‘Todos tiram uma casquinha do setor público’

A economista Elena Landau, a discrepância dos salários das estatais em comparação com os da iniciativa privada revela como a política de gestão de pessoal dessas empresas é engessada, com promoções automáticas e dificuldade de se demitir os funcionários com desempenho ruim. Ex-diretora da área de privatizações do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) durante o governo Fernando Henrique Cardoso, Elena, colunista do Estadão, afirma que os altos salários contribuem para aumentar o lobby contra as privatizações, já que são os políticos que indicam os diretores e conselheiros das estatais.

Por que essa discrepância nas remunerações das estatais com empresas similares?
O problema, para mim, não é o nível salarial, mas a política de gestão de pessoal, que é muito engessada. Assim como no serviço público, as estatais têm salários elevados e promoções automáticas. Há uma grande dificuldade de promover os bons e uma enorme dificuldade de demitir aqueles com desempenho ruim. A Justiça trabalhista não permite demissões imotivadas, embora os funcionários sejam celetistas, e é preciso recorrer a planos de demissão voluntária (PDVs). Tem de gastar para demitir, e quase sempre são os melhores que vão embora.

Os salários dos diretores e funcionários das estatais são muito elevados?
Não acho que diretor ou funcionários de estatal têm de ganhar mal. A questão é que a média salarial é muito alta. Em empresas de economia mista e capital aberto, como Petrobrás e Eletrobrás, é uma forma de atrair executivos do mercado. A questão é que há uma enorme discrepância entre as estatais, justificada supostamente por ativos, função ou histórico das empresas. O Banco Central não é uma estatal, mas, a título de comparação, um diretor lá ganha R$ 17,3 mil se vier do setor privado. É justo que ganhe menos que a média da Codevasf? É fato que algumas estatais foram criadas para pagar salários a técnicos que não viriam para o setor público devido à baixa remuneração.

O que pode ser feito para corrigir as distorções nas estatais?
O governo deveria se empenhar em fazer valer a CLT para demitir os empregados. Deixar fazer greve e a Justiça julgar a legalidade. Ser mais duro nos acordos coletivos. Quer fazer um ajuste na Eletronorte? Basta mudar a sede de Brasília para Tucuruí. Você faz uma gestão de recursos rapidinho.

Os altos salários aumentam o lobby dos servidores contra as privatizações?
Claro. A grande resistência às privatizações vem de políticos, por meio de indicações a diretorias e conselhos, e de empregados e sindicatos. Os conselheiros ganham 10% do salário do presidente; quanto mais conselheiros, mais indicações e complementações salariais. Todos tiram uma casquinha do setor público. Há quem acredite que as estatais, se dão lucro, não devem ser privatizadas. Mas lucro é obrigação. É preciso observar indicadores de eficiência, qualidade, benefícios, gastos com plano de saúde e previdência.

Faz sentido empresas que dependem do Tesouro pagar salários tão altos?
Algumas estatais dependentes têm razão de ser. É o caso da Embrapa. É preciso pagar salários bons em uma empresa que revolucionou o agronegócio. Mas essas estatais deveriam ser a exceção, não a regra.

O ESTADO DE S. PAULO

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