Depois de superar o nível recorde em fevereiro, a dívida pública brasileira caiu pelo segundo mês seguido e atingiu 86,7% do PIB em abril. Os dados foram divulgados nesta segunda-feira pelo Banco Central (BC).
O indicador se beneficiou da redução dos gastos do governo com a pandemia e da arrecadação recorde de impostos no mês. De acordo com o BC, também houve efeito do crescimento do PIB, do resgate da dívida e da valorização cambial no mês.
Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos, explica que o resultado positivo do mês aconteceu também por conta da retomada da atividade econômica, que tem efeito direto no aumento da arrecadação.
Outro ponto, segundo ela, foi a redução dos programas emergenciais, como a prorrogação de pagamentos de impostos.
— O retorno dessa arrecadação mais forte, tanto por conta desses programas que vão sendo enxugados junto com a retomada da atividade econômica beneficia muito essa dinâmica do resultado do governo — explicou.
O resultado fiscal do setor público consolidado, que reúne o governo central, os regionais e as empresas estatais, foi de superávit de R$ 24,3 bilhões em abril, contra déficit de R$ 94,3 bilhões no mesmo mês de 2020.
De acordo com a Instituição Fiscal Independente (IFI), órgão ligado ao Senado, a dívida deve voltar a subir e chegar em 91,3% do PIB no final deste ano.
Risco de terceira onda
O economista-chefe da Órama, Alexandre Espírito Santo, ressalta que as perspectivas para a atividade econômica têm melhorado e que é possível que o resultado fiscal surpreenda positivamente.
— Vendo as estatísticas recentes, talvez nós sejamos surpreendidos sim com a melhora do déficit ao longo do ano. O único ponto que eu ressalto aqui é que a gente não pode desconsiderar o cenário da pandemia — disse.
Uma possível terceira onda de contaminações pela Covid-19 é justamente um dos pontos de atenção no cenário do economista da CM Capital, Alexandre Almeida.
— A terceira onde realmente representa um risco para a atividade e o fiscal porque tem a possibilidade de não apenas prolongamento do auxílio emergencial, mas aumento do tíquete, aumento do endividamento para abastecer a demanda interna — afirmou.
A estatística considera a dívida pública bruta, que compreende o governo federal, o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e os governos estaduais e municipais. O dado é acompanhado de perto pelo mercado financeiro para medir a capacidade do país de pagar suas dívidas, o chamado nível de solvência.
O GLOBO