Resistência à automação dificulta adaptação aos novos tempos

Na pregação dos sindicalistas, duas palavras têm presença garantida nos últimos tempos: “uberi-zação” e “precarização”. Elas simbolizam com perfeição a postura defensiva predominante no movimento sindical contra as novas formas de contratação de profissionais e o avanço da https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg na produção e no trabalho.

Como os ludistas nos primórdios da Revolução Industrial, na Inglaterra, no século 19, que promoviam a quebra das máquinas nas indústrias por acreditar que iriam acabar com os empregos, os sindicalistas agora resistem à revolução digital e querem ditar o seu ritmo, para tentar evitar que os robôs e a inteligência artificial ganhem espaço.

“O que o movimento sindical talvez tenha dificuldade de entender, pela velocidade com que as coisas estão acontecendo, é que a automação ou a digitalização não é uma decisão da empresa, mas de mercado. Se ela não fizer isso e o seu concorrente fizer, vai morrer e provocar mais desemprego”, afirma o advogado e consultor Magnus Apostólico.

Aparentemente, o mundo ideal, na visão de muitos dirigentes sindicais, seria aquele em que tudo continuaria como está, sem que qualquer fator levasse os profissionais a sair da “zona de conforto”. A percepção geral é de que a lei que proibiu as bombas de autosserviço nos postos de gasolina, para garantir o emprego dos frentistas, aprovada em 1999, representa “uma conquista dos trabalhadores” e não um freio à produtividade e à modernização do País.

“No Brasil, essas mudanças modernizadoras são feitas com enorme dificuldade”, diz Almir Pazzia-notto Pinto, ex-presidente do Tribunal Superior do Trabalho (TST) e ex-ministro do Trabalho. Segundo ele, a própria Constituição inclui entre os direitos dos trabalhadores a proteção contra as transformações trazidas pela https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg. “Como é possível impedir a automação em nome da proteção a uma mão de obra não qualificada?”, questiona. “A mão de obra qualificada não tem receio da automação e da digitalização.”

Jetsons. Para tentar sobreviver neste cenário e recuperar a relevância perdida nos últimos anos, os sindicatos terão, provavelmente, de deixar de lado postura defensiva e procurar se adaptar aos novos tempos. A luta contra a https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg jamais foi bem-sucedida, exceto por curtos períodos, que pouco ou nada representam no curso da história.

Apesar da resistência dos ludistas no início da industrialização, a Inglaterra logo se tornou uma potência econômica, com a multiplicação da produção, o corte de custos e a oferta de bens acessíveis a uma massa de consumidores inimaginável até então. Como se constatou depois, a industrialização levou à criação de milhões de empregos, ao aumento generalizado da renda e a uma prosperidade como nunca se tinha visto.

Se, por um lado, a https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg elimina algumas ocupações, por outro cria novas demandas e permite o aumento da produtividade, que é a força motriz do desenvolvimento. A questão é que sempre haverá uma defasagem de tempo entre uma coisa e outra, como na Inglaterra de dois séculos atrás.

“O importante é admitir que a https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg está transformando os empregos atuais”, afirma o sociólogo José Pastore. “As pessoas só vão conseguir trabalhar se acompanharem essa transformação.” De acordo com ele, um estudo do Fórum Econômico Mundial apontou que, em dez anos, o mundo terá de requalificar cerca de um bilhão de trabalhadores atingidos pelo avanço da https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg.

“Sou da geração dos Jetsons. Adorava ver os Jetsons. Tudo isso está chegando”, diz Ricardo Pattah, presidente da União Geral de Trabalhadores (UGT) e um dos sindicalistas que mais têm se movimentado para implementar ações de capacitação. “Só que, se não nos prepararmos para isso, vamos ter tantos miseráveis que o mundo vai ficar caótico.”

No Brasil, porém, a capacitação profissional sempre foi consideradauma questão menor pelos sindicatos e eles nunca entrar ampara valer na área. “Os sindicatos deixaram os trabalhadores sem as competências e habilidades necessárias para concorrer em um mundo cada vez mais ágil e online”, diz o economista Gabriel Pinto, autor do livro Passaporte para o Futuro (Edições Cândido, 2020).

Em paralelo a esses esforços isolados, o movimento sindical se movimenta para mudar de forma radical a organização das entidades. A ideia é aproveitar a reforma sindical parada no Congresso para acabar com a atual classificação de sindicatos e criar grandes organizações setoriais, com base nacional. No caso da indústria, seria criado um sindicato com todos os trabalhadores que atuam no setor – assalariados, terceirizados, autônomos e prestadores de serviço, de todos os ramos de atividade. “A classificação atual fragmenta a representação sindical”, diz o sociólogo Clemente Ganz Lúcio.

Por ora, os sindicatos estão procurando usar a https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg em seu favor, desenvolvendo aplicativos e ferramentas para permitir a associação de trabalhadores pela internet. Com a pandemia, as assembleias virtuais se tornaram um instrumento precioso para os dirigentes tentarem se aproximar mais de suas bases.

“Como é possível impedir a automação em nome da proteção a uma mão de obra não qualificada?” Almir Pazzianotto Pinto EX-PRESIDENTE DO TST

“Se não nos prepararmos, teremos tantos miseráveis que o mundo vai ficar caótico.” Ricardo Pattah PRESIDENTE DA UGT

O ESTADO DE S. PAULO

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