Nem estuda nem trabalha

Folha de S.Paulo –

Jovens fora da escola e sem emprego estão em alta. A pandemia gerou um dos maiores contingentes desse subgrupo populacional na história brasileira. Aproximadamente 12 milhões de jovens nem estudam nem trabalham.

Eles saem precocemente do sistema educacional e apresentam baixa qualificação. Os mais pobres recebem ensino de pior qualidade. Mesmo na educação pública há desigualdade no acesso às melhores escolas.

No entanto, sabe-se que as competências construídas pelas pessoas no decorrer da juventude exercem considerável influência em suas trajetórias. Especialmente no que se refere às oportunidades no mercado de trabalho. Aqueles que não desenvolvem habilidades suficientes têm acesso a empregos piores.

Soma-se a isso o baixo crescimento econômico brasileiro. A difícil situação enfrentada pelo país nos últimos anos deixou o mercado de trabalho ainda mais competitivo. Muitos vão para o setor informal e, consequentemente, tendem a receber menor remuneração e não têm acesso à seguridade social.

Para milhares de jovens desfavorecidos não há esperança em relação ao futuro. Os que estudam, aprendem pouco em nossas escolas e enfrentam dificuldades para conseguir emprego. Entretanto, para os que não se qualificam as chances são ainda menores.

A desilusão e a frustração juvenil aumentam. Fora da escola e com baixa expectativa em relação ao mercado de trabalho, o mundo do crime é convidativo. Alguns veem nas atividades ilegais aquele retorno e valor social que as escolas e eventuais trabalhos de baixa qualidade não darão.

Alguns são colocados na prisão, outros acabam sendo alvos do fogo cruzado da violência. Esse enredo se reproduz cotidianamente ao nosso redor e representa um custo elevado para qualquer sociedade.

Oferecer melhores oportunidades para jovens sem perspectiva é um caminho mais justo, barato e próspero. Para isso, um dos caminhos é avançar tanto oferta de uma educação de qualidade, quanto na inclusão da juventude no mercado de trabalho.

Em estudo recente realizado por Luciano Salomão e Naercio Menezes-Filho, os pesquisadores encontraram uma relação entre o avanço na qualidade da educação nos municípios brasileiros e uma diminuição nos homicídios, aumento das matrículas do ensino superior e na geração de empregos (Um Novo Índice de Qualidade da Educação Básica e seus Efeitos sobre os Homicídios, Educação e Emprego dos Jovens Brasileiros, 2022).

No contexto americano, em uma avaliação de impacto realizado por Judd Kessler, estima-se que o Syep (Summer Youth Employment Program) da cidade de Nova York levou a uma queda de 10% no encarceramento e de 18% na mortalidade (The effects of yoth employment on crime: Evidence from New York City Lotteries, 2021).

Essas e outras evidências são de conhecimento comum para muitos que estão nos bancos das escolas de economia. No entanto, geralmente não chegam para a população e, até mesmo, para gestores públicos.

Avançar na construção de caminhos para gerar maior difusão dos resultados de pesquisas bem fundamentadas pode ajudar a sociedade a ser mais assertiva em relação aos dilemas que envolvem as escolhas públicas.

Porém, isso não é algo trivial de ser feito. Existe o desafio de desenvolver uma comunicação mais efetiva para assuntos complexos num país em que, parcela expressiva da população, apresenta consideráveis dificuldades na interpretação de textos básicos.

Além disso, tem-se a falta de interesse. Muitas vezes, assuntos corriqueiros, fúteis ou polêmicos chamam mais a atenção das pessoas do que aqueles que de fato tem o potencial de mudar suas vidas. Apesar dos desafios, precisamos avançar. A situação social do Brasil é delicada demais para sempre ficar em segundo plano.

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