Pequeno empresário vê crédito ainda mais difícil neste começo de ano

Em meio ao recrudescimento da pandemia e à desaceleração da atividade, pequenos empresários entraram em 2021 enfrentando mais exigências para acessar crédito do que encontravam no fim do ano passado e com barreiras ainda bem acima do período anterior à crise sanitária. É uma perspectiva desafiadora para a manutenção, neste ano, dos negócios que sobreviveram até agora, revelada pelas Sondagens do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV). Na pesquisa, representantes do comércio, serviços e construção respondem como está o grau de exigência para concessão ou renovação de empréstimos bancários – quanto menor o índice, maior a exigência.

No comércio, o indicador de crédito para pequenos negócios passou de 72 em dezembro para 67,7 em janeiro, na série padronizada. Ainda está 11,6 pontos abaixo do nível pré-pandemia (79,3 em fevereiro de 2020). Entre comércios de porte médio, também houve recuo na virada do ano (-4,9 pontos), para 91,4 em janeiro, mas o índice está apenas 0,9 ponto abaixo do pré-covid. Para grandes varejistas, por outro lado, o índice cresceu de 84,3 em dezembro para 92,3 em janeiro e já está 5,2 pontos acima de fevereiro de 2020.

Nos serviços – o setor mais afetado por medidas de distancimento social -, empresas de todos os portes viram o índice de acesso a crédito recuar em janeiro, em relação a dezembro, e ainda estão em níveis abaixo do pré-covid. Pequenos e médios negócios, porém, mostram maior dificuldade, conforme bancos mantêm exigências altas dado o risco de inadimplência desses empréstimos. Em janeiro, o índice de crédito para serviços de pequeno porte, que estava em 58 pela série padronizada, era 32,6 pontos inferior ao observado em fevereiro de 2020. Serviços médios tinham índice de 67,1 (21,5 pontos abaixo do pré-covid), e grandes, de 85,8, apenas 3,6 pontos aquém do período anterior à pandemia. “Parece haver dificuldade maior para empresas de serviços terem crédito facilitado, e com as pequenas isso fica claro”, diz Viviane Seda Bittencourt, coordenadora das Sondagens do Ibre/FGV. O cenário na construção é particular. As empresas já vinham de um momento difícil antes mesmo da pandemia e, apesar da crise, os resultados de acesso a crédito estão, em geral, melhores do que em fevereiro de 2020. Apenas empresas grandes têm percepção de piora, com o índice de janeiro 3,6 pontos abaixo do pré-covid, em 81,3.

Analisando os dados sob outra ótica (a dos extremos), os pesquisadores do Ibre Claudia Perdigão e Aloisio Campelo, superintendente de Estatísticas Públicas do instituto, também destacam a fragilidade dos serviços. O saldo entre as empresas do setor que acham fácil e as que consideram difícil conseguir crédito era de -20,4 em janeiro, ou seja, há 20,4 pontos a mais de empresas avaliando como mais alto o grau de exigência para obter empréstimos. Essa diferença já foi maior (-28,6 em junho), mas ainda está bem acima da sua média histórica (-7,2 pontos entre junho de 2010 e janeiro de 2021) e é pior do que os saldos de janeiro em serviços médios (-10,6) e grandes (-4). O comércio costuma ter um desempenho positivo nessa análise de extremos, o que significa que a reclamação de acesso a crédito é menos frequente no setor. No caso das empresas menores, porém, o saldo de quem acha que está fácil pegar empréstimo é pequeno (7,2 em janeiro) na comparação com a média de 20,1. “Tem menos gente achando que a situação está confortável em termos relativos”, diz Campelo. Para as grandes varejistas, o cenário já é bastante favorável, com a diferença positiva (30,8 pontos) até acima da média histórica (23,7 pontos).

A perspectiva para as empresas em 2021 é de um “período bem desafiador”, resume Viviane, considerando o recrudescimento da pandemia e um consumidor ainda bastante cauteloso. Muitas das grandes companhias, diz ela, tiveram a capacidade de se reinventar, investindo em https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg e novos canais de venda, o que as deixa em uma posição mais confortável. Já pequenas e médias empresas devem continuar precisando de ajuda. “No geral, a situação melhorou em relação ao pior momento da crise, mas há heterogeneidade muito grande. O que mais preocupa são os serviços, principalmente agora que temos a segunda onda. Fevereiro e março ainda devem ser difíceis, segmentos que dependem de aglomeração devem ter muito problema de novo”, diz Campelo. Se a campanha de vacinação acelerar no segundo semestre e não houver uma crise sanitária aguda como a de Manaus espalhada pelo Brasil, apenas alguns negócios – menores, principalmente de serviços – sofreriam mais, observa o pesquisador. “Mas é ruim porque eles já não têm o fôlego que tinham da primeira vez. Talvez novas medidas de acesso a crédito tenham de ser dadas. Não sei se, necessariamente, hipersubsidiado de novo, mas algo em que o governo empreste o seu poder para garantir o empréstimo e facilite o acesso durante um período curto, de dois a três meses”, sugere ele.

Com a Selic ainda baixa, juros de mercado estão mais acessíveis para empresas menores, mas é preciso existir também facilidades que despertem nelas interesse por tomar empréstimo, como períodos de pagamento mais longos e uma nota de crédito mais ajustada à atual necessidade das companhias, que é, sobretudo, de capital de giro, segundo Viviane. “Elas sofrem com falta de demanda, falta de recursos para honrar despesas correntes e, sem acesso a crédito, podem deixar de existir.”

VALOR ECONÔMICO

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