IBGE abre 6.500 vagas temporárias de pesquisa

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) anunciou ontem abertura de 6.500 vagas temporárias para trabalhar em pesquisas do calendário mensal do instituto. São para funções de níveis médio e superior, em todos os Estados. Porém, o comunicado acendeu sinal de alerta a especialistas consultados pelo Valor. Isso porque, assim como ocorre em processo para contratação de mais de 200 mil vagas temporárias para o Censo 2021, não há ideia muito clara de como processo de seleção ocorreria em meio à pandemia nem sobre possíveis custos adicionais. O instituto já reduziu orçamento do Censo, lembraram os técnicos, e, este mês, a pandemia levou ao cancelamento de teste de homologação de equipamentos e sistemas do Censo 2021, no município de Engenheiro Paulo de Frontin (RJ), disse Luanda Botelho, coordenadora do Sindicato dos Trabalhadores do IBGE (ASSIBGE) Núcleo Chile. “O IBGE é um órgão público e tem que ter mais transparência [na divulgação de informações sobre as pesquisas]”, completou Roberto Olinto, economista e ex-presidente do instituto.

As remunerações das vagas anunciadas ontem vão de R$ 1.345 a R$ 3.100, para nível médio e de R$ 5.100 para nível superior. A seleção será feita por Processo Seletivo Simplificado (PSS), de contratos com duração de até um ano, podendo ser prorrogado em até três anos, “de acordo com as necessidades do IBGE e a disponibilidade orçamentária”, informou o instituto. As provas serão aplicadas na capital fluminense no dia 2 de maio. O IBGE detalhou, no comunicado sobre as vagas, que protocolos sanitários de prevenção da covid-19 serão divulgados em edital, e que haverá disponibilização de álcool em gel em todos os locais de prova. Procurada, a assessoria de imprensa do instituto informou que esses processos são rotineiros, para repor temporários de unidades regionais. O último processo para essas funções ocorreu em 2016.

No entanto, diferentemente de 2016, o país passa por uma pandemia global, lembrou a sindicalista. “Parece-me que o instituto tem atuado como se nada estivesse acontecendo, anunciando esse monte de concurso”, afirmou. Ela comentou que, mesmo sem mencionar custos, já é possível intuir que a preparação de seleções como essa, e como a do Censo, exigiria gastos adicionais – compra de álcool gel, por exemplo. E há a questão de realizar seleções, bem como pesquisas presenciais, em cenário de agravamento da covid-19. “O teste em Paulo de Frontin foi cancelado porque não tinha como fazer”, frisou. Em portal na internet sobre o Censo, o IBGE descreve teste naquela cidade fluminense como “etapa preparatória para Censo 2021” com objetivo de avaliar condições reais de campo para a pesquisa. Procurado para falar sobre o tema, o IBGE informou que a prefeitura de Engenheiro Paulo de Frontin comunicou a suspensão de atividades das escolas municipais com a pandemia. Assim, o treinamento que seria realizado em escolas, será remanejado para outra data. “O IBGE aguarda as decisões das autoridade locais para reavaliar o cronograma do teste. As demais etapas não presenciais, assim como a operação em Nova Iguaçu, serão mantidas”, diz o órgão.

Mas, para Luanda, as preparações para o Censo sinalizam “catástrofe”. “Estamos chegando ao momento em que possivelmente o Censo será adiado por causa da pandemia”, resumiu ela. Olinto vai além. Ele comentou sobre o fato de que, na época em que ele presidia o instituto – de 2017 a 2019 -, o planejamento para Censo também previa em torno de 200 mil recenseadores. “Mas orçamento era em torno de R$ 3,6 bilhões, sendo R$ 3,1 bilhões para recenseadores”, lembrou ele. “E o IBGE confirma que Censo vai custar R$ 2 bilhões”, comentou. O pagamento de recenseadores custa de 60% a 70% do total do orçamento do Censo, completou o técnico. Ou seja, tem-se menos recursos com mesma quantidade de recenseadores. Outro aspecto lembrado por ele é o fato de que se terá custo a mais, para comprar equipamentos de proteção contra covid-19, para recenseadores Para Olinto, é preciso “repensar o Censo” em termos de orçamento; o modelo de questionário, com perguntas sobre covid-19; e a forma como seria feito.

VALOR ECONÔMICO

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