O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central voltou a aumentar os juros básicos (Selic) em 0,75 ponto porcentual, para 4,25% ao ano, mas continua atrasado no processo de controle da inflação, porque manteve a dose prometida, mesmo surpreendido pela inflação mais alta.
Na reunião de 6 de maio, o Banco Central reconheceu que estava deixando o trabalho incompleto. O termo usado no documento foi o de que o ajuste procurava a “normalização parcial”. Ao mesmo tempo, deixou como favas contadas nova alta dos juros de 0,75 ponto porcentual na reunião desta quarta-feira. A inflação de maio surpreendeu para cima, ficou no 0,83% e, no período de 12 meses completados em maio, em 8,06%, acima do esperado pelo mercado e pelo Banco Central.
Ficou entendido que o aumento dos juros (o 0,75 ponto porcentual decidido desta vez) calibrados para uma inflação mais baixa continuaria a ser normalização parcial se a inflação viesse mais alta, como veio e promete mais.
Por isso, número expressivo de analistas econômicos entendeu que, para enfrentar essa elevação mais braba de preços, o Banco Central teria de puxar os juros em 1 ponto porcentual. Mas não foi o que aconteceu. O Banco Central limitou-se a retirar a expressão “normalização parcial” do seu comunicado e a adiantar mais uma alta de 0,75 ponto porcentual na próxima reunião, agendada para 4 de agosto.
Ainda prevalece o diagnóstico do Banco Central de que o esticão da inflação não acontece por aumento da demanda interna, mas por choque de oferta. Inflação de demanda é a que acontece com aumento da procura por bens e serviços descasada de oferta equivalente. A atual inflação não se explica pelo aumento da demanda porque o desemprego continua alto (14,7%) e o consumidor brasileiro perdeu renda durante a pandemia. Ela é mais de custos do que de demanda porque vem empurrada pela alta das commodities decidida no exterior. Por isso, não caberia reforçar o aumento dos juros, que é reduzir o volume de moeda na economia, para conter a demanda.
Embora fundamentalmente correto, o diagnóstico do Banco Central do Brasil deixou de lado o impacto secundário dessa inflação de custos, num país em que ainda é forte a indexação (correção monetária).
E mais, nos próximos meses, ainda se esperam três pauladas sobre o custo de vida: a aplicação da bandeira vermelha sobre as tarifas de energia elétrica, em consequência da crise hídrica; a inevitável transferência da alta no atacado para os preços do varejo; e o aumento dos preços do setor de serviços que quase forçosamente se seguirá depois de outubro com o aumento da vacinação.
O que pode atenuar a inflação é o comportamento do câmbio. Nesta quarta-feira, as cotações do dólar chegaram a tocar nos R$ 4,99 (ver abaixo). Isso significa que os preços dos importados, especialmente os dos alimentos e dos combustíveis, enfrentarão importante fator de baixa.
As cotações do dólar continuam em queda. Atingiram o pico de R$ 5,80 em 9 de março e, nesta quarta-feira, chegaram a resvalar para abaixo dos R$ 5. Mas fecharam a R$ 5,06, na ponta de venda. As causas desse movimento são conhecidas: é a grande abundância de dólares no mercado externo; o excelente desempenho das exportações; a alta dos juros que voltaram a atrair moeda estrangeira; e a relativa melhora da área fiscal. A valorização do real diante do dólar é fator que tende a segurar a inflação.
*CELSO MING É COMENTARISTA DE ECONOMIA
O ESTADO DE S. PAULO