O equilíbrio entre trabalho e vida pessoal conquistou avanços nas companhias participantes do estudo “Mulheres na Liderança” em 2020. Um dos aspectos com melhorias foram os programas que estimulam o prolongamento da licençamaternidade. Entre as companhias ouvidas, 67% aderem ao programa Empresa Cidadã, que estende o período de licençamaternidade e paternidade em 60 e 15 dias, totalizando 180 e 20 dias, respectivamente. Em 2019, esse percentual era de 52%. Outro ponto de destaque é a promoção de campanhas internas de sensibilização sobre a importância da divisão das tarefas domésticas – que ganhou importância com a adoção do home office em muitas empresas – e sobre a paternidade responsável, fator que registrou 20 pontos percentuais acima do computado em 2019.
Em 2020, um número maior de empresas disponibilizou espaços específicos para as funcionárias amamentarem seus filhos (55% ante 40% em 2019) e mais companhias consideram as demandas dos papéis familiares de seus empregados no agendamento de viagens (50% contra 44% em 2019). Na Corteva Agriscience, horário flexível e licenças não remuneradas ajudam os funcionários a equilibrarem vida pessoal e trabalho. Mas, o mais relevante, segundo Claudia Pohlmann, diretora de recursos humanos da companhia na América Latina, é o fomento de um ambiente aberto e transparente, onde as pessoas se sintam à vontade para colocar suas demandas ligadas à vida pessoal. “Se você não se sentir segura, não vai falar que vai na festinha do Dia das Mães na escola”, diz a executiva.
A Serasa Experian, que adota a licença-maternidade de seis meses e tem programas voltados à saúde da mulher, reúne também grupos de afinidades para promover conversas e entender melhor seus desafios. Um deles é de mulheres. “Esse grupo discute sobre jornada pessoal e profissional”, diz Vanessa Butalla, diretora jurídica da companhia e “sponsor” do tema mulheres dentro da Serasa Experian. Foi em uma dessas conversas que surgiu a demanda das funcionárias por um lactário. “Algumas mulheres sentiam falta de um espaço assim na companhia para não interromper a amamentação”, comenta.
Vanessa tem uma visão parecida com a de Claudia, da Corteva Agriscience, sobre a cultura corporativa, que precisa respeitar genuinamente a diversidade para as políticas funcionarem. “Na prática é a flexibilidade de horário que ajuda no equilíbrio entre vida pessoal e profissional, mas vem muito do comportamento”, diz a executiva. “O assunto mulheres na Serasa é pauta discutida em workshops, na alta liderança. Existe um combinado entre políticas formais e cultura da companhia para entender a necessidade de se ausentar fisicamente com responsabilidade.”
Na Deloitte, o horário flexível ganhou força na pandemia, justamente para ajudar no equilíbrio entre vida pessoal e trabalho. “Para preparar o alimento da família tem que sair antes”, exemplifica Daniela Plesnik, diretora da área de “talent” da Deloitte. “Conversamos com toda a empresa sobre a importância de cada um ter o controle da sua jornada e, assim, acabar com a ansiedade desnecessária do ‘não estou respondendo em tempo’”. O RH reforçou com os gestores a importância de entenderem a realidade de cada um da equipe. “Nós não estamos no mesmo barco, como muita gente fala. Estamos na mesma tempestade, mas os barcos são diferentes. Qual é o barco do profissional com o qual eu estou trabalhando?” Desde março em home office, a companhia só vai voltar ao escritório quando as escolas retornarem às aulas presenciais. “Ainda não é estável o suficiente e os profissionais não podem ter essa preocupação de retornar ao escritório e com quem deixar os filhos”, diz Daniela.
Em outra frente, que já existia antes da pandemia, a Deloitte tem um programa chamado family strategy, que sensibiliza os gestores em relação a funcionárias gestantes. “O líder precisa entender que é normal se ausentar mais para ir ao médico. Para quem não viveu aquilo saber o que esperar”, explica. As três executivas concordam que a cultura corporativa faz a diferença para que as políticas de equilíbrio entre trabalho e vida pessoal sejam bem-sucedidas. “É sobre falar das prioridades no ambiente corporativo”, diz Claudia, ao dar como exemplo quando seu filho está em semana de provas. Nesse período, ela precisa dar mais atenção a ele. “Não é esperar conexão das 8h às 17h, é por resultado. Vamos melhorar a comunicação para garantir que as entregas aconteçam”, afirma.
VALOR ECONÔMICO