Empresas brasileiras se tornam as mais endividadas entre grandes emergentes

O Banco de Compensações Internacionais calcula que companhias brasileiras terão dívidas a pagar nos próximos dois anos em valor equivalente a 45% de seu lucro líquido. É o maior percentual entre sete grandes emergentes examinados. Em seu relatório anual, o BIS examina um cenário alternativo sobre a economia global centrado na pandemia de covid-19. Leva em conta uma situação na qual as campanhas de vacinação não avançariam, faltaria tratamento e novas cepas do vírus, resistentes às vacinas, poderiam emergir, levando a novos lockdowns. Os países com margem política mais limitada, especialmente muitos emergentes, seriam os mais atingidos. Nesse caso, as perdas do setor corporativo poderiam aumentar e alguns sistemas bancários poderiam enfrentar pressões.

Baseado na relação histórica entre taxas de infecção, lockdown e Produto Interno Bruto (PIB), o BIS calcula que a emergência de um vírus resistente a vacinas poderia diminuir o PIB entre 1,5% e 3,5% na segunda metade deste ano. Regiões onde a vacina avançou mais sofreriam o maior impacto no crescimento por causa desse retrocesso.

Os balanços das companhias estão mais expostos desde o começo da pandemia, com alta substancial de empréstimos, sobretudo no caso daquelas menos lucrativas. Assim, o efeito adverso de crescentes falências seria amplificado a partir de seu impacto sobre bancos e outras instituições financeiras. Mas o BIS observa que, mesmo que não se concretize um aumento das insolvências, as empresas terão que enfrentar um aumento do pagamento devido ao grande crescimento de empréstimos contraídos no início da pandemia. O valor de dívidas doméstica e externa a pagar nos próximos dois anos aumentou significativamente em muitos países desenvolvidos e em vários grandes emergentes.

Em alguns países, esse repagamento excede 50% do lucro líquido das firmas. Na Itália, em três a cinco anos a fatura a pagar vai ser equivalente a 66% do ganho das companhias. Já na França, cai de 42,7% em dois anos para 7,6% entre três e cinco anos. Entre sete grandes emergentes (Brasil, China, Índia, Coreia, África do Sul, Turquia e Rússia), são empresas brasileiras que terão mais aumento de pagamento de dívidas nos próximos dois anos. Em um a dois anos, o valor da dívida que elas vão precisar pagar equivale a 45,42% de seu lucro líquido. Esse percentual cai para 12% em três a cinco anos. Em comparação, na China as empresas pagarão 22,25% de seu ganho em até dois anos, mas entre três e cinco anos essa conta representará -17,6%, ou seja, alívio financeiro importante. Na Índia, em até dois anos não haveria pagamento de dívida (-10% na verdade), mas a fatura passa a 16,3% do lucro entre três e cinco anos.

Para o BIS, há sinais de que a recuperação a partir da pandemia poderia confirmar a necessidade do aumento do pagamento de dívidas pelas empresas, “pelo menos nos países onde progresso com vacinação é lento, atrasando o relaxamento de medidas de confinamento”. Se as dívidas não puderem ser reescalonadas, pagá-las vai requerer das companhias reduzir custos ou cortar investimentos. Instituições financeiras sob pressão e firmas altamente endividadas também atrasarão a realocação de recursos. Para o BIS, esse cenário seria mais desafiador sobretudo para os emergentes, por causa de vulnerabilidades pré-existentes e elevada aversão a risco de investidores internacionais.

VALOR ECONÔMICO

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