Eleições, inflação persistente e juros mais elevados alimentam dúvidas no empresariado sobre necessidade de novas contratações
Por Alessandra Saraiva — Do Rio
Após três meses de alta, o Indicador Antecedente de Emprego (IAEmp) da Fundação Getulio Vargas (FGV) caiu 0,8 ponto em julho ante junho, para 81,1 pontos, a pior queda desde fevereiro (-1,4 ponto). Para o economista Rodolpho Tobler, responsável pelo indicador, divulgado ontem, o resultado representa “começo de sinal amarelo” no mercado de trabalho.
Segundo o especialista, incertezas em cenário de médio de longo prazo, a partir de 4º trimestre e começo de 2023, elevaram cautela do empresário em julho quanto a novas contratações. Isso conduziu ao recuo no indicador em julho, após três meses de alta, notou ele – e deve levar a uma desaceleração, no IAEmp e na cadência de abertura de vagas, nos próximos meses.
Segundo ele, indicador de emprego foi beneficiado, nos últimos meses, por uma retomada na ocupação no mercado de trabalho. Um dos principais fatores foi a recuperação do setor de serviços no país, após mais de dois anos de pandemia.
Como o setor de serviços é principal empregador da economia, o maior ritmo de demanda conduziu à abertura de mais vagas no segmento, no primeiro semestre. Isso levou produziu um impacto positivo, no mercado de trabalho como um todo, bem como na economia do Brasil. Os serviços representam mais de 70% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. “O primeiro semestre claramente foi de economia mais aquecida”, disse Tobler.
No entanto, o ambiente para este segundo semestre deixa dúvidas entre empresários, quanto à necessidade e os riscos de novas contratações, que também é decisão de longo prazo, acrescentou Tobler.
A piora no cenário macroeconômico para consumo, com inflação persistente e juros mais elevados, reforçando o ambiente de crédito mais restrito, pode afetar a demanda no setor, nos próximos meses, e o empresariado sabe disso.
Ao mesmo tempo, o período mais acirrado das eleições, no segundo semestre, bem como dúvidas sobre qual será o novo governo e a política econômica em 2023, conferem mais incerteza em relação às projeções de demanda na economia, disse o economista.
Assim, o economista da FGV ponderou que o recuo no IAEmp não pode ser considerado como prova de reversão de tendência positivo a dos últimos meses.
No entanto, o saldo negativo no indicador sugere ritmo de desaceleração em abertura de vagas, para os próximos trimestres, ante o observado no primeiro e segundo trimestres, acrescentou.
“O quarto trimestre e começo de 2023 sugerem atividade mais fraca. Nada muito preocupante, mas se mantiver por muitos meses, os empresários podem ficar mais cautelosos”, afirmou.
“Isso tudo gera um começo de ‘sinal amarelo’ [no IAEmp de julho]”, completou. “O empresário precisa de um ambiente de negócios mais tranquilo em horizonte de longo prazo para que tenhamos uma recuperação sustentável no IAEmp”, resumiu.