A revolução digital pega os sindicatos do País num momento de fragilidade, o que pode complicar ainda mais a adaptação aos novos tempos, que já não será fácil.
De um lado, o número de trabalhadores sindicalizados despencou, colocando em xeque a representatividade das entidades. De outro, as finanças dos sindicatos encolheram de forma expressiva, com o fim do imposto sindical, em 2017. “O sindicato deixou de ser um ator político e econômico importante”, diz o sociólogo Leôncio Martins Rodrigues.
Para completar o quadro, com o desemprego recorde, ficou bem mais difícil propor pautas ambiciosas de reivindicações e realizar grandes mobilizações – um problema que se agravou com as restrições adotadas na pandemia. As greves também minguaram, bem como os acordos coletivos que garantem ao menos o reajuste dos salários pela inflação.
Em parte, esse enfraquecimento pode ser atribuído ao “afastamento das bases” e à acomodação dos dirigentes. “Às vezes, o movimento sindical fica mais na agenda burocrática e perde a aderência aos trabalhadores”, diz o sociólogo e consultor Clemente Ganz Lúcio. “Tinha presidente de sindicato que convocava eleição e colocava o edital na porta do banheiro dele”, afirma Ricardo Pattah, presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT), uma das principais centrais sindicais. “Nem os diretores do sindicato ficavam sabendo que haveria eleição.”
Muitos sindicalistas e boa parte da esquerda creditam as dificuldades ao “governo golpista” do ex-presidente Michel Temer, por ter patrocinado a reforma trabalhista, que flexibilizou as relações de trabalho e acabou com o imposto sindical, e à ascensão do “fascismo” no País, com a eleição do presidente Jair Bolsonaro, que “não valoriza as questões sociais”.
“O presidente sempre falou que quer acabar com o movimento sindical”, diz Lúcio. “O fascismo crescente está acabando com o sindicalismo e escravizando os trabalhadores”, afirmou Pattah, considerado uma das vozes mais moderadas do movimento, em encontro com “companheiros” em Pernambuco, em 2020.
A revolução digital, porém, está se impondo no mundo todo, independentemente da ideologia dos governantes, e pouco se pode – ou se deve – fazer contra ela, sem perder o bonde da história.
O ESTADO DE S. PAULO