A segunda onda da pandemia reduziu ainda mais renda efetiva dos trabalhadores brasileiros e seu impacto foi maior no Nordeste, onde, na média, a queda foi de 7% no primeiro trimestre, na comparação com o mesmo período do ano passado, segundo estudo publicado ontem pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Na média do país, o recuo foi de 2,2%. “A partir do quarto trimestre de 2020, a renda efetiva voltou cair, sinalizando que o recrudescimento da pandemia da covid-19 causou um impacto negativo na renda efetiva no início de 2021”, escreve o autor do estudo Sandro Sacchet de Carvalho, técnico de planejamento e pesquisa do Ipea. A segunda onda da pandemia provocou um colapso no sistema hospitalar do país, elevou o número de mortes diárias e obrigou municípios e Estados a adotar novas medidas de distanciamento social, embora menos rígidas que na primeira onda.
Sacchet também mostrou que a proporção de domicílios sem qualquer renda do trabalho cresceu de 25% para 29,3% do primeiro trimestre de 2020 para o mesmo período deste ano. O estudo foi feito com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “Os resultados mais recentes da Pnad Contínua confirmaram o impacto do recrudescimento da pandemia sobre a renda efetiva. Esse padrão se repetiu para trabalhadores em diferentes grupos demográficos”, diz. A queda na renda foi generalizada entre as faixas etárias e os níveis de escolaridade.
No Nordeste, a renda dos ocupados já vinha de uma retração forte no quarto trimestre do ano passado, quando recuou 1,97% sobre o mesmo período em 2019. No Sudeste também houve uma aceleração da queda da renda, embora numa magnitude bem menor, de 1,30% no período entre outubro e dezembro para 1,46%, de janeiro a março. As demais regiões, que registraram aumento no quarto trimestre, viram a renda efetiva dos ocupados cair no período seguinte, como no Norte (de 0,52% para -3,85%), Sul (de 0,01% para -0,97%) e Centro-Oeste (de 0,98% para -0,84%), que registrou o menor recuo entre as regiões. No corte por vínculo, o recuo médio da renda efetiva no país foi puxado pelo trabalhador com carteira assinada, que viu a perda salarial atingir 3,6% na comparação com o mesmo período do ano passado. No setor público houve aumento de 2,4%.
Entre os trabalhadores por conta própria houve alta de 3,9%, que pode ser explicada por dois motivos. Essa foi a categoria que, de longe, mais sofreu perdas na pandemia – a renda caiu 17,2% no segundo trimestre de 2020, 10,3% no terceiro e 6,7% no quarto -, então houve certa recomposição. Além disso, medidas de distanciamento menos rígidas permitiram que as pessoas que trabalham por conta própria, a grande maioria nos serviços, pudessem voltar a ter alguma atividade. Para o técnico, em linhas gerais, os dados da Pnad Contínua mostram forte impacto inicial da pandemia e uma lenta recuperação do mercado de trabalho, que ainda se encontrava incompleta ao fim de 2020 quando o país foi atingido pelo início da segunda onda de covid-19. Se no quarto trimestre, a queda dos rendimentos efetivos atingia alguns grupos, no primeiro trimestre as perdas foram generalizadas, observa Sacchet.
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