Medidas adotadas pelo governo brasileiro para ajudar a economia a passar pela crise da covid-19 totalizaram US$ 105 bilhões, mas apenas uma fração desse montante — US$ 351 milhões, ou 0,3% do total — teve efeito claramente positivo para o meio ambiente. Os números fazem parte de uma avaliação produzida pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Economico (OCDE). Outras medidas, num total de US$ 387 milhões, têm impacto misto, que tanto podem ter dimensão ambiental de um lado (como na área climática), mas nocivo para outros (como para a biodiversidade). Quase tudo do que o governo gastou, US$ 104,2 bilhões, ou 99,3% do total, veio mesmo na forma de medidas que não têm implicações ambientais claramente identificáveis. Isto não significa que sejam ambientalmente benignas, e sim que os impactos são difíceis de determinar.
No total, foram examinadas 47 medidas no Brasil. Curiosamente, as medidas positivas foram 24, mas com alocação de recursos insignificantes, comparado a 15 sem impacto determinado e com quase todos os recursos, por exemplo. A OCDE examinou seus 37 países-membros e outros seis emergentes que têm o status de “key partner” (parceiro preferencial). Os dados mostram que um total de US$ 336 bilhões terão claro impacto positivo para o meio ambiente, representando 17% dos programas de estímulo, igualmente largamente insuficiente para a transição para baixa emissão de carbono nas economias. Um montante idêntico foi gasto em medidas que podem ser negativas ou mistas ambientalmente. O restante não foi categorizado como sendo positivo ou negativo. Significa que, em vez da anunciada intenção dos governos, a retomada não é realmente “verde”. Recursos destinados a atividades potencialmente prejudiciais ao ambiente pesaram tanto quanto medidas ambientais.
No exercício feito pela OCDE, medidas negativas incluem, por exemplo, aquelas que apoiam diretamente a produção ou uso de combustíveis fósseis. Medidas claramente positivas incluem investimentos para energia renovável, apoio para inovação focada em https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpgs limpas, projetos para melhorar gestão da floresta, mudanças regulatórias que incentivam investimentos ambientais. Em comparação com o Brasil, a Coreia do Sul tem pacote com valor idêntico, de US$ 104 bilhões, dos quais US$ 64,2 bilhões são medidas ambientalmente positivas e US$ 40 bilhões são negativas. Entre os sócios no Brics, o clube dos grandes emergentes, a OCDE contabiliza na China programas de apenas US$ 38,9 bilhões, dos quais a grande parte (US$ 27,2 bilhões) inclui medidas claramente positivas para o ambiente. Já na Índia, de um pacote de US$ 56,1 bilhões, uma fatia de US$ 44,8 bilhões foi para medidas com impacto misto. A África do Sul fez pacote modesto de US$ 3 bilhões, dos quais US$ 2,9 bilhões terão impacto ambientalmente negativo.
Entre desenvolvidos, os EUA aparecem com pacotes de estímulos de US$ 114,4 bilhões, com impacto negativo em US$ 62,7 bilhões e positivo em somente US$ 1,5 bilhão. A Alemanha, o motor da economia europeia, fez pacotes de US$ 57,4 bilhões, dos quais o grosso, ou US$ 44,8 bilhões, foi para medidas ambientalmente positivas e US$ 12,5 bilhões foram para negativas. A conclusão da OCDE é de que no geral quase 90% dos recursos alocados terão implicações para emissões de gases de efeitoestufa. Medidas envolvendo biodiversidade representaram menos de 10% dos fundos alocados, apesar de esse segmento ser frequentemente citado como prioridades pelos governos. Energia e transporte foram os principais destinos de medidas positivas.
VALOR ECONÔMICO