Em um ano, 5,6 milhões de trabalhadores passam para grupo de subutilizados no país

Em um ano, 5,6 milhões de pessoas passaram a integrar o grupo dos trabalhadores subutilizados no país, indicam números divulgados nesta quinta-feira (27) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Com o aumento, a parcela de profissionais nessa condição chegou ao total de 33,2 milhões no primeiro trimestre deste ano. É a maior marca já registrada na série histórica da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), iniciada em 2012.

Os subutilizados contemplam três categorias: os desempregados, os subocupados, que trabalham menos do que 40 horas semanais, e a força de trabalho potencial (quem gostaria de atuar, mas não buscou vagas ou não estava disponível para preenchê-las por diferentes motivos).

Na prática, o indicador serve para medir a falta de emprego ou o desperdício de mão de obra no país.

No primeiro trimestre de 2020, o total de subutilizados era de 27,6 milhões. Segundo economistas, a elevação reflete os impactos da pandemia. Além de reduzir a oferta de vagas, a Covid-19 fez com que mais pessoas trabalhassem menos do que o desejado ou não procurassem oportunidades.

Durante a crise sanitária, por exemplo, o governo federal apostou em programa que permitiu o corte de jornada e salários para conter a destruição de empregos.

“O que mais surpreendeu negativamente [na pesquisa do IBGE] foi o avanço da subutilização da mão de obra”, afirma o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez.

No primeiro trimestre deste ano, os 33,2 milhões de subutilizados estavam divididos em 14,8 milhões de desempregados, 7 milhões de subocupados e 11,4 milhões de pessoas na força de trabalho potencial.

O número de desempregados também chamou atenção por ter voltado a subir, alcançando o nível mais alto da série. No início do ano passado, o país tinha 12,9 milhões de pessoas nessa condição. Um trabalhador é considerado desempregado quando está sem ocupação e segue em busca de novas oportunidades.

“Há um grande desemprego escondido. Não é por causa da base de dados. Está escondido porque há um grande contingente que estava trabalhando e deixou seu emprego, mas, em vez de procurar nova vaga, ficou em casa por diferentes razões”, observa o economista Daniel Duque, pesquisador do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas).

Para Duque, a tendência é de que mais pessoas voltem a buscar trabalho nos próximos meses. Assim, a perspectiva é de novas pressões na taxa de desocupação, estimada em 14,7% entre janeiro e março, outro recorde da série.

Sanchez tem opinião semelhante. “Diria que a situação ainda vai se revelar pior antes de começar a melhora. Mas, com a recuperação gradativa da economia, o mercado de trabalho pode ter retomada”, diz o economista.

FOLHA DE S. PAULO

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