Quando um recrutador recebia currículos de estudantes para uma seleção, tinha de fazer um filtro técnico logo de cara. As empresas pediam faculdade de primeira linha, alunos com conhecimento prévio, como inglês e domínio do Excel, e até mesmo experiência — ainda que cursassem os primeiros semestres. Se você ainda tem essa imagem dos processos seletivos, vire a chave. As coisas mudaram.
Claro que o filtro técnico continua sendo valorizado. Mas, antes dele, o recrutador vai olhar coisas que antes não eram observadas, como história de vida, valores e comportamentos. Ou seja, a ordem da avaliação mudou. Pessoas que teriam poucas chances de passar num processo seletivo tempos atrás, agora têm mais chances. Essa é uma boa notícia.
Mas, calma, os filtros técnicos ainda são importantes e fazem parte da avaliação, mas ganharam um peso diferente. Ter consciência disso ajuda você a se preparar melhor para uma futura vaga de estágio ou de trainee. Vejamos como tudo se encaixa.
Como passar pela primeira peneira
Cadastre-se nas principais plataformas de vagas. Elas concentram os estágios mais interessantes do mercado e aumentam as suas oportunidades. Ao fazer cadastro em vários sites, você potencializa a visibilidade do seu perfil. Por isso, a dica é preencher o cadastro completo (sem erros de português!), com o maior número de itens possível.
Invista em cursos, palestras, eventos e fóruns. Quando um recrutador pega o currículo e vê apenas o nome, faculdade e nada mais, a leitura que faz é de acomodação, mesmo que o estudante curse os primeiros semestres. Mas, se o currículo trouxer algo que tenha feito a mais, a mensagem para o recrutador é que o candidato é proativo em vez de acomodado.
Envolva-se em atividades da faculdade. Você pode participar do diretório acadêmico, de uma empresa júnior, da atlética. Mesmo que, aparentemente, isso não tenha nada a ver com você, acredite que a recompensa vai valer a pena. Experiências desse tipo ajudam a desenvolver soft skills — competências sociais e emocionais — que são valorizadas no mundo corporativo. O recrutador levará isso em conta. Fica a dica.
Turbine o currículo incluindo redes sociais. É uma prática boa, mesmo sendo “bixo” de faculdade, crie sua página no LinkedIn e coloque no currículo. Com isso, o seu perfil começa a circular e você tem a chance de mostrar o seu potencial. Mas cuidado com o que fala nas redes sociais. As empresas checam, sim, o que o candidato posta. Não adianta falar uma coisa no LinkedIn e fazer outra no Instagram. Tome cuidado com a incoerência.
Foi chamado para participar do processo seletivo? A primeira coisa que você precisa saber é que, de modo geral, há três etapas principais: uma entrevista pelo recrutador; uma dinâmica, que pode ser mais lúdica, como construir um produto ou participar de um game interativo, por exemplo; ou um estudo de caso, que é uma dinâmica um pouco mais palpável, com dados, infográficos, números, tabelas e gráficos, para que discutam em grupo e façam uma proposta de solução. Com isso em mente, eu sugiro que você siga três passos.
Primeiro passo: estudar
É muito comum o candidato chegar ao processo e dizer que não sabe sobre a posição que está disputando nem sobre a companhia. Isso já passa a imagem de uma pessoa relapsa. E, cá entre nós, não custa nada pesquisar antes, não é? Dá até para ir além e pesquisar sobre o gestor no LinkedIn. Isso demonstra que o candidato é curioso e tem iniciativa. Que gestor não quer ter uma pessoa organizada, que busca entender o desafio e apresentar soluções?
Segundo passo: ensaiar
Isso mesmo. Não existe nada de errado em treinar para ganhar fluidez e segurança na apresentação. Falar sobre sua vida em poucos minutos não é fácil. Mas você pode se preparar para isso. Se o entrevistador pedir que resuma sua trajetória, você poderá pinçar os pontos principais, porque já refletiu e pensou sobre eles. Se não souber o que destacar a seu respeito, você vai se perder e será visto como o candidato que não soube fazer um resumo nem ser objetivo.
Terceiro passo: perguntar
A maioria dos candidatos acha que os processos são apenas para responder. Mas, ao fazer questionamentos e interagir, você mostra que tem interesse e curiosidade. Candidatos que não perguntam têm uma chance maior de passar batido na seleção. Candidatos que perguntam deixam suas marcas.
Se o seu ponto fraco é falta de um conhecimento específico, invista em cursos. Se é comportamental, aposte no treino. Você só vai desenvolver novas habilidades se entrar em campo. Participar de processos seletivos, apresentar trabalhos em sala de aula, fazer ações na faculdade, atuar em ONGs ou igrejas são alguns exemplos do que pode ser feito para ganhar confiança e controlar a ansiedade.
Seu esforço será a diferença entre ser aprovado ou continuar procurando por uma oportunidade. Minha pergunta é: o quanto você quer a vaga? Estou certo de que você já tem a resposta — e sabe exatamente o que precisa fazer para chegar lá.
- Tiago Mavichian é CEO e fundador da Companhia de Estágios, startup de RH especializada em seleção e desenvolvimento de aprendizes, estagiários e trainees. Pós-graduado em gestão de pessoas pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, possui mais de 15 anos de experiência na área de RH.
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