Considerado o motor do PIB brasileiro, o setor de serviços surpreendeu e avançou 2,6% em novembro, na comparação com outubro. Os dados foram divulgados nesta quarta-feira pelo IBGE. Esta é a sexta alta consecutiva, mas ainda insuficiente para compensar as perdas na pandemia.
O resultado veio bem acima das expectativas de analistas ouvidos pela Reuters, que previam alta de 1,2% para o penúltimo mês do ano.
Apesar do avanço, o setor acumula queda de 8,3% no ano e recuo de 7,4% em 12 meses. A expectativa é que só volte ao patamar pré-pandemia após a vacinação em larga escala.
Segundo o gerente da pesquisa, Rodrigo Lobo, todos os cinco segmentos de serviços tiveram avanço em novembro. O destaque foi o setor de transporte, especialmente o rodoviário de carga, estimulado pelo desempenho do comércio e da indústria.
O transporte de passageiros, seja aéreo ou coletivo, também avançou.
— Isso pode ser um sinal de que mais pessoas estejam voltando para casa em outras cidades e estados, ou procurando emprego — explica o gerente da pesquisa, Rodrigo Lobo.
Segundo ele, os serviços prestados às famílias — que tiveram a sua quarta taxa positiva seguida — também avançaram (8,2%) e impulsionaram o desempenho do setor.
— Dentro de serviços prestados à famílias, alojamento e alimentação cresceram 9,1% de outubro para novembro. O resultado ocorreu em função do aumento das receitas em hotéis e restaurantes. Isso mostra que as pessoas passaram a viajar mais, o que também reflete nos transportes — diz o pesquisador.
Por outro lado, o grupo registra no acumulado do ano o pior resultado desde 2015, de -36,6%. A justificativa é que são atividades muito relacionadas ao contato e à confiança das pessoas saírem de casa e, por isso, muito afetadas na pandemia, marcada pelo isolamento social.
Apesar da variação positiva das cinco áreas pesquisadas para novembro, somente duas conseguiram retornar ao patamar de fevereiro. O grupo informação e comunicação se recuperou devido ao grande uso de serviços de https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg e internet no período. Já o de outros serviços avançou, especialmente puxado por serviços financeiros.
— Outros serviços tem uma base bem ampla, que vai de coleta de lixo a administração da bolsa de valores. Mas o que justifica ser a única com resultado positivo no ano é a atividade de corretoras. É um segmento que já vem se beneficiando desde 2018, com as pessoas buscando fundos mais rentáveis — contextualiza Lobo.
Recuperção lenta e pior ano da série
Muito dependente do contato físico, a exemplo dos salões de beleza, e de grandes movimentações, como nos bares e restaurantes, o setor se serviços vem se recuperando lenta e gradualmente nos últimos meses.
No entanto, com o repique dos casos de Covid-19 a partir de novembro, vários empresários vinham relatando queda no fatutamento, o que levou muitos economistas a prever um crescimento menor em novembro.
Já a indústria avançou 1,2% no penúltimo mês do ano, na sua sétima alta seguida, e já superou o patamar pré-crise. Comércio também já eliminou as perdas da pandemia. O desempenho de novembro será divulgado na sexta-feira.
Lobo pondera que o setor de serviços já vinha sem fôlego nos últimos anos antes mesmo da pandemia. Segundo ele, 2020 deve encerrar com o pior acumulado do ano da série histórica, iniciada em 2012.
— Em 2020 a pandemia deteriorou o cenário de serviços que já não mostrava grande dinamismo — diz ele, que acrescenta: — É improvável evitar a queda em 2020. Se fosse para ter apenas uma variação nula, o setor de serviços teria que crescer entre 81,8% e 82,8% a frente dezembro de 2019.
A economista da Xp, Lisandra Barbero considera que, de uma forma geral, o setor mostra retomada. Por outro lado, espera retração de 8% para 2020.
— Embora o setor permaneça frágil devido à pandemia, nosso índice de difusão mostra que mais de 80% dele vem se recuperando em um ritmo significativo nos últimos seis meses. No curto prazo, porém, o aumento de casos novos da Covid-19 no Brasil pode trazer um viés negativo para o setor. Esperamos que o setor de serviços contraia 8,0% em 2020.
O GLOBO