Brasileiro está trabalhando mais horas e tem mais reuniões on-line. Entenda as possíveis consequências

Análise com 8 mil pessoas mostra aumento da jornada de trabalho, mais tempo de atividade digital e reuniões ocupando tempo maior, uma combinação que pode levar ao esgotamento

Por Adriana Fonseca, 

A jornada média de trabalho do brasileiro aumentou, bem como o tempo de atividade digital e a quantidade de reuniões – uma combinação preocupante e que pode levar a mais casos de esgotamento profissional, o chamado burnout. A conclusão é de uma análise feita pela Fhinck, a partir de uma base que reúne 8 mil profissionais de grandes empresas que atuam no Brasil. A startup, que usa dados para estruturar novas estratégias de gestão de pessoas, relacionou métricas da amostra de profissionais a estudos acadêmicos, como um de Harvard.

A análise, obtida pelo Valor, quis entender, por meio da geração de dados, os fatores de risco que podem levar ao estresse mental nos empregados e, assim, munir com informações a liderança da organização para melhorar as relações e o ambiente de trabalho nas empresas. “Os gestores ou o RH não precisam esperar chegar a avaliação de um profissional da saúde sobre a estafa do colaborador [para depois agir]. Isso é autópsia. Tem que tentar prevenir”, afirma Paulo Castello, CEO e fundador da Fhinck, reforçando que os dados jamais dão um diagnóstico de burnout, o que sempre deve ser feito por profissional especializado.

Segundo o levantamento, que analisou informações entre junho de 2020 e maio de 2022, a atividade digital (tempo que a pessoa passa em frente às telas trabalhando) aumentou 85% no período. A jornada de trabalho, por sua vez, passou de 60 horas semanais, um acréscimo de 6,7%, e a quantidade de reuniões aumentou 20%, mesma porcentagem de aumento detectado em comunicação escrita (envio de e-mails e chats corporativos).

No período considerado pós-pandemia (2022), a jornada já registrou uma redução, mas ainda se mantém 3,9% maior do que a média registrada em 2019 (período pré-pandemia).

Quando se analisa o fator reuniões on-line de trabalho, houve um aumento significativo de 95,5%, devido ao fato de as reuniões, antes comumente presenciais, passarem a ser realizadas de forma virtual, além de se mostraram mais intensas no período pandêmico. No atual momento, já se observa a retomada das reuniões presenciais, mas ainda há um aumento expressivo de encontros virtuais em relação ao período pré-pandemia: 78,4% .

Todo esse tempo em frente às telas é de se esperar que gere um estresse, afirma Castello, “porque o corpo não estava acostumado a isso”. “O pós-pandemia está mostrando que essa exposição às telas caiu só 20% e isso é uma preocupação. Antes tinha a questão do isolamento. Agora se tem a flexibilidade de distribuir melhor a jornada e não ficar o tempo todo no computador.”

A análise, segundo Castello, começou a mostrar que mesmo com as pessoas voltando ao escritório, ainda há um volume alto de reuniões digitais, “porque nem todo mundo está no escritório”. “Há um grande desafio de gestão neste momento, como reconstruir a forma de fazer gestão, de distribuir o tempo, que vai ser bastante dinâmico.”

Antes da pandemia, de acordo com os dados da Fhinck, 25% dos profissionais faziam home office. Agora são 75%. “Existe um movimento das empresas tentando levar os funcionários para o escritório, elas ainda têm o custo do imóvel, ainda existe o modelo de gestão com mentalidade de estar mais seguro vendo as pessoas trabalhando perto [fisicamente], e há ainda os desafios do trabalho do futuro, pessoas que não querem ser obrigadas a ir ao escritório”, afirma.

https://valor.globo.com/carreira/noticia/2022/08/03/brasileiro-esta-trabalhando-mais-horas-e-tem-mais-reunioes-on-line-entenda-as-possiveis-consequencias.ghtml

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