Depois dos bons resultados em janeiro e fevereiro, a atividade econômica caiu em março, mas menos do que a piora da pandemia no período sugeria, o que levou a revisões positivas no Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre e, por extensão, do ano. Apesar de a chamada segunda onda ter feito muito mais vítimas do que a primeira, no ano passado, a mobilidade de pessoas foi maior agora, reflexo de medidas de distanciamento bem menos rígidas.
A expectativa é que o PIB brasileiro tenha sustentado alta de 0,7% no primeiro trimestre, na comparação com os três meses imediatamente anteriores, feito o ajuste sazonal, segundo a mediana das projeções de 55 instituições financeiras e consultorias procuradas pelo Valor Data. Em relação ao primeiro trimestre de 2020, período parcialmente atingido pela pandemia, a alta seria de 0,5%.
Para João Leal, economista da Rio Bravo, as surpresas positivas se concentraram no lado da oferta, com destaque para a agropecuária, que se beneficiou de produções recordes e preços internacionais de commodities em alta. “A agricultura ajudou a puxar muita coisa”, diz ele, que projeta avanço de 0,7% para o PIB no primeiro trimestre, ante o quarto de 2020. A mediana das previsões aponta para alta de 4,2% da agropecuária.
“Indústria e serviços devem ter um crescimento mais comedido”, diz Leal. As medianas indicam 0,5% de crescimento em ambos, na base trimestral. Bens de consumo duráveis, segundo o economista, apresentariam performance pior no primeiro trimestre, sobretudo pela ausência do auxílio emergencial. Bens de capital, por outro lado, ajudariam a sustentar a indústria no campo positivo, especialmente com a demanda da agricultura e da construção civil. Ainda que o crescimento dos serviços, para Leal, seja modesto, a surpresa positiva foi grande, afirma ele. A expectativa era que a piora da pandemia imporia maiores restrições à mobilidade social, afetando o setor. “Mas os serviços mostraram resiliência.” O que parece ocorrer é uma menor efetividade das ações em geral para restringir a circulação, observa Flávio Serrano, head de análise macroeconômica da Greenbay Investimentos. “As medidas de restrição foram menos severas e a adesão ao distanciamento durante a segunda onda foi menor”, diz ele, que prevê crescimento de 0,6% para o PIB do primeiro trimestre, em relação aos últimos três meses de 2020. Os serviços subiriam 0,8%, estima, impulsionados exatamente pela mobilidade maior.
Para Serrano, o consumo doméstico deve crescer acima da média do PIB no primeiro trimestre, com a demanda das famílias subindo 1%, ajudada pela poupança precaucional e uma “inércia positiva” do fim do ano passado. A mediana das projeções é mais conservadora, prevendo alta de 0,4% na comparação trimestral, mas queda de 1,5% na base interanual. “O consumo das famílias ainda não tinha sido tão afetado no primeiro trimestre do ano passado. Então, ainda estamos um pouco abaixo”, diz Leal, da Rio Bravo, que projeta contração de 0,8% na comparação com o quarto trimestre de 2020. Nas outras linhas da demanda, a previsão mediana dos analistas é que o consumo do governo cresça 1,1%, ante o trimestre anterior, e a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) – o que se investe em máquinas, equipamentos, construção e pesquisa – fique estagnada. Serrano e Leal, porém, projetam altas de 1,9% e 1,6%, na ordem, para os investimentos, com destaque para produção de caminhões e ônibus e o consumo aparente de máquinas e equipamentos, diz Serrano.
A produção agrícola e a necessidade de bens de capital alimentam ainda, respectivamente, exportações e importações no trimestre, aponta Leal. As altas seriam de 3,2% nas vendas ao exterior e de 7,2% nas compras estrangeiras, pela mediana. Pensando no segundo trimestre e à frente, a avaliação dos economistas é que uma eventual terceira onda pode gerar mais medidas de restrição, porém, de novo, com efeitos menores sobre a mobilidade. Em relatório divulgado nesta semana, o banco Credit Suisse avaliou que um novo recrudescimento da pandemia não deve deter a retomada da atividade econômica, a exemplo do que ocorreu na chamada segunda onda, embora aumentem os riscos ao ambiente político e para as contas públicas.
Estudo feito pelo economista Bruno Imaizumi, da LCA Consultores, diz que, por mais que os riscos epidemiológicos persistam, a adesão às medidas restritivas tem diminuído por causa do cansaço do isolamento e pela necessidade de recompor renda. “Esses resultados ajudam a entender a resiliência maior da economia brasileira no início de 2021, que fez com que boa parte do mercado revisasse para cima as projeções de crescimento para o ano”, diz. A casa estima crescimento de 1,4% no PIB do primeiro trimestre, sobre o último do ano passado, e de 4% neste ano. A mediana das projeções indica crescimento de 4,2% para 2021.
Serrano, da Greenbay, ainda estima alguma contração da atividade no segundo trimestre, mas menor que o esperado antes, diante de indícios positivos no comércio e na indústria. A confiança voltou a crescer em maio, por exemplo. Leal, da Rio Bravo, vê até uma alta, de 0,2%, para o PIB do período, com estímulos ao consumo pela volta do auxílio e de programas de proteção ao emprego, além da antecipação do 13º a aposentados. O Itaú, que sempre esteve na ponta positiva das previsões para o primeiro trimestre, relata surpresas também no segundo trimestre e passou a estimar alta de 0,6% para o PIB de abril a junho, na comparação trimestral dessazonalizada. A projeção anterior era de queda de 0,1%. A mudança se deve a uma recuperação mais rápida da mobilidade e dos serviços, explicam os economistas. Para o primeiro trimestre, o banco espera que a atividade cresça 0,6%. Assim, a previsão para o PIB em 2021 foi de 4% a 5%.
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