com a reforma da Previdência chega a R$ 8,5 bilhões em um ano
Um ano após sua aprovação, a reforma da Previdência começa a dar sinais de sua eficácia para as contas públicas do País. A economia nas despesas vem sendo maior do que o previsto inicialmente e a arrecadação com as alíquotas cobradas de servidores federais e de militares das Forças Armadas também cresce mais que o esperado. Apesar dos sinais positivos, especialistas afirmam que ainda é cedo para traçar uma nova tendência para os gastos previdenciários e que uma nova reforma segue sendo necessária na próxima década. A reforma passou a valer em 13 de novembro de 2019. Logo em seguida, os técnicos enviaram ao Congresso uma previsão de redução nas despesas do INSS de R$ 3,5 bilhões em 2020. Desde então, porém, a projeção de gastos caiu mais R$ 5 bilhões, acumulando R$ 8,5 bilhões poupados. No Regime de Previdência dos Servidores Públicos (RPPS), a alíquota antes única, de 11%, foi substituída por uma cobrança progressiva que vai de 7,5% (até um salário mínimo) até 22% (sobre a parcela da remuneração que fica acima de R$ 39 mil mensais). Até setembro deste ano, ingressaram R$ 12,4 bilhões a mais que em igual período de 2019. Na projeção original, a estimativa era ampliar a arrecadação em R$ 3,2 bilhões em todo o ano. A mesma tendência foi observada no regime dos militares das Forças Armadas, que tiveram aumento de alíquotas e cobrança estendida a pensionistas (antes isentos). As receitas subiram R$ 11,27 bilhões até setembro, ante uma previsão de R$ 5,35 bilhões em todo o ano. Nas receitas do INSS, o efeito é incerto por causa do choque provocado pela pandemia do novo coronavírus. Empresas puderam adiar pagamentos, e o aumento nas demissões reduz o número de contribuintes da Previdência. Tudo isso levou a uma queda na arrecadação. O governo ainda não atualizou suas projeções para o futuro e mantém a expectativa de impacto de R$ 800,3 bilhões em uma década. Até 2030, o déficit se manterá na casa dos 3% do PIB. “Considerando vários fatores de incerteza, relacionados à pandemia e ao fluxo de análise dos benefícios pelo INSS, não iremos atualizar as projeções neste momento. É recomendável uma avaliação por prazo mais longo para se determinar exatamente quanto desse resultado decorre diretamente da aprovação das medidas”, explica o secretário de Previdência do Ministério da Economia, Narlon Gutierre. No entanto, a avaliação dentro do governo é que os números obtidos até agora podem, sim, ser um indicativo de que a economia será ainda maior. O próprio ministro da Economia, Paulo Guedes, verbalizou essa possibilidade, ao dizer que a reforma pode ter efeito de R$ 500 bilhões “nos próximos anos”. “Não dá ainda para prever, mas é possível. É um indicativo, mas não dá para cravar. Porque esse efeito não é só da PEC (emenda constitucional), engloba também a medida antifraudes e alguma coisa da lei que regulamentou a parte judicial”, afirma o presidente do INSS, Leonardo Rolim. A reforma deve gerar economias crescentes ao longo dos próximos anos porque retardou pedidos de aposentadoria como a do economista Mauricio Oliveira, de 60 anos, que se viu obrigado a adiar em um ano os planos de pedir o benefício. Além disso, quem entrou no mercado de trabalho após a promulgação da reforma já estará sob as regras definitivas, com idades mínimas de 62 anos (mulheres) e 65 anos (homens). É o caso do brasiliense João Alves e Silva, que conseguiu o primeiro emprego com carteira assinada aos 24 anos e só agora passou a contribuir para a Previdência (leia aqui a história de Maurício e a de João Alves). O líder da minoria na Câmara, José Guimarães (PT-CE), diz que o governo está “poupando despesa e aumentando a miséria social” com as novas regras de aposentadoria. “Você faz uma reforma para ajudar a vida das pessoas, não para piorar, como foi essa reforma.” CapitalizaçãoO assunto está longe de um ponto final. Dentro e fora do governo, a avaliação é de que será preciso discutir uma nova reforma da Previdência na próxima década para elevar novamente as idades mínimas, unificar ainda mais as regras entre categorias e criar uma camada de capitalização – regime em que o trabalhador contribui para uma conta individual que bancará sua aposentadoria futura. “A demografia conspira contra o regime de repartição (em que os trabalhadores contribuem para pagar os benefícios de quem já está aposentado). Teremos uma população em idade ativa numericamente muito pequena para sustentar o volume total de benefícios”, afirma o economista Paulo Tafner. “O Brasil precisa de uma parte (do regime previdenciário) de solidariedade, para combater a pobreza na velhice, até dois salários, três salários, não mais que isso. O resto, (tem de ser) capitalização. Agora, já se mostrou claro que a capitalização pensada pelo ministro Paulo Guedes (sem contribuição do empregador) no Brasil é inviável.” O presidente do INSS também defende a criação de uma camada de capitalização para quem quiser contribuir para aposentadorias de valor mais elevado. Para ele, quanto mais cedo essa mudança for aprovada, menor será o custo da transição. Segundo Rolim, além da capitalização, uma das grandes perdas na reforma foi a decisão do Congresso de excluir o “gatilho”, que garantiria elevação automática da idade mínima à medida que a expectativa de vida aumenta. Com isso, cada mudança vai demandar nova alteração na Constituição. Porém, a reforma atual deu tempo ao governo. “Por pelo menos dez anos estamos num cenário seguro.” O ESTADO DE S. PAULO
Serviços crescem 1,8% em setembro, mas não retomam nível pré-pandemia
A alta de 1,8% no volume de serviços prestados em setembro ante agosto, informada nesta quinta-feira, 12, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), confirmou a retomada do setor mais lenta do que a recuperação do varejo e da indústria, que já eliminaram as perdas com a crise da covid-19. Por causa do caráter eminentemente presencial das atividades, mesmo após quatro meses de avanços, o setor não recuperou o nível de fevereiro. A alta de 8,6% no terceiro trimestre ante o segundo ficou longe do tombo de 15,5% no segundo trimestre ante os três primeiros meses do ano. Mesmo assim, como essa lentidão já era esperada, o dado do IBGE confirma a retomada da economia como um todo no terceiro trimestre, segundo economistas ouvidos pelo Estadão/Broadcast. “Os serviços mostraram uma discreta desaceleração entre agosto e setembro, com redução do crescimento de 2,90% para 1,80%, mas ainda assim foram quatro meses seguidos de crescimento e um resultado acumulado positivo no trimestre”, afirmou o economista sênior do Banco ABC Brasil Daniel Xavier. Com o desempenho dos serviços, o economista-chefe do ASA Investments, Gustavo Ribeiro, elevou a projeção de alta do Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre ante o segundo trimestre, de 8,5% para 8,7%. A economista Natalie Victal, da gestora Garde Asset, viu um “viés de alta” nas expectativas em relação ao desempenho da economia como um todo no terceiro trimestre. No auge da recessão causada pela covid-19, o PIB tombou 9,7% no segundo trimestre, na comparação com os três primeiros meses do ano. A lentidão na retomada dos serviços faz parte das peculiaridades da crise causada pela pandemia. Com as restrições ao contato pessoal, atividades de caráter presencial – como os serviços de manicure e cabeleireiro prestados pelos salões e beleza, ou os segmentos associados ao lazer, como bares, restaurantes, cinemas e turismo – praticamente pararam no início da pandemia. A reabertura dos últimos meses ainda se dá com demanda tímida, seja por receio dos consumidores seja por restrições ainda impostas, como capacidade reduzida e limite ao horário de funcionamento dos restaurantes. “O caráter presencial é um limitador”, afirmou o gerente da Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) do IBGE, Rodrigo Lobo, citando os serviços de transportes de passageiros e os serviços prestados às famílias como os mais afetados por essa característica. Os serviços prestados às famílias cresceram 49,9% entre junho e setembro, mas o avanço não basta para recuperar o tombo de 57,2% entre março e maio. Os serviços de transporte aéreo avançaram 159,5% de junho a setembro, também insuficiente para eliminar o tombo de março a maio. Em setembro, a alta de 1,8% no volume de serviços prestados ante agosto foi verificada em quatro das cinco atividades investigadas na PMS. O destaque foram os serviços de informação e comunicação, com alta de 2%. Essa atividade engloba tanto os serviços de telecomunicações quanto de suporte e consultoria em https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg da informação. Segundo Lobo, o segundo segmento, com alta de 3,2% em setembro, é o responsável pelo bom desempenho. Alheios à pandemia, os serviços de https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg da informação estão com o nível de atividade 256,5% acima do registrado em fevereiro. Se, no curto prazo, a recuperação parcial do setor de serviços, o maior da economia, contribui para a retomada da economia, no médio prazo, seu desempenho poderá segurar o ritmo do crescimento econômico. Lobo, do IBGE, lembrou que a renda adicional do auxílio emergencial pago pelo governo para os trabalhadores informais de baixa renda teve menos efeito sobre o desempenho do setor, já que foi mais direcionado para a compra de alimentos. Além disso, mesmo com a retirada de boa parte das medidas de restrição ao contato social, a retomada do setor poderá enfrentar dificuldades por causa do cenário de desemprego elevado e renda em queda em 2021. “A massa salarial caiu fortemente, e a taxa de desemprego só não está mais elevada por conta do auxílio emergencial. Agora, o conjunto de auxílios vai rareando, e muitos dos incentivos que foram dados antes foram antecipação do 13º salário, o que pode fazer com que falte grana na mão no consumidor no final do ano”, afirmou o economista-chefe da Necton Investimentos, André Perfeito. O ESTADO DE S. PAULO
‘Prévia’ do PIB do BC tem alta de 9,47% no terceiro trimestre
É tempo de primavera para uma política que entra e sai de moda ao longo dos anos: salários mínimos elevados. No fim do mês passado, a Comissão Europeia propôs exigir dos governos europeus o resguardo de “salários mínimos adequados” em suas economias. Do outro lado do Atlântico, Joe Biden foi eleito presidente dos Estados Unidos sobre uma plataforma que inclui a ideia de mais que dobrar o salário mínimo federal para US$ 15 por hora, o que é mais do que o piso salarial atual de qualquer Estado americano. Com o quinto mês consecutivo de melhora na atividade econômica, após forte retração em março e abril, sob impacto da pandemia de covid-19, o Índice de Atividade do Banco Central (IBC-Br) registrou alta de 9,47% no terceiro trimestre de 2020 na comparação com o trimestre de abril a junho, na série já livre de influências sazonais, uma espécie de “compensação” para comparar períodos diferentes. Em relação ao terceiro trimestre de 2019, porém, o IBC-BR, que é considerado uma “prévia” do BC para o Produto Interno Bruto (PIB), recuou 3%, pela série sem ajustes sazonais, informou o Banco Central nesta sexta-feira, 13. De agosto para setembro, o índice subiu 1,29%, passando de 134,61 para 136,34 pontos na série dessazonalizada, no maior patamar desde fevereiro (139,80 pontos). A alta do IBC-Br no mês ficou dentro do intervalo das projeções dos analistas do mercado financeiro consultados pelo Projeções Broadcast, que esperavam resultado entre 0,60% a 2,10%, superando a média das expectativas, de 1,0%. Na comparação entre os meses de setembro de 2020 e de 2019, houve baixa de 0,77% na série sem ajustes sazonais. No acumulado do ano até setembro, o IBC-Br teve queda de 4,93%, na série sem ajustes sazonais. Em 12 meses, o recuo é de 3,32%. Conhecido como uma “prévia do BC para o PIB”, o IBC-Br serve como parâmetro para avaliar o ritmo da economia brasileira ao longo dos meses. A projeção atual do BC para a atividade doméstica em 2020 é de retração de 5,0%, de acordo com o Relatório Trimestral de Inflação (RTI) de setembro. No Relatório de Mercado Focus divulgado pelo BC na última segunda-feira, 9, a projeção é de queda de 4,80% do PIB em 2020 – o relatório reúne as projeções dos economistas do mercado financeiro. Os resultados do IBC-Br, porém, nem sempre mostram proximidade com os dados oficiais do Produto Interno Bruto. O cálculo dos dois é um pouco diferente – o indicador do BC incorpora estimativas para a agropecuária, a indústria e o setor de serviços, além dos impostos. O IBC-Br é uma das ferramentas usadas pelo BC para definir a taxa básica de juros do País. Com o menor crescimento da economia, por exemplo, teoricamente haveria menos pressão inflacionária. Atualmente, a taxa Selic está em 2% ao ano, na mínima histórica. O ESTADO DE S. PAULO
Aumento do salário mínimo ganha força
Esse processo reflete duas grandes mudanças: uma política e outra intelectual. Nos EUA, o compromisso de Biden se assenta em um movimento social – o “Fight for US$ 15” – que vem conseguindo com sucesso pressionar por aumentos nos salários nos âmbitos estaduais e locais, porque há muito o salário mínimo federal não consegue acompanhar a inflação. Na União Europeia, a reviravolta é ainda mais impressionante. Forçar a redução dos salários em nome da “competitividade” foi uma parte central dos pacotes de socorro financeiro da zona do euro uma década atrás. Desde então, a influência da ortodoxia econômica perdeu força. Após escapar das garras da “troica” de credores oficiais, Portugal aumentou seu salário mínimo sem sofrer efeitos econômicos negativos; em 2015, até mesmo a Alemanha introduziu um salário mínimo legal. A adoção de pisos salariais mais altos via política de governo está relacionada a uma mudança maior em direção ao uso mais ativo do Estado para planejar os resultados da atividade de mercado. Essa mudança se manifesta em uma série de domínios políticos – de um renascimento da aplicação do direito de concorrência a um retorno da política industrial estratégica -, sempre com a UE na liderança. Mas se os salários mínimos se encontram nas graças dos políticos, isso somente se tornou possível em razão de uma mudança no pensamento econômico tradicional. O velho consenso era o de que salários mínimos mais altos reduziam a taxa de emprego, porque as empresas não iriam querer mais contratar pessoas cuja produtividade poderia não justificar seus salários. A conclusão foi de que os pisos salariais prejudicam aqueles que deveriam ser ajudados. Mas nos últimos 35 anos evidências melhores e uma teoria mais flexível desgastaram essa visão. Agora parece claro que os salários mínimos podem ser significativamente maiores com, na pior das hipóteses, efeitos modestos sobre o emprego. Esta é a conclusão geral da ampla análise de evidências internacionais conduzida no ano passado pelo professor de economia Arindrajit Dube para o governo do Reino Unido. E mais: a experiência dos países escandinavos sugere que pisos salariais elevados podem encorajar o aumento da produtividade. Como empregar muitos trabalhadores em tarefas de baixa produtividade é algo que se torna antieconômico quando eles não podem ser contratados com salários baixos, os pisos salariais criam um incentivo para as empresas investirem mais capital ou de outra forma aumentar a produtividade dos trabalhadores que elas mantêm. É reconhecido que os países escandinavos conseguiram isso via negociações coletivas e não de pisos salariais legais, e estão entre as poucas nações europeias que não possuem salários mínimos obrigatórios. Seus sindicatos sempre se preocuparam com a possibilidade do salário mínimo legal reduzir os incentivos para as pessoas se organizarem, antes de mais nada. Como consequência, esses países demonstram ceticismo com a iniciativa de Bruxelas. Eles deveriam acabar com essa resistência. A Comissão Europeia desviou-se de seu caminho de não ameaçar modelos estabelecidos de negociação coletiva nos países europeus que adotam esses modelos. Pelo contrário, em mais uma novidade, Bruxelas está pressionando os países para que eles facilitem uma fixação de salários mais amplamente negociada, inclusive nos países que estabelecem o salário mínimo. A natureza dos mercados de trabalho hoje significa que os sindicatos deveriam ver os pisos salariais ambiciosos como seus amigos, e não inimigos. Eles reduzem o incentivo para que os empregadores se esquivem dos acordos coletivos pela contratação de trabalhadores não sindicalizados – frequentemente migrantes -, sob condições piores, e solapem os empregadores responsáveis. É por isso que o governo da Noruega, por exemplo, recorreu à extensão dos resultados de acordos coletivos para todos os setores, criando o que na prática são os salários mínimos setoriais. Os pisos salariais legais, assim como os padrões trabalhistas obrigatórios, também liberam os sindicatos para que eles se concentrem em um maior leque de remuneração e condições de trabalho. Mas o mais importante é que a adoção política do salário mínimo alto abre as portas para uma mudança na maneira como as elites governantes veem as fontes de crescimento econômico, do foco na “competitividade” dos salários à produtividade da mão de obra. A “competitividade” pressupõe que a prosperidade decorre da competição bem-sucedida nos preços – numa economia mundial que inclui a China. Por outro lado, os pisos salariais elevados exigem a vontade de substituir os empregos de baixa remuneração por outros que compitam em produtividade e qualidade. É claro que conseguir isso exige muito mais do que salários mínimos maiores. Também exige uma ampla gestão da demanda agregada, um amplo financiamento a programas que ajudem as pessoas a conseguir bons empregos, e investimentos suficientes em educação e treinamento. Em meio a uma crise profunda, elevar os salários na ponta mais baixa parece uma aposta perigosa. Mas diante do dano provocado à Europa pela obsessão com a “competitividade”, a alternativa é pior. O ESTADO DE S. PAULO
Antes da covid-19, Brasil tinha 51,7 milhões de pessoas abaixo da linha da pobreza
Quando a recessão causada pela covid-19 atingiu a economia, a partir de março, o mercado de trabalho já estava fragilizado e, no ano passado, 51,742 milhões de brasileiros, ou 24,7% da população, estavam abaixo da linha de pobreza definida pelo Banco Mundial para países de renda média-alta. Esse contingente sobrevive com renda mensal de, no máximo, R$ 436 por pessoa do domicílio. Dentro desse grupo, os considerados extremamente pobres – com renda mensal de até R$ 151 por pessoa do domicílio – eram 13,689 milhões em 2019, 6,5% da população, informou nesta quinta-feira, 12, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na passagem de 2018 para 2019, o quadro mudou pouco. Três anos de baixo crescimento econômico entre 2017 a 2019, sempre abaixo de 2% ao ano, mantiveram a tendência de alta da pobreza, que cresceu fortemente com a recessão anterior à atual, de 2014 a 2016. Em 2014, quando 22,8% dos brasileiros estavam abaixo da linha de pobreza definida pelo Banco Mundial para países de renda média-alta, menor proporção desde 2012, o contingente era de 45,817 milhões. De lá para o ano passado, 5,926 milhões passaram abaixo dessa faixa de pobreza, uma alta de 12,9% no período. Também em 2014, os extremamente pobres eram 4,5% da população, ou 9,033 milhões de pessoas. Entre aquele ano e 2019, 4,656 milhões de brasileiros passaram a essa condição, um salto de 51,5%. De 2018 para 2019, foram 151 mil a mais na extrema pobreza. Os dados são da Síntese de Indicadores Sociais (SIS) 2020, feita com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad-C), do IBGE. Referentes a 2019, não captam os efeitos da pandemia. As primeiras informações sobre a crise atual, obtidas pela Pnad Covid, versão especial da pesquisa do IBGE desenvolvida para acompanhar os efeitos da pandemia, mostram redução da pobreza – medida apenas pela renda monetária, ou seja, não levam em conta outros aspectos, como patrimônio -, puxada pelo auxílio emergencial pago pelo governo federal aos trabalhadores informais de baixa renda. Em meio à pandemia, mais da metade da população foi beneficiada de alguma forma pelo auxílio emergencial. Essa queda da pobreza tende a ser temporária, ou seja, os brasileiros mais vulneráveis voltarão a ficar mais pobres quando o auxílio for extinto. A SIS 2020 mostra que, de 2018 para 2019, além de o estrago da recessão de 2014 a 2016 em termos de aumento da pobreza não ter sido desfeito, a desigualdade de renda permaneceu elevada. Como já divulgado pelo IBGE em maio passado, em 2019, o Índice de Gini do rendimento domiciliar per capita ficou em 0,543 (quanto mais próximo de 1,0, maior a desigualdade), acima do 0,540 de 2012, ano inicial da série do indicador, e do 0,524 de 2015 (0,524), menor registro desde então. O estudo ressalta ainda outras formas de desigualdade, como o fato de a pobreza atingir mais as mulheres e as pessoas de pele preta ou parda. No caso da cor da pele, 56,3% do total da população se diz preto ou pardo, mas, entre os 13,689 milhões extremamente pobres, eles representam 76,7%. “A pobreza atinge de forma mais forte as mulheres pretas ou pardas”, afirma Bárbara Cobo, analista do IBGE. Em termos regionais, 27,2% da população vive no Nordeste. No contingente dos extremamente pobres, mais da metade, ou 56,8% vive na região. Desemprego de longa duraçãoAntes mesmo de a pandemia aniquilar 14 milhões de vagas de trabalho, entre formais e informais, entre fevereiro e julho deste ano, o desemprego de longa duração já se espalhava pelos trabalhadores brasileiros. O Brasil é destaque mundial nesse quesito, segundo a SIS 2020. Considerando dados de 2018 e a proporção de desempregados há um ano ou mais, o Brasil tem a quarta pior taxa, num ranking com países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que reúne as nações mais ricas do mundo. O País aparece atrás apenas de Grécia, Espanha e Itália. Em 2019, 27,5% dos desocupados no Brasil estavam nessa situação há dois anos ou mais, segundo a SIS 2020. O ESTADO DE S. PAULO