O IPCA acumulado em 12 meses está acima do teto da meta desde março do ano passado, e nos últimos seis meses o índice se afastou ainda mais do alvo: são pelo menos cinco pontos acima do teto.
Por Jornal Nacional
A alta persistente de preços tem sido uma preocupação constante das famílias brasileiras. Há quase 20 anos, a inflação não ficava tão distante da meta do Banco Central.
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Depois de anos vendendo sonhos, o corretor de imóveis comprou o dele: um apartamento de dois quartos na Zona Sul de São Paulo. Isso foi em 2020, quando o Alberto assinou o contrato na planta e começou a pagar as prestações. Hoje, acha que seria mais difícil.
“A parcela, o mesmo valor, vamos dizer assim, que hoje se eu fosse assinar para fazer o mesmo financiamento ficava bem superior. Talvez eu não conseguisse”, afirma.
Se subir os juros tem efeitos colaterais, os economistas dizem que muito pior é não tratar o grande veneno da economia: a inflação. Fora de controle, ela corrói o valor do dinheiro.
Os economistas explicam que não se trata de ter inflação zero, porque isso significaria uma economia parada ou até em recessão. O que se busca é uma taxa que não atrapalhe o crescimento, em outras palavras, que não comprometa a geração de empregos e de renda. É por isso que muitos países adotam um regime de metas de inflação, que serve para indicar qual a variação ideal no intervalo de um ano. No Brasil, o sistema funciona desde 1999.
O Conselho Monetário Nacional define o centro da meta, que neste ano é de 3,5%, e também estabelece um limite de tolerância. Atualmente, 1,5 ponto para mais ou para menos. Ou seja, para ficar dentro da meta, a inflação neste ano poderia ir de 2% até 5%. Só que a inflação acumulada em 12 meses está acima do teto da meta desde março do ano passado e, nos últimos seis meses, o índice se afastou ainda mais do alvo: são pelo menos cinco pontos acima do teto. Há quase duas décadas, o IPCA não ficava tão distante da meta por tanto tempo.
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O pesquisador da FGV, André Braz, diz que a situação se agravou no mundo inteiro desde 2020, com a pandemia, e piorou com a guerra na Ucrânia. E tem ainda as questões internas de cada país, que fazem o dólar subir.
“No momento, anda muito difícil de cumprir metas. E algumas políticas, quando o Estado resolve gastar mais do que arrecada, também traz um desequilíbrio fiscal que cria problemas cambiais. Então, ainda que estejamos com uma taxa de juros muito alta no momento, nossa moeda segue desvalorizando também, exatamente por esses riscos, de gastar um pouco acima daquilo que teríamos como sustentar”, explica André Braz.
Sem essa política fiscal, o ex-ministro da Fazenda, Maílson da Nóbrega, diz que o Banco Central está sozinho na tarefa de trazer a inflação de volta para o alvo.
“O objetivo do Banco Central agora não é combater a inflação de 2022. Essa batalha ele já perdeu. O trabalho agora é evitar que a inflação deste ano extravase para o próximo e o ano seguinte, porque se o Banco Central não fizer isso, a inflação vai subir também muito acima da meta em 2023 e 2024, e isso pode caminhar para um descontrole. Isso aconteceu no final do século passado, e aí a inflação vai subindo e o custo de baixar a inflação fica cada vez mais alto”, afirma o sócio da Tendências Consultoria.